As últimas três Copas do Mundo passaram pelas mãos seguras e badaladas de goleiros como Gianluigi Buffon, Iker Casillas e Manuel Neuer. Do trio, somente o alemão conseguiu chegar à Rússia e disse adeus logo na terceira partida. Candidatos a sucedê-lo como melhor goleiro do planeta caíram pelo caminho, como David De Gea e Alisson. Mas bastou o mata-mata começar para que novos heróis se apresentassem.
Na próxima terça-feira, as semifinais do Mundial começarão com um duelo entre os dois arqueiros mais conhecidos entre os sobreviventes. Hugo Lloris é capitão da França desde 2010, mas nunca foi visto como uma figura pop e unânime na posição. Na Bélgica, Thibaut Courtois já flertou com o topo nos tempos de Atlético de Madri. E agora tenta se recolocar depois de frustrar Neymar e o Brasil nas quartas de final.
No jogo de quarta, os goleiros são ainda mais "anônimos" para o público geral. A Inglaterra confia no jovem, "baixinho" e desconhecido Jordan Pickford, que já coleciona milagres na fase eliminatória. Já a Croácia usou sua bola de segurança. Aos 33 anos, Danijel Subasic lidera uma defesa sólida e aparece na hora certa, como nas penalidades contra Dinamarca e Rússia.
Os quatro não só estão longe de serem estrelas absolutas do futebol. Eles são discretos porque também jogam de forma sóbria. Não há razão para ser espalhafatoso. Apostam na boa colocação e guardam forças para momentos mais críticos, em que a explosão é necessária. Seja em um chute cara a cara ou em uma disputa de pênaltis. Um retrato de toda a Copa. De como seleções eficientes e sem tanta pompa chegaram às decisões.
SERGEI ILNITSKY/EFE Quando o técnico Gareth Southgate não convocou Joe Hart e bancou o desconhecido Jordan Pickford, a imprensa inglesa partiu para o ataque. E o pupilo do treinador não decepcionou nesta Copa. Ele decidiu a classificação contra a Colômbia, nos pênaltis, nas oitavas de final e fez uma defesa brilhante quando a Inglaterra vencia a Suécia só por 1 a 0. Tudo isso com apenas 1,85m de altura.
Reprodução/BlueMersey O time do goleiro sensação na Copa teve a sexta defesa mais vazada da Premier League passada. Foram 58 gols sofridos em 38 rodadas, apesar da oitava colocação no torneio. Em partidas de copas, europeias e nacionais, Pickford ainda levou mais 12 gols em oito partidas. Números que ajudaram a reforçar a desconfiança sobre sua convocação e sua escalação como titular do "English Team".
Tenho força e agilidade. Não me importo se não sou o maior goleiro, porque é sobre estar lá no momento certo e fazer a defesa. Posso ser jovem, mas tenho boa força mental e experiência. Todas as defesas que faço no treino, levo para o campo. Assim mantenho um alto nível de performance
Gleb Garanich/Reuters A Bélgica tem 100% de aproveitamento, mas a campanha era vista com desconfiança devido ao nível dos adversários iniciais. O Panamá e a Inglaterra reserva mal passavam do meio de campo. A Tunísia, quando arriscou fez. O Japão quase eliminou os belgas nas oitavas. Só que diante do Brasil, o rival mais difícil, Courtois decidiu. Foram duas defesas difíceis e decisivas para fazer história.
Dylan Martinez/Reuters Quinto colocado no Campeonato Inglês e eliminado nas oitavas da Liga dos Campeões, o Chelsea teve uma temporada ruim que ajudou a "esconder" Courtois. Em 2014, por exemplo, ele chegou à Copa como vice-campeão da Champions pelo Atlético de Madri, famoso por sua forte defesa. Desta vez, teve de se contentar com classificação à Liga Europa e 47 gols sofridos em 46 partidas.
Sobre minha última defesa, na finalização de Neymar, eu disse para mim mesmo: 'Ulalá'. Muita gente me disse: 'Thibaut, precisamos de um grande jogo da tua parte para ganhar'. E acho que fiz isso. Até me senti mal por causa do gol do Brasil, mas acho que não podia fazer nada
Shaun Botterill/Getty Images Danijel Subasic terminou a primeira fase da Copa sem sofrer gols, mesmo encontrando Lionel Messi. Nas oitavas de final, a Dinamarca conseguiu, enfim, vencê-lo, mas recebeu o troco na disputa de pênaltis com três defesas do croata. Nas quartas, diante da Rússia, novamente as penalidades foram necessárias. E Subasic estava lá para pegar mais uma, mesmo jogando lesionado.
Stuart Franklin/Getty Images O croata passou 12 dos 40 jogos que disputou na última temporada europeia sem sofrer gols. O problema é que foi vazado 53 vezes nas outras 28 partidas. Um número elevado que custou ao Monaco a perda do título do Campeonato Francês para o Paris Saint-Germain. Na Liga dos Campeões, jogou três vezes e levou sete gols. Seu time foi o lanterna do grupo e seu reserva sofreu mais nove gols.
Se eu sou um grande goleiro? Sim, tenho 1,91m. Tenho um pouco de experiência, mas você precisa de sorte no futebol também. Nesta temporada bateram cinco pênaltis contra mim e não defendi nenhum. Eles ficaram para a Copa. Meu segredo é que estou um pouco velho. Isso ajuda
Getty Images Lloris sofreu um gol de pênalti contra a Austrália, segurou bem a pressão peruana na segunda rodada e pôde até ser poupado diante da Dinamarca na terceira rodada. Voltou nas oitavas de final com críticas pelos três gols sofridos da Argentina, mas se recuperou como um dos heróis das quartas. Uma defesa após cabeçada de Martín Cáceres frustrou o Uruguai e ajudou os "bleus" a avançarem.
Julian Finney/Getty Images Foram 43 partidas do goleiro francês entre Campeonato Inglês e Liga dos Campeões na última temporada europeia. E 43 gols sofridos. É a pior média de Lloris desde 2014/15, quando foi vazado 55 vezes em 44 jogos. O Tottenham terminou a edição passada da Premier League na terceira colocação - também com a terceira melhor defesa - e caiu nas oitavas de final da Champions.
Não foi uma escolha minha ser capitão da seleção francesa. O técnico decidiu e para mim é algo natural. Eu passei por várias coisas na seleção e várias delas não foram fáceis. Depois de um jogo eu sei o que fiz bem e o que posso melhorar, não preciso que ninguém me diga
Buda Mendes/Getty Images Um foi responsável direto pelo vice-campeonato inglês do Manchester United. O outro fez campanha histórica sob o comando de Tite na seleção brasileira, levando apenas três gols antes da Copa do Mundo. Mas as versões de David De Gea e Alisson apresentadas na Rússia estiveram muito distantes da fama dos goleiros.
Ambos figuram entre os arqueiros que menos defesas fizeram no Mundial. Alisson segurou cinco finalizações em cinco partidas, sendo duas somente na partida de eliminação do Brasil para a Bélgica. Ao mesmo tempo, levou três gols. Ou seja, quase 40% dos chutes na meta brasileira acabaram em gol adversário, por mais que o goleiro não possa ser acusado de falhar.
Para De Gea, o cenário foi bem pior. A Espanha levou sete finalizações em direção ao gol. Seis delas passaram pelo arqueiro, que só defendeu uma conclusão no jogo contra Marrocos. Inclusive um frango após chute de fora da área de Cristiano Ronaldo, na estreia. Na disputa de pênaltis contra a Rússia, nas oitavas de final, pulou todas para o canto direito e não conseguiu nenhuma defesa.
Darren Staples/Reuters Outros três goleiros com pouco reconhecimento do público geral estiveram perto de glórias maiores nesta Copa do Mundo. Em comum, eles tiveram a chance de salvar suas seleções em disputas de pênaltis, conseguiram segurar os rivais, mas acabaram castigados pelos erros dos companheiros.
Essa lista é encabeçada pelo russo Igor Akinfeev. Nas oitavas de final, ele conseguiu parar a Espanha com duas defesas nas penalidades. Contra a Croácia, nas quartas, pegou mais uma cobrança, só que não foi suficiente para evitar a frustração dos donos da casa.
David Ospina e, principalmente, Kasper Schmeichel sofreram assim ainda nas oitavas. O primeiro deixou a Colômbia em vantagem contra a Inglaterra, mas não avançou. Já o dinamarquês foi além. No tempo normal contra a Croácia, pegou pênalti do crauqe Luka Modric. Na disputa após a prorrogação, agarrou mais duas cobranças. E de nada adiantou.
Maddie Meyer/Getty Images Para que Portugal chegasse às oitavas de final, Cristiano Ronaldo foi essencial. Mas o goleiro Rui Patrício também não pode ser esquecido. Na segunda rodada, uma defesa espetacular no canto direito evitou gol de Marrocos. Um empate naquele jogo teria evitado a classificação lusitana.
REUTERS/Albert Gea Para a famosa retranca da Islândia funcionar, o goleiro precisa aparecer nos momentos decisivos. E foi assim com Halldorsson na estreia da Copa contra a Argentina. O arqueiro pegou pênalti de Messi e assegurou empate por 1 a 1. Nada mau para quem era cineasta até outro dia.
Dimitar Dilkoff/AFP Ele pode ter ser o goleiro mais vazado do Campeonato Sul-Coreano, em que seu time é lanterna. Na Copa, no entanto, Cho Hyun-Woo foi uma estrela. Suas defesas impressionaram ao longo de toda primeira fase, incluindo diante da Alemanha, quando parou tentativa de Goretzka.
Jamie Squire - FIFA/FIFA via Getty Images Apesar de todo protagonismo de Neuer na Copa do Mundo de 2014, a competição no Brasil também serviu para projetar goleiros menos conhecidos do mercado mundial. O holandês Jasper Cillessen, por exemplo, foi contratado pelo Barcelona. Mas foi o Real Madrid quem apostou melhor.
A Costa Rica, eliminada invicta e somente nos pênaltis contra a Holanda, tinha em Keylor Navas seu grande pilar. O goleiro atuava pelo modesto Levante, da Espanha, e atraiu de vez a atenção do Real. Em sua primeira temporada, a única sem título da Liga dos Campeões, jogou apenas três vezes.
Depois, tomou conta da posição, apesar de críticas da imprensa e da sombra constante de David De Gea, sonho antigo da diretoria madridista. São 141 partidas e nove títulos conquistados.
Essam El-Hadary se tornou o jogador mais velho a disputar uma partida de Copa do Mundo. Na última rodada da fase de grupos, quando o Egito perdeu por 2 a 1 para a Arábia Saudita, o goleiro foi titular e ainda pegou um pênalti. Tudo isso com 45 anos, cinco meses e dez dias.
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Na terceira Copa da carreira, Manuel Neuer acompanhou a Alemanha ao trocar o protagonismo das edições anteriores pelo desastre. Ele sofreu quatro gols em três jogos, sendo um por cobertura contra a Suécia e um com bola perdida no ataque, permitindo contragolpe da Coreia do Sul.
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A segurança defensiva é a grande marca do Uruguai desde 2010. E se repetia na Rússia, com marcação forte que blindava Fernando Muslera. Mas um descuido do goleiro frustrou a Celeste. Em chute de longe de Griezmann, ele espalmou errado e viu a França chegar à semi.
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A Argentina perdeu Romero por lesão. E preferiu apostar em Willy Caballero. Um goleiro que não era a principal opção em clubes há quatro anos e que falhou contra Islândia e Croácia. O clamor popular ajudou Armani a ganhar a vaga, mas o arqueiro também errou contra a França.
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