Carnaval de manifestações

Escolas colocam a boca no trombone e criticam Temer, Crivella e os patos da Fiesp

Do UOL, no Rio de Janeiro
Júlio César Guimarães/UOL

Após tantas dificuldades no período de preparação dos desfiles, as escolas de samba do Grupo Especial carioca proporcionaram, em sua primeira noite, sensações diferentes ao público que compareceu à Marquês de Sapucaí.

A Mangueira trouxe um visual arrebatador criado por Leandro Vieira para exaltar o Carnaval carioca e dar uma resposta ao prefeito Crivella. Com um samba empolgante e cantado por toda a avenida, a escola trouxe momentos de emoção com a ala formada por mais de mil integrantes de blocos de rua da cidade. Em um dos carros, um dos integrantes levava um adereço imitando o famoso Cristo mendigo de Joãozinho Trinta com um recado para o prefeito.

Em um tripé, Crivella voltou a aparecer como um boneco de Judas e com uma placa no pescoço com os dizeres "Pega no Ganzá" --alusão ao samba clássico do Salgueiro cantado pelo prefeito em ato com sambistas em sua campanha eleitoral. Com um desfile sem erros, apesar de ter faltado a explosão aguardada, a Mangueira foi a única escola do domingo que postula o título do Carnaval.

O Paraíso do Tuiuti entrou na avenida com um visual impactante desde o carro abre-alas. Com fantasias de fácil leitura e requinte e enredo engajado, foi conquistando a simpatia do público ao longo de seu cortejo.

O último setor, elaborado pelo carnavalesco Jack Vasconcelos para protestar contra a redução dos direitos trabalhistas, arrebatou o público com fantasias em que carteiras de trabalho apareciam rasgadas e patinhos da Fiesp batiam panelas manipulados como marionetes. Um vampiro representou o presidente Michel Temer no último carro. De virtual rebaixada, a escola de São Cristóvão saiu da avenida aclamada e candidata a voltar no sábado das campeãs.

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Mauro Pimentel/AFP Mauro Pimentel/AFP

O "Vampiro Neoliberalista"...

Bruna Prado/UOL Bruna Prado/UOL

...e os "Manifestoches" da Tuiuti

Bruna Prado/UOL Bruna Prado/UOL

Com o enredo "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?", sobre os 130 anos da Lei Áurea, a Paraíso do Tuiuti trouxe o tema para o presente no último setor do desfile, mostrando com muita ironia que a escravidão permanece até hoje, mas de forma diferente.

O último carro representou um novo navio negreiro, com o presidente Michel Temer transformado em um "Vampiro Neo Liberalista", e batedores de panela (em referência aos protestos contra o governo do PT), também lembrados nas fantasias da ala "Manifestoches", com a característica camisa da seleção brasileira de futebol. A arquibancada respondeu à passagem da alegoria com gritos de "Fora, Temer".

As reformas trabalhista e da previdência foram criticadas em alas como a "Guerreiros da CLT", que também lembraram o trabalho precário em fazendas e confecções.

Nas partes anteriores da apresentação, a Tuiuti trouxe a escravidão propriamente dita, fazendo uma crítica de que a abolição não aconteceu de fato até hoje. A história contada pela escola começou na Antiguidade, no Egito, Babilônia e Síria, e a comissão de frente apresentou a vida na senzala.

Bruna Prado/UOL

"A Mangueira se propôs a se rebelar", diz presidente da escola

A Estação Primeira de Mangueira teve, sem dúvidas, o enredo mais comentado e aguardado deste Carnaval. Com a postura inédita de fazer um tema que bata de frente com a administração municipal, a verde e rosa, indignada após o corte de verbas das escolas de samba pelo prefeito Marcelo Crivella, lançou o enredo "Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco".

Depois de passar por uma parte mais romântica do enredo, relembrando a história e as tradições de carnavais passados, o desfile da Estação Primeira na madrugada desta segunda partiu para uma crítica frontal à postura do prefeito, citado nominalmente e representado como um boneco de Judas, para ser malhado. Abaixo do boneco, a frase: "Prefeito, pecado é não brincar o Carnaval!" decorava um tripé atrás do penúltimo carro da escola.

No carro, um dos momentos mais políticos da história do Carnaval carioca, o Cristo mendigo censurado de Joãosinho Trinta na Beija-Flor em 1989, também foi transformado em crítica a Crivella, com a frase "Olhai por nós! O prefeito não sabe o que faz". Parte da plateia se juntou ao protesto e gritou "Fora, Crivella".

Foi a resposta pra ele repensar o que ele fez com o Carnaval. Ele cometeu a maior injustiça com a maior festa popular do mundo

Chiquinho

Chiquinho, Presidente da Mangueira

Na atualidade, fazer farra é o que pode ser considerado de mais transgressor nessa sociedade. É uma crítica a tudo que a gestão vira as costas

Leandro Vieira

Leandro Vieira, Carnavalesco da Mangueira

A Mangueira tem muita coragem para fazer as reivindicações dela. Levantou a bandeira do samba e passou o recado como só a Mangueira pode fazer

Alcione

Alcione, Cantora

(Crivella) É um merda. O pior prefeito que nós tivemos. Ele é um babaca por não vir ao sambódromo. Essa é uma festa do povo que o elegeu. Independente de religião. Assim como ele enganou o povo, me enganou também.

Romário

Romário, Senador

Júlio César Guimarães/UOL

A decepção...

Thiago Ribeiro/AGIF Thiago Ribeiro/AGIF

A Grande Rio encalhou

O desfile da Grande Rio na madrugada desta segunda-feira (12) tinha tudo para ser marcado pela alegria: com o enredo "Vai para o trono ou não vai?", a escola homenageou o centenário de Chacrinha e levou para a avenida muita cor e irreverência.

No entanto, um problema com o último carro alegórico atrapalhou a evolução da escola de Duque de Caxias. A agremiação teve que paralisar a apresentação depois que a alegoria, que representaria a infância do apresentador, teve uma roda quebrada e não conseguiu manobrar para entrar na avenida.

Ainda tentando fazer o carro entrar, a escola teve que segurar os componentes, abrindo um buraco no setor 1, que ainda não conta para a avaliação dos jurados. A saída da bateria do recuo teve que ser adiantada para ocupar o espaço aberto. A alegoria acabou não entrando e a agremiação desfilou com um carro a menos.

Para liberar a entrada para a última escola da noite, a Mocidade Independente de Padre Miguel, o carro quebrado teve que ser rebocado por toda a extensão da Sapucaí ao fim do desfile.

Por conta do problema, a Grande Rio estourou o tempo em 5 minutos e deve ser punida. Para cada minuto além do tempo máximo de 75 minutos, a escola perde 0,1 ponto, segundo o regulamento da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba).

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Fizemos um belo desfile. Papai do céu não quis e agarrou o último carro. O folião passou feliz. Uma hora chega nossa vez.

Helinho da Grande Rio, Presidente de Honra da Grande Rio

São problemas que a gente pode minimizar. A Grande Rio fez um grande desfile, a gente recupera esses pontos

Milton Perácio, Presidente da Grande Rio

Poeta, Evans "na seca" e selinhos: melhores entrevistas do CarnaUOL RJ/N1

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