Apresentador da massa

Como o repórter truculento que brandia um cassetete no ar virou o tiozão divertido da TV

Mauricio Stycer Do UOL, em São Paulo
Robson Ventura/Folhapress

"E estamos aí, já há 20 anos, em segundo lugar de audiência", observa Ratinho, quase com displicência, ao encerrar um resumo sobre a sua carreira como apresentador de programas de televisão.

Os números no Ibope são a ponta visível de um fenômeno muito maior. Ratinho - nome artístico de Carlos Roberto Massa, 61 - é hoje um empresário de bastante sucesso. Tem 19 empresas, entre fazendas de café e soja, uma rede de comunicação no Paraná com seis emissoras de TV (e quase duas centenas de repetidoras), rádio e portal de internet. Sem dar números, ele confirma rivalizar com Faustão no posto de apresentador que mais fatura no meio.

Sem muita semelhança com o profissional que iniciou a carreira, em 1991, como repórter do polêmico Luiz Carlos Alborghetti, no Paraná, Ratinho hoje é animador de um auditório colorido e caótico no SBT. O apresentador truculento que brandia um cassetete no ar virou o tiozão divertido depois de ouvir o conselho, ainda nos anos 90, de um assistente próximo, Valentino Guzzo (1936-1998): "Filho, estes programas de muita tragédia, vão acabar. E você é melhor fazendo comédia do que dando bronca nas pessoas. Vamos partir para esse lado da comédia, mais calouros..."

"E eu fui na dele", conta Ratinho, que só não admite ser chamado de sensacionalista. "Isso é como vocês jornalistas chamam. Eu chamo de programa popular", diz. "Aos poucos, pra não perder o público que eu tinha, eu fui mudando. E continuo mudando. O sensacionalismo ficou para a internet".

Sua explicação sobre o que seria um programa popular é de uma simplicidade absoluta:

TV popular é aquilo que é mais comum às pessoas. O palhaço de circo é mais comum do que você levar um cientista. O caminho da TV aberta é fazer coisas populares, dentro do estúdio, para interagir imediatamente com as pessoas. Acho que vão ficar os programas de auditório.”

"Eu criei o cassetete do Alborghetti"

Ratinho relembra início na CNT e relação com seu padrinho: "Me dava esporro todo dia"

Teste do DNA

É tudo marmelada?

"Faço há 20 anos. Foi e é o quadro mais importante que fiz até hoje. Primeiro, porque dá audiência. Segundo, que nós desmistificamos o DNA. Ninguém sabia o que era o DNA, nem eu. Os casos em que vai haver confusão, briga, que vão ser engraçados, vêm pra televisão. Nos casos mais dramáticos, dou o DNA, mas não precisa aparecer. 

Uma vez, já no SBT, no meio da briga, uma briga muito séria, o cara chutou a perna da sogra. Quebrou a perna da sogra no ar. Nós tivemos que pagar uma baita indenização. E eu fiquei morrendo de pena da mulher. Um cara violento bateu na mulher no ar... Depois disso, parou.

Hoje, a gente veste bem as pessoas que vão para o ar. A gente deixa o teste do DNA mais bonito, cria uma historinha engraçada, uma comédia, para não chocar. Outra coisa: não colocamos no ar quando a criança está muito envolvida. Por exemplo, tem 5 anos e gosta do pai e da mãe, não colocamos. Quando já tem amor pelo casal, não mostramos."

 

"Dei um baita prejuízo para o SBT"

Ratinho conta que já teve que responder a mais de 130 processos. "Todos foram resolvidos, alguns eu perdi, 90% eu ganhei", conta. "Eu perdi um processo pro Falcão, ex-jogador de futebol, perdi pra alguns juízes", diz.

Uma vez mostrei uma colônia de nudismo que tinha juízes pelados, só mostrei a chamada, a matéria nem foi ao ar, mas fui processado."

Hoje Ratinho é sócio do SBT no seu programa. Isso significa que dividem despesas e receitas. E processos. "Hoje, se tiver uma indenização, eu pago a metade, o SBT a outra metade. Antigamente, não, o SBT pagava tudo. Eu dei um baita prejuízo pro SBT. Mas hoje já dei bastante lucro. Compensou."

Ratinho reconhece que ganha bem. "Antes, eu achava que ganhava muito. Eu não tinha ideia do que era televisão. A publicidade na TV é cara. Ela faz com que a gente ganhe bem. Hoje, acho justo. Eu ganho exatamente o que o meu programa dá de lucro", conta, sobre o esquema de sociedade com o SBT. "Silvio tá feliz, eu também tô feliz. Acho que esse é o caminho certo dos apresentadores que pretendem ganhar mais. Como eu fiz, o Raul Gil fez, já falei pro Celso Portiolli fazer."

Dois grandes sustos ao vivo

Pior que o incêndio com Luis Ricardo só mesmo quando uma macaca se revoltou no auditório

O que salvou o Luis Ricardo foi o meu abraço. Quando eu vi que não apagava, eu o abracei. Falei: vai apagar no meu peito. Quando você abafa, apaga. E abafou"

Ratinho, sobre o acidente de dezembro de 2014

Osmar Nunes/Gazeta do Povo Osmar Nunes/Gazeta do Povo

"Não votem em mim de jeito nenhum"

Duas vezes vereador e ex-deputado federal, Ratinho avisa: "Fui um péssimo deputado. Não votem em mim de jeito nenhum. Não tenho missão para o Parlamento porque sou ditador. Não sou democrático. Sou meio ditador."

O apresentador também avalia de forma negativa a atuação política de seu assistente de palco, Marquito, que foi vereador entre 2013 e 2016. "Foi um horror. Ele não serve pra ser vereador, não serve pra ser político. Política é missão", diz.

O único para quem abre concessão é seu filho, Ratinho Jr., duas vezes deputado estadual pelo Paraná e futuro candidato a governo do estado. "Meu filho é político e tem a missão. Não precisa de dinheiro."
 

Atirar para matar

Ratinho fala sobre violência urbana e a situação do Rio: "Não tem solução sem intervenção"

Linha de fogo

  • Tiririca

    "Até admiro o Tiririca. Há quatro anos, ofereci pra ele comprar um circo. O Circo do Tiririca. Eu seria sócio dele. Ele só entraria pra fazer o show, eu cuidaria de tudo. Ofereci R$ 100 mil por mês, no mínimo. Ele ganha R$ 30 mil como deputado. Ele preferiu ficar como deputado. Não consigo entender"

    Imagem: Nilson Bastian/Câmara dos Deputados
  • Datena

    "Quando Datena quis ser candidato a prefeito, liguei pra ele. 'Datena, você vai deixar de ganhar R$ 400 mil para ganhar R$ 30 mil. Como você vai explicar? Ou você é muito burro ou tá mal intencionado'. E ele: 'E não é que eu não tinha pensado nisso?' Eu não largo do meu emprego pra ser presidente da República nem se me dessem o emprego. Pra ganhar menos?"

    Imagem: Reprodução/UOL/Edu Moraes/Record
  • Jair Bolsonaro

    "Não tenho candidato ainda (para 2018). Bolsonaro tem o direito de disputar e mostrar o lado dele. No Brasil, o cara não pode ser de direita. Tem que ser de esquerda. Se não for de esquerda, o jornal bate nele. Ele não é homofóbico. Ele pode discordar de algumas coisas em escola, que eu também discordo. Não concordo que fale de sexo com uma criança de 10 anos. A natureza deu certo até hoje"

    Imagem: Myke Sena - 21.jun.2016/Framephoto/Estadão Conteúdo
  • Xuxa

    "Sou muito fã da Xuxa por sua história. Ela cometeu um erro quando resolveu virar apresentadora comum, como nós mortais. Quando ela foi pra Record e começou a fazer programas lá, ela desceu ao nível do Datena, do Ratinho, de todos os apresentadores. Ela ficou igual a nós. Ela era maior que a gente, era a rainha dos baixinhos. Hoje não é mais. Se eu fosse empresário dela, não deixaria"

    Imagem: Reprodução/Instagram @xuxamenegheloficial

25 anos e alguns arrependimentos

Ratinho recorda a controversa entrevista com Guilherme de Pádua e sua atuação desastrosa em sequestro de irmão de Zezé di Camargo

Lourival Ribeiro/SBT Lourival Ribeiro/SBT

Uma mistura de Silvio com Chacrinha e Flavio Cavalcanti

"A Elke Maravilha uma vez me acusou de imitar o Chacrinha. Nem sei imitar o Chacrinha. Eu faço uma mistura de um Silvio Santos mal trabalhado, de um Bolinha (1936-1998) um pouquinho mais louco e um pouco de Flavio Cavalcanti (1923-1986). Essa é a mistura que eu faço, se você analisar o meu programa."

Ratinho assegura que não criou um personagem para aparecer na TV. "Sou 24 horas do mesmo jeito. Não mudo. Sou brabo, bonzinho, às vezes meio doido, chupeta", diz.

Se fizerem uma análise, vão ver que eu não sou normal. Acho que tenho algum problema. Mas problema bom. Porque os meus netos me adoram"

O apresentador não quer ouvir falar na palavra aposentadoria. "Não!!! Televisão pra mim é brincadeira. Vou morrer na televisão. Nem que eu tenha que ficar só na minha, lá. Vou morrer na televisão. Com 150 anos, vou estar em cadeira de roda fazendo programa de televisão."
 

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