Um iPhonão desse, bicho

Manda mais que está pouco: enfim a Apple se rendeu à tela gigante

Bruna Souza Cruz e Gabriel Francisco Ribeiro Do UOL, em Cupertino (EUA) e São Paulo

Temos um novo recorde

6,5 polegadas. Para você que trabalha com centímetros, são 16,5 cm na sua mão. Ou seja, a maior tela já feita pela Apple e a maior tela do mundo, se deixarmos de fora os celulares chineses que não vendem no Brasil.

Foram anos até chegarmos aqui, mas a companhia finalmente deixou para trás o preconceito com as telonas e apresentou nesta quarta-feira (12) o iPhone XS Max. O modelo ultrapassou o recém-lançado Galaxy Note 9 com sua tela de 6,4 polegadas. É a primeira vez que a Apple ganha da Samsung nesse quesito.

Foi a primeira vez também que vieram de uma vez três modelos de uma linha, a X, numa tentativa de atrair mais gente para perto. Para a Apple, é uma importante mudança de rumo trazer, ao mesmo tempo, uma versão mais barata do iPhone X, o XR, e ainda ter um novo recorde de mais caro da história, de novo, com o XS Max.

Lembra do iPhone original?

A Apple nem sempre foi famosa por telas pequenas e minimalistas. O primeiro iPhone, por exemplo, chocou o mundo com uma tela de 3,5 polegadas. É quase metade do que ela é hoje, mas na época os aparelhos tinham telas minúsculas acompanhadas de um teclado físico embaixo. Foi uma revolução.

Mas, depois disso, a Apple optou por não dar grandes passos e ficou sempre atrás da concorrência. O primeiro Samsung Galaxy S chegou em 2010 com 4 polegadas, tamanho que a empresa de Steve Jobs adotaria apenas dois anos depois. Depois, em 2011, veio a linha Galaxy Note, com 5,3 polegadas. Demorou mais três anos, em 2014, para o iPhone reagir, com o iPhone 6 Plus de 5,5 polegadas.

E então chegamos a 2018, o ano da telona do XS Max.

Tela infinita e gestos

E aí, amigos, mudou tudo

A concorrência chegou bombando com as telas infinitas, com bordas cada vez menores, que garantiam um aproveitamento muito maior da área de trabalho. Os botões começaram a sumir -- no Galaxy S8 e o no LG G6, sobraram só os sensores na frente.

A Apple tentou correr atrás e trouxe um iPhone X revolucionário. Ele não só espalhou tela por toda a frente do celular, como incorporou os gestos de um jeito único. O entalhe no topo do display, contornando os sensores de um jeito que lembra um chifrinho, deu o que falar, mas no fim virou um padrão para muitos celulares da concorrência.

E o maior iPhone da história só faz sentido por conta de tudo isso. O corpo do aparelho não cresceu (é bem semelhante ao iPhone 8 Plus), mas a tela passou de 5,5 para 6,5. Também é a primeira vez que a Apple traz uma linha de celulares sem o tradicional botão físico Home. Ano passado ele ainda estava nos lançamentos iPhone 8 e 8 Plus.

E quem gosta de celular pequeno?

Além de deixar de lado quem não curte aparelhos com telona e cheio de gestos, a Apple veio com mais uma má notícia: vai parar de vender o iPhone SE, o queridinho dos brasileiros exatamente por ser pequeno e barato. Ele tinha tela de 4 polegadas, no mesmo tamanho das lançadas com os iPhones 5 e 5S.

Então, se você era dessa turma, pode chorar: é o fim do modelo clássico, com esse design e tamanho. As opções mais enxutas agora são o iPhone 7 e iPhone 8, que têm 4,7 polegadas. Em termos de tamanho de corpo, eles são quase idênticos ao iPhone X e XS com suas 5,8 polegadas.

Vai ser difícil achar um celular com menos de 5 polegadas para vender, ele virou coisa do passado.

De olho nos emergentes

A Apple se consolidou em muitos mercados, agora mira outros países

Telona

Não é à toa, que a Apple quis entrar na onda da telona. Ela faz sucesso entre os usuários de países emergentes, que são ávidos consumidores de vídeos no celular. Para quem inovava pouco nisso, agora a companhia tem cinco tamanhos diferentes de tela em seu line-up de produtos.

Dois chips

Enfim a Apple entendeu que grande parte dos usuários ainda usa dois chips. Os iPhones, pela primeira vez, contam com eSim, um chip virtual. Você não precisa comprar um novo chip para mudar de operadora, o iPhone reconhece as redes e te oferece para que você escolha qual usar. Mas isso ainda precisa ser adotado pelas operadoras.

Mais cores

O iPhone XR, o mais simples, ainda vem com uma grande variedade de cores, numa tentativa de atrair novos consumidores. São seis diferentes tonalidade: preto, branco, azul, amarelo, coral e vermelho. A Apple repete estratégia adotada com o iPhone 5C, lembra?

E o preço?

Mas, para quem quer alcançar os países em desenvolvimento, faltou melhorar o preço. Não foi lançado um sucessor do iPhone SE, como era esperado, e o modelo mais barato agora custa altíssimos US$ 749 (R$ 3.116 na conversão direta sem impostos). Não será nada fácil aumentar a penetração nesses países com um preço desses.

Stephen Lam/Reuters Stephen Lam/Reuters

Cadê a revolução?

Tá, a Apple mudou muitas coisas na sua estratégia de venda. Mas, vamos combinar, faltou inovar. 

Ela passa a liderar entre quem procura telonas, mas o novo top de linha da maçã não revolucionou em mais nada. É aquele papo de sempre: um desempenho mais veloz, mudança aqui e ali no hardware... e só. Trouxe uma versão atualizada do iPhone X, com o mesmo design e os mesmos recursos de sempre.

As câmeras, por exemplo, são tecnicamente iguais. Contam com um novo "smart HDR" que promete melhorar muito as fotos e deixam você regular o nível do desfoque no retrato, mas a grande novidade foi trazer os recursos do iPhone X para toda a linha.

Já a bateria vai durar mais. No caso do XS, meia hora a mais, mas vai. Sim, pode rir.

Tudo isso foi a deixa que a chinesa Huawei --que ultrapassou a Apple em agosto ao se tornar a segunda maior vendedora de smartphones do mundo-- precisava para soltar um vídeo bastante provocativo, no qual agradecia a Apple por "manter as coisas do mesmo jeito".

Estão errados?

Apple não é só celular

Já é sabido, mas no evento da Apple deu para perceber que o foco da empresa não é só iPhone. Nos últimos anos, a companhia expandiu para outros campos, especialmente gadgets, apps e serviços, e na conferência o novo relógio Apple Watch Series 4 foi bastante destacado.

Muitos apostam que este é o futuro da Apple, que tem investido bastante, por exemplo, no HomePod para competir com produtos como Google Home e Amazon Echo --os três servem como alto-falantes com assistente virtual para realizar tarefas de casa e controlar dispositivos conectados.

Além disso, a companhia faz testes com um carro inteligente e autônomo e investe em um óculos de realidade aumentada que deve ser lançado futuramente.

Mas nada disso apaga, claro, a importância do iPhone. Ele ainda é o produto da companhia mais vendido no mundo e serve como porta de entrada para a geração de lucros com outros serviços (como compra de apps) e produtos da empresa. As primeira projeções feitas pela DigiTimes após o lançamento, apostam que as vendas dos novos modelos devem ultrapassar 85 milhões de unidades no segundo semestre do ano.

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