Lapidado para o topo

Pela medalha, Thiago Braz trocou o conforto de sua casa para treinar com o melhor técnico do mundo

Do UOL, no Rio de Janeiro
Arte UOL
Alessandro Bianchi/Reuters Alessandro Bianchi/Reuters

O ouro de Thiago Braz é marcado pela ousadia. O primeiro brasileiro a ser campeão olímpico no salto com vara - feito conquistado na segunda-feira (15), no Engenhão - só conseguiu a façanha porque não se contentou com a prata e colocou o sarrafo 11 cm acima do seu recorde pessoal. Se ele teve condições de fazer isso, é porque no fim de 2014 ele saiu do lugar comum e mudou de país. Abandonou os treinos com Élson Miranda, técnico de Fabiana Murer, e foi parar em Fórmia, na Itália, longe de família e amigos. 

Tudo por apostar que valia a pena trocar o conforto e a segurança da sua casa no Brasil pelo desafio de trabalhar integralmente com Vitaly Petrov, o ucraniano que mudou a história do esporte. Foi ele, no fim da década de 1980, que guiou o compatriota Sergei Bubka a 35 quebras de recorde na carreira. Vinte anos depois, ele levou a russa Yelena Isinbayeva a dominar a modalidade no feminino.

Não é coincidência que os dois maiores saltadores da história tenham o mesmo técnico. Só que ao trocar o Brasil pela Itália rendeu dores de cabeça para o brasileiro. Elson, seu antigo técnico, fez críticas públicas ao ex-pupilo e a Petrov, de quem era parceiro. Thiago sofreu em silêncio, acumulou maus resultados e respondeu na hora certa. A ousadia rendeu o quinto ouro do atletismo brasileiro na história e um recorde olímpico. Aos 22 anos, na hora decisiva, ele teve a força mental e a técnica para ocupar o espaço que separava seu histórico do maior título de todos. E não tem dúvida ao ser perguntado se conseguiria o feito sem Petrov:

Acredito que não. De todos os treinadores que passaram comigo, o mais refinado foi o Vitaly, ao meu ver. Eu arrisquei todas as minhas fichas no Vitaly. Eu poderia não estar no atletismo caso não tivesse resultado com ele

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AP Photo/Matt Slocum AP Photo/Matt Slocum

Abandonado pela mãe, criado pelos avós, moldado pelo tio

Horas depois de vencer o ouro no salto com vara em uma disputa emocionante no Engenhão, Thiago Braz foi perguntado sobre quem seriam as pessoas mais importantes na sua trajetória. “Deus e meus avós”, disse ele. É o prêmio para Maria do Carmo e Orlando Braz, avós paternos que cuidaram do hoje campeão olímpico desde que ele foi abandonado pela mãe na infância.

A história foi contada pelo Fantástico há dois meses. Maria do Carmo, principal figura feminina na criação de Thiago, contou que quando assumiu a guarda do neto, a mãe biológica ainda prometia visita-lo ocasionalmente. “Ele ficava com a mochilinha esperando no portão”, contou ela.

Thiago, então, cresceu com os avós em Marília, no interior de São Paulo. Só que a superação do drama passou pelo esporte. Depois de praticar basquete por seis meses, ele foi apresentado ao atletismo pelo tio, Fabiano.

“Ele fazia decatlo. Ninguém mais treinava na minha família, mas para ele era importante que eu praticasse. Ele pensou que era um bom jeito para mim. Meu tio me ajudou a ter um futuro”, disse Thiago Braz após a medalha.

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Thiago fora do atletismo: paixão pela aviação e início no basquete

  • Sonhava ser jogador de basquete

    Antes do salto com vara, Thiago Braz sonhava ser jogador de basquete. Ele ainda tentou iniciar a carreira, mas ele mesmo reconhece que não tinha muito talento. Foi através de seu tio, Fabiano Braz, que ele começou no atletismo. O tio também praticava a modalidade e levou o garoto das quadras para as pistas aos 14 anos.

  • Fã de aviação e pesca

    A vara é companheira de Thiago. Quando não no salto, na pesca, um dos seus hobbies favoritos. Afinal, os avós que o criaram são pescadores natos. Outra diversão do brasileiro é a aviação. Ele gastou o dinheiro que ganhou em sua primeira premiação, R$ 20 mil, para comprar pequenos aviões aeromodelos. E os coleciona até hoje.

  • Casado com atleta do salto

    Apesar de ter 22 anos (fará 23 apenas no dia 26 de dezembro), Thiago é casado há quase dois com outra atleta do salto. Em 2014, ele subiu ao altar com Ana Paula Oliveira um pouco antes de se mudar à Itália. Os dois se conheceram no convívio do atletismo. Ana representa o Brasil nas provas do salto em altura, mas não obteve índice para a Rio-2016.

Phil Noble/Reuters Phil Noble/Reuters

Mulher de Thiago revela período de reclusão e 2 meses sem encontros

Logo após a conquista do ouro, Ana Paula Oliveira - mulher de Thiago - revelou que o casal não se encontrava havia dois meses. Tudo em nome da concentração do atleta. 

Faz dois meses que a gente não fica junto. Ele estava muito concentrado e nada podia estragar esse momento dele. Acordei hoje e falei: ‘o dia está preparado para ele.

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Nem a chuva atrapalhou Thiago Braz

Achei que o público brasileiro ia me pressionar um pouco, mas no momento da prova senti que estava todo mundo a meu favor. Queria agradecer o carinho. Foi muito emocionante. É a lembrança que eu vou levar

Thiago sobre o carinho da torcida

Thiago sobre o carinho da torcida

Aprendi a ter fé e confiar em Deus. Isso tem me ajudado a me concentrar. Eu trabalho dessa forma, fico quietinho, na minha. No momento de saltar eu tento não pensar em nada, só completar meu salto, sem distrações

Thiago sobre sua concentração

Thiago sobre sua concentração

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