A glória que faltava!

O Brasil vence a Alemanha nos pênaltis e conquista a tão desejada medalha de ouro olímpica

Dassler Marques, Pedro Ivo Almeida e Rodrigo Mattos Do UOL, no Rio
Arte UOL/AFP
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Neymar vale ouro

A conquista da Olimpíada afirma Neymar entre os principais nomes da história recente da seleção brasileira. É verdade que falta uma Copa do Mundo e muito trabalho para se colocar próximo de Didi, Garrincha, Pelé, Jairizinho, Tostão, Bebeto, Romário, Ronaldo, entre outros gigantes. Mas, com a medalha de ouro inédita, o camisa 10 protagonista mostra ter um brilho próprio e muito especial.

É importante se lembrar que Neymar ainda tem 24 anos e uma longa história a percorrer com mais Mundiais a partir da Rússia. A essa altura da carreira, já está entre os cinco maiores artilheiros da seleção brasileira e foi de novo decisivo no Maracanã. Ele havia sido o protagonista no título da Copa das Confederações de 2013 e repetiu a dose na Olimpíada.

No caminho da medalha de ouro, Neymar foi fundamental por abrir mão da Copa América Centenário para jogar no Brasil ao lado dos atletas mais jovens. Embalou a partir do terceiro jogo contra a Dinamarca e decidiu no mata-mata contra Colômbia (gol), Honduras (dois gols e duas assistências) e Alemanha (gol e pênalti decisivo). Se mostrou muito mais maduro como atleta agora que na medalha de prata quatro anos atrás.

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Micale vira protagonista do título brasileiro

Em maio de 2015, Rogério Micale já comandava os juniores do Atlético-MG havia seis anos quando recebeu um convite inesperado: assumir a seleção de garotos que estava convocada para o Mundial Sub-20. Ao contrário de medalhões como Zagallo, Vanderlei Luxemburgo, Carlos Alberto Silva e Mano Menezes, ele conseguiu dar um fim dourado a essa história modesta e improvável.

O Brasil conquistou a medalha de ouro de forma invicta no Maracanã e premiou o treinador desconhecido que conseguiu dividir o protagonismo com jogadores do quilate de Neymar, Renato Augusto, Gabriel Jesus, Gabigol e Marquinhos. O projeto de jogo ofensivo e moderno de Micale encantou torcedores e de quebra põe talentos à disposição de Tite na equipe principal.

Após bater na trave em 12 edições, o Brasil finalmente é ouro.

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Fomos criticados, falaram de nós, respondemos com futebol... É isso que podemos fazer. Estou muito feliz, mas é isso. Fazer o quê? Agora vão ter que me engolir!
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Neymar

Neymar

A bola é minha. Está na história. Com todo respeito a todos, muita gente tentou, mas Deus colocou essa geração para fazer história. A gente merece respeito, essa geração merece respeito.
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Weverton

Weverton

Acho que é um resgate da nossa autoestima. A gente vê que não está tudo perdido. Nosso futebol está vivo. A gente precisa de acertos, mas estou feliz no dia de hoje. Fico feliz de participar disso
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Micale

Micale

Como Neymar foi domado

Se vivia às turras com Dunga no fim de sua passagem pela seleção, Neymar encontrou no treinador da equipe olímpica um grande aliado. Já na primeira semana de Granja Comary, Micale foi contra o senso comum da imprensa e elegeu o camisa 10 seu capitão. Fernando Prass era o maior cotado.

O gesto mostrou um treinador disposto a conquistar um jogador que, sejamos práticos, era muito mais importante que ele. Micale sempre reverenciou o atacante, o que gerou algumas críticas internas, mas se mostrou uma ideia que deu resultado. Os abraços entre eles, as conversas ao pé do ouvido em treinamentos e até cuidados táticos especiais mostraram essa afinidade.

Em ritmo físico abaixo do normal, Neymar fez partidas ruins no início da Olimpíada, mas cresceu quando foi transferido da ponta esquerda para o centro do campo. Prata nos Jogos de Londres, o camisa 10 conseguiu o título que alguns dos maiores craques da história da seleção falharam ao tentar. O treinador e amigo Micale teve sua importância para isso.

#PintouMedalha: O sonho virou realidade

Equipe com 4 atacantes era loucura. Virou solução

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Gabriel Jesus

Saiu do centro da área para a ocupar a ponta esquerda, onde deu mais dinamismo ao setor

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Neymar

Virou meia-atacante, com liberdade para dar passes e fazer infiltrações nos espaços vazios gerados por Luan

Folhapress Folhapress

Luan

Como falso centroavante, ele passou a ser o jogador que dá superioridade numérica à equipe no setor onde está a bola

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Gabigol

Funcionou bem pela ponta direita e foi o melhor do ataque na 1ª fase. Depois, caiu e ganhou atenção especial do técnico.

As leis do treinador

  • Goleiro eclético

    Precisa jogar com os pés. Precisa ser líbero e sair rápido do gol

  • Defesa alta

    Defensores empurram o time para a frente e jogam adiantados

  • Zagueiros habilidosos

    Precisam ser rápidos para o 1x1 e saberem passar a bola com qualidade

  • Sem brucutus

    Volante precisa jogar. No time dele, 11 jogam e 11 defendem

  • A "zona vermelha"

    É como ele chama a região ao redor da área de ataque. É onde o time deve trabalhar a bola e buscar espaço

  • Amplitude

    Jogadores devem abrir bem nas pontas para dar amplitude ao campo e gerar espaços na hora de atacar

  • Blitz

    O índice de posse de bola em torno de 65% depende de recuperá-la rápido. Todos os jogadores trabalham duro pela pressão

  • Inversão

    Contra defesa fechada, começar o jogo de um lado e terminar do outro, com inversões rápidas

Um amor de torcida

"É difícil conquistar a torcida do Rio", disse o meia Renato Augusto após a vitória na semifinal, contra Honduras. Mal sabia ele que o trabalho já estava feito. Antes mesmo de a bola rolar na final deste domingo, o público do Maracanã mostrou que a sintonia era quase perfeita. A bola rolou e o que se viu foi um show que há muito não era visto em jogos da seleção em casa.

Vaias e questionamentos deram lugar a gritos inflamados de "uh, sai do chão... quem é pentacampeão".

O Maracanã pulsava como em um Fla-Flu. Neymar, questionado pela crítica especializada, encontrava no estádio o carinho que não tinha há tempos no Brasil. Somaram-se ainda os gritos contra argentinos e as vaias ensurdecedoras que abafavam gritos clichês como "eu acredito".

A defesa de Weverton e o pênalti convertido por Neymar garantiram o ouro inédito e uma lua de mel relativamente surpreendente pra um time que fugia de jogos na região Sudeste.

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Micale foi goleiro no tempo errado

Micale era conhecido como Aranha e teve seus melhores momentos nas divisões de base do Londrina, onde permaneceu até se aposentar aos 23 anos.

O companheiro mais ilustre foi o ex-centroavante Elber, ídolo do Bayern de Munique.

“Não passamos muito tempo juntos. Foi lá por 1990. Mas o Aranha era um cara que estava sempre conversando, era muito animado e falava bastante com todos os jogadores. Era muito comunicativo e um goleiro esforçado. Tinha futuro, mas parou cedo”, conta Elber.

Naquela época, Aranha tinha o desejo de usar os pés para ajudar a equipe na saída de bola do time, um princípio que ele coloca em prática hoje como treinador. Mas, naquele tempo, isso era quase tabu, já que os goleiros podiam receber os recuos com as mãos e raramente passavam a bola.

Quem ficou pelo caminho

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Gallo

Contratado no começo de 2013 para dirigir o sub-20 e o sub-23 do Brasil, Alexandre Gallo tinha dois sonhos: disputar o ouro neste sábado e alcançar, um dia, a equipe principal. Ele foi o principal idealizador do calendário da seleção olímpica e chegou a dirigir a equipe até 2015. Bastante frustrado por não chegar aos Jogos, Gallo hoje não fala sobre o tema em entrevistas.

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Dunga

Primeiro, Gilmar Rinaldi precisou convencer o treinador da equipe principal a também encarar a Olimpíada. Era quem tinha currículo suficiente para suportar a pressão no Rio. Dunga fez todas as convocações para amistosos ao lado de Micale, mas não participou na hora H após ser demitido na Copa América. O relacionamento entre eles, apesar de elogios públicos, é frio.

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