Uma viagem pela Antártida

Fotógrafo registra as belezas da remota região habitada por pinguins, focas e baleias

Do UOL, em São Paulo
Alexandre Meneghini/Reuters

O fotógrafo Alexandre Meneghini teve o privilégio de acompanhar o Greenpeace em uma missão na Antártica. O objetivo da ONG era analisar as vulnerabilidades da região para estabelecer planos de preservação, enquanto o fotógrafo se debruçava em tornar pública a beleza de uma área bastante remota da civilização, mas não intocável.

Esta experiência foi contada com exclusividade à agência de notícias Reuters, que divulga às principais imagens feitas por Meneghini na terra dos pinguins, das focas, das baleias e das geleiras.

Alexandre Meneghini/Reuters

Um refúgio de 1,8 milhão de km²

O Greenpeace organizou a jornada para conscientizar e apoiar uma proposta da União Europeia para criar a maior área protegida da Terra na Antártida.

O plano é criar um refúgio de cerca de 1,8 milhão de km² para baleias, focas, pinguins e muitos tipos de peixes, que deve ser apresentado na Convenção para a Conservação da Vida Marinha da Antártida, em outubro de 2018, na Austrália.

"O continente está atualmente protegido pelo Tratado da Antártida, mas há muito espaço para abuso em torno da região, que já está sendo afetada com o aumento dos níveis de gás carbônico e da invasão dos plásticos nos oceanos", disse Tom Foreman, líder da expedição do Greenpeace.

De acordo com o Greenpeace, a principal preocupação na região é a pesca industrial de krill. O grupo emitiu um relatório neste mês, observando que a maioria dos animais selvagens da Antártida, incluindo pinguins, baleias e focas, depende direta ou indiretamente das pequenas criaturas. Os seres humanos usam o krill em comprimidos de Ômega-3 e em alimentos para animais de estimação.

A chance de proteger essas áreas, que são tão vitais para um número tão grande de espécies de tantas maneiras, não pode ser desperdiçada"

Tom Foreman, da Greenpeace

Alexandre Meneghini/Reuters

Relato de que estevem por lá

Alexandre Meneghini/Reuters Alexandre Meneghini/Reuters

"A viagem começou em Punta Arenas, a capital da região de Magalhães, no Chile. Nós passamos três dias a bordo do Arctic Sunrise, um navio do Greenpeace atracado em um dos portos da cidade, para testar nosso equipamento e realizar exercícios de segurança. Eu estava ansioso para chegar à Antártida.

Quando o navio finalmente deixou o porto, percebi o quanto eu gostava da sensação de estar no mar. Ele proporciona uma sensação de liberdade e promessa para o futuro, o tipo de sensação que você tem quando inicia um novo relacionamento, um novo emprego ou uma viagem para algum lugar em que você nunca esteve.

Depois de rodear a Terra do Fogo, no Chile, escoltados por golfinhos que me faziam lembrar cães perseguindo um carro, chegamos a um lugar que eu havia estudado nas aulas de geografia: a lendária Passagem de Drake, o ponto onde os oceanos Atlântico e Pacífico colidem violentamente.

Alexandre Meneghini/Reuters Alexandre Meneghini/Reuters

Nós tínhamos sido informados de que a passagem poderia ser difícil, então começamos a amarrar tudo. Os remédios para enjoo foram distribuídos e as luzes do banheiro foram deixadas acessas para facilitar a vida daqueles que passassem mal durante a viagem. Eu decidi não tomar as pílulas. Isso foi um erro.

Parecia estar em uma centrífuga. Após as primeiras horas da viagem, fui perguntar ao capitão quantas horas mais demoraríamos para chegar a águas mais calmas. "Pode ser que uns quatro dias", disse. Ele me lembrou que estávamos em um quebra-gelo, um navio solidamente construído, mas não projetado para um passeio suave e rápido. Estes foram possivelmente os quatro dias mais longos da minha vida.

Quando chegamos à Península Antártica, o oceano estava novamente calmo, e pudemos observar muitos animais selvagens. Ao contrário do que alguns podem pensar, a Antártica está cheia de vida. Pinguins, aves marinhas e diferentes espécies de focas e baleias podiam ser vistas em todos os momentos.

Alexandre Meneghini/Reuters

Os primeiros passos antárticos

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Meus encontros com os pinguins foram inesquecíveis

Embarcamos em barcos de borracha, usando roupas de sobrevivência pesando quase 10 quilos. Eu empacotei uma câmera extra e algumas lentes longas, também, adicionando ainda mais peso à roupa já desconfortável. Valeria a pena. Não poderia perder uma chance rara de uma boa foto da Antártida devido ao mau funcionamento da câmera em uma colônia de pinguins distante.

Meus encontros com os pinguins foram maravilhosos e juntaram-se à minha lista de momentos inesquecíveis. Eles não veem os humanos como predadores e podem cercá-lo por horas, se você não se mover muito. Junto com meu cachorro, acho que são os animais mais doces deste mundo. Nessas idas à terra, eu geralmente tinha algumas horas para tirar fotos. Em cada uma delas me senti como uma criança em uma loja de doces.

Sobrevoei com um helicóptero depois de vários dias, quando o tempo ficou claro o suficiente para um voo seguro. Durante três viagens pela península, vi algumas das paisagens mais esplêndidas que já vi. Nenhuma das minhas fotos faz justiça à experiência de ver esses lugares pela primeira vez.

Como minha longa viagem provou, a Antártida está longe da civilização, mas não é intocada. O Greenpeace veio aqui para apontar algumas das vulnerabilidades da região. Espero que minhas fotos revelem alguma beleza da região."

Alexandre Meneghini

Alexandre Meneghini/Reuters Alexandre Meneghini/Reuters

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