Clémence menciona "o abuso" constante e "perguntas constrangedoras" como "você é operada?" ou "Como você se chamava antes?".
"Pode-se considerar que a transição não acaba nunca", lamentou essa mulher morena, de rosto redondo e cabelos longos.
Christelle, por sua vez, iniciou a transição depois de ficar 34 anos em um corpo que não lhe correspondia, o de um militar parrudo e imprudente.
"Eu sabia desde muito pequena", conta. "Mas é preciso muita coragem para poder falar isso", contou.
Durante esse tempo teve "três tentativas de suicídio". Depois sua mulher a deixou e sua filha não fala com ela.
Esta mulher morena com óculos também lembrou as "torturas" sofridas em algumas operações.
A depilação a laser para tirar a barba a fez sentir em todas as sessões "milhares de alfinetadas".
Para transformar seu pênis em uma cavidade vaginal viajou para a Tailândia e sofreu os efeitos do pós-operatório durante um ano.
"Eu chorava todos os dias. Tive que sofrer isso para poder ter depois uma vida normal", disse.
Aos 45 anos, Christelle continua no exército, está feliz casada com um militar, com quem tem um filho por reprodução assistida.
"Se eu não tivesse feito a transição, eu estaria aqui", disse. "Isso é uma certeza".
"Se há um ponto comum a todas as trajetórias, é a noção de que é algo inexorável. Para todos os meus pacientes trans, não havia outra opção", comentou o psiquiatra Thierry Gallarda, especialista no tema.
Mas a transição, cujo processo médico gera "júbilo", já que muda efetivamente a vida, também leva à arbitrariedade.
"Há corpos mais ou menos plausíveis".