Ameaças ao rio arco-íris

Petróleo e clima colocam em xeque biodiversidade de importante atração turística da Colômbia

Murray Carpenter The New York Times, em La Macarena (Colômbia)
Federico Rios Escobar/The New York Times

Ángela Díaz subiu na ponta de uma pedra acima de um riacho chamado Caño Piedras e apontou para uma planta simples, cor de azeitona, que crescia ali embaixo. A planta aquática Macarenia clavigera, afirmou, é a chave para o futuro desta região remota no centro da Colômbia.

Em maio, quando as chuvas chegam, os rios sobem e as plantas assumem uma coloração vermelho brilhante. "Esta planta tem uma qualidade peculiar de mudar de cor. É possível ver isso acontecendo de maio a novembro", explicou Díaz.

As águas limpas, que criam vida com o escarlate da M. clavigera, fluem sobre pedras marrons do Planalto das Guianas, criando um espetáculo de cores brilhantes todos os anos. O Caño Cristales, um rio próximo, tornou-se uma importante atração turística e é chamado de "o rio das cinco cores" ou "o arco-íris derretido".

Luis Alveart/The New York Times Luis Alveart/The New York Times
Federico Rios Escobar/The New York Times) Federico Rios Escobar/The New York Times)

A poucos passos de distância, Díaz, que trabalha como guia durante a temporada de turismo, também notou uma infiltração aveludada manchando as pedras do rio. Esse é outro motivo por que esta região está atraindo a atenção: o petróleo.

Uma empresa do Texas esperava perfurar poços de petróleo a oeste deste ecossistema único. Agora, a disputa entre a companhia e o governo da Colômbia está indo para o tribunal.

O centro desta região é La Macarena, uma pequena cidade empoleirada na beira do amplo e argiloso Rio Guayabero. Por décadas, a guerra do governo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, o exército guerrilheiro conhecido como Farc, fizeram com que a região fosse considerada perigosa para os turistas.

Cerca de 12 anos atrás, depois que os militares colombianos estabeleceram uma presença mais forte na área, poucos turistas vieram para cá. Com o encerramento do conflito civil no país – um acordo de paz foi assinado em 2016 – esses poucos se tornaram uma multidão.

Luis Alveart/The New York Times Luis Alveart/The New York Times

15 mil turistas por ano na região

Mais de 15 mil turistas visitaram o rio arco-íris no ano passado, e Díaz é uma entre os mais de 130 guias locais. Em dias movimentados, centenas de visitantes se espalham entre os sete locais designados administrados pela Cormacarena, a agência do governo regional focada no desenvolvimento sustentável. Vários desses locais, entre eles o Caño Cristales, são parte do Parque Nacional da Serra de La Macarena.

Em 2009, a Hupecol, uma subsidiária colombiana da Dan A. Hughes Co., de Beeville, no Texas, começou a fazer estudos sísmicos para procurar petróleo em um terreno que havia alugado perto da pequena cidade de San Vicente del Caguán, a oeste daqui.

O governo colombiano revogou o aluguel em 2016, e o presidente Juan Manuel Santos escreveu no Twitter que a decisão iria proteger o Caño Cristales e a área ao redor dele.

A revogação se tornou popular em La Macarena, onde o prefeito, Ismael Medellin Dueñas, que tem uma pintura do Caño Cristales em seu escritório, disse que os moradores estão muito preocupados com os possíveis efeitos ambientais da extração de petróleo. O futuro econômico da região está nas fazendas leiteiras e no ecoturismo, afirmou ele.

Cartazes e murais contra a perfuração de poços de petróleo enfeitam as paredes e as janelas da cidade. "Antes era a guerra das Farc. Agora é a guerra da perfuração", diz Miguel Ortiz, professor de inglês e intérprete que mora aqui há 13 anos.

Júlia Miranda/Parque Nacional Natural Sierra de la Macarena Júlia Miranda/Parque Nacional Natural Sierra de la Macarena

Os cientistas estão tentando aprender mais sobre esse ambiente diverso e único, onde jaguares e gatos-maracajás percorrem a savana e a floresta, e golfinhos de rio nadam no Guayabero.

Carlos Lasso, pesquisador do Instituto Humboldt, uma organização sem fins lucrativos dedicada a estudar a biodiversidade da Colômbia, ajudou a escrever um guia de 180 páginas sobre a fauna do Caño Cristales, parte de um estudo regional de quatro anos.

No final de janeiro, ele liderou uma expedição de duas semanas em grandes canoas de madeira para pesquisar os rios Duda, Guayabero e Losada. A equipe identificou mais de 50 espécies de pássaros aquáticos, quatro de cobras aquáticas e mais de 150 de peixes, entre elas três que podem ser novas para a ciência.

Eles também encontraram crocodilos Orinoco, uma espécie criticamente ameaçada, que pode atingir até sete metros de comprimento.

A humilde M. clavigera desempenha um papel fundamental já que atrai os turistas que impulsionam a economia. A planta é endêmica destes rios de águas claras, ácidas e pobres em nutrientes que vêm da Serrania de la Macarena, uma cordilheira de montanhas isolada ao leste dos Andes.

É um ecossistema único e muito frágil."

Ángela María Rodríguez, a gerente de sustentabilidade integral da Hupecol, explicou que há muita falta de informação sobre o projeto de petróleo. Para começar, disse ela, a área alugada pela Hupecol fica longe do Caño Cristales.

"Não há qualquer possibilidade de impacto porque fica a 68 quilômetros de distância", contou Rodríguez. Depois, segundo ela, a empresa não tem qualquer interesse em usar o método de fratura hidráulica, como algumas pessoas temiam, apenas a perfuração convencional de petróleo.

Rodríguez descreveu a decisão de revogar a permissão da Hupecol como política, uma oportunidade para as autoridades do governo lustrarem suas credenciais ambientais protegendo uma região turística popular.

Ela confirma que os estudos sísmicos foram promissores e que a Hupecol esperava abrir um poço exploratório. A empresa abriu um processo judicial contra o governo em que cobra US$21 milhões em danos.

Agora, porém, existe uma nova complicação. Um grupo de dissidentes da Farc que não se desarmou com o recente acordo de paz continua ativo na região. "Neste momento, não sabemos se será possível abrir um poço aqui mesmo que as licenças voltem para nós", afirmou Rodríguez citando a instabilidade.

Javier Francisco Parra, coordenador regional da Cormacarena, reconheceu que o aluguel da Hupecol não é tão perto do Caño Cristales, mas disse que seria difícil saber se os poços representariam uma ameaça direta ao rio.

Além disso, a perfuração de petróleo é incompatível com o plano de administração regional da Cormacarena, que foi desenvolvido com a contribuição dos moradores locais.

Parque Nacional Natural Sierra de la Macarena/Divulgação Parque Nacional Natural Sierra de la Macarena/Divulgação

Parra vê outra ameaça surgindo: nos últimos anos, tem havido períodos de seca durante a estação chuvosa e de chuva durante a temporada de seca.

Lasso explicou que não há dados de fluxo de água em longo prazo para o Caño Cristales, mas concordou que as coisas parecem estar mudando. O rio fica fechado para os turistas durante a temporada de seca e, na última década, segundo ele, essa estação parece chegar cada ano mais cedo.

O fato poderia ser parte de um ciclo natural, de acordo com Lasso, ou estar relacionado com o desmatamento da floresta local. Mas também pode estar ligado a padrões mais amplos de mudanças climáticas.

De volta a Caño Piedras, Díaz, que trabalha como bombeira durante a temporada de seca, para sobre as antigas rochas, entre as plantas de M. clavigera e a mancha de petróleo, e diz que está ansiosa para a chegada de maio. Os turistas vão voltar, e os rios novamente ficarão vermelhos.

Díaz foi muito clara sobre o que ela e seus colegas pensam a respeito da controvérsia legal. "Os guias não querem a perfuração de poços de petróleo", afirmou.

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