Chegada do Incra
O dia 18 de junho de 2010 se tornaria um divisor de águas para a comunidade. Foi quando uma forte cheia atingiu o município de União dos Palmares (AL) e deixou 86 famílias do quilombo desabrigadas. Dada a situação de emergência, o Estado foi acionado e, consequentemente, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) chegou ao local, propondo a titulação das terras.
"Eles falaram que pegariam de volta os terrenos que foram vendidos e outros que foram tomados. Aceitamos o Incra aqui dentro. Mas aí, aos poucos, algumas pessoas foram abrindo a mente e fomos percebendo que não era bom para nós. Porque Muquém já era antes uma escritura só. E depois ter que anular esses 16 papéis (inventário) para se tonar um papel só novamente, aí eu não ia mais ser dono da minha casa, ia morar aqui na terra do governo. Porque foi isso que eles passaram para nós, ficaríamos aqui coletivos. Aí seria como se eu tivesse morando aqui a favor. Isso enquanto o governo quisesse", explica Edinho.
O ativista conta que, diante desse cenário, decidiu agir: "Então, eu fui o primeiro cara a botar minha arma na mão. Mas que arma? Uma caneta e um papel para fazer um abaixo-assinado. Já que procuramos um advogado em Maceió, e ele falou: 'Se a comunidade deu o aval para o Incra entrar, só a comunidade pode tirar'. Primeiro, eu consegui 109 assinaturas. Saí conversando com as pessoas e consegui 152 assinaturas. Se o governo não está dando suporte pra gente como quilombola, ia dar como moradores dele? Foi uma luta e expulsamos o Incra do Muquém. Pronto! O Incra aqui não pisa mais".