Na parte inferior da praça, para o lado que vai dar no Pátio do Colégio, está o pastor Arnaldo de Albuquerque Melo, 75, o mais antigo pregador da Sé em atividade: há 40 anos "segurando culto", como ele diz.
"Quem funda o trabalho é aquele que segura o culto. Porque aquele que chega aqui, prega e desaparece, esse aí nunca pode ser o primeiro. Tenho aguentado as consequências, porque Jesus aguentou tudo da humanidade e não desistiu. Até hoje estou segurando. Tenho sido ameaçado de morte, já botaram um [revólver] 38 nas minhas costas, disseram para o povo: 'Vamos matar ele'. E o povo ficou com medo, aí, quando puxava o gatilho, não saía nada, quando levantava para cima, o tiro saía. Graças a Deus", conta.
Trajando terno e gravata, ele coordena os trabalhos locais, que incluem outros pastores, num ministério independente, sem ligação com nenhuma igreja, que denominou de Ide por Todo Mundo. Uma espécie de igreja informal em que ele diz que todos são iguais, "sem um tubarão comendo os outros", como diz ver nas outras igrejas.
Viúvo, morando com a segunda companheira e pai de três filhos, Arnaldo relembra o começo e a conversão: "Eu era um mundano, não conhecia a verdade. Passei pela primeira vez na praça da República [também no centro de São Paulo] e ali tinha um pregador. Fiquei curioso para saber o que ele estava falando, porque eu nunca tinha ouvido ninguém falar de Jesus. Falei: 'Quero ver aonde ele quer chegar'. Aí chegou a hora que ele disse: 'Quem quer se entregar para Jesus?'. Eu fui o primeiro que pulei na roda. Me rendi para Cristo. Quando saí dali, saí outra pessoa. Porque a Bíblia diz: 'Quem está em Cristo nova criatura é'", ressalta.
A audição do chamado, com a descoberta da direção, se mostraria um caminho difícil, hoje reconhece. "Deus tocou meu coração para eu abrir um trabalho aqui, mais de 40 anos atrás. Depois de que o camarada vem para a verdade, vem muita perseguição. Para entrar no Céu, o preço é muito caro. Bem que Jesus falou. E eu tenho pagado esse preço."
Quando prega, Arnaldo diz que o Espírito Santo o toma como instrumento. "Eu não tenho medo nem de dragão que aparece, quando estou aí dentro [apontando para o quadrilátero]. Pessoa já se entregou para Jesus dizendo: 'Rapaz, eu fiquei assombrado [com] você pregando. Um homem daquele tamanho com uma coragem daquela?...' Mas é o Espírito Santo que se apodera do corpo da pessoa. Deus não gosta de escolher muito grandão, não, Deus gosta de escolher é pequenininho que nem Davi [risos]. Glória a Deus, louvado seja o nome de Jesus, para sempre seja louvado. Que Deus abençoe".
O pastor se diz diferente dos demais colegas de profissão na Sé, quando a questão são as doações. "Não peço dinheiro, não. Sou o único que vivo pela fé. Deus é que faz milagres na minha vida, a pessoa chega no meu bolso e: 'Ó, isso aqui por Deus, isso aqui por Deus'. Entendeu? Eu confio Nele, quem confia Nele está seguro. Então muita gente fica assombrada aqui porque eu vivo da fé. A maioria faz arrastão, eu não faço isso aí, não. Graças a Deus estou na dispensação da graça."
Pelo trabalho de "servo de Deus", Arnaldo diz não temer o futuro, o tempo em que ficar bem velho e não puder mais pregar. "Deus nunca enganou ninguém. Jesus nunca enganou ninguém. Ele paga adiantado. Tenho certeza de que, antes da minha partida, Deus ainda vai me abençoar, que muitos vão ficar assim assombrados, com o queixo caído. Eu tenho certeza absoluta", diz.
"O valor de uma alma não tem preço. Agora imagina num ano quantas almas Deus não salva, e eu tenho mais de 40 anos aqui. Se eu ficar bem velhinho, Deus não vai me deixar na rua nem vai deixar eu passar fome, nem pedir esmola. Ele vai me dar tanto que eu vou ter para dar aos outros. Eu penso nos outros. Para a honra e glória Dele. Que Deus abençoe."