"O mercado sabe que, mesmo agora que foi confirmado, o governo Temer dificilmente vai fazer a reforma antes do término das eleições", avalia André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. "Mas, uma vez concluído o processo eleitoral, haverá muita expectativa de que o ajuste fiscal venha imediatamente", diz.
Para o economista, a pauta do ajuste fiscal tem poucas margens para manobra. "Sou cético quanto ao corte de gastos. Os serviços de saúde já são periclitantes de ruins, os de educação pública também, então vai cortar onde?", questiona Perfeito. "Haverá uma pressão muito grande, um desgaste enorme, deve ser muito difícil aprovar isso tudo do jeito que foi anunciado e deixou o mercado feliz." Ele adverte que a conjuntura econômica internacional (taxa de juros nos EUA, preço de commodities e crescimento da China) deve ser determinante para o humor dos investidores.
O caminho natural para equilibrar as contas, na opinião de Perfeito, será o aumento de impostos, o que deve gerar desgaste com o setor produtivo e a população em geral: "Vai ter reforma trabalhista e da Previdência? Vai passar o teto de gastos? Essas questões todas começam a se acumular e terão de ser respondidas a partir de agora. O lastro de confiança do governo vai até novembro".
Se o governo parar de atrapalhar, como o anterior, e mostrar empenho em apontar no caminho certo, já está ótimo neste primeiro momento Renato Conchon, do núcleo econômico da CNA (Confederação Nacional da Agricultura)
Até agora, isso não se traduziu em atos concretos, e as pressões já começaram antes mesmo da conclusão do impeachment. O topo do PIB ficou descontente com o aumento concedido a servidores públicos e o recuo na renegociação das dívidas dos Estados, vistos como sinais de falta de força para implementar a pauta que foi anunciada.
Em agosto, Temer se encontrou com alguns dos maiores empresários e banqueiros --entre eles Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Jorge Gerdau (Gerdau), Pedro Passos (Natura) e Pedro Moreira Salles (Itaú)-- para reafirmar seu compromisso com o ajuste fiscal e as reformas.
De acordo com José Augusto Fernandez, diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria), nos últimos meses houve aumento no nível de confiança tanto dos empresários quanto dos consumidores, mas a economia real ainda "está no fundo do poço".
"O conjunto de medidas da reforma fiscal que foi apresentado tem que ser posto em prática o quanto antes", afirma o empresário, que não crê haver espaço para aumento de impostos antes que o governo comece a diminuir gastos. "Sabemos que vai ser difícil, mas não há opção, senão o Brasil desaba de vez."
"A gente tinha um governo que estava com a pauta errada e agora tem um com a pauta certa. O governo está acumulando crédito. Ele vai começar a gastar a partir de agora e precisa entregar o que prometeu", diz André Rebelo, assistente para assuntos especiais da presidência da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A entidade teve protagonismo na campanha pelo impeachment de Dilma com o mote contra o aumento de impostos simbolizado por um pato amarelo gigante. "Não vemos espaço para aumentar a carga tributária, isso seria uma frustração muito grande para nós", afirma Rebelo.