Menos aparelhos na Motorola

O brasileiro Sergio Buniac, novo presidente global da marca, planeja enxugar componentes e cores de celulares

Márcio Padrão Do UOL Tecnologia
Marcelo Ferraz/UOL

A história da Motorola no Brasil praticamente se mistura com a evolução da telefonia celular no país, remontando a meados dos anos 90. Sergio Buniac foi e ainda é testemunha ocular dessa história, há 22 anos na empresa. E neste ano teve sua maior recompensa, ao se tornar presidente global da Motorola.

Engenheiro eletrônico formado pela USP, Buniac atuou na gerência geral da Motorola no Brasil entre 2007 e 2011. Neste ano, passou à liderança do Cone Sul no mesmo período em que a Google comprou a empresa (em 2014, a gigante das buscas vendeu a Motorola para a Lenovo). Um ano depois, Buniac passou a chefiar o segmento de celulares Motorola em toda a América Latina. Em março, tornou-se presidente mundial após o anterior, Aymar de Lencquesaing, deixar o cargo. 

Para Buniac, a boa nova também significa um grande desafio imposto pela Lenovo, empresa chinesa dona da Motorola desde 2014: manter a força da marca em seus mercados mais estratégicos, como América Latina e Índia, além de torná-la mais competitiva nos EUA e Europa.

No começo de abril, ele deu ao UOL Tecnologia a sua segunda entrevista em todo o mundo depois de ter assumido o cargo. Nela, adianta, por exemplo, que reduzirá em 20% o número de versões de aparelhos em todo o globo com o enxugamento de componentes e mesmo de cores diferentes dos celulares em diferentes mercados.

Brasileiro decide compra no ponto de venda

Em que lugar está o Brasil no mercado da Motorola hoje?

O Brasil está entre os três maiores mercados. A Motorola é número dois no Brasil na área de celulares, e em computadores a Lenovo está disputando a primeira ou segunda posição. Então, é um mercado prioritário para a Lenovo como um todo. Nosso compromisso com o Brasil é de longo prazo, pois fomos a primeira a ter fabricação no Brasil, a primeira a ter assistência técnica própria, lançamos a primeira geração do Moto G no Brasil. O Brasil conquistou esse espaço.

Quais são as diferenças entre públicos da Motorola do Brasil em relação ao resto da América Latina, China, Índia e EUA?

Diria que 80% das necessidades dos consumidores globais são muito parecidas. O brasileiro pesquisa bem antes de comprar, mas existe uma influência muito grande do ponto de venda [loja física] na hora da compra. Enquanto nos EUA as pessoas já chegam com a decisão, no Brasil só metade chega com essa decisão.

A China é o maior mercado online do mundo, então compram muito online por lá. Se no Brasil 20% do nosso mercado online, na China esse número chega a 40%. E alguns mercados modelam o celular como item pessoal, quase como uma roupa, como no Brasil ou Índia.

Os asiáticos são muito focados nas "specs" (especificações técnicas do celular). Os americanos e europeus, e alguns latinos, estão mais focados na experiência e usabilidade. São diferenças que temos que acomodar.

Chave para o sucesso é resiliência

O Brasil exige planejamento de longo prazo

O brasileiro é sofisticado. Parte do nosso sucesso é trazer o último em tecnologia ao Brasil. Há alguns anos, alguns concorrentes nossos levavam 60, 90, 200 dias para lançar um produto global no Brasil. A gente lança globalmente em vários mercados ao mesmo tempo, incluindo o Brasil. É um consumidor que quer o último, que valoriza custo-benefício e acredita que não precisa pagar a mais para ter funcionalidades importantes. É o que fizemos com a família Moto G e Moto X

Sérgio Buniac

Lucas Jackson/Reuters Lucas Jackson/Reuters

Simplicidade

Aposta do passado, empresa vai limitar opções de cores de aparelhos

Em um evento na China no começo de abril, Yang Yuanquing, executivo-chefe da Lenovo, delineou para cerca de 1.000 funcionários da companhia as missões da Motorola para 2018. São eles: gastar menos de US$ 500 milhões, reduzir a complexidade dos negócios, investir em mercados-chave, focar nos consumidores e se esforçar para melhorar o boca a boca. Como fazer isso? 

A linha Moto X vai acabar?

Sobre cortes em famílias de aparelhos, a gente não tem nada para anunciar. Acabamos de anunciar a Moto X4 em outubro. Se somar a família X com a Z, no segmento premium, a Motorola tem um market share de 5% a 6%, segundo a consultoria GFK. No segmento de preço de R$ 1.500 a R$ 3.000, a gente vem conquistando muito espaço e hoje tem um terço desse mercado no Brasil. É um segmento extremamente importante pra gente

Sérgio Buniac

Cadu Rolim/Folhapress Cadu Rolim/Folhapress
Divulgação Divulgação

Só a China terá celulares Lenovo

"A Lenovo divide os celulares entre duas companhias. Ela tem a China, que trata como uma coisa separada do resto do mundo. A estratégia de marca para o resto do mundo foi focar na Motorola. Essa decisão foi tomada há mais ou menos 14 meses. Estamos finalizando o processo. A estratégia continua a mesma. Na China, existe uma estratégia de marca de ter a Lenovo e a Motorola. A Motorola fica um pouco mais no segmento de alto preço, e a Lenovo no médio e de entrada. Existe uma crença na companhia que seria melhor ter as duas marcas na China para ganhar escala"

Evelson de Freitas/Estadão Evelson de Freitas/Estadão

Operação no Brasil está aumentando

Em março, 200 funcionários em Chicago (metade da força de trabalho na cidade) foram demitidos

"As reestruturações que foram anunciadas já foram realizadas. Não existe nada mais acontecendo no futuro. No Brasil, a gente vem contratando, mesmo durante em 2015 e 2016, que foram anos mais duros, contratamos mão de obra, engenharia, pesquisa. O investimento no Brasil é significativo tanto em verba quanto em pessoas"

Celulares icônicos da Motorola

  • Dynatac (1984)

    Foi "apenas" o primeiro celular a ser vendido no mundo. Seu protótipo é ainda mais antigo, de 1973. Mas ele não fazia ligações, porque ainda não havia uma rede de telecomunicação para isso.

  • Startac (1996)

    Foi um dos primeiros a trazer um redesenho de design inovador, com abertura flip em concha. Seu nome vem da série "Star Trek", que trazia comunicadores que inspiraram este modelo

  • Razr (2004)

    Este avançou ainda mais no design. A versão inicial, a V3, foi uma das primeiras da Motorola com tela colorida. Vieram depois outros Razrs, mas o apelo "fashion" do original marcou época.

  • Defy (2010)

    Anos antes dos iPhones e Galaxies, um dos primeiros smartphones da Motorola já se destacava por sua resistência a poeira e a líquidos, além do corpo mais robusto que a média da época.

  • Atrix (2011)

    Este trouxe um lapdock, tipo de notebook cujo "cérebro" era o próprio celular. O conceito foi corajoso e até hoje essa interação é buscada por outras fabricantes, mas recebeu críticas por não funcionar muito bem.

  • Moto G (2013)

    Já sob a tutela da Google, a Motorola surpreendeu com este modelo barato que trazia uma qualidade muito acima dos demais da mesma faixa de preço. Também é seu celular mais vendido até hoje.

  • Moto X (2013)

    Mais um modelo com assinatura Google, foi um dos primeiros a destacar o uso de comandos de voz, com a integração com o assistente Google Now --que viria a ser depois o Assistente.

  • Moto Z (2016)

    A maior inovação do atual top de linha da Motorola é seu conceito modular, no qual vários acessórios podem ser encaixados magneticamente para ampliar as funcionalidades do aparelho.

Motorola no mercado global

Segunda maior empresa da América Latina, quer se estabelecer em outros mercados

Motorola ou Samsung?

Para Buniac, mercado é cíclico e não há problema nisso

Samsung e Motorola se revezam no topo do mercado brasileiro. Isso, claro, se reflete no discurso das duas empresas, que se alternam também em cravar quem é a queridinha nacional. Quem tem a razão nessa disputa verbal?

O consumidor. A gente está aqui para oferecer opção, e não para dizer que é melhor que o nosso concorrente. A gente acredita que a gente tem que olhar pro consumidor, trazer opções, e a decisão é dele. Hoje é o Galaxy, amanhã é o Moto G, obviamente são dois ícones do mercado, são duas marcas importantes. A gente está bem tranquilo com isso

Divulgação/Lenovo Divulgação/Lenovo

O futuro pós-celular

No mundo da tecnologia, fala-se no "fim dos celulares" e espera-se uma nova revolução. Será?

A gente teve o prognóstico do fim dos computadores há dez anos, mas o mercado de computadores se reinventou. Agora, você tem gaming, AR, VR (realidade aumentada e virtual)... Conforme necessidades vão surgindo, os mercados vão crescendo

Sérgio Buniac

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