Roberto Romano, professor de ética e filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), concorda com Maierovitch. Ele opina que há mais um fator que "empurra" o PT para esse caminho: a falta de um nome nacional capaz de substituir Lula.
"O PT não possui nenhuma outra liderança de expressão nacional, apenas lideranças regionais", diz.
"O Lula é o único aglutinador entre diversos grupos diferentes dentro do partido. Sem ele, não há um projeto nacional nem unidade no PT. Assim, é natural que o partido não encontre outro caminho sem ele para esta eleição, mesmo sabendo que ele não vai poder ser o candidato no dia da votação”, afirma.
Do outro lado dessa “mesa”, o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor dos livros “A Cabeça do Brasileiro” e “A Cabeça do Eleitor”, diz acreditar que a prisão de Lula vai acelerar o processo de “passagem de bastão” que o ex-presidente não conseguiu fazer completamente em 2011, quando deixou o poder.
Lula já cogitava "passar o bastão" muito antes de 2018, diz Almeida, mas diversas circunstâncias o impediram.
"O Lula não passou o bastão ainda porque não conseguiu. Mas, agora, até mesmo por conta da eleição, ele não deverá ter outra escolha. A princípio, o sucessor dele era o [ex-ministro da Casa Civil] José Dirceu, mas ele foi 'abatido' no mensalão. Depois, o sucessor seria [ex-ministro da Fazenda] Antonio Palocci, que também caiu. Lula tentou passar o bastão ainda para a [ex-presidente] Dilma, mas, como a gente viu, não deu certo", disse.
O cientista político e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Cláudio Couto também afirma que Lula será "obrigado" a passar o bastão de olho nas eleições de 2018. "Agora, ele não tem escolha. Ele vai ter que indicar esse nome", disse.
Ele afirma, no entanto, que a pressa para que Lula "passe o bastão" coloca o ex-presidente e o PT em uma encruzilhada. Quem seria o sucessor ou sucessora de Lula em 2018?
Para Couto, essa resposta não é fácil nem óbvia.
"Quando você olha para o PT, percebe que o partido não formou essa liderança que pudesse suceder o Lula e conduzir o partido no futuro. Fora do PT, que outros nomes poderiam ser essa liderança? O [Guilherme] Boulos [pré-candidato à Presidência pelo PSOL]? Eu acho que não", diz.
Além de Boulos, com quem Lula mantém relação próxima, outra pessoa apontada como um possível sucessor é o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT).
Pesa contra ele, porém, o fato de ele ser pouco conhecido em todo o Brasil e a falta de um perfil mais "popular" como o do ex-presidente.
Outro nome cogitado para suceder Lula nas eleições de 2018 é o do ex-presidente é o ex-governador do Ceará, ex-ministro e pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT).
Apesar de ter sido ministro de Lula, Ciro e o ex-presidente trocaram várias farpas recentemente, o que, em tese, dificultaria esse processo. Além disso, o nome de Ciro é visto com desconfiança por grande parte da militância do PT por ele não ser do partido.
Um petista próximo ao ex-presidente admitiu que o PT discute, internamente, a sucessão de Lula nas eleições de 2018. Para ele, essa passagem de bastão é “urgente e inevitável”.
Ele disse, no entanto, que o "plano B" a Lula não é discutido em público justamente porque, neste momento, o partido ainda está empenhado em livrar Lula da cadeia. O raciocínio é que discutir um "plano B" é "reconhecer uma derrota".