EUA rejeitam Hillary Clinton

Ex-secretária de Estado perde corrida à Casa Branca para Donald Trump

Brendan Smialowski/AFP

Em uma corrida acirrada, a candidata democrata à Presidência dos EUA, Hillary Clinton, 69, foi derrotada nas eleições realizadas nesta terça-feira (9). Segundo resultados parciais anunciados na madrugada desta quarta (horário de Brasília), a ex-secretária de Estado obteve 47,15% do voto popular e 218 dos 270 votos eleitorais necessários para o Colégio Eleitoral.

Nos EUA, é o Colégio Eleitoral quem de fato elege o presidente do país. Essa votação irá ocorrer no próximo dia 15 de dezembro e vai formalizar o republicano Donald Trump como presidente dos EUA. Trump obteve, segundo resultados parciais, 48% do voto popular e 276 votos eleitorais no Colégio Eleitoral.

Apesar de ter se saído bem em Estados de peso, como a Califórnia (tradicionalmente democrata), Hillary perdeu em Estados cruciais, como Flórida, Ohio e Carolina do Norte -- todos parte dos chamados Swing States, Estados em que a preferência do eleitorado oscila entre um partido e outro. 

 

Chefe de campanha discursa no lugar de Hillary após derrota

Inicialmente, a democrata se recusou a reconhecer a derrota. Em seu lugar, John Podesta, seu chefe da campanha, fez um breve pronunciamento para os que esperavam Hillary no Centro de Convenções Jacob K. Javit, em Nova York, em que disse que partido aguardará a contagem total dos votos.

"Ainda estamos contando votos. Cada voto deve ser contado", disse Podesta, que também agradeceu o apoio dos eleitores democratas e parabenizou Hillary pela campanha. 'Foi uma longa noite, e tem sido uma longa campanha. Podemos esperar um pouco mais, não podemos?", disse ele.

Mais tarde, foi anunciado que Hillary telefonou para Trump aceitando a derrota eleitoral.

Logo no início da apuração, as projeções de resultados se mostraram desfavoráveis à candidata democrata. Às 23h55 (horário de Brasília), enquanto canais de TV mostravam o mapa americano sendo pintado de vermelho -- a cor do Partido Republicano --, Hillary usou o Twitter para agradecer sua equipe.

"Esta equipe tem tanto para se orgulhar. O que quer que aconteça nesta noite, obrigada por tudo", disse a ex-secretária de Estado. Alguns analistas interpretaram essa mensagem quase como um reconhecimento de derrota.

Adrees Latif/Reuters Adrees Latif/Reuters

A derrota da ex-secretária de Estado não deixa de ser uma surpresa. Após uma campanha considerada uma das mais agressivas da história americana, Hillary aparecia nas projeções de diversos institutos com acima de 80% de chances de ser eleita.

A "surpresa de outubro" veio dez dias antes da eleição, quando o FBI anunciou que seria reaberta uma investigação sobre o uso de um servidor privado de e-mails por Hillary Clinton no período em que era secretária de Estado. 

O assunto foi explorado à exaustão por Trump -- que já havia dito, em um dos debates presidenciais, que prenderia Hillary se fosse presidente por conta dos emails -- e fez a vantagem da democrata nas pesquisas cair quase de imediato.

No sábado anterior à votação, o FBI afirmou que não havia motivos para indiciar Hillary pelo caso. Mas talvez o estrago já estivesse feito. 

Hillary nasceu em Chicago, em 26 de outubro de 1947, filha de um industrial com uma dona de casa. Sua família era metodista e muito religiosa. Politicamente, os Rodham --sobrenome de solteira da democrata-- eram conservadores. Isso fez com que Hillary começasse sua militância nas fileiras do Partido Republicano. Em 1965, ingressou na Wellesley College, onde se aproximou de movimentos em favor dos direitos civis dos negros e contrários à Guerra do Vietnã. Foi quando se tornou democrata. Após obter seu bacharelado em artes com ênfase em ciências políticas, Hillary rumou para Yale.

Foi lá, durante o curso de Direito, que, em 1971, começou a namorar Bill Clinton, com quem se casaria em 1975, dois anos após se formar. Casada, Hillary foi morar na terra do marido, o Estado do Arkansas. Por lá, manteve uma carreira de sucesso como advogada, ao mesmo tempo em que acompanhou Bill como primeira-dama do Estado, de 1979 a 1981 e de 1983 a 1992. Seu principal legado foi a luta pelo bem-estar das crianças.

Foi lá, durante o curso de Direito, que, em 1971, começou a namorar Bill Clinton, com quem se casaria em 1975, dois anos após se formar. Casada, Hillary foi morar na terra do marido, o Estado do Arkansas. Por lá, manteve uma carreira de sucesso como advogada, ao mesmo tempo em que acompanhou Bill como primeira-dama do Estado, 1979 a 1981 e de 1983 a 1992. Seu principal legado foi a luta pelo bem-estar das crianças.

Doug Mills/The New York Times Doug Mills/The New York Times

Em 1993, chegou a Washington como primeira-dama do país, quando Bill venceu George Bush e foi eleito o 42º presidente dos Estados Unidos. Durante o mandato, Hillary se destacou por ajudar na aprovação da lei de adoção e segurança da família e na luta por estabelecer um programa estatal de seguridade social. Seu trabalho era tão intenso que chegou a receber um gabinete próprio na Casa Branca.

No entanto, durante seus anos em Washington ela teve de enfrentar duas duras crises. A primeira diz respeito ao caso Whitewater, um escândalo financeiro que ligava os Clinton a uma empresa acusada de operações ilegais. Nada foi provado contra o casal. A segunda, uma humilhação. Em 1998, foi revelado que Bill teve um caso amoroso com a estagiária Monica Lewinsky. Apesar da traição, Hillary se manteve ao lado do marido e viu sua popularidade crescer muito no país.

No fim do segundo mandato do marido, Hillary decidiu se aventurar como candidata e lançou-se na disputa por uma cadeira como senadora por Nova York. Virou a primeira mulher senadora pelo Estado e uma grande pedra no sapato do presidente George W. Bush, eleito pelo Partido Republicano. Em 2006, foi reeleita no Senado. O resultado transformou a democrata em uma possível candidata à Presidência da República.

Em 2007, virou pré-candidata à Presidência pelo partido Democrata. E começou a campanha liderando as pesquisas. No entanto, seu apoio inicial à Guerra do Iraque acabou minando sua pré-candidatura que, ao longo de 2008, foi perdendo espaço para a do senador Barack Obama, que se tornou o candidato do partido e, posteriormente, presidente dos Estados Unidos. Para manter a unidade do partido, Obama acabou chamando Hillary para ser sua secretária de Estado. A democrata relutou no começou, mas ficou no cargo por quatro anos.

Como secretária de Estado, Hillary viajou para 112 países, mais que qualquer outra pessoa que havia ocupado o cargo. Além disso, foi a responsável pela resposta norte-americana à Primavera Árabe e virou co-responsável, ao lado de Obama, pela operação que matou o terrorista Osama Bin Laden, em 2011. Enfim, foi como secretária de Estado que a democrata construiu uma imagem de estadista, algo muito explorado na campanha para a eleição de 2016.

Doug Mills/The New York Times Doug Mills/The New York Times

Campanha aos tapas

A campanha eleitoral para as eleições de 2016 foi considerada uma das mais agressivas dos últimos tempos, nos Estados Unidos. O candidato republicano, Donald Trump, atacou Hillary Clinton o quanto pode. Principalmente quando virava alvo da imprensa, como no caso do vídeo de 2005 vazado por um jornal de grande circulação, em outubro de 2016, em que o bilionário se gaba de apalpar e tentar fazer sexo com mulheres.

O principal ponto fraco na candidatura da democrata, explorado ao extremo por seu rival, foi o caso dos e-mails sigilosos. Quando foi secretária de Estado, entre 2009 e 2013, Hillary Clinton usou um servidor privado de mensagens eletrônicas para trabalhar com informações secretas, algo que Trump descreveu como "o maior escândalo político desde o Watergate". Hillary pediu desculpas, mas sempre afirmou que seu "descuido" não causou nenhum dano ao país. No entanto, na reta final da campanha, o FBI anunciou que havia reaberto a investigação, com a localização de novos e-mails. A apuração tinha sido encerrada em julho de 2016, sem acusação formal contra ela.

Outro escândalo de campanha foram os vazamentos pelo WikiLeaks de um lote de e-mails hackeados da conta de John Podesta, chefe de campanha de Hillary. Neles, foram reveladas trocas de favores com poderosos, críticas à China, entre outros assuntos embaraçosos à campanha, mas nem tão relevantes assim.

Durante os três debates presidenciais, Trump usou os dois episódios para atacar Hillary, mas, segundo pesquisas, a democrata se saiu melhor nos três encontros, que foram transmitidos ao vivo pelos principais canais de TV dos EUA.

Matt Rourke/AP Matt Rourke/AP

Indicação inédita

Hillary Clinton foi confirmada candidata do Partido Democrata para concorrer à Casa Branca em 26 de julho de 2016. Pela primeira vez, um dos dois grandes partidos americanos teve uma mulher na disputa pela presidência dos EUA.

A indicação foi disputada com o senador Bernie Sanders, do Estado de Vermont. Com um discurso anti-Wall Street e um forte apelo aos jovens, Sanders causou espanto ao ganhar as primárias em 23 Estados. Tachado de "socialista democrático", o pré-candidato defendeu propostas ousadas, como tornar as universidades públicas gratuitas, aumentar os impostos sobre os mais ricos e ampliar o controle sobre o setor financeiro.

Considerada amiga dos banqueiros, Hillary acabou vencendo as primárias em 34 Estados e obteve a indicação democrata. Como vice, ela escolheu o senador moderado Tim Kaine, da Virgínia, 58, avaliado como sem graça por muitos analistas, de posição conservadora, mas com sólida experiência eleitoral.

David Goldman/AP David Goldman/AP

Quanto à plataforma de governo dos democratas, a campanha de Hillary focou em economia e segurança. A candidata apresentou uma proposta de benefícios fiscais para famílias endividadas e de redução de burocracia para pequenos negócios. Além disso, também prometeu aumentar os impostos para a camada mais rica da sociedade americana.

Em relação à segurança, Hillary disse que vai derrotar o Estado Islâmico intensificando os ataques aéreos contra os militantes e aumentando o apoio a forças locais que enfrentam o grupo. Paralelamente a isso, ela defende as vias diplomáticas para por fim ao conflito na Síria e no Iraque.

No tema em que mais divergiu de Trump, Hillary afirmou que vai regularizar a situação de milhões de imigrantes que vivem nos EUA sem documentos e se mostrou sensível quanto ao drama dos refugiados que buscam asilo no país.

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