Bilionários e polêmicos

Conheça os escolhidos para formar o gabinete de Donald Trump

Talita Marchao Do UOL, em São Paulo
Andrew Harnik/AP

Os escolhidos para fazer parte do gabinete do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, passarão por uma sabatina pela qual o próprio magnata republicano não passou para discutir os conflitos de interesse empresariais ao assumir o comando do país.

Alguns dos homens e das mulheres mais ricos do mundo poderão ser obrigados até a apresentar suas declarações fiscais ao Senado, documento que o presidente eleito se recusou a tornar público.

Segundo uma estimativa da revista "Forbes", o gabinete republicano vale aproximadamente US$ 4,5 bilhões (R$ 14,4 bi) -- isso sem levar em conta a fortuna de Trump, estimada em US$ 3,7 bilhões (cerca de  R$ 11,8 bilhões). Essa conta ainda não está fechada, já que o presidente ainda não indicou nomes para algumas pastas.

Trump ainda tem uma lista de militares aposentados em cargos cruciais do seu governo, todos críticos do governo Obama. Entre muitas figuras controversas, veja alguns dos nomes escolhidos para formar o próximo governo dos EUA:

Mikhail Klimentyev/Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP Mikhail Klimentyev/Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

Rex Tillerson, amigo do Kremlin

O homem escolhido para chefiar a diplomacia americana tem fortes laços com o Kremlin. Amigo do presidente russo, Vladimir Putin, ja recebeu até a Ordem da Amizade, uma distinção concedida por Moscou a poucos americanos.

Assim como Trump, não tem nenhuma experiência em cargos públicos ou diplomáticos  –levando em conta os nomes que assumiram a pasta nos últimos anos, é algo inédito. Engenheiro de formação, passou a vida toda profissional a serviço da Exxon Mobil. Começou como engenheiro de produção em 1975 e hoje é chefe executivo e presidente do Conselho de Administração da petrolífera.

Para assumir o cargo de secretário de Estado,  ele abriu mão de US$ 2 milhões que receberia por suas ações da Exxon Mobil nos próximos 10 anos –ele possui aproximadamente US$ 180 milhões em ações. Esse valor será transferido para um fundo de administração independente. Ele também terá de abrir mão de mais de US$ 4,1 milhões em bônus em dinheiro que seriam pagos nos próximos três anos, além de outros benefícios.

Tillerson foi o responsável pelo acordo da Exxon para explorar as reservas de petróleo no Ártico russo em conjunto com a estatal russa Rosneft. Entretanto, a companhia americana foi forçada a se retirar da empreitada depois que o governo do presidente Barack Obama decretou sanções contra Moscou por conta da anexação da península ucraniana da Crimeia, em 2014.

O executivo deve passar pela sabatina do Senado, que tem a missão de definir se manterá a linha dura contra a Rússia –medida sólida da política americana nas últimas décadas, durante e após a Guerra Fria- ou se reprova a escolha do presidente eleito.

 

AFP PHOTO / GETTY IMAGES / Drew Angerer AFP PHOTO / GETTY IMAGES / Drew Angerer

Steve Bannon, admirado pela extrema-direita

Diretor de campanha de Trump, Steve Bannon será o principal conselheiro do presidente como estrategista da Casa Branca, cargo que não requer a confirmação do Senado. Relacionado à extrema-direita, foi presidente do portal de notícias Breitbart, de tendência conservadora e radical, muitas vezes com retórica antissemita e comentários racistas.

Após a nomeação, Trump foi a público dizer que Bannon não é parte da extrema-direita ou racista, ainda que o grupo político tenha celebrado a sua escolha.

Em 1996, ele foi acusado de violência doméstica, agressão e tentativa de intimidação pela sua ex-mulher. O caso foi encerrado depois que ela não apareceu para depor.

Yuri Gripas/Reuters Yuri Gripas/Reuters

General James Matti, o "cachorro louco"

Conhecido como "Cachorro Louco", o militar aposentado que assumirá como secretário de Defesa é considerado linha-dura e ortodoxo. Ex-chefe de operações no Oriente Médio da era Obama, foi um dos primeiros a chegar ao Afeganistão após os ataques de 11 de setembro de 2001 e esteve no comando de uma das divisões americanas que invadiram o Iraque em 2003.

Foi indicado por Obama para substituir o general David Petraeus, demitido por compartilhar documentos confidenciais com a amante, e deixou o posto antes do previsto, gerando especulações sobre desentendimentos com a administração democrata. Entre suas opiniões públicas, ele já deixou claro que é contra o acordo nuclear acertado com o Irã, uma das medidas mais comemoradas por Obama.

Ele é contra o uso de métodos de tortura e maus-tratos a prisioneiros, e isto pode colocá-lo em oposição contra Trump, o novo comandante-chefe dos EUA, que durante a campanha presidencial defendeu o uso da tortura em interrogatórios contra o terrorismo. Mattis é contra a libertação de presos que lutaram contra os EUA, como os que são soltos de Guantánamo.

Mattis precisa não só ser aprovado pelo Congresso, mas também da liberação de uma lei que impede que militares autem como secretário de Defesa durante sete anos após a aposentadoria.

Cliff Owen/AP Cliff Owen/AP

Scott Pruitt, o cético do aquecimento global

Procurador-geral de Oklahoma, o responsável pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) acredita que o aquecimento global e as mudanças climáticas não existem. Fiel aliado do setor de combustíveis fósseis, Pruitt iniciou ações judiciais em seu Estado para bloquear medidas do governo Obama que exigiam a redução de emissões de gases do efeito estufa nas centrais elétricas a carvão.

A biografia de Pruitt destaca seu papel como um "líder contra o ativismo da EPA".

Vale lembrar que durante a campanha, Trump disse que tiraria os EUA do acordo sobre o clima acertado em 2015 por 192 países –os EUA são o segundo maior emissor mundial de gases do efeito estufa, atrás da China.

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Rick Perry, o ex-governador dançarino

O ex-governador do Texas assumirá uma pasta que ele próprio sugeriu que deveria ser eliminada durante a sua campanha presidencial para a eleição de 2012. Ele foi um dos participantes do reality show “Dançando com as Estrelas” no ano passado.

Perry tem ligação com a indústria petrolífera e faz parte da diretoria de empresas responsáveis por um oleoduto que seria construído na Dakota do Norte e que motivou protestos de ambientalistas e indígenas. Suas campanhas políticas foram financiadas por empresas do setor –vale lembrar que o Estado governado por ele entre 2000 e 2015 lidera a produção americana de petróleo.

Ele foi um dos republicanos que criticaram a candidatura de Trump, mas acabou o apoiando durante a campanha.
 

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Jeff Sessions e as acusações de racismo

Indicado para o posto de procurador-geral, o senador conservador do Estado do Alabama Jeff Sessions tem em seu currículo acusações de racismo. O futuro secretário de Justiça é um dos únicos juristas que já teve uma indicação bloqueada no comitê do Senado –isso ocorreu em 1986, quando foi nomeado como juiz federal pelo ex-presidente Ronald Reagan.

Na época, testemunhas disseram que Sessions chamava grupos ligados ao combate ao preconceito racial e em defesa das liberdades civis como "não americanos" e "de inspiração comunista" e que ele considerava a Ku Klux Klan como algo correto, "até descobrir que eles fumavam erva".

Ele nunca negou as acusações e fala que tudo foi uma brincadeira. Sessions também é um forte opositor da reforma migratória proposta pelo governo Obama.

Gerald Herbert/AP Gerald Herbert/AP

Ben Carson, médico e autor de best-sellers

Ex-pré-candidato presidencial republicano e cirurgião aposentado, Ben Carson é o primeiro negro anunciado por Trump para integrar o governo e nunca exerceu um cargo político. Sua carreira médica é contada no filme “Gifted Hands: The Ben Carson Story” (Mãos prendadas: a história de Ben Carson, em tradução livre).

Ele ficou famoso em 1987 quando conseguiu separar gêmeos siameses alemães, que eram unidos pela cabeça, durante uma cirurgia que durou 22 horas e contou com uma equipe de 70 pessoas. Garoto pobre da região de Detroit, estudou na Universidade Yale e é autor de best-sellers, entre eles livros de autoajuda.

Carson é famoso por suas declarações polêmicas, como quando afirmou que o Obamacare é "a pior coisa que já aconteceu no país desde a escravidão”, ou que judeus foram mortos na Europa porque não tinham armas, ou que americanos precisam ter armas em casa para se defender de militantes islâmicos.

Evan Vucci/AP Evan Vucci/AP

Steven Mnuchin, produtor de "Avatar"

Secretário do Tesouro, o banqueiro é um veterano de Wall Street e foi sócio da Goldman Sachs, um dos bancos de investimentos protagonistas da crise que atingiu os EUA em 2008 –mas ele deixou o banco anos antes da crise.

Ex-doador do Partido Democrata, lançou um fundo de investimento apoiado por George Soros, partidário dos democratas, e surpreendeu a todos quando tornou-se diretor financeiro da campanha de Trump, em um momento em que os tradicionais doadores de campanha republicanos deram as costas à candidatura do magnata.

Ele também é conhecido por financiar produções de Hollywood, como "Avatar" e "Esquadrão suicida". Sua fortuna é estimada em US$ 300 milhões (R$ 959,5 milhões).
 

Mike Segar/Reuters Mike Segar/Reuters

Betsy DeVos e a família mais rica que a de Trump

Secretária de Educação, a bilionária é opositora declarada dos sindicatos de professores, chegando a chamá-los de "inimigos". Ela é cunhada de Richard DeVsos, um dos fundadores da Amway. Sua família tem uma fortuna estimada em US$ 5,1 bilhões (R$ 16,3 bi), segundo a "Forbes", sendo US$ 1,25 bi (R$ 4 bilhões) somente dela.

Durante a campanha presidencial, criticou abertamente o presidente eleito, afirmando que ele seria um “intruso” no Partido Republicano –ela é uma famosa arrecadadora de fundos de campanha.

Betsy também nunca exerceu nenhum cargo público. Ela defende uma alternativa às escolas públicas, com a entrega de cheques e créditos para que as famílias optem por instituições fora do sistema público.

Evan Vucci/AP Evan Vucci/AP

Wilbur Ross, o rei das falências

Futuro secretário do Comércio, o investidor bilionário é conhecido como o “Rei das Falências” por comprar empresas quase quebradas e recuperá-las, vendendo-as. Ele foi o homem que ajudou Trump quando seus cassinos em Atlantic City começaram a dar prejuízo na década de 1980 –vale lembrar que Trump abriu o capital dos cassinos, transferiu os riscos aos acionistas, que perderam mais de US$ 1,5 bilhão (R$ 4,8 bi, na conversão do dólar no valor atual).

Segundo a revista "Forbes", sua fortuna é avaliada em US$ 2,5 bilhões (R$ 8 bilhões), e ele ocupa a posição 232 no ranking dos americanos mais ricos. Ele é um dos donos do time de beisebol Chicago Cubs.

Ross foi ligado ao Partido Democrata por muito tempo. É considerado o mentor da política comercial externa proposta por Trump. Representante dos EUA nas negociações comerciais internacionais a partir de agora, ele defende a renegociação de todos os acordos comerciais já assinados, como o com o México, e quer o fim da participação dos EUA no Acordo Transpacífico.

Carolyn Kaster/AP Carolyn Kaster/AP

Andrew Puzder contra o aumento do salário mínimo

CEO da CKE Restaurants, que opera as redes de fast-food Carl’s Jr. e Hardee’s, Andrew Puzder será o secretário do Trabalho. Ele é um crítico feroz da regulamentação do ambiente de trabalho proposta por Barack Obama.

Ele já afirmou publicamente que o salário mínimo maior prejudicaria os funcionários, já que obrigaria o fechamento de restaurantes –nos EUA, existe uma campanha chamada "Lute por 15 Dólares", que tenta regulamentar a remuneração mínima por hora no país para cerca de R$ 48. A hora mínima nos EUA hoje é de US$ 9 (cerca de R$ 29)

O CKE, grupo que Puzder lidera desde o ano 2000, tem 3.750 restaurantes nos EUA e fora do país, e emprega 75 mil pessoas. Sua empresa é acusada de violar as leis trabalhistas e enfrenta críticas por anúncios publicitários sexistas.

Fab Fernandez/CKE Restaurants via AP Fab Fernandez/CKE Restaurants via AP
Matt Rourke/AP Matt Rourke/AP

Elaine Chao, herdeira do setor de transportes

Mulher do líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, Elaine ocupa pela segunda vez um cargo em um governo republicano. Antes, foi secretária do Trabalho de George W. Bush, e agora terá papel crucial em iniciativas envolvendo infraestrutura como secretária de Transporte.

Nascida em Taiwan, Elaine mudou-se para os EUA aos 8 anos e é filha e herdeira de um magnata do setor de transporte marítimo.

Sua fortuna é estimada em US$ 24 milhões (R$ 76,7 milhões) . Ela é ligada ao banco Wells Fargo, envolvido em um escândalo em 2016 por criar contas falsas sem autorização dos clientes para cumprir metas. Elaine lucrou US$ 1,2 milhão (R$ 3,8 milhões) durante o período em que a fraude foi realizada.

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