O adeus ao Comandante

Fidel Castro, morto aos 90, foi o líder mundial mais longevo do século 20

Carolina Vila-Nova, Gabriela Voskelis e Murilo Garavello Do UOL, em São Paulo e no Rio
AP/Arquivo

O mundo acordou neste sábado (26) consternado com a notícia da morte de um dos maiores e mais controversos líderes do século 20. Foi o irmão de Fidel Castro e atual presidente de Cuba, Raúl Castro, quem anunciou que o Comandante, como era chamado por seus admiradores, havia morrido aos 90 anos, na noite de sexta-feira (25).

Por determinação própria, Fidel seria cremado na manhã deste sábado, segundo Raúl.

Cuba fará luto de nove dias para se despedir de Fidel. As cinzas do líder da Revolução Cubana percorrerão a ilha em uma carreata, antes de chegar ao seu destino final, o maior cemitério de Santiago de Cuba, em 4 de dezembro.

As cinzas ficarão expostas na segunda e na terça-feira próximas no memorial José Martí, na praça da Revolução, em Havana, onde a população poderá prestar sua homenagem.

Na mesma terça-feira, dia 29, às 19h locais (22h de Brasília), Havana se despedirá do histórico dirigente com um ato multitudinário na Praça da Revolução, coração político de Cuba, onde Fidel fez muito de seus famosos e quilométricos discursos.

No dia seguinte, começará uma peregrinação com as cinzas de quatro dias, entre 30 de novembro e 3 de dezembro, que percorrerá 13 das 15 províncias da ilha.

Os restos mortais do líder viajarão de estrada no sentido contrário ao da "Caravana da Liberdade", a mesma que levou um Fidel triunfante de Santiago de Cuba até Havana em 1959, quando depôs a ditadura de Fulgencio Batista.

Na TV, Raúl anuncia a morte de Fidel Castro

Fidel foi um ícone da esquerda mundial que ajudou a definir --por personificar-- um ideário de revolução armada que inspirou jovens de todo o mundo por décadas. Para uns, sobressai a imagem do "comandante" carismático que restaurou a soberania de Cuba e ajudou a melhorar as condições de vida do povo. Para outros, fica um exemplo de ditador apegado ao poder que cerceou liberdades e atrasou o desenvolvimento de seu país. 

Líder da Revolução Cubana, primeiro movimento comunista a tomar o poder na América Latina, ele implantou um regime ditatorial no qual governou o país por quase meio século e enfrentou um embargo econômico e cultural por parte dos EUA que foi o mais longo da história. 

Foi sucedido no poder por seu irmão Raúl, que, após longas negociações, restabeleceu relações diplomáticas com o rival da Guerra Fria no fim de 2014.

Estrategista, carismático, autoritário, sedutor, guerrilheiro, recluso... Saiba quem foi Fidel Castro e de que forma essa personalidade modificou a história mundial.

 
Charles Tasnadi/AP Charles Tasnadi/AP

A biografia de Fidel se confunde com a história do país que governou por 47 de seus 90 anos até que, em 31 de julho de 2006, debilitado por uma cirurgia no intestino, transmitiu o poder ao irmão, Raúl, outro dos líderes do levante armado que depôs o ditador Fulgêncio Batista em 1º de janeiro de 1959 e instaurou, progressivamente, um regime comunista a 150 quilômetros dos EUA no auge da Guerra Fria.

No cenário internacional, além da importância geopolítica adquirida com a aproximação da URSS e o fato de liderar o único país antagônico aos EUA na América em um mundo dividido entre as superpotências, Fidel assumiu durante décadas o papel de maior patrono --ideológico e financeiro-- da esquerda latino-americana. Auxiliou militarmente mais de uma dezena de países e facções esquerdistas dispostas à luta armada no continente e também na África.

Em dois exemplos emblemáticos da política externa ousada do ditador, Cuba enviou dezenas de milhares de soldados voluntários, tanques e aviões para ajudar Angola a tornar-se independente de Portugal na década de 1970, e financiou e treinou guerrilheiros na Bolívia, na década de 1960, na tentativa de revolução que culminou na captura e assassinato de Ernesto "Che" Guevara.

Em Cuba, conseguiu reduzir drasticamente os índices de miséria, erradicar o analfabetismo, implantar um sistema de saúde que exporta médicos e tornar a pequena ilha a segunda maior potência esportiva da América. Por outro lado, eternizou-se no poder, condenou dissidentes à morte, não permitiu a liberdade de imprensa e abafou as vozes que quiseram clamar por democracia ou um estilo de vida com menores privações.

"A história me absolverá"

Fidel Castro, depois do ataque ao quartel Moncada de Santiago de Cuba, em 26 de julho de 1953

"Que sejam como o Che!"

Fidel Castro, em 18 de outubro de 1967, nove dias depois da morte de Che Guevara na Bolívia

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Antes da revolução: filho de latifundiário, rebelde e autodidata

A mãe de Fidel, Lina, era cubana. Nascido na região da Galícia (Espanha), Ángel, seu pai, foi recrutado ainda jovem pelo Exército espanhol para lutar contra a independência de Cuba, em 1895. Acabou se estabelecendo na ilha, primeiro como empregado da multinacional americana "United Fruit Company". Depois, abriu uma pequena empresa de desflorestamento para implantação de lavouras de cana. Com o tempo, estabeleceu um latifúndio.

O terceiro e mais famoso filho de Ángel nasceu em 13 de agosto de 1926 na fazenda da família em Birán, localizada na antiga província do Oriente (atualmente denominada Olguín).

Apesar das excelentes condições financeiras, o menino viveu seus primeiros anos rodeado por crianças pobres na fazenda, localizada a quilômetros de áreas urbanas.

"Onde eu nasci todos eram filhos de trabalhadores agrícolas e camponeses paupérrimos. Meu pai era um latifundiário isolado", narra Fidel no livro "Fidel Castro - biografia a duas vozes", publicado em 2006 no Brasil pela editora "Boitempo".

Aos seis anos, os pais enviaram-no a Santiago de Cuba. Moraria com uma professora, que seria responsável por sua educação. Entretanto, de acordo com Fidel, além de nada ensinar a ele, a tutora embolsava a mesada mensal enviada pelo pai do menino e o submetia a uma alimentação escassa. "Não era um campo de concentração, mas passei fome por mais de um ano", relata. Um ato de rebeldia --e chantagem-- livrou-o do jugo indesejado: o menino ameaçou colocar fogo na casa dos pais caso permanecesse sob a guarda da professora.

Castro foi então instalado em colégios internos jesuítas de Santiago, onde permaneceu até o início da adolescência. Gostava de esportes, em especial a escalada de montanhas. Era um aluno desatento, propenso a ausentar-se das aulas --ou, quando presente, dedicar pouca atenção a elas. Em compensação, dando continuidade a uma paixão que desenvolveu durante a infância, lia a ponto de ser autodidata.

"Quando todo mundo ia dormir, eu ficava ali lendo até as duas ou três da madrugada."

Após ser educado em colégios jesuítas em Santiago, em 1945 mudou-se para Havana, onde estudou, ao mesmo tempo, direito e ciências sociais. "Quando cheguei à universidade, era um analfabeto político."

Então imbuído de ideias pouco consistentes de justiça social, leu alguns livros que influenciaram sua formação ideológica. Entre eles, o "Manifesto Comunista", de Karl Marx, que o fez recordar da pobreza que marcara seu entorno na infância. "Então, juntei as coisas", diz.

Já dirigente estudantil, aos 21 anos Castro viajou à República Dominicana e participou de uma tentativa frustrada de golpe contra o ditador Rafael Trujillo. Em 1948, estava na Colômbia quando o presidente Eliécer Gaitán foi assassinado. E, armado, juntou-se à revolta que sucedeu a indignação popular com a morte de Gaitán, em incidente conhecido como "Bogotazo".

Em março de 1952, Fulgencio Batista depôs o governo cubano e instaurou uma ditadura. "Elaborei uma estratégia para o futuro: lançar um programa revolucionário e organizar um levante popular", conta Fidel.

Então, começou a arregimentar aliados entre os estudantes e organizou treinamentos com armas de fogo. Quando julgou que o grupo estava preparado, em julho de 1953, liderou os rebeldes em incursão para tomar posse do quartel militar Moncada, em Santiago. A ação fracassou, e Castro fugiu para as montanhas com mais alguns homens. Enquanto dormiam em uma pequena casa de campo, cinco dias depois, foram presos. "Acordamos com fuzis no peito", lembra.

Preso, Fidel foi a julgamento em setembro de 1953. Já com sua retórica desenvolta, assumiu o papel de seu próprio advogado de defesa. Expôs seu programa revolucionário e proferiu a famosa frase: "a História me absolverá". Acabou condenado a 15 anos de prisão.

Apesar da longa pena, o período de clausura do então guerrilheiro durou pouco menos de dois anos. Libertado, em julho de 1955, exilou-se no México, onde alguns "companheiros" o esperavam. Dias depois, conheceu Ernesto "Che" Guevara, que se uniu ao grupo. Em dezembro de 1956, partiu a Cuba, com 84 homens armados, em um navio, o Granma. Pretendia desembarcar, incógnito, na costa leste e rumar para a Sierra Maestra, mas o exército cubano descobriu e dizimou os insurgentes.

Fidel escondeu-se por horas em um canavial, no "momento mais difícil" de sua vida.

"Estávamos embaixo da palha e das folhas de cana, porque deixaram um pequeno avião vigiando todo o tempo, e precisávamos ficar ali sem nos mover. Quando percebi que era inevitável dormir, pelo esgotamento, deitei-me de lado e posicionei a culatra do fuzil entre as pernas dobradas, e a ponta do cano embaixo do queixo. Não queria que me capturassem vivo. Dormi por umas três horas", relata em "Biografia a duas vozes".

Com outros dez sobreviventes, Fidel conseguiu fugir para a Sierra Maestra. E, a partir daí, lentamente obteve mais homens e mais armas para seu projeto de revolução. Tomou alguns quartéis e viu o movimento crescer até a vitória final, em 1º de janeiro de 1959.

Consejo de Estado/AFP Consejo de Estado/AFP

"Tenho um colete moral (...) que tem me protegido sempre"

Fidel Castro, em 1979, antes de viajar para a ONU em Nova York, ao ser questionado por jornalista sobre um boato de que ele "sempre estava protegido pela roupa"

Enrique De La Osa/Reuters Enrique De La Osa/Reuters

Atentados a Fidel, crise dos mísseis, embargo

As conturbadas relações com os EUA ocuparam boa parte da vida de Fidel. Nas quase cinco décadas em que esteve no poder, o cubano viu membros da inteligência cubana encarregados de sua proteção evitarem 638 tentativas de assassinato promovidas ou apoiadas pelos EUA, de acordo com o documentário "638 ways to kill Castro", exibido pelo Canal 4 britânico em 2006. A CIA, agência de inteligência americana, refere-se a esse número como fantasioso, mas admite a existência de ao menos "uma dezena de planos" somente na década de 1960.

As características pessoais e as ideias propagadas por Fidel nunca foram cômodas aos EUA. Rebelde nato, Castro começou a pregar a soberania da América Latina e o fim da subserviência aos interesses americanos assim que, a reboque do triunfo da revolução, conheceu a notoriedade internacional. Ótimo orador, carismático e ousado, o cubano incentivava os movimentos de esquerda da região.

Não somente no plano retórico os EUA, que haviam dominado econômica e politicamente a ilha nas décadas anteriores, foram contrariados. O regime castrista adotou medidas de restauração da soberania -como a restrição do acesso de estrangeiros a documentos de governo- e de mudança radical do funcionamento interno -por exemplo, uma reforma agrária que não indenizou multinacionais americanas, como a United Fruit Company, que perderam seus latifúndios no país.

Em janeiro de 1961, já sob o governo de John Kennedy, os EUA romperam relações diplomáticas com Cuba e, nos meses seguintes, reforçaram medidas restritivas à economia do país. Os dois países só retomaram o diálogo 53 anos depois, já sob os governos de Raúl Castro e de Barack Obama.

Como Fidel conquistou o amor de uns e o ódio de outros

LINHA DO TEMPO DO EMBARGO AMERICANO

  • 1960

    EUA reduzem em 700 mil toneladas a cota de açúcar importado de Cuba

  • 1961

    Relações diplomáticas entre os dois países são rompidas

  • 1962

    John Kennedy estende embargo herdado do presidente anterior, Dwight Eisenhower

  • 1992

    Lei Torricelli - proíbe subsidiárias estrangeiras de empresas americanas de comercializarem com Cuba

  • 1996

    Lei Helms-Burton - sujeita a sanções empresas não-americanas que negociarem com Cuba

  • 2000

    Bill Clinton suaviza embargo, permitindo venda de alimentos e medicamentos para Cuba por razões humanitárias

  • 2006

    Governo Bush intensifica investigação e punição a americanos que forem a Cuba via outros países (Cuba não carimba os passaportes de seus visitantes)

  • 2008

    Norte-americanos não podem gastar dinheiro em Cuba. Quem violar embargo pode ser punido com até 10 anos de prisão, multa de US$ 1 milhão para a companhia e US$ 250 mil para indivíduos

  • 2014

    Após mediação do papa Francisco, o presidente dos EUA, Barack Obama, anuncia conversações com Cuba para pôr fim ao embargo. Ao longo dos dois último anos, sanções na saúde, infraestrutura e comércio foram flexibilizadas

  • 2016

    Em março, após quase 90 anos e décadas de uma relação conflituosa, pela primeira vez um presidente americano (Barack Obama) faz uma visita oficial a Cuba.

Ramon Espinosa/AP Ramon Espinosa/AP

"Não pretendo exercer meu cargo até os cem anos"

Fidel Castro, em 26 de julho de 2006, em um discurso para o Dia da Rebeldia Nacional. Cinco dias depois, ele anunciou que deixaria temporariamente o poder por motivos de saúde

Amigos célebres

AFP Photo/ Adalberto Roque AFP Photo/ Adalberto Roque

Gabriel García Marquez

O escritor colombiano Gabriel García Márquez, que morreu em abril de 2014, esteve ligado ao ex-ditador cubano por uma amizade que durou décadas. O escritor, que viveu em Cuba por vários anos, chegou a atuar como emissário secreto entre Fidel e o ex-presidente americano Bill Clinton. O posicionamento de Gabo a favor de Fidel até nos momentos mais repressores do regime cubano fez com que o escritor fosse criticado por setores intelectuais e políticos, o que não abalou sua fidelidade ao amigo.

Associated Press Associated Press

Ernest Hemmingway

O escritor norte-americano Ernest Hemingway, ganhador do Nobel da literatura em 1953, possuía uma casa em Cuba e ficou amigo de Fidel. "Ele gostava de Cuba. Viveu aqui, deixou-nos muitas coisa, sua biblioteca, sua casa, que é hoje um museu. Gostaria de tê-lo conhecido melhor, de ter tido mais intimidade", chegou a dizer o ex-ditador.

REUTERS REUTERS

Maradona

O ex-jogador Diego Maradona e Fidel tiveram uma relação próxima de amizade e de admiração recíproca, o que resultou em muitas visitas do craque argentino a Cuba. "Fidel Castro foi como um segundo pai para mim", comentou o ex-atleta, que chegou a tatuar o rosto do cubano na panturrilha.

"Não tenho nem um átomo de arrependimento"

Fidel Castro, ao jornalista espanhol Ignacio Ramonet, de acordo com o livro "Cem Horas com Fidel", publicado em 2006

"Nunca fui nem sou comunista, se fosse, teria valor suficiente para proclamá-lo"

Fidel Castro, em maio de 1958

"Não nos enganemos crendo que tudo adiante será fácil; talvez adiante tudo seja mais difícil"

Fidel Castro, em 8 de janeiro de 1959, na entrada triunfal em Havana

Lula homenageia Fidel em seu sítio em São Bernardo

REPERCUSSÃO MUNDIAL

  • Barack Obama, presidente dos EUA

    "Nós estendemos a mão da amizade ao povo cubano. Nós sabemos que este momento enche os cubanos --que estão em Cuba e nos EUA-- de fortes sentimentos porque os faz lembrar as inúmeras formas que Fidel Castro alterou o curso de vidas de pessoas, de famílias e da nação cubana."

    Imagem: AFP PHOTO / Brendan Smialowski
  • Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil

    "Seu espírito combativo e solidário animou sonhos de liberdade, soberania e igualdade. Nos piores momentos, quando ditaduras dominavam as principais nações de nossa região, a bravura de Fidel Castro e o exemplo da revolução cubana inspiravam os que resistiam à tirania."

    Imagem: Nelson Antoine/Estadão Conteúdo
  • Donald Trump, presidente eleito dos EUA

    "Apesar de as tragédias, mortes e dor causadas por Fidel Castro não poderem ser apagadas, nosso governo fará todo o possível para garantir que o povo cubano possa iniciar finalmente seu caminho rumo à prosperidade e liberdade"

    Imagem: Andrew Kelly/ Reuters
  • Michel Temer, presidente do Brasil

    "Fidel Castro foi um líder de convicções. Marcou a segunda metade do século 20 com a defesa firme das ideias em que acreditava"

    Imagem: Beto Barata/Presidência
  • François Hollande, presidente da França

    "Fidel Castro foi uma figura do século 20. Encarnou a Revolução Cubana, tanto nas esperanças que gerou como depois, nas desilusões que provocou"

    Imagem: Getty Images
  • Vladimir Putin, presidente da Rússia

    "O nome deste distinto homem de Estado é com razão considerado o símbolo de uma era na história mundial contemporânea. Fidel Castro foi um amigo da Rússia sincero e confiável."

    Imagem: AFP
  • Rafael Correa, presidente do Equador

    Se foi um grande. Morreu Fidel. Viva Cuba! Viva a América Latina!

    Imagem: Alex Castro/Cubadebate/Efe
  • Enrique Peña Nieto, presidente do México

    "Fidel Castro foi um amigo do México, promotor de uma relação bilateral baseada no respeito, diálogo e solidariedade"

    Imagem: Jens Dresling/Polfoto/AP

"Todos os inimigos podem ser vencidos"

Fidel Castro, em 1995, durante uma entrevista na missão cubana da ONU para o canal americano Telemundo

"O melhor amigo que tive"

Fidel Castro, sobre Hugo Chávez, após sua morte, em 2013

CURIOSIDADES

  • Fidel, sobre Che

    Em discurso presenciado por mais de 1 milhão de pessoas em Havana, Fidel homenageou Che Guevara: "Se queremos um modelo de de um ser humano que não pertença ao nosso tempo, mas ao futuro, eu digo, das profundezas do meu coração, que este modelo, sem uma única mancha em sua conduta, sem uma única mancha em sua ação, sem uma única mancha em seu comportamento, é o Che!"

    Imagem: Roberto Salas/Cubadebate/AFP
  • Lula a serviço da CIA?

    De acordo com a "Folha de S.Paulo", durante o governo Collor, Fidel Castro veio ao Brasil e visitou Lula. O petista ofereceu um jantar secreto em sua casa, e pediu a Marisa, sua mulher, que preparasse a comida. Um dos membros da equipe de Fidel provou cada iguaria, e nada constatou. Na hora do jantar, Fidel tentou engolir um bife rolê inteiro, e engasgou com o palito. Sem respirar, o "comandante" começou a ficar roxo, até que tapas de Lula em suas costas resolveram o problema. Mais tarde, o futuro presidente contaria a colegas de partido: "Quase matei o Fidel, o que nem a CIA conseguiu. Iam acabar achando que eu era um agente americano, como diziam quando eu comecei a carreira de sindicalista".

    Imagem: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
  • Fidel explica a barba...

    "A barba surgiu das difíceis condições que enfrentávamos na guerrilha. Não tínhamos lâmina de barbear nem navalhas. Quando nos vimos no coração da montanha, a barba e o cabelo de todo mundo haviam crescido, e no final isso se transformou em uma espécie de identificação. Tinha seu lado positivo: para que infiltrassem um espião na guerrilha, era preciso prepará-lo com muita antecedência, para que o indivíduo tivesse uma barba de seis meses. Além disso, a barba tem uma vantagem prática: você não precisa se barbear todo dia. Se você multiplicar pelos dias do ano os quinze minutos diários que leva para fazer a barba, vai verificar que dedica quase 5500 minutos a essa tarefa."

    Imagem: Reprodução/Fortune
  • "Não sou ditador"

    Apesar dos mais de 47 anos que passou no comando de Cuba sem disputar eleições, Fidel Castro não se considerava um ditador. "Não posso nomear nem o mais humilde funcionário público", dizia. Ao falar sobre tiranos de outros países, o cubano não primava pela diplomacia, como é possível ver nos casos abaixo, em que dispara críticas até mesmo a ditadores comunistas.

    Imagem: AP
  • Mao Tsé-Tung

    "Mao Tsé-tung escreveu páginas brilhantes na história. Mas tenho a absoluta convicção de que na etapa final da sua vida cometeu grandes erros políticos. Não foram erros de direita, foram erros de esquerda ou, melhor dizendo, idéias extremistas de esquerda. Os métodos para pôr essas idéias em prática foram severos, injustos, como durante a chamada "revolução cultural", e acho que, como conseqüência de uma política extremista de esquerda, houve depois uma guinada para a direita dentro do processo revolucionário chinês, porque todos esses grandes erros tiveram sua contrapartida."

    Imagem: Wang Zhao/AFP
  • Saddam Hussein

    "É um desastre. Um estrategista equivocado. Cruel com seu povo."

    Imagem: Stefan Zaklin/AFP
  • Mocinho ou bandido?

    Quando menino, Fidel gostava de filmes de faroeste. "Eu levava a sério as habilidades daqueles caubóis. Depois, já adulto, divertia-me com aquilo como algo cômico. Daqueles revólveres cujas balas nunca acabavam, só quando convinha que acabassem; não havia metralhadoras naquela época, e eram tiros e mais tiros..."

    Imagem: AP/Efe
  • Hemingway

    Um dos livros do escritor Ernest Hemingway, influenciaram as táticas militares de Fidel. "Li 'Por quem os sinos dobram' pela primeira vez na minha época de estudante. E depois devo ter lido mais de três vezes. Conheço também o filme que foi feito mais tarde. Esse livro me interessava porque tratava de uma luta na retaguarda de um Exército convencional. Falava na vida na retaguarda, e nos esclarecia sobre a existência de uma guerrilha, sobre como esta pode agir em um território supostamente controlado pelo inimigo. 'Por quem os sinos dobram' nos permitia enxergar essa experiência. Voltamos a ele sempre, para consultá-lo, para nos inspirarmos, até quando éramos guerrilheiros."

    Imagem: Ramon Espinosa/AP

Havana chora e Miami comemora morte de Fidel

E agora, Cuba?

O que vai acontecer em Cuba após a morte de Fidel Castro? Segundo especialistas em relações internacionais, imediatamente pouco deve mudar na prática, mas sim ideologicamente.

 "Os cubanos já enterraram Fidel faz tempo", afirmou o presidente do centro de estudos americanos Inter-American Dialogue, Michael Shifter, que viveu vários anos em Cuba.

"Com a morte de Fidel, a situação política e econômica provavelmente se abrirá. Tirará um peso sobre Raúl. Ele não terá mais que se preocupar com as contradições com seu irmão mais velho, uma personalidade avassaladora", continua Shifter.

"A expectativa de mudança vai crescer entre a maioria dos cubanos. A morte de Fidel muito certamente abrirá a porta para conflitos maiores e confrontos entre as pessoas que exercem o poder. Se terá ido o árbitro supremo de todos os conflitos em Cuba. Raúl terá mais, muito mais espaço, mas também o terão seus adversários políticos", disse Michael Shifter.

Já para Arturo López Levy, especialista em assuntos cubanos do Centro de Estudos Globais da Universidade de Nova York, o impacto da morte do irmão sobre a gestão de Raúl será mínimo: "A era pós-Fidel começou em 2006, o que conta de agora em diante é o pós-Raúl."

Dissidência

Unida na reivindicação de liberdade e democracia para Cuba, mas fragmentada em múltiplos grupos, a dissidência interna assiste à morte do ex-líder com o desafio de alcançar mais influência social, em uma época em que as novas tecnologias abriram espaços à crítica e ao descontentamento.

Os dissidentes e opositores a Castro surgiram quase ao mesmo tempo do triunfo da revolução e se mantiveram com altos e baixos como um elemento sempre presente no país e sempre acusados pelo regime de "contra-revolucionários" e "mercenários" a serviço dos Estados Unidos.

Muitos deles vivenciaram longos anos de prisão, como o "Grupo dos 75", os opositores que na "Primavera Negra de 2003" foram condenados a penas de até 28 anos de reclusão, acusados de conspirar com os EUA, atentar contra a independência do Estado e minar os princípios da revolução.

No meio de um sistema de controle social, os críticos tentaram em mais de meio século de castrismo diversas formas de protesto e resistência para tornar visíveis suas demandas: desde os presos "plantados" que se negavam a vestir o uniforme penitenciário até as greves de fome e de sede, além das caminhadas pacíficas das dissidentes Damas de Branco.

Após a saída de Fidel Castro do poder, em 2006, os grupos dissidentes veteranos mantiveram o ativismo e a maioria começou a acreditar em uma transição pacífica rumo à democracia.

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