A mãe de Fidel, Lina, era cubana. Nascido na região da Galícia (Espanha), Ángel, seu pai, foi recrutado ainda jovem pelo Exército espanhol para lutar contra a independência de Cuba, em 1895. Acabou se estabelecendo na ilha, primeiro como empregado da multinacional americana "United Fruit Company". Depois, abriu uma pequena empresa de desflorestamento para implantação de lavouras de cana. Com o tempo, estabeleceu um latifúndio.
O terceiro e mais famoso filho de Ángel nasceu em 13 de agosto de 1926 na fazenda da família em Birán, localizada na antiga província do Oriente (atualmente denominada Olguín).
Apesar das excelentes condições financeiras, o menino viveu seus primeiros anos rodeado por crianças pobres na fazenda, localizada a quilômetros de áreas urbanas.
"Onde eu nasci todos eram filhos de trabalhadores agrícolas e camponeses paupérrimos. Meu pai era um latifundiário isolado", narra Fidel no livro "Fidel Castro - biografia a duas vozes", publicado em 2006 no Brasil pela editora "Boitempo".
Aos seis anos, os pais enviaram-no a Santiago de Cuba. Moraria com uma professora, que seria responsável por sua educação. Entretanto, de acordo com Fidel, além de nada ensinar a ele, a tutora embolsava a mesada mensal enviada pelo pai do menino e o submetia a uma alimentação escassa. "Não era um campo de concentração, mas passei fome por mais de um ano", relata. Um ato de rebeldia --e chantagem-- livrou-o do jugo indesejado: o menino ameaçou colocar fogo na casa dos pais caso permanecesse sob a guarda da professora.
Castro foi então instalado em colégios internos jesuítas de Santiago, onde permaneceu até o início da adolescência. Gostava de esportes, em especial a escalada de montanhas. Era um aluno desatento, propenso a ausentar-se das aulas --ou, quando presente, dedicar pouca atenção a elas. Em compensação, dando continuidade a uma paixão que desenvolveu durante a infância, lia a ponto de ser autodidata.
"Quando todo mundo ia dormir, eu ficava ali lendo até as duas ou três da madrugada."
Após ser educado em colégios jesuítas em Santiago, em 1945 mudou-se para Havana, onde estudou, ao mesmo tempo, direito e ciências sociais. "Quando cheguei à universidade, era um analfabeto político."
Então imbuído de ideias pouco consistentes de justiça social, leu alguns livros que influenciaram sua formação ideológica. Entre eles, o "Manifesto Comunista", de Karl Marx, que o fez recordar da pobreza que marcara seu entorno na infância. "Então, juntei as coisas", diz.
Já dirigente estudantil, aos 21 anos Castro viajou à República Dominicana e participou de uma tentativa frustrada de golpe contra o ditador Rafael Trujillo. Em 1948, estava na Colômbia quando o presidente Eliécer Gaitán foi assassinado. E, armado, juntou-se à revolta que sucedeu a indignação popular com a morte de Gaitán, em incidente conhecido como "Bogotazo".
Em março de 1952, Fulgencio Batista depôs o governo cubano e instaurou uma ditadura. "Elaborei uma estratégia para o futuro: lançar um programa revolucionário e organizar um levante popular", conta Fidel.
Então, começou a arregimentar aliados entre os estudantes e organizou treinamentos com armas de fogo. Quando julgou que o grupo estava preparado, em julho de 1953, liderou os rebeldes em incursão para tomar posse do quartel militar Moncada, em Santiago. A ação fracassou, e Castro fugiu para as montanhas com mais alguns homens. Enquanto dormiam em uma pequena casa de campo, cinco dias depois, foram presos. "Acordamos com fuzis no peito", lembra.
Preso, Fidel foi a julgamento em setembro de 1953. Já com sua retórica desenvolta, assumiu o papel de seu próprio advogado de defesa. Expôs seu programa revolucionário e proferiu a famosa frase: "a História me absolverá". Acabou condenado a 15 anos de prisão.
Apesar da longa pena, o período de clausura do então guerrilheiro durou pouco menos de dois anos. Libertado, em julho de 1955, exilou-se no México, onde alguns "companheiros" o esperavam. Dias depois, conheceu Ernesto "Che" Guevara, que se uniu ao grupo. Em dezembro de 1956, partiu a Cuba, com 84 homens armados, em um navio, o Granma. Pretendia desembarcar, incógnito, na costa leste e rumar para a Sierra Maestra, mas o exército cubano descobriu e dizimou os insurgentes.
Fidel escondeu-se por horas em um canavial, no "momento mais difícil" de sua vida.
"Estávamos embaixo da palha e das folhas de cana, porque deixaram um pequeno avião vigiando todo o tempo, e precisávamos ficar ali sem nos mover. Quando percebi que era inevitável dormir, pelo esgotamento, deitei-me de lado e posicionei a culatra do fuzil entre as pernas dobradas, e a ponta do cano embaixo do queixo. Não queria que me capturassem vivo. Dormi por umas três horas", relata em "Biografia a duas vozes".
Com outros dez sobreviventes, Fidel conseguiu fugir para a Sierra Maestra. E, a partir daí, lentamente obteve mais homens e mais armas para seu projeto de revolução. Tomou alguns quartéis e viu o movimento crescer até a vitória final, em 1º de janeiro de 1959.