Ao contrário da asbestose, o câncer de pulmão e o mesotelioma causados por amianto também ameaçam quem não trabalha com a fibra. Na Europa, cabeleireiros que cortavam os cabelos de mineiros ou as mulheres de trabalhadores que lidavam com a fibra também adoeceram. Isso levou autoridades francesas a classificarem o amianto como a "catástrofe sanitária do século", e o senado francês a culpar o Estado, a indústria e até sindicatos de trabalhadores pelo problema, num relatório divulgado em 2005.
Algo semelhante ocorre no Brasil --em nota enviada ao UOL, o IBC afirma ter o apoio "de vários trabalhadores, principalmente da cidade de Minaçu (GO), que vivem exclusivamente da renda dessa atividade".
Ainda que haja diferenças entre a aplicação do amianto no Brasil e na Europa --onde foi usado em revestimentos térmicos, se desprendendo muito mais facilmente do que em telhas de fibrocimento-- e no Brasil, também há risco para quem não trabalha diretamente com a fibra, dizem os especialistas.
"O mesotelioma, ao contrário de outras doenças relacionadas aos asbestos, não tem uma relação dose/resposta tão forte", explicou Algranti. Quer dizer, em outras palavras, que mesmo a exposição ocasional é perigosa. "É diferente da asbestose [uma doença meramente ocupacional]. Já o câncer de pulmão fica num patamar intermediário."
Francisco Pedra, da Fiocruz, foi mais direto. "A produção de amianto no mundo é concentrada em quatro países, e o Brasil era um deles até semana passada. A ditadura incentivou o uso a partir de meados da década de 1970, e a produção e o consumo cresceram a partir dali. Assim, não é razoável acreditar que não teremos um grande número de doenças causadas por ele", vaticinou.
A indústria, enquanto isso, fará seus derradeiros esforços para ganhar sobrevida. "O Instituto Brasileiro do Crisotila lamenta fortemente a decisão do Supremo Tribunal Federal", afirmou o IBC, em nota. "O IBC aguarda manifestação da Corte Suprema quanto aos embargos de declaração a serem interpostos com vistas a uma eventual modulação para a aplicabilidade da decisão e como as indústrias vão se adaptar esse novo contexto."