Voto manipulado
Uma das táticas da campanha de Trump foi incitar a paranoia em grupos com tendência a acreditar em teorias conspiratórias ou que eram pró-armas e temiam perder o direito de portá-las se a democrata Hillary Clinton vencesse.
Ok, um like não entrega muita coisa. Mas o modelo Ocean, desenvolvido na Universidade Cambridge e aplicado pela consultoria britânica, diz que curtidas do Facebook traçam o perfil psicológico de um indivíduo. Ao analisar 70 curtidas, o algoritmo consegue te conhecer melhor que seus amigos. Com 150, melhor que seus pais. Com 300, melhor que seu cônjuge. E acima disso, melhor que você mesmo. A ciência por trás disso é a psicometria (ramo da psicologia que usa estatística).
Com 68 likes é possível prever sua raça (95% de precisão), orientação sexual (88%) e filiação a um partido (85%). Curtidas revelam ainda gênero, religião, tendência à depressão, uso de drogas, QI, se os pais são casados e muito mais. Todas as interações são guardadas e cruzadas com outras informações, usando aprendizado de máquina e algoritmos, e disso saem relações inusitadas como: quem curte batata frita é mais mente aberta, quem gosta de Harley Davidson tem QI mais baixo.
Aquela série sugerida pela Netflix, a playlist feita sob medida no Spotify, a promoção de passagem aérea que surge quando você começa a pensar nas férias, os matchs do Tinder, a organização precisa do Google Fotos, o melhor caminho dado pelo Waze. Tudo isso é o algoritmo comportamental se aproveitando de traços da sua personalidade para direcionar o seu consumo e te colocar em grupos (a bolha, saca?).
Por trás do que você consome existe uma mãozinha imaginária (e bem discreta) que trabalha combinando uma enxurrada de dados online para antecipar desejos, orientar decisões, guiar escolhas e compras. Há quem diga que o big data preveja o futuro, o que não deixa de ser verdade. Ele pode prever acidentes, temporais e epidemias. Mas, vai muito além.
Uma das táticas da campanha de Trump foi incitar a paranoia em grupos com tendência a acreditar em teorias conspiratórias ou que eram pró-armas e temiam perder o direito de portá-las se a democrata Hillary Clinton vencesse.
Você dá o CPF na farmácia e participa de um grupo online sobre uma doença. Pronto, o cruzamento de dados aponta que você tem algo que talvez nem a sua família saiba, mas o seguro de saúde pode descobrir --e cobrar um valor diferenciado por doença pré-existente.
Antes de ser chamado para entrevista, o RH sabe sua personalidade, gostos e atividades. Sem você contar, sabe se é gay, tem filhos, mora longe ou tem alguma deficiência. E, claro, as informações também podem ser usadas para te demitir.
Para obter visto, Trump quer que você entregue 5 anos de histórico de redes sociais. Facebook, Twitter e Instagram passariam por escrutínio do governo, que teria em mãos dados de 14 milhões de pessoas. Já cogitaram inclusive exigir login e senha dos solicitantes.
Um homem foi preso na China após ser identificado por câmeras de segurança com sistema de reconhecimento facial e inteligência artificial. Ele estava no meio de uma multidão que assistia a um show. Na China, se você está em público, uma câmera consegue te rastrear em tempo real e coletar dados sobre a sua atividade. Multas afetam sua pontuação social.
O algoritmo também pode ser amplamente usado na medicina, para prever doenças cardíacas, identificar um câncer, saber quem tem mais chance de morrer em 5 anos ou apontar grupos de risco. A inteligência artificial já é usada para identificar doenças raras por foto ou organizar a prioridade de um pronto-socorro de acordo com a "cara de dor" dos pacientes.
Americanos e europeus valem mais que asiáticos e latinos. Usuário dos EUA vale o dobro do usuário da Espanha
Custo por clique dos usuários do sexo masculino é mais caro
Jovens millennials (1980-2000) normalmente valem mais. Mas pessoas mais velhas valem mais em mercados de Inglaterra e França
No site da pesquisa (fdvt.org), há uma extensão que diz em tempo real quanto dinheiro você dá ao Facebook com base nos anúncios que aparecem na sua timeline.
Facebook e Google identificam automaticamente rostos em fotos, mesmo com a cabeça coberta. A Google Brain sabe quem está numa foto pixelada. Penteado, roupa, pose, físico e jeito de andar te entregam. Sua digital pode ser clonada de uma foto do seu dedo. O GPS do celular mostra onde você esteve, mas não só ele: um ponto de referência na foto do Instagram, uma placa na foto guardada na nuvem, um cardápio enviado por mensageiro. O tamanho da sombra revela a hora.
Anos atrás, a Jetpac categorizou 150 milhões de fotos do Instagram e criou um app capaz de dizer, por exemplo, se um restaurante é chique pelo número de mulheres usando batom ou se é "gay friendly" pelo número de homens no local. Como a maioria das fotos vinha com geolocalização, era possível combinar o reconhecimento facial com o endereço. Ou seja, era fácil achar os bares gays em Teerã, no Irã, onde os chamados "desviados" são punidos com pena de morte.
Serviço ou desserviço? É uma boa para um iraniano que quer uma indicação de lugar sem correr o risco de perguntar para a pessoa errada. "Mas as consequências poderiam ser terríveis para a comunidade gay se a lista de bares ou usuários caísse nas mãos dos mulás. Se a Jetpac foi capaz de desenvolver essa capacidade, o que impediria outra empresa ou governo de fazer o mesmo?", escreveu Andreas Wiegend em artigo para a Slate. A Jetpac foi comprada pelo Google em 2014.
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