Depois de cinco meses de intensa atividade, o número de mulheres começou a cair. As que eram vendidas não eram mais repostas e, no final, fiquei sozinha vivendo lá. Um dia disseram que eu havia sido comprada por uma família yazidi que havia se convertido ao islã. Eles precisavam de uma escrava para cuidar da casa, cozinhar, limpar as coisas. E me levaram de volta para Tal Afar, no Iraque.
Tive sorte. Chegando lá, a família me disse que havia apenas fingido se converter para sobreviver. Eu poderia ficar com eles, mas teria agir como uma muçulmana. E assim fiz por um ano e meio. Usei o niqab, rezei cinco vezes por dia, vivi como eles. Mas por dentro eu continuava yazidi.
No dia 24 de novembro, o Estado Islâmico começou a enviar as suas famílias para a Síria, com medo de um ataque a Tal Afar. Era meia-noite e nos juntamos a eles. No meio do caminho, escapamos pelas montanhas, até encontrar os soldados curdos. Estávamos livres.
Ainda não sei o que houve com parte da minha família, meus filhos, meu marido, minhas noras, meus netos, minha filha. Tenho dificuldade para dormir. E sempre sonho que eles estão chegando para me pegar e me levar novamente para ser vendida."