Jânio Quadros "made in USA"

Para o ex-ministro Rubens Ricupero, Trump repete brasileiro ao somar excentricidade e alguma intuição

Guilherme Azevedo Do UOL, em São Paulo
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Donald John Trump, 70, que toma posse como o 45º presidente dos Estados Unidos, repete seu colega brasileiro Jânio Quadros, que entrou para a história por causa do estilo histriônico, excêntrico e imprevisível, impulsionado por uma aguda intuição. A aproximação entre as duas polêmicas figuras é do ex-embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero, 79, que participou da Presidência de Jânio.

Jânio Quadros ficou apenas sete meses no cargo de presidente da República: de 31 de janeiro de 1961, data de sua posse, até o dia 25 de agosto daquele ano, quando renunciou de forma surpreendente.

[Jânio] Tinha as grandes intuições corretas, mas, na hora de implementar, fazia as coisas por impulso, por bilhetinhos, que eram o ‘tweet’ daquela época. Você vê que tudo tem um precedente na história.

A conta do republicano no Twitter foi veículo original de múltiplos "bilhetinhos" polêmicos durante a campanha presidencial e após a vitória na disputa contra a democrata Hillary Clinton.

"Ele era parecido com o Trump no sentido de que ganhava muita publicidade através de sua excentricidade", compara o ex-embaixador brasileiro em Washington (1991-1993).

Na entrevista ao UOL, Ricupero também fala de Barack Obama e diz que ele é o melhor presidente dos Estados Unidos desde Franklin Delano Roosevelt, que comandou o país entre 1933 e 1945 e conseguiu a recuperação econômica norte-americana após a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929.

Ele se diz também pessimista com os rumos do mundo, que julga hoje mais perigoso até do que foi durante a Guerra Fria, quando vigorava a disputa entre Estados Unidos e União Soviética e a ameaça de uma guerra nuclear. "É um mundo em que estamos assistindo de novo a uma exacerbação de política de uso de meios militares", crava.

Baseado, por exemplo, na eleição de Trump, Ricupero diz que vivemos "um momento de descontinuidade", que é imprevisível.

O ministro da Fazenda à época do lançamento do Plano Real, em 1994, também relembra o plano que estabilizou a economia e compara legados dos presidentes brasileiros, desde o governo de José Sarney (1985-1990).

E não deixa de falar do escândalo da parabólica, que o derrubou do cargo de ministro, quando vazou, em 1º de setembro de 1994, um áudio em que ele comentava com o jornalista Carlos Monforte, da TV Globo, critérios seletivos de divulgação de dados do governo: "Um episódio infeliz da minha parte", reconhece.

Donald Trump, o Jânio americano

Ricupero compara temperamentos e estilos: bilhetinhos, "tweets", excentricidade

Chico Albuquerque/Divulgação Chico Albuquerque/Divulgação

Lembra do Jânio?

Nascido no dia 25 de janeiro de 1917 em Campo Grande, que então pertencia ao Mato Grosso e hoje é a capital do Mato Grosso do Sul, Jânio da Silva Quadros foi um dos políticos mais excêntricos e polêmicos do Brasil. Ele morreu no dia 16 de fevereiro de 1992, aos 75 anos, em São Paulo.

Sua figura, oscilando entre o médico e o louco, sempre de cabelo comprido e desgrenhado, de terno amarfanhado, tantas vezes de barba por fazer, conseguiu se conectar diretamente com boa parte da população, incluindo os mais pobres.

Seu discurso era feito de um português rebuscado e meio castiço, com palavras bem escandidas, acompanhado de farta gesticulação com as mãos e os braços. Não poupava seus adversários de sua língua ferina.

Ganhou fama com a defesa da moralização da coisa pública, contra a corrupção e a ineficiência do serviço público, e a vassoura se transformou em símbolo maior de suas campanhas eleitorais.

Quando ocupante de cargo público, Jânio gostava de escrever numerosos memorandos e bilhetinhos para seus auxiliares, com cobranças e orientações. Também marcaram suas gestões as visitas que fazia de surpresa a repartições, para fiscalizar.

Seu primeiro cargo eletivo foi como vereador, em 1948, aos 31 anos, quando ganhou uma vaga na Câmara de São Paulo após a suspensão do registro do PCB (Partido Comunista Brasileiro), com a consequente suspensão dos vereadores do partido.

Teria a seguir uma carreira política meteórica: prefeito de São Paulo, em 1953 e 1954; governador de São Paulo, de 1955 a 1959; e presidente da República, em 1961. A este último cargo ele renunciou no dia 25 de agosto daquele ano, apenas sete meses depois da posse, a 31 de janeiro, dizendo-se perseguido:

Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou difamam, até com a desculpa da colaboração.
Jânio Quadros, em mensagem com a renúncia ao Congresso Nacional.

Sua carreira política se encerrou outra vez como prefeito de São Paulo, entre 1986 e 1989, após bater no voto Fernando Henrique Cardoso.

Barack Obama é o "cara" desde Franklin Roosevelt

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A onda conservadora e imprevisível

Para Ricupero, vivemos um momento que desarranja as coisas

Mais perigoso que na Guerra Fria

Olhando em retrospectiva, o ex-embaixador do Brasil em Washington acredita que o contexto internacional, hoje, oferece riscos grandes à humanidade: “O mundo de hoje é muito mais perigoso do que foi há poucos anos, até mesmo do que foi durante a época da Guerra Fria”. 

Além da imprevisibilidade de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, pesa também na avaliação a figura expansionista do presidente Vladimir Putin, da Rússia; o reforço da linha nacionalista do governo chinês; os conflitos e desmandos no Oriente Médio, incluindo o Iraque e a Síria; e a situação em países conflagrados da África, como a Líbia e a Somália.

Ricupero ainda coloca na conta do risco as consequências do aquecimento global e a possibilidade de os Estados Unidos abandonarem o compromisso de reduzir emissões, assumido com o Acordo de Paris.

O que vai acontecer se os Estados Unidos abandonarem o acordo? O que vai acontecer se Trump adotar uma postura de mais confronto com a China?

O diplomata recorda também do drama vivido pelos refugiados, tentando escapar de catástrofes em seus países de origem, e a reação de boa parte do mundo de fechar as portas para eles. “Eis um mundo em que a virtude, a generosidade é quase uma vulnerabilidade. Ameaça você a perder a eleição”, lamenta.

Mais culpados que os empreiteiros são os políticos

Ricupero diz que a raiz da corrupção está no sistema político

Sem reforma política, eleição de 2018 não resolve

"Sobre as eleições, vou reiterar enfaticamente o meu ceticismo: 2018 é o curto prazo. Se não houver uma reforma profunda do sistema político, não vai resolver nada. Ainda que tivesse uma solução fantástica, de repente um nome inimaginável que fosse eleito e tivesse um êxito enorme no governo, seria apenas um parêntese. Daria uma sobrevida ao regime."

Para Ricupero, a reforma política significa a redução drástica do número de partidos, que, para ele, se transformaram em grandes balcões de negócios, financiados pelo fundo partidário. Ele defende também a adoção de limites rígidos para o financiamento de campanhas, tanto de cidadãos quanto de empresas, para evitar o favorecimento de candidatos ricos ou apoiados por grupos e cidadãos ricos. Mas é contra o financiamento público. É favorável ainda à adoção do voto distrital.

Esse regime de hoje, a meu ver, está condenado, é um câncer que vai se propagando e cada vez mais gerando corrupção. E vai voltar tudo, se não houver mudança no sistema. Acho muito difícil que o capitalismo brasileiro se torne eticamente melhor se o sistema político continuar extorquindo dinheiro.

Integrante desde 2004 do conselho de administração da construtora Odebrecht numa função consultiva e sem vínculo funcional (a Odebrecht é uma das principais envolvidas em casos de corrupção no Brasil, conforme apontado pela Operação Lava Jato), Ricupero alerta que, se o sistema político não tiver a capacidade de autocrítica e de autorreforma, uma ruptura poderá acontecer:

"Não vai haver um golpe militar, pois isso já saiu do nosso processo histórico, mas pode haver uma Revolução de 1930 [quando Getúlio Vargas assumiu o poder, pondo fim à chamada República do Café com Leite]. Ela foi isso: um sistema podre, com um sistema eleitoral que não funcionava mais, aí chega um momento em que finalmente o sistema acaba e praticamente são proscritos da vida os atores desse sistema político".

Ricupero se posiciona contra o próprio regime presidencialista, dizendo que não funciona nem nos Estados Unidos. Por isso, se diz "partidário do parlamentarismo desde sempre".

Junior Lago/UOL Junior Lago/UOL

Cruzada pelo juro baixo

A redução da taxa básica de juro (Selic) anunciada em janeiro pelo Banco Central, para 13% ao ano, não contentou Rubens Ricupero. “A meu gosto, o juro deveria ter sido reduzido não 0,75 ponto, mas 200 pontos. A verdade é que mesmo com esse corte os juros brasileiros são absurdos.”

Ricupero, líder da equipe econômica no lançamento do Plano Real, em julho de 1994, que estabilizou a economia e conteve a inflação, diz ser indefensável a manutenção da taxa num patamar tão elevado, quando o país está “quase em depressão”.

Os países que estão se recuperando têm juro igual a zero ou negativo. O Brasil está com uma taxa que é o dobro da segunda, que é a da Rússia.

O juro mais baixo, diz, é “uma das poucas esperanças que podemos ter de ativar a economia e ter mais consumo”, além de impactar positiva e diretamente as contas públicas. “Se nós diminuirmos a taxa, vamos diminuir rapidamente o déficit do setor público. Esse é o caminho.”

Robson Ventura/Folhapress Robson Ventura/Folhapress

Política externa é parte da solução para a segurança pública

Rubens Ricupero avalia que o problema da segurança pública e do tráfico de drogas e de armas no Brasil tem uma dimensão internacional importante, que exige que a política externa seja parte integrante da solução.

Toda droga do Brasil vem de fora. Basicamente da Bolívia, um pouco da Colômbia e um pouco do Peru; e as armas vêm todas do Paraguai.

Por isso, defende o ex-embaixador em Washington, o Brasil precisa seguir o exemplo de países como os Estados Unidos, que pressionam a origem da droga e das armas. “Tem de começar a ser desagradável com o Paraguai, a Bolívia, o Peru, a Colômbia.” Sem a parceria desses países, diz, não haverá solução.

Também ocupante um dia do cargo de ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, em 1993 e 1994, no governo Itamar, Ricupero defende a criação de uma força policial orientada exclusivamente para fazer a segurança das fronteiras do Brasil. Cita como exemplo o Chile, com os Carabineros; a Argentina, com a Gendarmeria; e a Itália, com os Carabinieri.

“É uma arma, faz parte das Forças Armadas, mas destinada só a policiar fronteiras. Se não houver uma polícia de fronteiras aqui, devia pelo menos se usar a Polícia Federal como núcleo disso”, defende. Mas rechaça a ideia aventada por alguns agora de criar o Ministério da Segurança. “É a falsa solução. Não resolve nada, é uma bobagem. O que você tem de criar são instituições."

Andressa Anholete/AFP Photo Andressa Anholete/AFP Photo

Ação de curto prazo

Sobre a crise no sistema prisional, com os seguidos massacres de presos, Ricupero diz notar que o governo está “meio perdido”. “Veio falando num plano de longo prazo, [mas] o que ele precisa é de um plano de emergência, de curtíssimo prazo. Claro que depois precisa de médio e longo prazo. Mas o problema é agora.”

O diplomata cita o exemplo da Colômbia, onde há plano de contingência para situações que exijam atuação rápida e coordenada, planos já pré-prontos em que os envolvidos com segurança sabem exatamente como agir em casos de ataques, por exemplo. “Será que o Brasil tem isso? Eu duvido.”

Para Ricupero, esse despreparo brasileiro para a questão prisional revela uma faceta triste do atraso do país.

“É nisso que a gente vê que nós somos um país subdesenvolvido, porque o desenvolvimento não é, como as pessoas pensam, ser mais rico; ser desenvolvido é saber gerir a complexidade de uma sociedade moderna. E saber gerir é, inclusive, saber gerir os presídios. Cada presídio tem de ter um plano de contingência, o que fazer, como acionar se houver um problema.”

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"Todos os presidentes tiveram contribuições positivas e negativas"

Moreira Mariz/Folhapress Moreira Mariz/Folhapress

José Sarney

Penso que o Sarney [José Sarney, presidente da República entre 1985 e 1990, cargo que assumiu com a morte de Tancredo Neves, de quem era o vice-presidente] tem sido julgado de maneira excessivamente severa pela opinião pública. É verdade que o final do governo dele foi difícil, que acabou permitindo que um candidato aventureiro [Fernando Collor de Mello] ganhasse as eleições e tinha-se perdido o controle da inflação.

Mas ele desempenhou um papel importante numa transição muito delicada, em que ainda havia elementos miliares que não se conformavam com a democratização. Sarney fez o que era possível. Infelizmente, o Plano Cruzado [primeiro plano de estabilização econômica depois da ditadura militar, lançado em fevereiro de 1986] fracassou. Se tivesse dado certo, teria sido uma outra história.

Eugenio Novaes/Folhapress - 08.07.1992 Eugenio Novaes/Folhapress - 08.07.1992

Fernando Collor de Mello

O Collor mesmo [primeiro presidente eleito após a redemocratização do Brasil], que foi tão negativo em relação à corrupção, foi um homem que deu um choque de liberalização na economia brasileira. Foi no governo dele que se confirmou a reserva dos ianomâmis [localizada em Roraima, foi homologada em maio de 1992]. Eu tenho dúvida de que outros presidentes mais liberais tivessem tido coragem de garantir aos ianomâmis aquela enorme reserva.

Foi ele que foi à Serra do Cachimbo para cimentar aquele campo de provas nucleares militares [ato firmado em setembro de 1990, na Serra do Cachimbo, no sul do Pará]. Foi ele também que presidiu a Rio-92 [Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento], graças em parte ao Celso Lafer, grande ministro das Relações Exteriores. Então Collor deixou uma herança positiva.

Montagem Montagem

Itamar Franco X Michel Temer

Comparando Itamar e Temer, eu noto mais diferenças que semelhanças. Porque no caso de Temer, agora, ele assumiu o poder em relação a um sistema de forças, que era do PT, que estava desgastado mas ainda tem um poder de mobilização muito grande. No caso do Itamar, foi mais fácil, porque, no final, não tinha mais ninguém que era a favor do Collor. De certa forma, politicamente, o Itamar não teve muita contestação, e o Temer teve mais nesse início. Eu acho até mérito do Temer ter conseguido uma relativa estabilização do quadro político nesses primeiros meses, porque enfrentou uma oposição mais dura. Outra diferença capital, para pior no do Temer, é a Lava Jato.

Quando Itamar assumiu, não havia uma grande operação de investigação. O Temer é obrigado a governar sob condições muito incertas. Em matéria econômica, diria que a situação era bem diferente. No caso do Itamar, o problema mais agudo era a hiperinflação. Hoje, não. O problema é muito mais a paralisia da economia, a recessão violentíssima já pelo terceiro ano consecutivo e a desorganização das contas públicas. Na época em que o Itamar assumiu, a situação não era boa, mas não era tão grave como a atual. E não havia uma situação grave em matéria de ritmo de economia. Por muitos aspectos, o desafio do Temer é mais difícil.

A vantagem que eu vejo no Temer em relação ao Itamar é que tem mais capacidade de articulação de maiorias parlamentares. O grande trunfo do Temer é o apoio do Congresso.

Outra vantagem de Temer sobre Itamar é que o Itamar demorou muito para encontrar o Fernando Henrique Cardoso [para Ricupero, Temer já conta desde o início com uma equipe econômica de prestígio, comandada por Henrique Meirelles, ministro da Fazenda]. O Fernando Henrique foi ministro das Relações Exteriores dele, inicialmente. Ele foi o quarto ministro da Fazenda do Itamar e foi só então que a sorte do governo começou a mudar. Só o FHC teria tido, depois de tanta instabilidade, o que os argentinos chamam de poder de convocatória, para convocar essa equipe fantástica que ele conseguiu.

Ele tinha prestígio acadêmico e intelectual. E a equipe criou um excelente plano [o Plano Real, de estabilização da economia e controle da inflação, lançado no dia 1º de julho de 1994], e ele, FHC, soube vender [o plano] muito bem [A equipe era formada por Pedro Malan, presidente do Banco Central; Gustavo Franco, diretor da parte internacional do BC; Clóvis Carvalho, secretário executivo da Fazenda; Winston Fritsch, secretário de Política Econômica da Fazenda; e os três apontados por Ricupero como os “grandes formuladores intelectuais do Plano Real”, Edmar Bacha, Persio Arida e André Lara Resende. Ricupero assumiu o cargo de ministro da Fazenda em março de 1994, quando FHC deixou o cargo para ser candidato à Presidência da República].

O Itamar era um homem destemido. Não aceitava ser chantageado. Era um homem íntegro. Sem contemporização com a corrupção ou mesmo com qualquer distorção.

Rubens Ricupero

Getúlio Gurgel/Palácio do Planalto Getúlio Gurgel/Palácio do Planalto

Fernando Henrique Cardoso

O Fernando Henrique foi um ponto fora da curva. Um intelectual excepcional que chegou à Presidência por causa da possibilidade que coube a ele de estabilizar a economia. E com isso ele ganhou apoio e se reelegeu. E fez um trabalho admirável de reforço das instituições.

Foi ele que começou a criar as agências reguladoras, que começou a trazer um grau de racionalidade à economia. A contribuição dele foi importante inclusive em política externa. No caso dele, foi uma pena que sobretudo no final se tivesse perdido um pouco, o governo como um todo, a capacidade de falar com a população.

Alan Marques/Folhapress Alan Marques/Folhapress

Luiz Inácio Lula da Silva

A contribuição do Lula é extraordinária em matéria social, até quase como choque cultural. Ter colocado na agenda essa presença do verdadeiro povo, até a questão racial. Agora, Lula deu também uma contribuição muito negativa nas instituições em relação a aceitar pragmaticamente, realisticamente esse sistema que já existia antes dele e que ele usou, abusou e desenvolveu.

Tanto no caso do Lula quanto no do Getúlio Vargas, que deram contribuições muito importantes a essa integração do povo mais pobre, ambos deram também uma integração negativa em relação à democracia. O Getúlio, porque ele não era democrata, gostava do Estado Novo [regime ditatorial que vigorou entre 1937 e 1945]. E o Lula, porque aceitou [o sistema político corrupto].

Eu vejo no Lula muita coisa positiva, a própria política externa dele e do Celso Amorim teve grandes erros, muita ideologia em relação à América Latina, e grandes acertos.

Arte UOL com foto Roberto Stuckert Filho/Presidência Arte UOL com foto Roberto Stuckert Filho/Presidência

Dilma Rousseff

Dilma foi uma escolha inadequada, imposta por um líder carismático, com o intento de não permitir uma saudável alternância no poder. Teria sido melhor para Lula, o PT e para ela mesma que nunca tivesse sido eleita.

Seu fiasco já estava, por assim dizer, condicionado pela forma que assumiu a eleição de 2010 e a reeleição de 2014: fez-se tudo para não perder a disputa, agravando seriamente problemas já herdados do segundo mandato de Lula, a desorganização sem precedentes das contas públicas, a imprudência perigosa no aumento dos gastos públicos mesmo quando o contexto externo havia mudado para pior e a arrecadação estava caindo, a teimosa insistência em ignorar os conselhos de uma política macroeconômica cautelosa e seguir abordagem voluntarista que levou o país talvez ao pior desastre de sua história.

Tanto na orientação interna quanto na diplomacia, não conseguiu corrigir os excessos e erros herdados e em muitos aspectos contribuiu para agravá-los. 

"Mea culpa" no caso da parabólica

Ex-ministro lembra do Plano Real e do vazamento que o derrubou

Sérgio Lima/Folhapress Sérgio Lima/Folhapress

Memória do Plano Real: de Ricupero para Itamar (1994)

“’Eu aceito [ser ministro da Fazenda]. O que o senhor quer que eu faça?’ E Itamar me disse: ‘Eu quero que o senhor aplique o plano com essa equipe que está aí’. “Ipsis literis”. Eu decorei até a frase, porque ele tinha instintos um pouco populistas e queria fazer coisas que não eram possíveis, e eu, sempre no final discussão, dizia: ‘O senhor se lembra do que me disse?’. ‘Não, o que eu lhe disse?’. ‘O senhor me disse isso: ‘Quero que o senhor aplique o plano com essa equipe que está aí’. Se eu fizer o que o senhor está querendo agora, eu não vou ter nem equipe, nem um plano [risos]’. Aí ele aceitava.”

Lucas Lima/UOL Lucas Lima/UOL

Sabe quem é o Rubens Ricupero?

Nascimento: São Paulo, 1º de março de 1937. Filho de João e Assunta, imigrantes italianos. Cresceu no bairro do Brás, tradicional área de comércio paulistana e reduto de imigrantes.

Formação: formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP) e diplomata de carreira no Itamaraty.

Principais ocupações: Secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), 1995 a 1999 e 1999 a 2004 e subsecretário-geral da ONU no mesmo período. Ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal (1993-94) e da Fazenda (1994), ambos no governo do presidente Itamar Franco. Ricupero atua hoje como integrante do conselho de administração da Odebrecht e diretor da FAAP (Faculdade Armando Álvares Penteado), de São Paulo.

Livros: Finaliza agora o livro "A Diplomacia na Construção do Brasil", história da diplomacia desde 1750, que é a data do Tratado de Madri, quando o território brasileiro adquire a atual configuração, e vai até o impeachment de Dilma Rousseff. Ricupero narra a história do Brasil mais sob a ótica do fator externo, incluindo temas como investimento e imigração. É autor, entre outros, dos livros "Esperança e Ação" (2002), "O Brasil e o Dilema da Globalização" (2001) e "Rio Branco: o Brasil no Mundo" (2000).

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