Eleições nos EUA

Os americanos terão pela frente uma Presidência inédita: ou uma mulher ou um magnata sem passado político

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Poucos imaginavam que o magnata Donald Trump iria conseguir a indicação do Partido Republicano para concorrer à Presidência dos Estados Unidos e muito menos que ele teria resultados tão impressionantes nas pesquisas de intenção de votos. Após perder a nomeação democrata, em 2008, para Barack Obama, a ex-senadora Hillary Clinton recebeu apoio do popular presidente. Só talvez não esperasse uma concorrência tão agressiva. O cenário da eleição é tão indefinido que não se arrisca um palpite. Quem será o próximo presidente dos EUA?

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OS CANDIDATOS

Justin Sullivan/Getty Images/AFP Justin Sullivan/Getty Images/AFP

Hillary Clinton

Ex-secretária de Estado (2009-2013), ex-senadora pelo Estado de Nova York e ex-primeira-dama (1992-2000), Hillary Diane Rodham Clinton, 69, pode ser a primeira presidente mulher dos Estados Unidos. A candidata do Partido Democrata é menos popular que Barack Obama, mas tem seu apoio para assumir a Casa Branca. Estudou na Wellesley College (exclusiva para mulheres) e se formou advogada pela Universidade de Yale, onde conheceu o marido, Bill Clinton, 70. Seu vice é o senador Tim Kaine. 

Sua carreira pública começou em 2000, quando se tornou a primeira mulher a representar o Estado de Nova York no Congresso Nacional, como senadora. É chamada de workaholic por colunistas da grande imprensa dos EUA. Disse em 1992: "Poderia ter ficado em casa fazendo biscoitos, mas decidi correr atrás da minha profissão". Em 2008, tentou a indicação democrata para disputar a Presidência, mas perdeu para Barack Obama (de quem se tornou secretária de Estado logo depois).

Curiosidade: ganhou um Grammy em 1997, pela versão em áudio de seu livro "It takes a village: and other lessons children teach us" ("É tarefa de uma aldeia: e outras lições que as crianças nos ensinam", em português).

Mike Segar/Reuters Mike Segar/Reuters

Donald Trump

O magnata Donald John Trump, 70, herdou do pai negócios na área imobiliária e construiu um império. Estudou na Wharton School of Finance e agora participa, pela primeira vez, de uma disputa política, com o objetivo de ser presidente dos EUA. O candidato do Partido Republicano é crítico ferrenho dos Obama e dos Clinton. Tem sido chamado de outsider, por não ser um político, e derrotou outros 16 concorrentes na indicação republicana para concorrer à Casa Branca. Seu vice é Mike Pence, governador de Indiana.

Trump se gaba de ser um workaholic e de dormir apenas três horas por dia. E diz não fazer parte do "sistema". Seu nome está associado a um número considerável de prédios e hotéis luxuosos e também a campos de golfe (são 17 nos EUA, na Escócia, na Irlanda e em Dubai). O magnata foi dono do concurso de beleza Miss EUA entre 1996 e 2015.

O empresário está no terceiro casamento, com a modelo eslovena Melania Knauss-Trump, 46. Antes, ele foi casado com a modelo tcheca Ivana Zelnícková e com a atriz americana Marla Maples. 

Curiosidade: recebeu uma nomeação ao Emmy por estrelar e coproduzir o reality show "O Aprendiz", um sucesso de TV, e tem sua estrela pessoal na Calçada da Fama, em Hollywood.

Como funciona a eleição?

Para ser declarado vencedor, o candidato precisa ter 270 votos no colégio eleitoral

Swing States

Estados indecisos definem quem será o presidente dos Estados Unidos

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AS CAMPANHAS

Temas da disputa

E-mails

Hillary Clinton esteve sob investigação do FBI por ter usado um servidor privado de e-mail para tratar de assuntos sigilosos de governo enquanto foi secretária de Estado (2009-2013). O caso foi encerrado em julho, sem acusação formal contra ela, mas foi reaberto a dez dias das eleições, com o argumento de que novos e-mails foram localizados no computador de um ex-congressista que foi casado com a principal assessora da democrata. O presidente Obama saiu em defesa de Clinton e disse que não se pode partir de "insinuações, vazamentos e informações incompletas" em uma investigação deste porte.

O tema foi o mais utilizado por Trump para criticar a oponente. Em um dos debates, o republicano chegou a dizer que, se fosse presidente, Clinton estaria na prisão. A iniciativa do FBI embaralhou o cenário eleitoral na reta final, reduzindo bem a vantagem da democrata. No último episódio sobre o caso, o FBI reiterou que Hillary não será indiciada.

 

Dinheiro

Dono de um patrimônio de cifras inimagináveis, Donald Trump é o primeiro candidato republicano à Presidência dos EUA, desde 1980, que se nega a divulgar seus rendimentos e a disponibilizar suas declarações de Imposto de Renda, porque estas estariam, segundo ele, sob análise da Receita Federal americana. Em um dos três debates presidenciais, Trump assumiu que usou perdas financeiras em 1995, estimadas em US$ 916 milhões, para deixar de pagar impostos corretamente pelos 18 anos seguintes. O fato havia sido revelado alguns dias antes pelo jornal "The New York Times".

Sobre Clinton pesa a suspeita de ter favorecido, enquanto foi secretária de Estado, doadores da Fundação Clinton. Reportagem indica que pelo menos 85 das 154 pessoas que se reuniram com a então secretária fizeram doações para a fundação ou para programas internacionais que ela apoia, pessoalmente ou por meio de empresas e organizações, num total de US$ 156 milhões. Há indícios ainda de que recursos repassados à fundação por doadores estrangeiros tenham sido transferidos ao financiamento da campanha de Hillary. Pela lei americana, doações internacionais a campanhas políticas são proibidas.

 

Assédio sexual

Durante a campanha eleitoral, ao menos 12 mulheres acusaram Donald Trump de ter cometido assédio sexual contra elas. O republicano nega e diz que vai processa-las após as eleições. O gatilho para as denúncias foi a revelação de um vídeo, gravado em 2005, em que Trump faz comentários sobre beijar e agarrar mulheres à força. Colegas de seu próprio partido pediram que ele desistisse da candidatura por conta do escândalo.

Em reação às denúncias, Trump acusou Bill Clinton de ser um "predador sexual" e de também ter sofrido diversas acusações de abuso. Um site pró-Trump divulgou um vídeo em que uma jornalista diz ter sido assediada por Clinton em 1980, quando este era governador de Arkansas (e já casado com Hillary). E poucas horas antes de participar de um dos debates presidenciais, Trump realizou uma entrevista coletiva com três mulheres que já tinham registrado queixas de abuso sexual contra Bill.

 

Imigração

Declarações de Donald Trump sobre mexicanos, refugiados sírios e muçulmanos causaram mal-estar durante a campanha, mas não impediram o republicano de chegar à reta final na corrida pela Casa Branca. Depois de chamar imigrantes de traficantes de drogas, estupradores e terroristas, o candidato disse que, ao assumir a Presidência, irá expulsar os residentes ilegais, além de fazer o México pagar por um muro que erguerá na fronteira com os EUA.

Hillary Clinton prometeu uma reforma imigratória em seus primeiros cem dias de governo, que incluiria alguns tipos de anistia, dependendo da situação do imigrante considerado ilegal no país, para incluí-los na economia formal. A democrata defende que os EUA recebam refugiados, com "um controle rígido como deve ser", e um trabalho mais de perto com aliados na Síria, país que há cerca de cinco anos enfrenta uma guerra civil entre defensores do regime de Bashar al-Assad e forças da oposição.

Rick Wilking/ Reuters Rick Wilking/ Reuters

Debates

1º round: Embate tenso entre os candidatos

O primeiro encontro entre Hillary Clinton e Donald Trump foi realizado na região de Nova York, no dia 26 de setembro de 2016. A democrata acusou o republicano de defender os ricos, e ele usou como contra-ataque o caso dos milhares de e-mails confidenciais enviados por ela por meio de um servidor privado quando era secretária de Estado.

Essa estratégia se manteve nos demais debates: Clinton batendo na fortuna do republicano e em suas complicações com o fisco, e Trump apontando a democrata como burladora da segurança nacional, por conta do escândalo envolvendo seu correio eletrônico.

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2º round: Imigrantes, muçulmanos e um vídeo vergonhoso

O segundo embate entre Clinton e Trump, em Missouri, no dia 9 de outubro de 2016, começou com  o questionamento a Trump pelos jornalistas mediadores do debate sobre a divulgação de um vídeo gravado em 2005 em que ele se gaba de ter atacado mulheres sexualmente.

"Estou muito envergonhado disso, mas vou derrotar o Estado Islâmico", afirmou o republicano. Aproveitando a oportunidade, Clinton acrescentou: "Eu disse em junho que ele não está apto para ser presidente." Trump não deixou contra-atacar: chamou o marido de sua rival de "predador sexual" e lembrou que ele também havia sido acusado, no passado, de abusos.

Além disso, enquanto o empresário associou refugiados ao Estado Islâmico e à insegurança nacional, a ex-senadora disse que é preciso receber no país os que fogem dos conflitos na Síria e criticou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por apoiar o regime de Bashar al-Assad na guerra civil que devasta o país.

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3º round: Eleição contestada?

O terceiro e último debate entre os candidatos foi realizado em Las Vegas, no dia 19 de outubro de 2016. Surpreendendo mais uma vez pelo seu comportamento atípico como candidato presidencial, Donald Trump se recusou a afirmar que aceitará o resultado das eleições caso venha a ser derrotado no dia 8 de novembro. "Verei na hora, vou manter o suspense", afirmou.

O presidente russo, Vladimir Putin, voltou a ser tema dos dois candidatos quando o moderador Chris Wallace, da Fox News, citou um documento relativo a Hillary que tinha sido vazado pelo WikiLeaks. A democrata acusou Putin de espionagem para interferir nas eleições dos EUA, e o republicano afirmou que não conhece Putin, mas disse que "se nós nos dermos bem, será ótimo."

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CURIOSIDADES

Decisão na moedinha

Cara ou coroa, bangue-bangue e outras bizarrices da eleição americana

Terceira via

Evan McMullin

Mórmon e ex-agente da CIA (agência de inteligência dos EUA), Evan McMullin, 40, concorre à presidência como candidato independente, mas pode ter maioria de votos no Estado de Utah, onde já apareceu tecnicamente empatado com Clinton e Trump. Sua vitória representaria seis votos (dos 270 necessários) no Colégio Eleitoral. Foi missionário no Brasil na juventude, considera-se um conservador e faz oposição a Trump

Jill Stein

Candidata pelo Partido Verde, seu nome ganhou destaque quando a atriz americana Susan Sarandon disse que votaria nela. Médica e ativista ambiental, Jill Stein, 66, arrisca sua segunda candidatura presidencial. Em 2012, pelo mesmo partido, ela terminou com 0,5% dos votos. Recentemente, levou uma indireta de Barack Obama, que disse que votar "para um terceiro candidato que não tem chance de ganhar equivaleria a votar em Trump"

Gary Johnson

Consumidor assumido de maconha, Gary Johnson, 63, concorre pelo Partido Libertário. Ficou conhecido como o candidato do "minuto Aleppo", após uma gafe na TV. Ao ser entrevistado sobre a crise na Síria, perguntou: "O que é Aleppo?", ao que o jornalista respondeu: "Você está brincando?". A cidade é um dos focos da guerra civil no país árabe. Johnson tentou voltar atrás, mas o estrago já estava feito. Em outra ocasião, não soube citar o nome de nenhum líder mundial que admirava

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