À deriva

Fotógrafo registra resgate dramático de migrantes africanos no Mediterrâneo à espera de ajuda

Do UOL, em São Paulo
Aris Messinis/AFP

Testemunho em alto-mar

O fotógrafo Aris Messinis, 39, está acostumado a deixar a câmera de lado para ajudar equipes de resgate no mar Mediterrâneo. Faz três anos que ele acompanha a crise europeia de migração pela agência de notícias AFP. Mas desta vez foi diferente, conforme relatou ao The New York Times. Estava vivendo um pesadelo, mesmo sendo ele um profissional acostumado a testemunhar horrores cobrindo conflitos na Líbia e na Síria.

Na manhã de uma terça-feira, estava a bordo do veleiro Astral, da ONG espanhola ProActiva Open Arms, quando barcos de madeira abarrotados de migrantes africanos foram avistados em alto-mar. Vinham de países como Eritreia, Etiópia, Somália e Nigéria e tinham como destino a Itália. 

Aris Messinis/AFP Aris Messinis/AFP

Naquela manhã, o Astral era a única embarcação a fazer a patrulha na área. A maioria dos navios de resgate estava ocupada com a transferência dos 6 mil migrantes socorridos no dia anterior.

Os passageiros do barco azul de madeira estavam à deriva, à espera de ajuda. Em determinado momento, um dos passageiros levantou uma criança para o alto a fim de sinalizar aos salvadores o seu desespero.

Aris Messinis/AFP Aris Messinis/AFP
Aris Messinis Aris Messinis

Com a aproximação do Astral, muitos passageiros entraram em pânico. Muitos lançaram-se na água, para mais rápido se livrar do tormento e alcançar o veleiro. Por conta da longa espera, estavam esgotados, olhos enrijecidos, como mostram as imagens de Messinis.

As equipes do Astral trabalham diariamente no Mediterrâneo em busca de embarcações com migrantes. Distribuem coletes salva-vidas, atendem crianças e doentes e buscam manter a calma no resgate.

Aris Messinis/AFP Aris Messinis/AFP

Messinis acompanhou tudo. Mas, àquela altura, alguns dos tripulantes já haviam morrido asfixiados durante a longa e dura jornada. Eram homens, mulheres e crianças. Algumas famílias inteiras viajavam a bordo dos barcos em situações precárias.

Os barcos chegam a carregar mil pessoas em embarcações com capacidade total para cinco vezes menos, segundo reportagem publicada pelo NYT.

Eu já vi muitas mortes, mas não desta forma. Isto é chocante, e é isso que faz você sentir que não estão vivendo em um mundo civilizado."

Aris Messinis, ao New York Times

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142 mil refugiados

A Itália, destino almejado pelos africanos resgatados, contabiliza a chegada de 142 mil migrantes somente neste ano.

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Aumento de pedidos de asilo

Cerca de 160 mil pessoas pediram asilo ao país desde o início de 2016, contra 66 mil em 2014 e 103 mil em 2015.

Após os naufrágios de 2013, que geraram comoção em todo o mundo, uma série de dispositivos foi criada para resgatar os migrantes que partem da costa da Líbia. Homens da marinha e da guarda-costeira italiana integram as equipes que realizam trabalho semelhante ao da ProActiva Open Arms.

No entanto, os migrantes seguem morrendo no trajeto, muitas vezes sem tempo para resgate sequer os corpos, que se perdem no mar. Desta vez, as 28 pessoas que morreram asfixiadas ou esmagadas dentro das embarcações tiveram seus corpos recolhidos. 

(Com informações de agências internacionais)

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