Além dos Alpes

Imigrantes africanos se arriscam tentando atravessar as cordilheiras europeias em busca de uma vida melhor

Siegfried Modola Da Reuters, em Bardonecchia (Itália)
Siegfried Modola/Reuters

Levou a Abdullhai quase três anos para ir de sua casa, na Guiné, até os Alpes rochosos e cobertos de neve. Em meio ao pior do inverno, ele esperava ser esta a última etapa de sua jornada até a França.

O terreno é íngreme e perigoso e o guineano, ao lado de outros cinco imigrantes, enfrenta riscos como perder o pé, ser atingindo por grandes rochas ou sucumbir às temperaturas de -9ºC com suas roupas pouco adequadas ao ambiente.

Abdullhai, 38, é um entre as centenas de imigrantes que durante o ano passado tentaram cruzar da Itália para a França pela via montanhosa, numa tentativa de evitar a segurança existente em partes da fronteira de terreno mais amigável. Seu grupo chegou ao lado francês em dezembro.

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Ele deixou para trás na Guiné sua esposa e três filhos, incluindo um bebê de dois anos que não chegou a conhecer.

"Nossa vida na Guiné não é boa", diz Abdullhai, que, como seus amigos, pediu para não ter o sobrenome publicado. "Não há trabalho lá e não há futuro para os meus filhos. Aqui na Europa podemos ter um futuro. Podemos encontrar trabalho e viver a vida com um pouco de dignidade. Vale a pena tentar, para mim."

O número de imigrantes fazendo jornadas perigosas caiu desde 2015 - quando mais de 1 milhão de pessoas chegaram à Europa, vindas do Oriente Médio e da África. Em 2017, 171.635 pessoas chegaram oficialmente de barco, ante 363.504 em 2016. 

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Enquanto o grupo se amontoava em uma caverna, em torno de uma fogueira, para um descanso no percurso, alguns contavam histórias sobre prisões e torturas, ou sobre tornar-se órfão e ter um futuro incerto em seus países de origem. O trajeto se tornou ainda mais perigoso quando começou a cair neve.

No dia 10 de janeiro, a Reuters conversou com três imigrantes, um homem senegalês de 24 anos, um congolês de 31 anos e um paquistanês de 37 anos - todos tentavam chegar até a França. Eles conseguiram cruzar a fronteira, mas ao sair da trilha, exaustos e sem esperança, foram enviados de volta à Itália. 

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Ao menos estão vivos. A Organização Internacional para Imigrantes estima que 20 mil pessoas morreram ainda no Mediterrâneo tentando chegar ao país. O trajeto também não se compara às adversidades enfrentadas por alguns deles para chegar aonde chegaram.

"Eu fui preso e torturado na Líbia por muitos meses. Fui forçado a trabalhar de graça. Olhe minhas cicatrizes", diz Kamarra, 28, também da Guiné, levantando a blusa e abaixando as calças para mostras as marcas em seu corpo. "Depois disso, cruzar os Alpes não é um grande problema para mim". 

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