Curiosidade gera evolução

Ferramenta de relação com o ambiente e a cultura, a curiosidade é essencial ao desenvolvimento infantil

oferecido por Selo Publieditorial

Basta colocar um bebê no chão e assistir. Inquieto, ele apalpa, lambe, coleta e observa tudo a seu redor. Pronto, fica demonstrada, empiricamente, a hipótese repetida pelo senso comum: já nascemos com sede de explorar o mundo.

"Desde os primeiros dias de vida usamos nossos recursos biológicos, os sentidos, para entrar em contato com a realidade", diz a psicóloga e psicopedagoga Neide Saisi, da PUC-SP. "A curiosidade tem a ver com essa dimensão biológica que nos ajuda a estabelecer uma relação com o meio, tanto o físico quanto o social", completa.

Em outras palavras, ela é uma ferramenta de relação com o ambiente e a cultura em que estamos imersos. Além disso, trata-se de um dos principais motores do aprendizado, defendem os cientistas, pois nos permite sentir o desejo pelo saber, estabelecer estratégias para saciá-lo e, por fim, experimentar o prazer do conhecimento alcançado.

A psicóloga e pesquisadora americana Susan Engel, autora de "The Hungry Mind" (A mente faminta, na tradução livre), define a curiosidade como uma expressão, em palavras ou comportamentos, da urgência em saber mais – uma necessidade que, em geral, aparece quando uma expectativa é frustrada.

O que dizem os especialistas

Daniel Berlyne

O psicólogo e filósofo britânico definia a curiosidade como uma pulsão, semelhante ao apetite. Segundo ele, da mesma forma que a fome nos faz buscar comida, quando algo nos desperta em um ambiente tentamos satisfazer essa sensação procurando informação.

Jean Piaget

Um dos mais importantes nomes da educação do século 20, o suíço pontuou que a urgência de saber é provocada pela necessidade de explicar objetos ou eventos inesperados ou não compreensíveis de imediato.

George Loewenstein

Em definição mais recente, o psicólogo, economista e professor norte-americano diz que a curiosidade é uma resposta a uma lacuna em nosso conhecimento: ficamos curiosos sobre assuntos dos quais temos alguma informação, mas não todas.

Gosto de quero mais

A curiosidade precisa ser acolhida e estimulada constantemente, o que nem sempre acontece. Primeiro, por causa dos riscos inerentes – como nos alerta a sabedoria popular, foi ela quem matou o gato. Segundo, porque é preciso um papel ativo de pais e educadores para que a sede de saber seja cultivada, o que demanda tempo e atenção – artigos raros no mundo hoje.

De maneira geral, contrariando as expectativas, as escolas não costumam estimular esse ponto. Um levantamento feito por Susan Engel mostra que, em sala de aula, as crianças fazem menos perguntas do que em casa e tendem a fazer menos ainda à medida em que vão avançando nos estudos. Para a psicóloga americana, boa parte das instituições de ensino está mais empenhada em passar aos alunos um conteúdo preestabelecido do que em atender aos questionamentos.

Claro, há exceções, mas elas se devem a iniciativas individuais, de escolas e professores.

Um bom professor, que aguça a curiosidade dos alunos, é capaz de transformá-los. Eles serão pessoas mais dispostas a aprender, a se aprofundar nos assuntos que lhe interessem
diz Dineia Hypolitto, professora do curso de pedagogia da Universidade São Judas, de São Paulo. "Apenas memorizar e repetir não ajuda na construção do pensamento reflexivo", completa.

O ensino engessado, especialmente a partir da primeira série, também é uma preocupação da professora Roseli de Deus Lopes, da Escola Politécnica da USP. Há 15 anos ela idealizou e fundou a Febrace, Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, para evidenciar justamente as iniciativas contrárias ao modelo que privilegia a decoreba.

A feira, que é anual, reúne em uma mostra e premia projetos com fundamentos científicos desenvolvidos por estudantes e professores de todo país.

Quanto mais conhecimento a criança tiver, mais facilmente irá aprender. E mais ela vai gostar de aprender

Ian Leslie, autor do livro "Curious: The Desire to Know and Why your Future Depend on it"

Em todo esse tempo, Roseli só reforçou a convicção da importância de dar o protagonismo aos jovens, prestando atenção e dando valor a seus questionamentos. Ela defende a importância da educação para a pesquisa, incluindo aí um uso inteligente e orientado da tecnologia.

"O método científico é importante para a vida, não só para quem quer seguir carreira em ciência ou tecnologia. Através dele, a pessoa se torna capaz de observar o que existe de forma crítica, identificar problemas e possíveis alternativas, para mergulhar em uma delas”, diz Roseli. 

Muitos dos jovens que aprenderam a pensar como cientistas para participar da feira, relata a professora, têm trajetórias muito mais rápidas nas universidades, não demoram a publicar seus artigos e se aprofundam na própria formação. E a base para essa habilidade é a curiosidade.

"Quando você cultiva o fazer boas perguntas e dá instrumentos para que os jovens acreditem na própria capacidade de encontrar respostas, não há limite."

Você sabia?

Em uma pesquisa do National Institute of Child Health and Human Development, em Maryland, nos Estados Unidos, cientistas mediram a propensão de 374 bebês de cinco meses a engatinhar para investigar e mexer nas coisas, ou seja, a explorar o ambiente. Depois, acompanharam essas crianças por quatorze anos e descobriram que os bebês mais exploradores tornaram-se alunos mais bem-sucedidos na escola.

Você será um aprendiz ao longo de toda a sua vida e, se trabalha os instrumentos necessários para isso desde a infância, fazer bom uso deles passa a ser um hábito

Roseli de Deus Lopes, Professora que idealizou e fundou a Febrace

Curiosidade na estufa

Nascemos com o desejo de descobrir o mundo. Mas se não for cultivada, a curiosidade pode definhar – muitas vezes, ainda na infância. Para não deixar isso acontecer, pais, responsáveis e professores têm papel fundamental.

Em casa

  • Fortaleça os laços

    Nosso interesse naquilo que é novo ou desconhecido é temperado pelo medo. Bebês mais seguros do afeto e da presença dos pais tendem a se sentir mais à vontade para investigar o ambiente. Eles ficam mais confortáveis diante das novidades e não se intimidam com aquilo que não conhecem, pelo contrário, têm sede de descobrir e entender.

  • Siga aquele dedo

    Antes de aprender a falar, quando aponta objetos, um bebê quer mais do que companhia para contemplar: ele quer informações. Um estudo britânico mostrou que bebês apontam para um objeto ou evento porque querem saber mais sobre eles. Em geral, tendem a apontar mais se percebem que o adulto ao seu lado entende sua demanda e fornece respostas.

  • Alimente a criança com informações

    As perguntas são usadas pelas crianças para coletar dados e impressões sobre aquilo que não podem experimentar diretamente. Quanto mais forem atendidas, mais perguntas farão. E uma vez que uma criança consegue entender as questões básicas sobre algo novo, ela tende a se aprofundar naquilo que desperta seu interesse.

  • Investigue, questione

    Segundo a pesquisadora Susan Engel, pais ou responsáveis que expressam a própria curiosidade terão filhos com mais sede de saber e descoberta. Além de serem um modelo, esses pais acabam encorajando mais as investigações das crianças, pois fazem mais perguntas a elas ao mesmo tempo em que buscam dar melhores respostas.

Na escola

  • Visite o exótico

    O nome estranho de um animal que vive em uma pequena ilha do Pacífico ou uma guerra sangrenta que dividiu um continente: aquilo que não é familiar é combustível para a imaginação infantil, um gerador automático de perguntas -- e excelente exercício para a curiosidade.

  • Aposte na surpresa

    Aqui, vale o mesmo raciocínio para o exótico. Trazer o inesperado para dentro da sala é uma forma de estimular questionamentos. Em seu livro, Susan Engel cita o exemplo de uma professora japonesa que aparece na classe com um enorme saco de papel, despertando perguntas que acabam em uma aula sobre como calcular volumes.

  • Escute a conversa alheia

    As trocas entre as próprias crianças são terreno fértil para perguntas e elucubrações, manifestação mais genuína de curiosidade. Estar atento ao que estão dizendo entre si cria deixas para identificar questionamentos e construir a partir deles, junto com os alunos.

  • Abrace o acaso

    A aceitação - e investigação - de incidentes é crucial para a pesquisa científica. O exemplo mais famoso talvez seja a descoberta da penicilina, graças a um fungo que, por acidente, cresceu e matou bactérias no laboratório de Alexander Fleming. Em sala, vale encorajar as crianças a identificar, fazer perguntas e tentar encontrar respostas sempre que algo sair do plano.

  • Diversifique o ambiente

    Encha a sala de aula de diversidade. Livros, um aquário, tecidos com texturas diferentes, brinquedos de variados materiais, formatos e tamanhos. A ideia é que a sala seja em si um espaço de exploração, que estimule o surgimento de perguntas pelos alunos.

  • Foco nas perguntas

    Mostrar que elas são importantes é mostrar que o aluno é importante. Protagonista no ambiente escolar, ele se sentirá mais confiante a investigar e atender à própria curiosidade. A idealizadora da Febrace, Roseli de Deus Lopes, conta de uma experiência em que os professores davam perguntas aos estudantes e, junto com elas, tempo para pesquisar a resposta. O engajamento foi tão grande que tiveram que mexer na grade horária e dar mais tempo aos estudantes.

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