Moda sem limites

SPFW quebra divisão entre masculino e feminino

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Quebrando tabus

Além da crise econômica afetando todos os setores, o ano de 2016 marca a temporada de transformações anunciadas na São Paulo Fashion Week, que envolvem do fim da divisão por estações à oficialização do modelo “veja agora, compre agora”.  O termo resume a redução do tempo entre os desfiles e a chegada das peças nas lojas, que entrará em atuação no evento a partir de 2017 e que foi recentemente abraçado lá fora por grifes como Fendi e Burberry. Só que uma das mudanças mais bacanas que refletem justamente as transformações sociais do lado de fora das passarelas se resume à liberdade de trajes sem rótulos para homens e mulheres.

A moda agênero (também conhecida como "unissex") tem ganhado espaço e, assim como nas edições de 2015, marcou forte presença na Bienal, onde a semana de moda foi realizada entre os dias 24 e 29 de abril. No desfile da grife estreante Cotton Project, o diretor criativo Rafael Varandas e o estilista Acácio Mendes resolveram inserir modelos mulheres com peças neutras apresentando looks confortáveis e casuais para ambos os sexos.

O estilista João Pimenta foi ainda mais livre e audacioso ao ultrapassar o olhar convecional: seu time de modelos do sexo masculino contou com alguns looks de saias com modelagens plurais que iam do plissado ao crochê. “Eu acho que estamos vendo um perfume de modernidade para o homem brasileiro”, comenta o consultor de moda Arlindo Grund. “Ele começa a se desprender um pouco desse paradigma e ver que usar uma camiseta rosa ou uma saia não interfere em absolutamente nada na masculinidade dele.”

Olha eles!

O homem brasileiro começa a se desprender um pouco desse paradigma e ver que usar uma camiseta rosa ou uma saia não interfere em absolutamente nada na masculinidade.

Arlindo Grund, consultor de moda

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Transgênero, estética plural e as novatas

A escolha de modelos também mostra uma transformação e um apoio à diversidade. Se em 2015 foi Lea T. quem arrasou nas passarelas da SPFW, na edição n41 foi a modelo transgênero Camila Ribeiro (foto) quem teve o momento para brilhar durante sua estreia no evento. A manauara de 24 anos marcou presença nos desfiles de Ronaldo Fraga,  À La Garçonne e Triya.

Apesar de fazer parte de uma minoria ainda muito marginalizada na sociedade, Camila contou que não se sente diferente das modelos cisgêneros (que se identificam com gênero que foi designado no nascimento). "Hoje eu me sinto parte da passarela e representada na moda", falou sorrindo. "Não sinto preconceito e, se algum dia fui alvo de algum tipo, eu preferi esquecer", completou.

Um outro aspecto que marca uma pluralidade também estética nos desfiles é o fato de que uma das modelos que mais bombaram, Ari Westphal, foge dos padrões de beleza tradicionais. Seus fios curtinhos e cacheados foram a sensação da edição de Inverno 2016, em outubro passado, e a modelo foi uma das recordistas desta edição em abril, caminhando pelas passarelas de 20 desfiles diferentes. Embora exista uma amostra de abertura a quebra de padrões consolidados, vale destacar que número de modelos negras nas passarelas, por exemplo, ainda é bem baixo.

A edição também foi marcada pela grande quantidade de modelos iniciantes. “A gente já esperava por essa procura por new faces porque o cachê delas é mais em conta do que o de uma modelo que tem mais credibilidade no mercado”, disse Luca de Aquino, booker da Ford Models. A motivação econômica interferiu também na constituição de uma estética um pouco mais andrógina e menos sensual nas passarelas. 

Perdeu? Saiba o que rolou!

Os looks, os acessórios, os biquínis... Itens de moda que passaram pelas passarelas da São Paulo Fashion Week n41 e que têm tudo para invadir as ruas.

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Das passarelas para o seu armário

Umas das tendências mais fortes apresentadas foi o street style. A gente até pode falar aqui que chinelos estilo Rider com meia estiveram em diversos looks (sim, aquela combinação que você só usa em casa). Mas o que pode ser traduzido para o seu dia a dia é: incremente peças mais básicas com itens que tragam informação de moda --seja um acessório descolado ou até uma calça ou blusa com corte fora do tradicional. 

A alfaiataria também está com tudo, aparecendo com modelagens amplas, fluídas e confortáveis --quer coisa melhor para o dia a dia profissional? As pantacourts, inclusive, devem ficar por aí em mais uma temporada, garantindo elegância com salto alto e pegada moderninha com um par de tênis estiloso.

Falar em coleções coloridas e florais para o verão é lugar-comum, mas o que tem tudo para vir forte na próxima estação não só são as grandes estampas nas peças, como principalmente os looks monocromáticos lisos em cartela viva de cores. A combinação garante o astral lá em cima e não é nada difícil de adaptar para as ruas.
 

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Acessórios

Embora a crise política e econômica atual tenha dado uma desanimada no país, o que se viu nas passarelas da SPFW foi um movimento contrário. Temas alegres, resgate do “brega” e elementos divertidos deram o tom de muitas coleções desfiladas na 41ª edição e os acessórios, principalmente, serviram de apoio para essa descontração.

As bolsas apareceram com toques pop. A coleção de Karl Lagerfeld para a Riachuelo apresentou o item com desenhos de gatinho, a Ellus 2nd Floor veio com a peça no formato da cabeça da Mulher Gato e a A.Brand trouxe clutches de peixes e sorvetes. Quando combinados com um look mais casual, esses acessórios ajudam a deixar a produção mais leve.

Para as sandálias, a palavra de ordem foi o conforto agregado a esse divertimento mencionado. Flatforms (sandália plataforma com a base reta), plataformas normais e opções em saltos mais grossos apareceram, em grande parte, com aplicações de maxi flores e estamparia colorida.

Mas os destaques mesmo ficam para os enormes brincos desfilados. Argolas gigantes, pegada geométrica, franjas com miçangas. Essas opções geralmente são a cara dos ousados que não abrem mão de uma produção impactante. Mas mesmo quem é mais basiquinho pode adotar a tendência para o dia a dia, dando um toque diferencial em um look tradicional. Contrapontos geralmente servem como proposta interessante de moda.

 

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Tempo de sol

Referências orientais do desfile de Lenny Niemeyer compuseram uma coleção bastante elegante, mas foram as cores da Salinas (foto) que abraçaram o alto astral típico dos dias mais quentes. Fossem nos biquínis com alças grossas ou nos maiôs recortados, a grife apostou em temas de estrelas, flamingos, estamparia geométrica e muitas, muitas listras.

Considerando que cada vez mais os maiôs estão fazendo a cabeça para looks de rua, das passarelas da SPFW n41 deu para tirar variadas opções com altas doses de estilo. Dos mix de estampas da Triya ao maiô kimono de Adriana Degreas.

À parte disso, a moda praia conceitual dos desfiles nem sempre é a melhor opção para a areia ou piscina, já que recortes diferentões definitivamente não são a melhor escolha na hora de garantir o bronzeado. E do evento surgiram algumas composições que fogem bastante do convencional. 

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