UFC faz festa em casa

Maior UFC já feito no país honra berço de Spider, Wand e Shogun. Saiba como tudo começou e o que está em jogo

Danilo Lavieri Do UOL, em São Paulo
Gaspar Nobrega/Inovafoto

Heeyyyy

O MMA, na verdade o vale-tudo, pode até ter tido seus primeiros passos no Rio de Janeiro com a família Gracie. Mas o que hoje conhecemos como MMA foi moldado e forjado mais ao sul. Mais exatamente na capital paranaense.

Tente imaginar um treino com jovens Anderson Silva, Wanderlei Silva e um iniciante Mauricio Shogun. Foi com um exército como esse que academia Chute Boxe colocou Curitiba no centro do mundo do MMA. Liderada por Rudimar Fedrigo, o grupo virou referência para lutadores afiarem sua técnica, especialmente, quando o assunto era muay thai. Os gritos de "Heeeyyy" atravessaram o mundo e fizeram fama, empurrando os lutadores da academia.

Descendente de italianos que escolheram o Brasil para morar, Fedrigo usou o esporte para superar um acidente que lhe causou uma fratura exposta na perna e a desconfiança de médicos.


"Eu sempre gostei de esporte, até achei que ia ser jogador e fiz testes no Coritiba. Mas o acidente foi horrível. Eu estava andando de bicicleta, um cara abriu a porta e eu caí. Um fusca passou por cima da minha perna, fiquei meses no hospital. Os médicos tinham certeza que eu ia ficar manco", disse ele em entrevista ao UOL Esporte

Aos 13 anos, conheceu Nélio "Naja", considerado por ele sua principal influência para gostar do muay thai. O apelido de Nélio, inclusive, vem da comparação entre golpes da arte marcial e botes da cobra: rápidos, certeiros e mortíferos.

"Na época que eu comecei, muay thai era quase um xingamento. Ninguém nem sabia o que era isso. Hoje posso dizer que muay thai todo mundo sabe o que é e que tenho uma academia consolidada", completou. 

Reprodução Reprodução

CÉU AO INFERNO

Fundada em 1979, a Chute Boxe teve seu primeiro sucesso após ver José "Pelé" Landi derrotar o então favorito Jorge Patino "Macaco" em 1996. Na mesma competição, Wanderlei Silva derrotou Dilson Filho e elevou ainda mais o status de sua academia. O auge, no entanto, veio nos anos 2000, especialmente com o Pride, novamente com Wanderlei Silva e com a então revelação Maurício Shogun. 

"O primeiro que afirmou nosso nome foi o Pelé, mas internacionalmente foi o Wanderlei mesmo, na época de Pride. Todo mundo via as nossas lutas e esperava que fossem lutas agressivas. A Chute Boxe sempre entregou isso", recordou Rudimar. 

Na mesma época, Anderson Silva ostentava o cinturão do Shooto. A lista de lutadores que chegaram a ser top de linha fica ainda maior com os nomes de Cris Cyborg, Evangelista Cyborg, Nilson de Castro, Murilo Ninja e José Pelé Landy, por exemplo. A profissionalização crescente do esporte, no entanto, fez com que a academia perdesse forças para alguns de seus concorrentes, especialmente após a compra dos principais campeonatos pelo UFC. Treinar nos Estados Unidos também passou a ser mais importante para outros tipos de sparring, como a luta agarrada, por exemplo.

"Muitos atletas começam a conversar com pessoas que nem entendem do esporte, começam querer mudar combinados lá de trás. É assim em qualquer mercado. Sem contar os que querem abrir outras academias. É natural", completou. 

Nunca nenhum lutador da Chute Boxe ostentou o cinturão mais importante do mundo do MMA nos dias atuais. O principal ponto do declínio foi a briga entre Rudimar, seu fundador, e Anderson Silva, atleta de maior renome que já esteve naquele grupo. 

"Muitos fãs da academia, muita gente do esporte me cobra disso, de lutadores que estão no topo. Mas ninguém conhece a nova geração. Ninguém fala dos que estão por vir. É uma coisa normal, de ciclo, de safra", finalizou. 

MECCA, onde a porrada começou em Curitiba. Com sangue e chute na cabeça

As estrelas com DNA curitibano

  • Anderson Silva

    Dono do recorde de defesa de cinturões no UFC, o brasileiro dispensa apresentações. É referência para qualquer lutador do mundo e luta contra os efeitos da idade para que o fim de sua carreira não seja marcado apenas por derrotas. Apesar de ter nascido em São Paulo, foi criado pelos tios na capital paranaense

    Imagem: Dean Mouhtaropoulos/Zuffa LLC/Zuffa LLC via Getty Images
  • Maurício Shogun

    Com espírito guerreiro invejável, o curitibano fez lutas épicas no Pride, chegou a ser campeão do UFC após dois polêmicos combates com Lyoto Machida, mas nunca superou o passeio que levou de Jon Jones. Agora, precisa mais uma vez se superar e provar que pode fazer uma nova corrida pelo título.

    Imagem: Bradley Kanaris/Getty Images Sport
  • Cris Cyborg

    Campeã do Strikeforce, conseguirá estrear no UFC só nesta edição por dificuldade de não ter uma categoria correspondente ao seu peso. Sua estreia gera expectativa de todos os fãs de MMA. Em 16 lutas tem 15 vitórias. Único revés foi na estreia da carreira, com Erica Paes, em 2005

    Imagem: Divulgação
  • Wanderlei Silva

    Campeão do Pride, o lutador não pode nem andar sozinho na rua no Japão que é reconhecido por tantos os cantos, tamanha fama que adquiriu com a extinta competição. No UFC, o máximo que conseguiu foi ser professor do TUF Brasil. Deixou a organização brigado

    Imagem: Josh Hedges/Zuffa LLC UFC

Ramificações da Chute Boxe

UFC/Divulgação UFC/Divulgação

Kings MMA

Rafael Cordeiro (foto à dir) cresceu e se desenvolveu como professor da Chute Boxe. Com o tempo, viu necessidade de abrir sua própria academia e já tem no seu currículo nomes como Fabrício Werdum, Rafael dos Anjos, Maurício Shogun e Wanderlei Silva. Sua base fica nos EUA.

Josh Hedges/Zuffa LLC Josh Hedges/Zuffa LLC

Univ. da Luta

Com Shogun e o irmão Murilo Ninja como fundadores, a UDL é outra ramificação da Chute Boxe, mas que segue em Curitiba como sua principal cidade. Ainda não conseguiu emplacar nenhum lutador como campeão de uma grande competição de MMA.

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Evolução Thai

Fundada por Andre Dida, a academia também tem a Chute Boxe nas origens. Foi a responsável por treinar alguns dos principais lutadores que passaram pelo TUF Brasil, como Rony Jason (foto), Francisco Massaranduba, Sergio Moraes e Godofredo Pepey.

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CM System

Dono da academia, Cristiano Marcello (foto) é o responsável por ter dado a faixa preta para nomes como Maurício Shogun e Wanderlei Silva. Cristiano já esteve em campeonatos importantes como o Pride e tem tanto respeito no MMA que foi veterano no TUF 16, entre Faber e Cruz

Reinaldo Canato/UOL Reinaldo Canato/UOL

O futuro está em São Paulo

Se a matriz não tem mais tanto prestígio entre os principais campeonatos de MMA do mundo, a filial de São Paulo tem nada mais nada menos que a principal aposta do lado brasileiro do UFC: Thomas Almeida. Por mais de uma vez, o presidente da organização no Brasil, Giovanni Decker, repetiu que Thominhas é o futuro do esporte no país. Não é à toa.

Thominhas tem 21 vitórias e nenhuma derrota no seu cartel principal. Mais do que isso, aos 24 anos, já ganhou três prêmios de melhor performance da noite e outro de melhor luta do card. No próximo dia 29, enfrenta Cody Garbrandt em Las Vegas, na luta principal da noite e viverá a expectativa de poder buscar o cinturão, hoje com Dominick Cruz. 

"Quando se tem um case de sucesso, uma grande marca, um grande nome, é mais fácil sair da crise e é isso que está acontecendo com a gente. Estamos crescendo, teremos novos campeões, temos o Thomas e vamos ter novos lutadores de topo. A Cyborg já está ai perto da estreia, tem outro peso pesado. A Chute Boxe segue firme", diz Rudimar Fedrigo.

Alexandre Loureiro/inovafoto Alexandre Loureiro/inovafoto

Chute Boxe X BTT

Se a Chute Boxe era referência para os especialistas em muay thai no MMA, a BTT (Brazilian Top Team), sediada no Rio de Janeiro, era o exemplo para os que têm no jiu-jitsu o seu lado forte. E a rivalidade vai bem além de qual arte é a melhor. Em 2002, houve um desentendimento durante um café da manhã e Ricardo Arona, da BTT, quase partiu para a porrada com Wanderlei Silva. Os dois depois se encontrariam em uma competição oficial com Arona levando a melhor, em 2005.

No mesmo dia, em luta pelo mesmo Grand Prix, no entanto, Maurício Shogun venceu Arona e conseguiu a revanche para a Chute Boxe. Outro combate histórico foi a vitória de Murilo Ninja, da Chute Boxe, em cima de Zé Mário, que fez Minotauro cair no choro. Isso sem contar o inesquecível encontro entre Minotouro e Shogun, em 2005, pelo Pride, repetido recentemente no UFC 190. Nas duas ocasiões, Shogun levou a melhor. 

"Aquela época era muito boa para o esporte. A rivalidade era grande, como times de futebol rivais. Mas nunca passamos do ringue, era sempre lá dentro. Os japoneses gostavam muito dos nossos confrontos, porque eram sempre muito bons, abertos, com muita luta. Deu o start para o esporte no Brasil e um queria ser melhor que o outro", recorda Rudimar. 

Wander Roberto/Inovafoto

Agora, o UFC 198

O que está em jogo

  • Werdum x Miocic

    Após destronar Velasquez, o brasileiro tenta a sua primeira defesa de cinturão contra o croata-americano que tem cinco vitórias nas suas últimas seis lutas e já mostrou força nos punhos: 71% das vitórias foram por nocaute

    Imagem: Josh Hedges/Zuffa LLC UFC
  • Jacaré x Belfort

    Quem vencer do confronto entre os médios terá todas as credenciais para desafiar o campeão dos médios, que será conhecido em junho, no UFC 199 após confronto entre Weidman e Rockhold

    Imagem: Reprodução/Fox Sports
  • Anderson x Hall

    Sem vencer há quase quatro anos, o brasileiro precisa voltar a vencer para não viver do passado. O problema? Ele vai enfrentar justamente o perigoso homem ambulância.

    Imagem: Reprodução/Instagram
  • Cyborg x Smith

    Depois de brilhar no Strikeforce, a brasileira finalmente terá a sua chance de fazer a estreia no UFC e encara a inconstante norte-americana em peso casado

    Imagem: Arquivo Pessoal/Cris Cyborg
  • Shogun x Anderson

    Distante de qualquer disputa do cinturão, o brasileiro luta em casa para tentar parar o jovem de 26 anos em ascensão que vem de cinco vitórias nas últimas seis lutas e começa a sonhar alto

    Imagem: Alexandre Loureiro / Inovafoto
  • Demian x Matt Brown

    Dono de um jiu-jitsu invejável, o brasileiro sonha em vencer mais uma luta, emplacar a quinta vitória seguida e desafiar o atual campeão dos meio-médio Robbie Lawler.

    Imagem: John Locher/AP
  • Minotouro x Cummins

    O brasileiro sabe que precisa de vitória para não entrar em situação incômoda no UFC, chegando ao terceiro revés. O desafiante, número 11 do ranking, quer vencer para voltar a ter prestígio.

    Imagem: Getty Images
  • Warlley Alves x Barberena

    Invicto com um cartel de 11 lutas, Warlley precisa da vitória contra seu adversário para começar a sonhar com um lugar entre os mais bem cotados no ranking da categoria dos meio-médios

    Imagem: Divulgação/UFC

Por que o UFC 198 já é maior que o UFC Rio 1

  • Público

    O primeiro UFC Rio, em agosto de 2011, lotou a HSBC Arena, mas com apenas 14 mil pessoas. A Arena da Baixada vendeu mais de 40 mil ingressos em 24 horas e deve receber quase 50 mil pessoas.

    Imagem: Marcelo de Jesus/UOL
  • Grandes nomes

    O UFC 198 tem seis campeões ou ex-campeões dos maiores eventos de MMA que já existiram (UFC, Strikeforce e Pride) apenas no card principal: Werdum, Anderson, Shogun, Jacaré, Belfort e Cyborg. O UFC Rio tinha três (Anderson, Shogun e Minotauro)

    Imagem: Alexandre Loureiro/Inovafoto
  • Transmissão

    O UFC Rio foi transmitido pela RedeTV! e o canal bateu a Globo com quase 13 pontos no Ibope. Foi o que fez a emissora passar a olhar o evento e decidir comprar os direitos de transmissão. Dessa vez, será a própria Globo que terá as últimas lutas do UFC 198 ao vivo. O último evento ao vivo na emissora, o UFC 190 com Ronda Rousey, já teve os mesmos 13 pontos. A tendência é que esse número seja ainda maior em Curitiba.

    Imagem: Divulgação/RedeTV!

Serviço

Neste sábado, 14 de maio, o UFC 198 terá a transmissão de todas as lutas apenas pelo canal em pay-per-view Combate. A Globo transmitirá ao vivo o card principal. Mas você poderá acompanhar todos os lances pelo Placar UOL Esporte.

Card principal (a partir das 23h)
Fabrício Werdum (c) x Stipe Miocic
Ronaldo Jacaré x Vitor Belfort
Anderson Silva x Uriah Hall
Cris Cyborg x Leslie Smith
Maurício Shogun x Corey Anderson

Card preliminar (a partir das 19h15)
Demian Maia x Matt Brown
Warlley Alves x Bryan Barberena
Thiago Marreta x Nate Marquardt
John Lineker x Rob Font
Patrick Cummins x Rogério Minotouro
Francisco Massaranduba x Yancy Medeiros
Serginho Moraes x Luan Chagas
Renato Moicano x Zubaira Tukhugov

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