Ficam as histórias

#SomosTodosChape: tragédia tira de cena praticamente um time inteiro, astros do jornalismo e o técnico-paizão

Do UOL, em São Paulo
Arte UOL

Na madrugada de segunda-feira para terça-feira (de 28 para 29), em La Unión, cidade próxima a Medellín, na Colômbia, um avião fretado sofreu acidente que matou boa parte do elenco da Chapecoense que disputaria a final da Copa Sul-Americana. A decisão seria contra o Atlético Nacional. Matou também o técnico Caio Jr, o presidente da Federação Catarinense de futebol e os jornalistas que cobririam a partida.

Abaixo, o UOL faz uma homenagem às vítimas contando suas histórias. Do técnico que transformou Valdivia em “um filho”, ao rebelde comentarista e ex-jogador Mario Sérgio; do repórter Victorino Chermont apaixonado por turfe a jovens jogadores que seriam pais ou estavam próximos de conseguir contratos melhores.

Paulo Whitaker/Reuters

O time

Juan Mabromata/AFP Juan Mabromata/AFP

'Pai' de Valdivia, Caio Júnior é querido por estilo acolhedor

Com fama de paizão entre os jogadores, Caio Júnior contava a amigos que estava empolgado com o momento que vivia na carreira. Aos 51 anos, o treinador estava perto de conquistar o inédito título da Copa Sul-Americana pela Chapecoense. Depois de passar dois anos no Al-Shabab, dos Emirados Árabes, o treinador começava a reconstruir a carreira no Brasil na equipe de Santa Catarina. O estilo de tratar a todos como um filho é a característica mais marcante em todas as entrevistas feitas com quem trabalhou com o comandante.

Valdivia, por exemplo, não cansa de repetir que sua carreira mudou depois de trabalhar com Caio. Em 2007, eles trabalharam juntos no Palmeiras, quando o chileno ainda estava longe de estar acostumado ao futebol brasileiro e ao fato de começar as partidas no banco de reservas. "Um abraço sincero como um amigo, como um pai em um filho. Foi isso que o Caio Júnior foi para mim. Que Deus receba e que a família tenha força para este momento. Muito obrigado por me ajudar quando a gente esteve juntos. Você é uma excelente pessoa", disse o meia chileno nas suas redes sociais.

Ele gostava de chegar nos jogadores sempre bem educado, sem xingar. Em momentos difíceis você corria por ele Valdivia

Caio chamou a atenção do Palmeiras ao fazer sucesso no Paraná Clube. Ele conseguiu o incrível feito de deixar levar o time à Libertadores. Foi de lá, inclusive, que ele tirou a base para montar a sua equipe de 2007. O comandante levou para a Academia de Futebol jogadores como Cristiano, Marcel, Edmílson, Cristian e Pierre. O volante, que hoje está no Fluminense, disse que ainda não acredita na notícia.

"Estou de frente para a televisão, olhando as notícias e não acreditando no que estão falando. Eu tenho um carinho especial por ele, porque me deu uma oportunidade de jogar em um time grande", afirmou Pierre ao UOL Esporte. "Eu nunca vou esquecer o momento que ele me ligou para dizer que ia pedir a minha contratação para o Palmeiras. O Caio é um paizão. Eu vou ter uma gratidão eterna por ele", completou. 

Nelson Almeida/AFP Nelson Almeida/AFP

Do anonimato para o heroísmo: o goleiro que ganhou Chapecó

O papel de herói do último lance chegou até Danilo depois de uma carreira modesta. Tal qual a caminhada da Chapecoense, coube a ele brilhar com uma ascensão meteórica. E também tocou ao goleiro a ironia de ser o envolvido que mais ficou envolto em incerteza depois da queda do avião na Colômbia. Informações desencontradas, o alívio e a tristeza em uma linha tênue para os familiares, marcaram o fim de uma trajetória de perseverança.

Aos 31 anos, Marcos Danilo Padilha foi um dos 71 mortos na trágica viagem da Chapecoense para disputa da final da Copa Sul-Americana.

Resgatado do local da queda, não resistiu aos ferimentos e uma falha de comunicação adiou a confirmação de falecimento por horas.

Formado no Cianorte-PR, Danilo precisou de apenas um jogo para ser contratado em definitivo pelo clube de Chapecó. Em 2013, à sombra do ídolo Nivaldo, jogou somente uma rodada da Série B do Brasileirão e agradou. O empréstimo junto ao Londrina terminou e ele ficou.

Em 2014 também precisou esperar para virar titular. E quando virou titular, não saiu mais da equipe. Foi destaque na campanha da Chapecoense em sua primeira temporada na elite do futebol brasileiro e, por conta disso, quase deixou Santa Catarina.

Corinthians e um clube do México se interessaram, mas ele não saiu. Participou da primeira jornada da Chapecoense na Copa Sul-Americana, com eliminação diante do River Plate. E se afirmou mais.

Em 2016, Danilo seguiu como titular e fez defesas vitais tanto no Brasileirão como na Sul-Americana. Pegou quatro pênaltis diante do Independiente-ARG e salvou a última bola do jogo contra o San Lorenzo ao esticar a perna direita quase em cima da linha.

Filho nasceu antes de vitória histórica

Lorenzo, que tem uma foto com o pai debaixo das traves da Arena Condá rodando o mundo, faz parte da história de Danilo. Em 2014, a Chapecoense sentiu a chegada à Série A e não tinha vencido nenhum dos seis jogos que disputou. A primeira vitória veio horas depois do nascimento do menino.

“O Lorenzo me trouxe muita sorte. E a Chapecoense deve muito a ele. Acho que tem que fazer uma placa. E isso que o Lorenzo era para ter nascido depois, mais ou menos no jogo seguinte. Mas foi ele que trouxe a primeira vitória (2 a 0 em cima do Palmeiras, em24 de maio). Eu estava concentrado e minha esposa ligou 30 minutos antes de ele nascer”, disse

Danilo em entrevista ao repórter Laion Espíndula, da Globo, também vítima do acidente aéreo em solo colombiano.

O destino ainda reuniu Danilo com seu primeiro treinador no time principal do Cianorte. Em 2005, com 19 anos, o goleiro trabalhou com Caio Júnior. Os dois se reencontraram em Chapecó neste ano. 

JOKA MADRUGA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO JOKA MADRUGA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Primeiro herói e jeito de Romário na frente do gol

A Chapecoense tem 43 anos de história, sendo os três últimos os mais brilhantes. Neste curto intervalo de tempo, ninguém brilhou mais que Bruno Rangel, o maior responsável por colocar o clube na Série A em 2014. Com 31 gols, ele foi o artilheiro da segunda divisão no ano anterior, mais do que qualquer outro jogador na história da competição. Foi dele também o gol do acesso daquele ano, em um empate contra o Bragantino que transformou a elite em realidade para o modesto clube.

Bruno Rangel já tinha 32 anos na época. Depois uma década perambulando por clubes pequenos, teve a chance de ir ganhar dinheiro no Qatar, onde passou seis meses. Quando terminou seu contrato rápido no Oriente Médio, decidiu voltar para a Chapecoense. Foi recebido de braços abertos pela torcida, como conta seu empresário, Anderson Nassrala. “As pessoas lotaram o aeroporto. Ali eu vi como ele era adorado. O presidente fez questão de apresentá-lo no jogo. Foi uma festa. As pessoas o tratavam como o maior ídolo do clube na história.”

Bruno Rangel foi o artilheiro da Chapecoense em 2014 e 2015. Vinha tendo menos espaço nesta temporada, mas estava feliz o suficiente para sonhar com uma vida melhor. Estava construindo uma casa própria em Campos dos Goytacazes (RJ), sua terra natal e onde vive toda a família. O atacante deixou mulher e dois filhos.

“Ele era uma pessoa maravilhosa, um cara do bem. Batalhador. Nos momentos decisivos contribuiu de forma direta para o desempenho. O Bruno Rangel batalhou muito, lutou muito e chegou aonde chegou pelas pernas dele”, lembrou Guto Ferreira.  Outro ex-técnico Gilmar Dal Pozzo o comparou ao ex-atacante da seleção de 1994.

Era difícil ele perder pênalti, ele errou pouco pela calma com a bola. Ele irritava o goleiro por não se antecipar, por esperar até o fim. Ele tinha aquilo que o Romário tinha, na hora de finalizar, um cacoete. Uma frieza incrível

 

AP Photo/Andre Penner AP Photo/Andre Penner

Craque da Chape, Cléber Santana jogou entre estrelas e previu vaga na final

A técnica para dominar, passar e chutar a bola fizeram de Cléber Santana, pernambucano de Abreu e Lima, um jogador de história vitoriosa. Havia reerguido a carreira na Chapecoense em 2016. Mesmo aos 35 anos e com passagens importantes, atravessava um dos melhores momentos da carreira. Era o capitão da Chape.

Despontou no Sport e logo chamou a atenção para fora do Recife. A venda dele para o Vitória, em 2004, foi o maior investimento feito pelo clube baiano em toda a histriaó aquele momento. Antes disso, na Ilha do Retiro, já escrevera sua história. Também era capitão já tão jovem e foi bicampeão pernambucano. Na Bahia, mais um título estadual.

A inspiração veio da família. Marlindo, tio mais conhecido como Dinha, jogou pelo Santa Cruz, mas seria superado pelo sobrinho. Filho do serralheiro Aroldo Loureiro e da dona de casa Marinalva Loureiro, que soube de sua morte hoje pela televisão, Cléber Santana foi longe. Sempre teve ao lado Rosângela, sua mulher e namorada desde os 14 anos.

Cléber passou rapidamente pelo Japão, no Kashiwa Reysol, e conquistou mesmo a torcida do Santos, onde chegou em 2006. Além de ganhar dois Paulistas, alcançou a semifinal da Copa Libertadores. Era, então, a hora de chegar à Europa.

Aos 26 anos, jogou por Atlético de Madri, de passagem discreta, e pelo Mallorca. Emprestado, brilhou em vitórias sobre Real Madrid e Barcelona.

Em Santa Catarina, viveria de novo dias de destaque depois de anos não tão bons, no São Paulo, Atlético-PR e Flamengo. Foram duas passagens pelo Avaí, em que totalizou mais de 100 partidas disputadas, outra pelo Criciúma, rebaixado no Brasileirão 2014, e, enfim, pela Chapecoense.

Além de pais, mulher e irmãos, deixa os filhos, Cléber Júnior e Aroldo Neto.

'Ananiesta', Kempes e 'Messi do Nordeste'

  • Ananias

    Ananias, 27, era descrito como um cara extrovertido, mas considerado "muito profissional" pelos clubes onde passou. Na Portuguesa, virou "baluarte" de uma época histórica e recente de um clube que vive uma dura realidade. Na vitoriosa campanha da Série B de 2011, quando o clube ganhou a alcunha e "Barcelusa", Ananias virou Ananiesta. Internamente, no entanto, era apenas Ananias, um cara profissional e dedicado. No Palmeiras era visto como um homem "humilde e educado". As relações na Academia de Futebol se mantinham vivas; tanto que Ananias fez questão de cumprimentar efusivamente funcionários no último domingo, quando a Chape atuou no Allianz Parque diante do atual campeão brasileira. Atuou ainda como profissional por Bahia e Cruzeiro.

    Imagem: Juan Mabromata/AFP
  • Kempes

    Fácil de lidar. Alguns dias, o sorriso fácil. Em outros, o semblante sisudo. Assim, Osvaldo Alvarez, o Vadão, se recorda do atacante Kempes, atleta que dirigiu no ano de 2010 na Portuguesa. "Ele era muito sério e gostava de treinar muito. Às vezes o pessoal até reclamava um pouquinho. Sempre treinava no mesmo ritmo que jogava, nunca abaixo disso", recorda-se o ex-treinador da Lusa. Kempes fugia à regra da "boleiragem" na visão de Vadão. Dentro dos vestiários, misturava dias de brincadeiras com outros de comportamento mais fechado. Kempes morreu aos 31 anos. O atacante jogou por Paraná, Vitória-ES, Sertãozinho, 15 de Novembro, Ceará, Caxias, Ipatinga, Criciúma, Portuguesa, Novo Hamburgo, América-MG, Cerezo Osaka-JAP, JEF United-JAP, Joinville e, por último, Chapecoense.

    Imagem: MáRCIO CUNHA/MAFALDA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
  • Arthur Maia

    Entre os mais jovens jogadores da Chapecoense, Arthur Maia tinha 24 anos e muitos sonhos no futebol. Um sonho que começou com o pai, que deu o nome ao filho por ser fã de Zico. Cria do Vitória, o alagoano chegou a ganhar apelidos como "Messi do Nordeste" e "Maiadona" nas divisões de base. A técnica apurada fez com que, adolescente, realizasse até testes no Manchester City. No Vitória, sempre foi motivo de esperança. Depois da última delas, no Campeonato Baiano de 2016, acabou justamente cedido para a Chapecoense. Arthur Maia, que chegou a viver bons momentos no América-RN, teve rápida passagem no Flamengo e dedicou a vida ao futebol. Aos dez anos, deixou Maceió, onde vivia, para tentar emplacar seu talento como jogador.

    Imagem: Reprodução/ArquivoPessoal

Conheça mais histórias das vítimas da tragédia

  • Lucas Gomes

    Com 26 anos, Lucas Gomes era o representante paraense entre os jogadores da Chapecoense. Natural de Bragança, no nordeste do Pará, vivia momento de ascensão na carreira que começou pela equipe da cidade. Tinha feito oito gols em 2016, inclusive um deles na Copa Sul-Americana. Jogador de muita velocidade, bom drible e oportunista, anunciava que poderia ser destaque em 2012, quando foi para o Londrina. Depois de alguns empréstimos, se encontrou definitivamente em 2014 pelo Icasa-CE. Foi destaque na Série B e contratado pelo Fluminense no ano seguinte. Marcou dois gols pelo Tricolor em 2015, mas não ficou para este ano. Na modesta cidade onde nasceu e viveu, era ligado até os dias atuais. Ele deixa cinco irmãos.

    Imagem: Flickr/Chapecoense
  • Gimenez

    Gimenez curtia possivelmente os últimos dias como jogador da Chapecoense. Revelado pelo Botafogo-SP, o lateral direito de 20 anos tinha negociação em andamento com o Zenit, da Rússia. A negociação se iniciou há poucas semanas, mas estava em estágio avançado. Tempo de contrato e valores já estavam acertados e restavam detalhes burocráticos entre o time catarinense e os russos. Além, claro, da conclusão da temporada mágica da Chapecoense, que garantiu permanência na Série A com antecedência e estava na final da Copa Sul-Americana. Natural de Ribeirão Preto (SP), Gimenez se destacou pelo Botafogo no ano passado. Após bom Paulistão, foi para o Goiás. De lá, se transferiu para a Chapecoense neste ano. Acumulou 49 partidas na equipe catarinense.

    Imagem: Natacha Pisarenko/AP
  • Dener

    Dener Assunção Braz, 25, vivia sua melhor fase no futebol na Chapecoense. Em 2012, deixou o Grêmio por causa de Vanderlei Luxemburgo, mas renasceu no futebol, foi campeão paulista com o Ituano e era alvo do Flamengo e do São Paulo. A trajetória na bola começou no interior gaúcho. Natural de Bagé, o jogador começou a atuar pelo Guarany de sua cidade natal. Em seguida foi para a equipe de base do Grêmio. Virou profissional sob grande expectativa e poderia, em 2012, entrar de vez nos planos da equipe, mas Luxemburgo preferiu outras opções. A saída foi deixar o clube. Vieram empréstimos ao Vitória e ao Caxias-RS. Recuperou seu futebol, se destacou no Ituano, onde conquistou o Paulista de 2014, foi para o Coritiba e estava na Chapecoense desde janeiro de 2015. Vivia o melhor momento da carreira. Com 53 jogos disputados no ano e três gols marcados. Dener era casado e sua família vive em Chapecó.

    Imagem: AFP PHOTO / NELSON ALMEIDA
Reprodução Reprodução

Lateral pagava faculdade do irmão e estava nos planos do São Paulo

Tranquilo, brincalhão e humilde. Assim, quase todos os amigos descrevem Caramelo, que morreu aos 22 anos na queda do avião na Colômbia.

O lateral direito chegou ao São Paulo em 2013, depois de se destacar no Paulista pelo Mogi Mirim. Nesta primeira passagem pelo clube, não teve muita oportunidade de mostrar serviço.

"É impressionante como ele sorria sempre para a vida. Era um jogador de grupo, brincalhão. Como lateral, pela força e qualidade que tinha, uma hora ou outra iria deslanchar", disse Marcelo Pettinati, empresário de Caramelo.

O Caramelo sempre dizia que o maior orgulho que tinha era ajudar a pagar a faculdade do irmão mais novo Marcelo, empresário de Caramelo

Sem conseguir se firmar no time, o lateral foi emprestado para o Atlético-GO. No entanto, a ideia era que ele ganhasse experiência e voltasse. No início desta temporada, ele retornou ao São Paulo (tinha contrato até maio de 2018) por um pedido do técnico Edgardo Bauza.

Sob a tutela do argentino, ele disputou 16 partidas, mas acabou emprestado para a Chapecoense.

Fora de campo, Caramelo era visto como um exemplo pelos companheiros e dirigentes. Humilde e brincalhão, o jogador fazia questão de morar no CT da Barra Funda. Assim, ficava mais focado no trabalho e próximo dos colegas.

Até mesmo o apelido Caramelo surgiu por causa do bom convívio com os colegas. Quando ainda jogava no Mogi Mirim, o lateral gostava de cantar com alguns companheiros, que o acharam parecido com o cantor Caramelo, da Turma do Pagode.

"O que levarei é o sorriso no rosto e a alegria de viver. Ele era um irmão que estará para sempre em meu coração. Não tenho dúvidas que o céu está em festa com chegada dele, pelo ser humano que ele era", disse o lateral esquerdo Matheus Reis.

FlickrChapecoense FlickrChapecoense

O amigo do WhatsApp e dos churrascos

Filipe Machado era o mais ativo no grupo de WhatsApp que reunia os antigos colegas de base do Inter. Durante a madrugada de terça-feira, a notícia da queda do avião da Chapecoense entrou na pauta. Sem resposta do amigo, os companheiros de início de carreira ficaram atônitos.

"O grupo está muito abalado, ele era quem mais participava ali. Mandava foto, vídeo, a gente sempre via ele interagindo muito. E pela manhã mandaram a notícia, mas eu na hora achei que tinha sido algo bem menos grave. As horas foram passando e ele não deu notícia", conta Diogo, ex-atacante do Inter, e colega de categoria de base de Filipe.

Filipe começou nas categorias de base do Internacional como um coringa na defesa. Zagueiro e lateral esquerdo, ele fez parte do time de atletas nascidos em 1984. Atuou ao lado de Nilmar e Rafael Sóbis. Se profissionalizou no Beira-Rio em 2000 e deixou o clube em 2006.

Natural de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, ele rodou Bulgária, Azerbaijão e Irã antes de chegar à Chapecoense, onde não perdia uma chance de chamar a turma para churrascos.

'Hoje o mundo chora'

É um dia muito triste para o futebol. Lamentamos profundamente a queda do avião na Colômbia, uma tragédia chocante. Nossos sinceros pêsames aos torcedores, à comunidade do futebol e aos meios de comunicação brasileiros envolvidos na tragédia

Gianni Infantino

Gianni Infantino, presidente da Fifa

Impossível acreditar nessa tragédia, impossível acreditar no ocorrido, impossível acreditar que o avião caiu, impossível acreditar que atletas, seres humanos estavam nesse avião. Hoje o mundo chora, mas o céu se alegra em receber campeões

Neymar Jr.

Neymar Jr., atacante do Barcelona

A Chapecoense é o grande símbolo e exemplo de que vale se dedicar ao nosso sonho com fé e esperança. É isso que quero transmitir nesta hora. Principalmente aos familiares, eu desejo fé, esperança e muita força para seguir em frente. Nós estaremos orando e rezando por todos e torcendo daqui. Fiquem com Deus

Guga

Guga, ex-número 1 do tênis

Jogadores

  • Ananias Eloi Castro Monteiro, o Ananias

    Posição: meia; Naturalidade: São Luís (MA); Idade: 27 anos; Clubes que defendeu: Bahia, Portuguesa, Cruzeiro, Palmeiras, Sport e Chapecoense

  • Arthur Brasiliano Maia

    Posição: meia; Naturalidade: Maceió (AL); Idade: 24 anos; Clubes que defendeu: Vitória, Joinville, América-RN, Flamengo, Kawasaki Frontale-JAP e Chapecoense

  • Bruno Rangel Domingues

    Posição: atacante; Naturalidade: Campos dos Goytacazes (RJ); Idade: 34 anos; Clubes que defendeu: Goytacaz, Americano, Ananindeua, Macaé, Boavista-RJ, Baraúnas, Águia, Paysandu, Guarani, Joinville, Metropolitano, Al-Arabi (Catar) e Chapecoense

  • Aílton Cesar Junior Alves da Silva (Canela)

    Posição: atacante; Naturalidade: Matão (SP); Idade: 22 anos; Clubes que defendeu: Inter de Bebedouro, Vitória-ES, Monte Azul, Olímpia, Botafogo-SP, Cianorte e Chapecoense

  • Cleber Santana Loureiro

    Posição: meia; Naturalidade: Recife (PE); Idade: 35 anos; Clubes que defendeu: Sport, Vitória, Kashiwa Reysol-JAP, Santos, Atlético de Madrid, Mallorca, São Paulo, Atlético-PR, Avaí, Flamengo, Criciúma e Chapecoense

  • Dener Assunção Braz

    Posição: lateral esquerdo; Naturalidade: Bagé (RS); Idade: 25 anos; Clubes que defendeu: Grêmio, Guarany Bagé, Veranópolis, Vitória, Caxias, Ituano, Coritiba e Chapecoense

  • Filipe José Machado

    Posição: zagueiro; Naturalidade: Gravatai (RS); Idade: 32 anos; Clubes que defendeu: Internacional, Esportivo, Pontevedra, CSKA Sofia-BUL, Salernitana-ITA, Albacete-ESP, Duque de Caxias, Resende, Guaratinguetá, Al-Fujairah Club (Emirados Árabes), Macaé, Saba Qom FC (Irã) e Chapecoense

  • José Paiva (Gil)

    Posição: volante; Naturalidade: Santo Antônio (RN); Idade: 29 anos; Clubes que defendeu: URT, Santa Cruz, Mogi Mirim, Guaratinguetá, Vitória, Santo André, Ponte Preta, Coritiba e Chapecoense

  • Guilherme Gimenez de Souza

    Posição: lateral-direito; Naturalidade: Ribeirão Preto (SP); Idade: 21 anos; Clubes que defendeu: Olé Brasil, Comercial, Botafogo, Goiás e Chapecoense

  • Marcos Danilo Padilha

    Posição: goleiro; Naturalidade: Cianorte (PR); Idade: 31 anos; Clubes que defendeu: Cianorte, Engenheiro Beltrão, Nacional de Rolândia, Paranavaí, Operário de Ponta Grossa, Arapongas, Londrina e Chapecoense

Jogadores

  • Everton Kempes dos Santos Gonçalves

    Posição: atacante; Naturalidade: Carpina (PE); Idade: 31 anos; Clubes que defendeu: Paraná, Ipatinga, Criciúma, Portuguesa, Novo Hamburgo, Portuguesa, Ceará, América-MG, Cerezo Osaka (Japão), JEF United (Japão), Joinville e Chapecoense

  • Lucas Gomes da Silva

    Posição: atacante; Naturalidade: Bragança (PA); Idade: 26 anos; Clubes que defendeu: Sampaio Corrêa, Tuna Luso, Londrina, Icasa, Fluminense e Chapecoense

  • Matheus Bitencourt da Silva (Matheus Biteco)

    Posição: volante; Naturalidade: Porto Alegre (RS); Idade: 21 anos; Clubes que defendeu: Grêmio e Chapecoense

  • Sérgio Manoel Barbosa Santos

    Posição: zagueiro; Naturalidade: Xique-Xique (BA); Idade: 27 anos; Clubes que defendeu: Mirassol, Coritiba, Atlético-GO, Paysandu, Água Santa e Chapecoense

  • William Thiego de Jesus, o Thiego

    Posição: zagueiro; Naturalidade: Aracaju (SE); Idade: 30 anos; Clubes que defendeu: Grêmio, Kyoto Sanga (Japão), Bahia, Ceará, Figueirense, Khazar (Azerbaijão) e Chapecoense

  • Tiago da Rocha Vieira

    Posição: atacante; Naturalidade: Trajano de Moraes (RJ); Idade: 22 anos; Clubes que defendeu: XV de Piracicaba, Metropolitano, Cianorte e Chapecoense

  • Josimar Rosado da Silva Tavares

    Posição: meia; Naturalidade: Pelotas (RS); Idade: 30 anos; Clubes que defendeu: Internacional, Fortaleza, Ponte Preta, Palmeiras e Chapecoense

  • Marcelo Augusto Mathias da Silva

    Posição: zagueiro; Naturalidade: Juiz de Fora (MG); Idade: 25 anos; Clubes que defendeu: Volta Redonda, Cianorte, Flamengo e Chapecoense

  • Mateus Lucena dos Santos (Caramelo)

    Posição: lateral direito; Naturalidade: Clementina (SP); Idade: 22 anos; Clubes que defendeu: Mogi Mirim, São Paulo, Atlético-GO e Chapecoense

Comissão técnica

  • Caio Júnior

    Cargo: treinador Naturalidade: Cascavel (PR) Idade: 51 anos Clubes como treinador: Paraná, Cianorte, Londrina, Juventude, Gama, Palmeiras, Goiás, Flamengo, Vissel Kobe (Japão), Al-Gharafa (Catar), Botafogo, Grêmio, Al Jazira (Emirádos Árabes Unidos), Vitória, Criciúma, Shabab Dubai (Emirádos Árabes Unidos) e Chapecoense

  • Eduardo de Castro Filho (Duca)

    Cargo: auxiliar técnico Naturalidade: Cascavel (PR) Idade: 39 anos Clubes como treinador: Atlético-PR (técnico de futsal) e Chapecoense

  • Anderson Rodrigues Paixão Araújo

    Cargo: preparador físico Naturalidade: Rio de Janeiro (RJ) Idade: 37 anos Clubes: Cruzeiro-RS, Grêmio, Inter, Caxias, Joinville, Bahia e Chapecoense

  • Anderson Roberto Martins (Buião)

    Cargo: preparador de goleiros Naturalidade: Pirapora (MG) Idade: 45 anos

  • Luiz Felipe Grohs

    Cargo: analista de desempenho

  • Marcio Bestene Koury

    Cargo: médico Naturalidade: Rio Branco (AC) Idade: 44 anos

  • Rafael Correa Gobbato

    Cargo: Fisioterapeuta Naturalidade: Porto Alegre (RS) Idade: 33 anos

  • Sérgio Luis Ferreira de Jesus

    Cargo: Massagista

Comissão técnica

  • Luiz Cezar Martins Cunha

    Cargo: membro da comissão

  • Adriano Wulff Bitencourt

    Cargo: membro da comissão técnica

  • Cleberson Fernando da Silva

    Cargo: membro da comissão técnica

  • Eduardo Luiz Preuss (Cadu)

    Cargo: membro da comissão técnica do clube

  • Gilberto Pace Thomas

    Cargo: assessor de imprensa

  • Anderson Donizette

    Cargo: integrante da delegação do clube

Paulo Whitaker/Reuters

A mídia esportiva

Fernando Santos/Folhapress Fernando Santos/Folhapress

Mário Sergio: ex-jogador brilhante que falava o que pensava

Mário Sergio, ex-jogador brilhante e técnico ativo por mais de duas décadas, morreu como comentarista, trabalhando com a Fox Sports. Em todas as funções que exerceu, sempre falou o que pensou. A fama de inconsequente trouxe prejuízos. O maior deles foi na seleção brasileira, segundo ele contava. O técnico Telê Santana tinha muita resistência ao jogador e se negava a convocá-lo. Só mudou de ideia ao ser convencido pelo preparador físico Gilberto Tim, que havia trabalhado com Mário Sergio. Ainda assim, o jogador sentiu a dor de ser cortado de duas Copas do Mundo em 1982 e 1986.

“O Telê tinha essa imagem. Ele não procurou me conhecer. Ele simplesmente rotulou e fixou aquilo. (...) Eu fui convocado pela primeira vez aos 31 anos por causa do Tim. Se não fosse ele, nunca teria passado pela seleção brasileira. E ele me tirou de duas Copas. Da segunda, nem tanto, porque eu já estava com 35 anos, não estava muito a fim. Mas, na primeira, eu estava a fim. Na minha opinião, ele me cortou injustamente, porque me manteve como titular durante um ano, até o último jogo amistoso antes da convocação, que foi contra a Alemanha. Nós ganhamos de 1 a 0, gol do Júnior. E aí, estranhamente, meu nome foi cortado. Isso foi uma coisa que me deixou um pouco magoado.”

Os dois continuaram se estranhando e chegaram a discutir publicamente quando Mário já era técnico do Corinthians e Telê foi assistir a um jogo dele no Mineirão. “Depois do jogo, ele deu entrevista dizendo: 'Como crítico, tudo era fácil. Agora, o que eu vi foi um time jogando um antifutebol, dando pontapé. Isso aí não é jogo de futebol'. E vieram falar comigo, perguntar o que eu achava. Falei: 'É a opinião dele, eu respeito. Só que ele está com 60 anos e não ganhou nada. Eu estou com 40, então, com certeza, eu vou ganhar muito mais que ele'."

A passagem foi contada por Mário Sérgio em uma entrevista ao UOL Esporte, concedida semanas antes da tragédia em Medellín. Em um papo de mais de duas horas, o ex-ponta lembrou da relação conturbada com Telê e sobre como eles até tentaram melhorar a relação depois do episódio. Telê fez questão de cumprimentá-lo no gramado antes de um duelo entre São Paulo e Corinthians no Morumbi. Anos depois, os dois almoçaram juntos com um amigo em comum, mas nada que estreitasse a relação. 

Reprodução/Facebook Reprodução/Facebook

PJ Clement já trabalhou com Ronaldo e era pesquisador

Paulo Julio Clement não era um comentarista dado a opiniões polêmicas. Em suas intervenções nos canais Fox Sports, os momentos mais incisivos do jornalista normalmente eram os que abordavam a tradição do futebol. Frequentador de arquibancadas desde os sete anos de idade, defendia a participação de torcedores no evento e cobrava das equipes um padrão de jogo mais baseado em estilo do que em resultados.

PJ, como era conhecido, trabalhou com jornalismo esportivo desde os anos 1980. Foi repórter, chefe de reportagem e colunista do jornal "O Globo", gerente de esportes e gerente da sucursal de Brasília na rádio CBN, editor de esportes e editor-executivo do "Jornal do Brasil", editor do "Marca Brasil" e diretor de esportes do Sistema Globo de Rádios. Também trabalhou como comentarista na Rádio Globo e nos canais Sportv até 2012, quando foi contratado pela Fox Sports. Esteve longe de redações durante dois anos, de 2005 a 2007, período em que atuou como assessor de imprensa do jogador Ronaldo Nazário, com quem manteve amizade depois disso.

"Paulo Julio, amigo há 25 anos, duro saber que nunca mais lerei aquela sua mensagem: ‘Saudades de nossos papos naqueles almoços'", escreveu Mauro Cezar Pereira, comentarista dos canais ESPN, na rede social Twitter. O jornalista trocou a foto de seu avatar por uma imagem de Clement.

Além da larga história no jornalismo, PJ, que tinha 51 anos, era pesquisador e defensor da história do futebol. Mantinha uma coleção completa da revista "Placar". Deixou a mulher, Flavia, e o filho, Theo, de sete anos.

Divulgação Divulgação

Deva venceu câncer e emocionou com narração

O narrador Devair Paschoalon, mais conhecido como Deva Pascovicci, do canal Fox Sports, literalmente vestiu a camisa do time que representava o Brasil na final da Copa Sul-Americana. Há quatro dias, ele postou em sua página no Facebook como foto de perfil uma imagem vestindo um uniforme da equipe com seu nome, presenteado pela diretoria.

Deva fez uma narração histórica e emocionada do jogo que classificou o time de Santa Catarina para a final da Copa Sul-Americana, no início do mês. A narração do lance em que o goleiro Danilo defende uma cabeçada com o pé e garante a classificação com o empate em 0 a 0, aos 48 minutos do segundo tempo, ficou famosa e ganhou as redes sociais. Postado primeiro pelo canal de TV e depois replicado por internautas no Twitter, Facebook e YouTube, o lance narrado por Deva havia sido visto cerca de 2 milhões de vezes antes do acidente.

"O herói da Chapeacoense, o espírito de Condá está com você!", comemorou Deva na narração. Depois do jogo, ao ver o lance com a narração de Deva mostrado pelo repórter Victorino Chermont [também vítima do acidente] , o goleiro Danilo chegou a  chorar. "É de emocionar, né? Ainda mais ouvindo a narração do Deva que é um dos maiores narradores do Brasil, né? Eu agradeço a moral que ele está me dando aí", disse o goleiro após ver o lance.

Em 2006, Deva enfrentou um câncer no intestino que se espalhou pelo corpo. Depois de fazer quimioterapia, radioterapia e diversas cirurgias, ele ficou curado em 2009. O narrador tinha 51 anos, era casado e tinha duas filhas.  Ele começou a carreira no interior de São Paulo.

Nascido em Monte Aprazível, Deva começou a se destacar no jornalismo esportivo em São José do Rio Preto, onde atuou como narrador em rádios locais. Ao longo da carreira, Pascovicci passou pela rádio CBN e pelo canal SporTV. Além de narrador, Deva era diretor da rádio CBN no interior de SP. 

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Vitú era apaixonado por cavalos e trocou SporTV por Fox

Victorino Chermont era figura conhecida de quem acompanha esporte pela TV. Há cinco anos, trocou o Sportv pelo Fox Sports e era, desde então, um dos principais repórteres do canal fechado. Sócio do Jockey Club Brasileiro do Rio de Janeiro, onde vivia com a mulher e o filho de sete anos, Chermont estava sempre no local com o menino. Ele tinha 43 anos e era fanático por turfe.

De acordo com amigos do Jockey, sempre que estava de folga na capital carioca ia ao clube jogar tênis e participar de churrascos com os criadores e treinadores de cavalo. "Aqui no clube está todo mundo em estado de choque", diz o treinador Leonardo Ferreira dos Reis, 46, amigo de Chermont. "Vitú [como era conhecido por amigos do clube] era muito querido pelo pessoal do clube e era apaixonado por cavalos, estava sempre aqui com a gente nas cocheiras", diz Reis.

Segundo o treinador, o repórter da Fox Sports havia pedido recentemente para que seu irmão, também treinador no Jockey, arrumasse para ele um cavalo bem manso, para que levasse ao seu sítio. Victorino queria ensinar filho a montar. Chermont chegou a manter cavalos em uma equipe com o treinador amigo, mas ultimamente não possuía animais.

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Um produtor de sorriso solto

O vídeo postado pela Chapecoense em redes sociais mostrava mais que a empolgação do time antes do embarque para o voo trágico para a Colômbia. Ao fundo, a imagem do produtor da Globo Guilherme Van Der Laars sorrindo era a síntese de um cara marcado pela alegria.

Aos 43, Guilherme trabalhava na Globo desde 2013, após passagens pelos jornais "Lance" e "Extra". Na Redação da emissora carioca, era sinônimo de tranquilidade e boas reportagens.

"O vídeo mostra ele rindo. Gargalhando, na verdade. Sorriso solto, estava sempre de bem com a vida. Não tinha tempo nem clima para a amargura. Nas dificuldades da vida e das pautas, ele era sempre o sorriso otimista, a voz de conforto. AMIGO. Com letras enormes. Como seu sorriso. Como seu coração", disse o jornalista da "Veja" Leslie Leitão, companheiro de Van Der Laars desde o início da carreira, no final da década de 90, no "Extra".

Amante dos esportes, nadava em águas abertas e jogava seu futebol. E teve até um técnico para lá de especial em sua "trajetória" nos campos amadores. "Laars jogou com meus filhos no Nova Geração. Fui técnico dele", postou o ex-jogador e ídolo Zico.

Esse era Van Der Laars, de lembranças felizes e especiais. O produtor da Globo com seu visual nórdico --chamado por vezes de "Holandês"-- a se destacar nas centenas de homenagens que se espalham nessa trágica terça-feira (29).

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Jornalistas das rádios de Chapecó estavam exultantes com final; havia 7 a bordo

A classificação da Chapecoense para a final da Copa Sul-Americana movimentou a vida dos jornalistas esportivos das rádios de Chapecó, no interior de Santa Catarina. Os profissionais estavam exultantes com a conquista da vaga na decisão, o momento mais importante do time desde que foi fundado em 1973. Ao todo, sete jornalistas das quatro principais rádios da cidade estavam a bordo do voo que caiu com a equipe da Chapecoense.

“Eles estavam exultantes, muito alegres e felizes”, afirma José Francisco Bohner, dono da Rádio Chapecó. Dois jornalistas da rádio, o narrador Fernando Schardong e o repórter de campo Douglas Dorneles, estão entre as vítimas. De acordo com Bohner, ambos eram torcedores da Chapecoense.

“O Douglas tirou o passaporte especialmente para fazer esta cobertura, era a primeira vez que ele pegava um voo internacional”, lamenta o dono da rádio. Segundo ele, Schardong deixou uma filha e um neto de oito anos de idade. Dorneles tinha 28 anos e deixou a mulher. “Eu conheço os sete. Todos trabalharam aqui com a gente, éramos todos amigos e torcedores da Chapecoense.”

“Não era o auge só do time, era desses jornalistas também, que narraram e cobriram muito jogo da Chapecoense na série C, na série D”, diz o locutor e produtor Ori Rodrigues, da Rádio Oeste Capital. “Era o grande momento deles também”, diz Rodrigues. De sua rádio, estavam no voo o repórter de campo Renan Agnolín, de 27 anos, e o locutor Rafael Henzel, de 43 anos, único sobrevivente entre os profissionais de imprensa. 

Agnolín, o repórter de campo, está entre as vítimas. “Ele ficou noivo no mês passado. Havia tirado férias, foi até a Disney que era o sonho da vida dele e pediu a namorada em casamento”, diz Rodrigues. “É uma cidade inteira arrasada, hoje você quase não via ninguém na rua, tudo silêncio.”

Dois jornalistas da Rádio Super Condá, Gelson Galiotto e Edson Luiz Ebeliny, e um da Rádio Vanguarda, Jacir Biavatti, completam a lista dos profissionais das rádios chapecoenses que estavam no avião que caiu.

“Entramos para a História de uma forma que não queríamos, é muito triste isso. Os meninos saíram daqui para fazer esse jogo numa alegria”, disse ao UOL uma funcionária da Rádio Super Condá que não conseguiu identificar-se. Ela começou a soluçar e chorar e desligou o telefone antes de terminar a frase.

 

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Torcedor do Goías, Ari Jr. rodou mundo e levou prêmios com imagens extremas

Uma das vítimas da queda do avião que levava a delegação da Chapecoense na Colombia, o cinegrafista Ari Júnior, da Globo, tinha no futebol apenas parte de seu trabalho – cobria as partidas entre as viagens para gravar o programa “Planeta Extremo”, que rodou o mundo, passando por desertos, geleiras, cavernas, vulcões e desastres naturais.

As imagens capturadas pelas lentes do cinegrafista, ao lado dos repórteres Carol Barcellos e Clayton Conservani ganharam o mundo em 2015, quando a equipe esteve no epicentro do maior terremoto a atingir o Nepal em 60 anos. O episódio sobre cachoeiras gigantes formadas por degelo no ártico levou  prêmio de melhor reportagem na categoria esporte e diversão do Festival Internacional de Filme e Televisão de Nova Iorque. A equipe do programa foi finalista em outras três categorias, inclusive melhor imagem com rapel dentro de um vulcão ativo.

“Ele era um cara apaixonado pelo que fazia, tinha uma sensibilidade que nunca vi ninguém ter com uma câmera na mão. 

Enxergava coisas que a gente nunca enxergaria. Muito talentoso, é por ele que o programa era tão bom, ele era genial”, diz a colega Carol Barcellos. “Ele não era da nossa equipe só, era da nossa família. Era um cara que todo mundo amava.  Perdemos um irmão”, disse Barcellos, emocionada.

Nascido em Goiânia, Ari era torcedor fanático do Goiás – entre as espetaculares imagens de desertos e montanhas, há várias referências ao clube esmeraldino em suas redes sociais. Foi no SBT Goiano que iniciou sua carreira atrás da câmeras.

Transferiu-se para a Globo em 1997, e intercalava as reportagens do Planeta Extremo com coberturas esportivas.

 

Reprodução/Facebook Reprodução/Facebook

Guilherme Marques, repórter apaixonado por futebol e carnaval

Bem como o xará Van Der Laars, o jovem Guilherme Marques não se destacava apenas pelo bom trabalho na TV Globo no Rio de Janeiro. O sorriso era a marca registrada do menino de 28 anos realizado com a sua primeira final internacional como repórter.

Empolgado, contava aos amigos a felicidade que se comparava à de um dia de samba. Antes de brilhar na frente da telinha no futebol, passeou pela Marquês de Sapucaí como elogiado – e apaixonado – repórter de Carnaval. Passou pelas redações do site SRZD e da TV Brasil.

“Estava super animado, crescendo bastante, muitas oportunidades. A final desta semana seria mais uma. Fez Jornal Nacional, Olimpíadas, estava empolgado. E aquela alegria animava a todos. O sorriso sempre estava no rosto. Triste pensar nisso tudo. A ficha ainda não caiu”, contou o também repórter da TV Globo Diego Moraes, companheiro de Guilherme na faculdade, no estágio a na redação carioca. “Era um irmão”.

Nas redes sociais, Marques deixava a felicidade clara: “Bora lá contar essa história. Atlético Nacional-COL x Chapecoense. Jogo 1 da final da Sul-Americana, em Medellín, contra o atual campeão da Libertadores. O capítulo mais importante nos 43 anos da Chapecoense”, postou, horas antes daquele que seria seu momento mais triste e definitivo.

'Isso é uma tragédia'

A família de futebol brasileiro está de luto. Isso é uma tragédia

Pelé

Pelé, ex-jogador

Lamento profundamente o acidente. Foi meu último time como jogador e estava construindo uma história fora do Brasil. Tristeza enorme

Cuca

Cuca, técnico do Palmeiras

Lamentavelmente estes rapazes, que vinham abrindo seus caminhos com força no futebol tomaram o avião errado. Desde hoje, sou torcedor da Chapecoense

Diego Maradona

Diego Maradona, ex-jogador argentino

Profissionais de imprensa

  • Laion Espíndola

    Empresa: Globo Esporte; Cargo: repórter; Idade: 29 anos

  • Victorino Chermont

    Empresa: Fox Sports; Cargo: repórter; Idade: 43 anos

  • Rodrigo Santana Gonçalves

    Empresa: Fox Sports; Cargo: cinegrafista; Idade: 35 anos

  • Devair Paschoalon (Deva Pascovicci)

    Empresa: Fox Sports; Cargo: narrador; Idade: 51 anos; Naturalidade: Monte Aprazível (SP)

  • Lilacio Pereira Jr.

    Empresa: Fox Sports; Cargo: coordenador de transmissões externas; Idade: 48 anos

  • Paulo Julio Clement

    Empresa: Fox Sports; Cargo: comentarista; Idade: 51 anos

  • Mário Sérgio Pontes de Paiva

    Empresa: Fox Sports Cargo: ex-jogador, ex-técnico e comentarista Naturalidade: Rio de Janeiro Idade: 66 anos Carreira como jogador: Flamengo, Vitória, Fluminense, Botafogo, Rosario Central (Argentina), Internacional, São Paulo, Ponte Preta, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Bellinzona (Suíça) e Bahia Carreira como técnico: Vitória, Corinthians, São Paulo, Atlético-PR, São Caetano, Atlético-MG, Figueirense, Botafogo, Internacional e Ceará Seleção brasileira: integrou a lista de espera para a Copa do Mundo de 1982

  • Gelson Galiotto

    Empresa: Rádio Super Condá; Cargo: narrador

  • Douglas Dorneles

    Empresa: Rádio Chapecó; Cargo: repórter

  • Jacir Biavatti

    Empresa: RIC TV e Rádio Vang FM; Cargo: comentarista

Profissionais de imprensa

  • Guilherme Marques

    Empresa: Globo; Cargo: repórter; Idade: 28 anos

  • Ari Ferreira de Araújo Júnior

    Empresa: Globo; Cargo: cinegrafista; Idade: 48 anos

  • Guilherme Van der Laars

    Empresa: da Globo; Cargo: produtor; Idade: 43 anos

  • Giovane Klein Victória

    Empresa: RBS TV (afiliada da Globo); Cargo: repórter; Idade: 28 anos

  • Bruno Mauri da Silva

    Empresa: RBS; Cargo: técnico da RBS; Idade: 25 anos

  • Djalma Araújo Neto

    Empresa: RBS; Cargo: cinegrafista; Idade: 35 anos

  • André Podiacki

    Empresa: Diário Catarinense; Cargo: repórter; Idade: 26 anos

  • Renan Agnolin

    Empresa: Rádio Oeste Capital; Cargo: repórter; Idade: 27 anos

  • Fernando Schardong

    Empresa: Rádio Chapecó; Cargo: narrador

  • Edson Ebeliny

    Empresa: Rádio Super Condá; Cargo: repórter

Paulo Whitaker/Reuters

Dirigentes

Divulgação/CBF Divulgação/CBF

Cartola catarinense era maior opositor público de Del Nero

Presidente da Federação Catarinense há 31 anos, Delfim Peixoto foi a Medellín para ver ao vivo o primeiro time de seu Estado em uma decisão continental. A tragédia pôs fim ao que seria uma vitória política para o opositor mais ativo de Marco Polo del Nero dentro da cartolagem nacional.

Na onda do bom momento das equipes de sua federação, que chegou a emplacar três clubes de uma só vez na Série A, Delfim deixou o papel de coadjuvante para ser o maior questionador público de Marco Polo del Nero. Quando o manda-chuva da CBF entrou na mira do FBI, o catarinense foi ao ataque, pleiteou um lugar na linha de poder e chamou de "golpe" a eleição do Coronel Nunes como vice da --mais velho, ele pulou à frente de Delfim e passou a ser o sucessor imediato na entidade. Del Nero e sua reclusão viraram alvo.

“Ele precisa se explicar. Eu sei que ele, quando mais jovem, tinha espírito aventureiro, gostava de conhecer o mundo, claro, sempre nos favorecimentos que o futebol lhe deu. De uma hora pra outra ele enjoou, ele ficou sem vontade de viajar.”

Se nunca foi visto como alternativa real a Del Nero, Delfim ao menos se portou como opositor franco. Morreu, ironicamente, ao viajar para acompanhar um de seus clubes. Aos 75, era formado em direito e ex-deputado estadual por Santa Catarina nos anos 1970.

Aguante Comunicação/Chapecoense Aguante Comunicação/Chapecoense

Presidente empresário começou na Série D e sonhava com Libertadores

Com 50 anos, Sandro Pallaoro era jovem para um presidente de clube, mas já estava em seu terceiro mandato à frente da Chape – a continuidade se explica por um papel importante em uma trajetória que foi da Série D do Brasileiro à final da Sul-Americana.

Dono de uma distribuidora de frutas, Pallaoro foi diretor de futebol em 2009, começo da ascensão da Chapecoense rumo à Série A do Brasileirão.

No mesmo ano, veio a subida à Série C; em 2012, o acesso à Série B. Finalmente, em 2013, o acesso à Série A, onde o clube permaneceu até hoje, tendo disputado também a edição 2015 da Sul-Americana.

Ao longo desses anos, Pallaoro sempre teve um sonho. “É levar a Chapecoense ao título da Copa Libertadores da América. Acredito que seja possível. Não sei quanto tempo isso pode levar, mas é possível”.

De onde estiver, deve ver, em 2016, e Chapecoense conquistar a Sul-Americana em meio às circunstâncias desastrosas. Em 2017, neste cenário, o clube catarinense poderá começar sua reestruturação com uma inédita vaga na tão sonhada Libertadores.?

Dirigentes

  • Delfim de Pádua Peixoto Filho

    Cargo: advogado e presidente da Federação Catarinense de Futebol (FCF) Naturalidade: Itajaí (SC) Idade: 72 anos

  • Sandro Luiz Pallaoro

    Cargo: presidente da Chapecoense

  • Mauro Luis Stumpf

    Naturalidade: União da Vitória-PR Cargo: vice-presidente de futebol da Chapecoense

  • Ricardo Philippi Porto

    Cargo: Advogado e integrante da diretoria do clube

  • Emersson Fabio Di Domenico (Chinho di Domenico)

    Cargo: supervisor da Chapecoense

  • Nilson Folle Junior

    Cargo: integrante da diretoria

Dirigentes

  • Decio Sebastião Burtet Filho

    Cargo: integrante da diretoria

  • Jandir Bordignon

    Cargo: integrante da diretoria

  • Mauro Dal Bello

    Cargo: integrante da diretoria

  • Edir Félix De Marco

    Cargo: membro da diretoria

  • Daví Barela Dávi

    Cargo: empresário convidado pela direção do clube

REUTERS/Paulo Whitaker REUTERS/Paulo Whitaker

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