Metaleiro pesado

O calmo Rafael Silva usou a música para se aquecer antes das lutas que o levaram ao bronze nos Jogos do Rio

Bruno Doro Do UOL, no Rio de Janeiro
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Na terra do samba e do Carnaval, o heavy metal vale medalha olímpica. A prova disso é Rafael Silva, um gigante de 2,03 m de altura e mais de 150 kg que precisa escutar guitarras distorcidas e baterias pesadas para derrubar os rivais. Baby foi bronze na categoria acima dos 100 kg, a que fecha o último dia de judô nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Quem o conhece sabe que a agressividade que ele encontra na música é essencial. Só assim para que o mato-grossense simpático, de voz calma e baixa, se torne um monstro em cima do tatame. “É porque eu sou muito calmo. Procurei ferramentas para tentar ativar a agressividade. É uma coisa que eu tinha dificuldade: ser muito passivo na luta e não entrar com muitos golpes. São coisas que me ajudaram a focar e melhorar nesses aspectos”, admite. A trilha sonora tem, sempre, AC/DC e Iron Maiden.

É a segunda medalha olímpica de Baby. Infelizmente, não foi a que ele queria. O bronze de Londres-2012 foi repetido. Assim como a derrota para Teddy Riner, o francês oito vezes campeão mundial que não perde desde 2010.

Pode ter doído, mas é um pódio importantíssimo. Aos 30 anos, Baby se junta a uma lista crescente de brasileiros com duas medalhas olímpicas. Na quinta (11), foi Mayra Aguiar, também dois bronzes. Antes, Aurélio Miguel, Tiago Camilo e Leandro Guilheiro já tinham o feito.

#PintouMedalha: Rafael Baby Silva levou bronze após quase não ir ao Rio

Senna também ajudou Baby a se concentrar

  • Senna ajuda a se concentrar

    Desde 2012, o judoca tem uma rotina: antes de cada competição, assiste ao documentário "Senna", coprodução de Brasil, EUA, França e Reino Unido, dirigido por Asif Kapadia. A obra narra a vida do piloto brasileiro Ayrton Senna, tricampeão da Fórmula 1, que morreu em 1994. "Coloca no foco e ajuda", explica.

    Imagem: Saulo Cruz/COB
  • Inspiração no MMA

    Antes de descobrir "Senna", a escolha de Baby era bem diferente para se preparar para os combates: ele costumava ver lutas de MMA antes de entrar no tatame. O judoca buscou inspiração nas artes marciais mistas para tentar ativar a agressividade - o mesmo motivo que o aproximou do heavy metal.

    Imagem: Danilo Verpa/Nopp
  • Lesão no ombro

    No fim de 2015, ele sofreu uma ruptura muscular no músculo do peito. A lesão, grave, teve de ser corrigida por cirurgia e Baby perdeu passou meses sem competir. Enquanto isso, David Moura ganhava pontos no ranking peso-pesado e quase o deixou sem a vaga na Rio-2016. A lesão no ombro o afastou dos tatames por oito meses. A recuperação lenta permitiu que o judoca voltasse a brincar com Lego, algo que sempre gostou, assistisse todas as temporadas da série "Breaking Bad".

    Imagem: Divulgação/IJF
  • Ajuda até para comer

    Enquanto se recuperava, ele chegou a questionar se voltaria a lutar. "Esse processo foi bem difícil: precisar de alguém para tomar banho ou fazer as necessidades básicas do dia a dia, até colocar comida no prato. É algo bem doloroso, que dá muitas dúvidas se você vai conseguir voltar bem ou não. Se você não consegue nem mexer o braço, como vai voltar a lutar com os caras mais fortes da categoria?"

    Imagem: Murad Sezer/Reuters

Na infância, queria trabalhar no campo. Judô veio só depois

MURAD SEZER / REUTERS MURAD SEZER / REUTERS

Ele sonhava ser agricultor

Rafael Silva nunca sonhou com os Jogos Olímpicos. "Eu gosto da minha vida, mas nunca havia sonhado com isso. Quando era criança, queria ser agricultor, ter uma fazenda, uma plantação. Na minha pequena cidade-natal tem plantação de milho e eu sonhava com isso".

Toru Hanai/Reuters Toru Hanai/Reuters

Lutou caratê até os 15 anos

A maioria dos judocas que chegam aos Jogos Olímpicos fazem isso desde o início da carreira. Baby, não. Sua primeira arte marcial foi o caratê, que ele praticou dos 5 aos 15 anos. Só na adolescência ele chegou ao judô. O seu tamanho ajudou e ele, rapidamente, chegou à seleção.

Veja como foi a última luta de Rafael Silva

A medalha em casa é muito boa. A torcida ajudou bastante, me empurrou, buscando cada shidô, cada ponto. Em casa é outra coisa, estou feliz demais

Baby

Baby, após medalha de bronze em casa

No judô o resultado é muito dinâmico, atípico. É uma competição totalmente diferente a Olimpíada, era difícil prever quantas medalhas sairiam. Mas acho que a equipe teve bom desempenho. A Rafa foi campeã olímpica em casa. Acho que o judô está de parabéns

Baby

Baby, sobre o judô na Rio-2016

Eu fui para jogar. Sabia que seria difícil, mas eu tentei. É uma honra poder fazer parte da geração desse cara [Teddy Riner, que não perde uma luta desde 2010]

Baby

Baby, em relação ao grande rival

Danilo Verpa/Nopp Danilo Verpa/Nopp

Bebezão mimado

Cercado de mulheres, Baby é um "bebê mimado". Criado pela avó e por uma tia, Rafael Silva cresceu num universo feminino. A cara séria que ele entra no tatame disfarça a doçura do atleta fora dele.

"Ele é um menino muito bom, só tem tamanho", explica dona Palmira Silva, avó e mãe de criação do judoca.

É em Rolândia, no Paraná, onde a família dele mora, que ele costuma se refugiar quando não está envolvido em preparação para competições. Lá, é mimado do único jeito que gosta: com comida.

Baby é bom de garfo. Dona Palmira diz que já não sofre com os golpes que ele leva. Estava tranquila durante as lutas que definiram o bronze. "Ele sabe o que está fazendo", resumiu.

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