No dia seguinte, Magno entra no CTI e vê a mudança no semblante do filho. Alexandre está na mesma posição do dia anterior, mas seus olhos agora se movem com uma frequência maior do que antes. Algumas vezes, parecem acompanhar as vozes ao redor. Outras, se movimentam de maneira aleatória.
A iluminação delicada do centro médico oferece uma sensação de conforto. Diferentemente do dia anterior, Eliane sorri e conversa com o filho. Faltam cerca de dez minutos para o fim do horário de visita. Ela se despede de Alexandre com um beijo na mão. Hoje ela completa 43 anos.
Magno aproveita os últimos minutos da visita para provocar lembranças de infância no filho. “Levanta daí, rapaz”, diz ele acariciando o rosto do garoto, agora de barba feita. “Vamos para Cachoeira Alta, Alexandre?”
Quando Alexandre tinha quatro anos, foi atropelado por um carro ao andar de bicicleta na rua. Levado ao hospital entre a vida e a morte, com metade do corpo imobilizado, conseguiu se recuperar sem grandes sequelas. Magno sempre lembra da história para firmar a certeza de que o filho vai dar mais uma reviravolta.
No último minuto da visita, me dirijo a Alexandre e digo que espero voltar em breve para que ele mesmo me conte a história de sua vida. As palavras saem sem jeito. O semblante do lutador não se altera, seus olhos não se movem.
Magno então levanta o cobertor até a altura do pescoço do filho e se despede com um beijo na testa. “Fica com Deus, filhão”, diz ele, antes de deixar o CTI.
À noite, Magno, Gabriela, Eliane e uma irmã dela sentam em volta da mesa de um boteco, pedem cerveja e celebram a vida de Alexandre, lembrando suas histórias de infância e os perrengues que a família tem passado no Rio nos últimos meses. Reafirmam a certeza de que Alexandre em breve sairá do hospital para uma vida mais próxima do que aquela tinha antes de entrar naquela banheira de motel.