Eu sou os EUA. Eu sou a parte que vocês não reconhecem. Mas se acostumem comigo. Preto, confiante, arrogante; meu nome, não o seu; minha religião, não a sua; meu próprio objetivo. Se acostumem comigo.
Cassius Clay é um nome escravo. Eu não escolhi esse nome, eu não quis esse nome. Eu sou Muhammad Ali, um homem livre, significa "amado por Deus" e eu insisto para que usem esse nome quando falarem comigo.
É só um trabalho. A grama cresce, os pássaros voam, ondas banham a areia... Eu espanco as pessoas.
Eu não tenho nada contra os vietcongues. Nenhum vietnamita jamais me chamou de crioulo.
Seu estilo era considerado inovador por misturar agilidade, velocidade e força de um jeito nunca antes visto. Ali parecia ciente disso e não cansava de se classificar como o melhor de todos. "Eu sou tão rápido que ontem à noite eu apertei o interruptor do meu quarto e cheguei na cama antes das luzes se apagarem", disse ele certa vez.
Imagem: Getty ImagesEm 1960, no auge da luta dos negros americanos por direitos civis, Ali ganhou a medalha de ouro na Olimpíada de Roma. O relato do feito é primeira menção de seu nome no New York Times, o maior jornal do país. De volta à América, passou a ser chamado de "o crioulo olímpico". Chegou a atirar sua medalha em um rio depois que uma garçonete se recusou a atendê-lo.
Imagem: Central Press/Getty ImagesSua resiliência entre as cordas chamava atenção. Em sua mais famosa luta, contra George Foreman em 74, sabendo que talvez não conseguisse vencer indo pra cima, apanhou pacientemente durante sete rounds e acertou um golpe certeiro no oitavo. Foreman foi à lona e Ali recuperou o cinturão.
Imagem: AFP PHOTOAli antecipou o movimento pacifista dos anos 60 ao se recusar a servir o exército americano na guerra do Vietnã. Por causa da desobediência, foi suspenso do boxe por três anos, durante o período mais importante da carreira. "Por que eles me pedem para por um uniforme e jogar bombas em pessoas mestiças enquanto os que eles chamam de "crioulos" são tratados como cachorros em Louisville?"
Imagem: ReproduçãoO pugilista era um rebelde com causas. Participou de missões pacifistas no Afeganistão e na Coreia do Norte, entregou medicamentos em Cuba furando o embargo americano e foi ao Iraque ajudar a resgatar 15 reféns americanos antes da primeira Guerra do Golfo
Imagem: APPortador do mal de Parkinson por três décadas, Ali se engajou também na busca por uma cura e por tratamentos que pudessem aliviar seus sintomas mais duros. Financiou pesquisas e centros médicos dedicados ao desenvolvimento de remédios. O mundo ficou sabendo de sua doença em 1996, quando ele acendeu a pira olímpica dos Jogos de Atlanta.
Imagem: Getty ImagesNascido Cassius Clay Jr e em berço cristão, o pugilista mudou seu nome e sua religião e fez o mundo tratá-lo do jeito que ele gostaria de ser tratado. Dizia que seu nome antigo não representava o que ele era. Nos EUA, como no Brasil, um escravo em geral herdava o sobrenome de seu senhor. Clay, na visão militante de Ali, representava a opressão sofrida por seus antepassados.
Imagem: APO esporte americano já tinha visto ídolos negros antes de Ali, mas o pugilista foi o primeiro a lutar ativamente pelos direitos civis de uma população explicitamente marginalizada, em uma época em que talvez fosse mais cômodo ficar calado. Em entrevistas, repetia que se achava muito bonito, uma forma de dizer aos negros e negras que a cor de sua pele e seus traços também eram belos.
Imagem: Paul Bereswill/Getty ImagesFrazier foi o grande rival de Ali, e os dois protagonizaram uma das lutas que ficaram conhecidas como "a Luta do Século", em 71. Frazier venceu por decisão unânime dos juízes após 15 rounds. Os dois tiveram uma rivalidade dura e, muitas vezes, desrespeitosa. Ali dizia que Frazier era "um negro a serviço dos brancos".
Imagem: AP Photo/Marty LederhandlerDerrotado por Ali em uma de suas lutas mais célebres, no Zaire, em 1974, Foreman reagiu com ternura à morte do antigo oponente e lembrou do trio formado pelos principais pugilistas do século: "Ali, Frazier e Foreman", escreveu ele no Twitter. "Nós formávamos um só homem. Uma parte de mim foi embora, a melhor parte. Eu o conheci e o amei. Muhammad Ali foi um grande homem, que nunca morrerá."
Imagem: Al Bell/Getty Images