Nada de gigantes!

Quem manda no Campeonato Inglês, agora, é o modesto Leicester

Do UOL, em São Paulo
Laurence Griffiths/Getty Images
Darren Staples/Reuters Darren Staples/Reuters

Pequenino em meio aos grandes

Assim como o mítico herói inglês Robin Hood, o Leicester tirou a alegria dos ricos e a entregou aos pobres. Os “reinos” de Londres, Manchester e Liverpool abriram espaço a festa dos 288 mil moradores de Leicester. Cento e trinta e dois anos depois da criação do time que leva o nome da cidade, os torcedores puderam tirar da garganta o improvável grito de campeão.

Após brigar até as rodadas finais para não ser rebaixado na temporada 2014/15 do Campeonato Inglês, o Leicester entrou em 2015/16 com um objetivo claro: conseguir permanecer na elite país. E para isso apostou no veterano, porém em fim de carreira, Claudio Ranieri para ser o comandante da equipe.

E a surpresa foi vindo aos poucos, primeiro com uma invencibilidade de seis rodadas, encerrada com uma sonora goleada sofrida para o Arsenal, por 5 a 2. Na sequência, o gosto da liderança na 13ª rodada, algo que o time sentiria muitas vezes no decorrer da temporada. No decorrer da campanha, destacam-se ainda feitos como as vitórias sobre os poderosos Chelsea, Liverpool e Manchester City – o último derrotado dentro de sua própria casa.

Quando a surpresa já havia se tornado um perigo real aos gigantes ingleses com o simbólico título do primeiro turno, veio a primeira grande conquista da temporada: a classificação para a Liga dos Campeões, que levou Ranieri ao choro. A partir daí, deu-se início a contagem regressiva: cinco rodadas até o título. E ele veio antes, longe do gramado, quando o Tottenham ficou apenas no empate com o Chelsea.

Reprodução Reprodução

Se pronuncia "Léster"

Tão difícil quanto o título do Leicester no Campeonato Inglês foi aprenderem a pronuncia do nome da surpresa da temporada. O correto é “léster”, não “leichester”, “lechester” ou qualquer outra tentativa que possa ter sido feita.

E essa dificuldade não é exclusiva do Brasil. Em 2014, quando adquiriu os direitos do Campeonato Inglês para os Estados Unidos, o canal NBC brincou com a dificuldade, como mostra a imagem acima. “Para sua informação, se pronuncia ‘Lester’.

Nigel Roddis/EFE/EPA Nigel Roddis/EFE/EPA

De contestado a sensação

Apesar de ser um técnico conhecido na Europa, Claudio Ranieri conta com pouquíssimos títulos em sua carreira – apenas cinco taças de expressão. O maior deles viria, justamente, com o inexpressivo Leicester. Mas se hoje o italiano de 64 anos é visto com honras, no começo da temporada a pressão da mídia era por sua aposentadoria.

Ranieri chegou ao Leicester depois de uma passagem para esquecer pela seleção da Grécia, com quatro partidas e nenhuma vitória. A demissão veio após uma derrota para Ilhas Faroé, por 1 a 0, pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2016.

O último grande trabalho do treinador italiano acontecera na temporada 2009/10, na Roma, clube que o revelou para o futebol. Lá, Ranieri perdeu a liderança para a Inter de Milão a quatro rodadas do fim, mas foi o responsável por uma incrível campanha de recuperação, que contou com uma invencibilidade de 24 partidas consecutivas.

No comando do Leicester, Ranieri mostrara a cada rodada, que ainda tinha algo a contribuir com o futebol. Com um time que não jogava bonito, mas demonstrava uma determinação impressionante em campo, o italiano tirou de suas costas a pressão do início da temporada. A imagem mais representativa da campanha aconteceu na 33ª rodada, com as lágrimas soltas após a inesperada classificação para a Liga dos Campeões. Ali, Ranieri colocava de vez seu nome na história do futebol, junto com uma das histórias mais incríveis produzidas pelo esporte.

Jamie Vardy: o herói improvável

Desconhecidos que brilharam

Jason Cairnduff/Reuters Jason Cairnduff/Reuters

Riyad Mahrez

Companheiro de Vardy no ataque que chocou o mundo, o argelino teve uma temporada tão boa, que foi eleito o melhor jogador do torneio. Foi algo que nenhum africano havia conseguido, nem mesmo Drogba. Mahrez fez, até o momento, 17 gols e deu 11 assistências.

Michael Regan/Getty Images Michael Regan/Getty Images

N'Golo Kanté

O 'pequeno Makélélé' impressionou pela velocidade e a qualidade na saída de bola. "Ele corria tão rápido que achei que tinha pilhas no short", brincou Ranieri. Como recompensa, o meia foi convocado pela França e é nome quase certo para a disputa da Eurocopa.

Laurence Griffiths/Getty Images Laurence Griffiths/Getty Images

Kasper Schmeichel

Sempre lutando para sair da sombra do pai, o lendário goleiro Peter Schmeichel, Kasper finalmente levantou uma taça de expressão. Presente em todas as rodadas do Inglês, até o momento, o arqueiro comanda a 3ª melhor defesa do torneio.

Michael Regan/Getty Images Michael Regan/Getty Images

Wes Morgan

Capitão e líder do sistema defensivo, o jamaicano marcou presença na seleção do Campeonato Inglês, junto com Mahrez, Vardy e Kanté. Firme lá atrás, o forte zagueiro (93kg) ainda contribuiu no ataque, balançando as redes duas vezes ao longo da campanha.

Papelão dos grandes

Stefan Wermuth/Reuters Stefan Wermuth/Reuters

Arsenal

O Arsenal tinha a chance de voltar a ser campeão com o fraco desempenho de seus costumeiros adversários. Na reta final, no entanto, o time não conseguiu acompanhar o Leicester. De quebra, poderá terminar atrás do rival Tottenham na tabela após mais de 20 anos.

Carl Recine/Reuters Carl Recine/Reuters

Chelsea

Campeão com folga em 2014/15, o Chelsea teve um fraco início na atual edição, culminado com a crise instaurada no vestiário entre atletas e Mourinho, demitido em dezembro. A crise deixou o clube longe de qualquer chance de título e vaga na Liga dos Campeões.

Andrew Yates/Reuters Andrew Yates/Reuters

Manchester City

A temporada do City não foi das piores, mas depois de sucessivos tropeços, a equipe abriu mão do Campeonato Inglês e passou a dar atenção para a Liga dos Campeões. No principal torneio continental, a equipe enfrenta o Real Madrid por uma vaga na grande final.

AP Photo/Scott Heppell AP Photo/Scott Heppell

Manchester United

Ainda tentando se encontrar desde a aposentadoria de Alex Ferguson, o United fez mais uma temporada aquém do esperado. Irregular, o time não chegou a assustar o Leicester e tem na Copa da Inglaterra a única chance de título.

Divulgação/Nottingham Forest Divulgação/Nottingham Forest

Nottingham Forest já foi Leicester

Quase 30 anos antes do feito do Leicester, outro modesto time balançou as estruturas do futebol inglês. Na temporada 1977/78, o recém-promovido Nottingham Forest conquistava o título com sete pontos a mais que o poderoso Liverpool.

Modesto comparado a Arsenal e Liverpool, que dominaram o futebol inglês nas décadas de 1970, 80 e 90, os comandados do lendário treinador Brian Clough emplacaram uma incrível invencibilidade de 42 jogos, entre 26 de novembro de 1977 e 25 de novembro de 1978.

O feito do Forest, no entanto, não parou no Campeonato Inglês. Nas temporadas seguintes, o time de Clough seguiu chocando o mundo, levantando a sonhada taça da Liga dos Campeões duas vezes consecutivas, algo que nem Arsenal nem Manchester City têm em seu currículo.

Os campeões

Eu nunca esperei por isso quando eu cheguei. Eu sou um homem pragmático, que apenas queria vencer jogo após jogo e ajudar meus jogadores a melhorar semana a semana.

Cláudio Ranieri

Cláudio Ranieri, técnico

É o melhor sentimento da minha carreira e não poderia estar mais orgulhoso de fazer parte desse time.

Wes Morgan

Wes Morgan, zagueiro e capitão

O campeão nos jornais

Reprodução Reprodução

"Daily Mirror" deu destaque para as improváveis chances nas casas de aposta no início da temporada de o Leicester ser campeão inglês.

Reprodução Reprodução

Capa do caderno de esporte do "The Guardian" destaca a "terra dos sonhos" que virou Leicester, com os torcedores comemorando.

Reprodução Reprodução

"The Sun" fez um trocadilho com "conto de fadas" em inglês (fairytale), com uma imagem dos atletas vibrando na casa de Vardy.

Curtiu? Compartilhe.

Topo