Enfim campeão

Nico Rosberg supera rival Hamilton e é campeão da F-1 em 2016 após segundo lugar em Abu Dhabi

Julianne Cerasoli Do UOL, em Abu Dhabi (Emirados Árabes)
Clive Mason/Getty Images
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Bom aluno, aplicado e sortudo

Não tinha outra fórmula para Nico Rosberg: se quisesse ganhar de um piloto que, quando à vontade com o carro, é praticamente imbatível, o jeito era ser consistente. Desde que se tornou companheiro de Lewis Hamilton, um velho conhecido, com quem havia corrido (e mais perdido do que ganhado) nos karts, o alemão tentou de tudo. Até para o jogo psicológico ele apelou, para tentar desestabilizar aquele que é considerado um dos maiores pilotos da atualidade. Mas, apesar da briga normalmente parelha com o inglês, tudo o que o alemão conseguira até 2016 fora o segundo lugar.

Neste ano, a tática mudou. Nico deixou de ser aquele piloto que precisava ir ganhando confiança durante o final de semana. Ele passou a atacar desde o primeiro treino livre, como Hamilton faz. Disciplinado, hoje evita gastar energia com coisas que estão fora de seu controle. Contas para o campeonato? Esquece. Sua frase mais repetida durante o ano foi: “Vou tentar ganhar a corrida neste final de semana, só penso prova a prova”.

Foi o que ele fez neste fim de semana. Hamilton estava mais rápido no GP de Abu Dhabi, mas Rosberg estava sempre lá, atrás, incomodando. Acabou em segundo lugar, mas o resultado bastava: ele tinha superado o rival e era campeão mundial.

Consistência x sorte

Olhar só o campeonato de Nico não explica o desfecho final. Hamilton teve problemas em seu motor no início da temporada e depois voltou a ter uma quebra dolorosa enquanto liderava na Malásia - e Rosberg era quarto. Largadas ruins também fizeram o inglês perder muitos pontos e houve finais de semana em que o tricampeão esteve longe de mostrar seu melhor, como em Cingapura. Afinal, para ser campeão em cima de um rival tão forte, não basta ser um aluno esforçado. Uma pitada de sorte também vai bem.

Maximizando seus resultados na grande maioria das vezes em que Hamilton não conseguiu vencer, Rosberg obteve uma consistência que derrotou simplesmente o segundo piloto mais vencedor da história. E, mesmo com o melhor carro, isso não é para qualquer um. 

Clive Mason/Getty Images Clive Mason/Getty Images

Campeão de ocasião? Pilotos opinam

Jenson Button ouviu muito isso quando foi campeão, em 2009, mas não titubeou quando perguntado pelo UOL Esporte o que mudou em Nico Rosberg para que o alemão ganhasse o primeiro título nesta temporada: “Foram circunstâncias”, disse Button. “Mas se você ganha um campeonato, é porque merece.”

A impressão de que os problemas de Hamilton foram fundamentais para que Rosberg conquistar o título é grande entre os pilotos. Mas ninguém questiona que o alemão também fez a sua parte:

É verdade que ele teve uma boa temporada, mas não consigo dizer, olhando de fora, se isso foi porque Nico foi melhor ou por causa dos problemas que o Lewis teve durante o ano na parte técnica. Mas é claro que ele teve uma temporada boa e consistente

Valtteri Bottas

Valtteri Bottas

Eles estavam bem igualados há dois anos e o campeonato foi decidido só na última corrida. Foi um ano de altos e baixos. Ano passado, Lewis foi muito mais rápido e ganhou com uma boa margem. Neste ano, Nico foi mais consistente e teve menos problemas de confiabilidade, o que lhe deu um pouco de vantagem

Fernando Alonso

Fernando Alonso

Não acho que ninguém pensou que o campeonato seria fácil para Lewis. Nem ele. Sabemos que Nico é muito consistente e muito forte em alguns circuitos, como no Brasil. Ele é um piloto muito forte e sempre termina as corridas. Será sempre um concorrente ao título

também Alonso

também Alonso

Se o cara está ganhando corrida, ele tem de ser um bom piloto. Essa vantagem teve outros fatores, como sorte, mas acho que teve a competência para aproveitar as oportunidades e se colocar nessa posição

Felipe Nasr

Felipe Nasr

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Nico viveu ano de montanha-russa

Perdão pelo clichê, mas é difícil não esbarrar na expressão “montanha-russa” para definir a temporada de Nico Rosberg. Campeão do mundo, o alemão começou 2016 guiando como tal, perdeu gás (e a ponta da classificação) no meio do caminho e só foi reagir quando a disputa pelo título entrou na reta final.

O campeonato teve dois momentos parecidos. Ele [Rosberg] começou bem, ganhando a maior parte das corridas no começo do ano. Depois o Hamilton entrou em uma fase melhor e começou a ganhar várias corridas seguidas, até o ultrapassando. E depois o Rosberg voltou e conseguiu uma diferença grande e Hamilton voltou a encaixar uma sequência. Aconteceu duas vezes algo parecido. Mas acho que essa virada do Lewis nas últimas corridas teve muito mais a ver com o Rosberg ter ficado mais tranquilo, tentando levar a pontuação de um jeito mais sossegado. Mas acho que merece ser campeão: foi quem ganhou mais corridas

Felipe Massa

Felipe Massa

Início avassalador

De fato, em maio, era difícil imaginar o título da Fórmula 1 em outras mãos que não as de Rosberg. Depois de dois anos à sombra de Lewis Hamilton, o alemão começou o ano vencendo as quatro primeiras corridas. Um início avassalador enquanto o companheiro de equipe e maior rival sofria para repetir as atuações que lhe deram dois títulos mundiais seguidos.

Foram 43 pontos de frente, vantagem que fazia Rosberg soar como virtual campeão antecipado. Só que o alemão quebrou. Venceu só uma de oito provas no meio do ano e viu Hamilton virar o jogo, ganhando a liderança com 19 pontos a mais. “Acho que chegou uma hora em que todo mundo achou que o Hamilton iria ganhar mais um campeonato, mas então as coisas viraram de novo. Foi uma surpresa para todo mundo. Mas isso só mostra que ele teve a competência de virar as coisas para o lado dele e funcionou muito bem”, disse Massa.

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Salvo pelo gongo

O alemão foi mesmo salvo pelo gongo. Depois das férias do meio do ano, ele voltou a guiar bem, emplacou quatro vitórias em cinco provas e se colocou em posição para finalmente brilhar. Mesmo com a recuperação de Hamilton, vencendo as quatro últimas provas do campeonato, a vantagem aberta pelo alemão e sua consistência lhe deram o título.

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O número

2

Com o título de 2016, Nico Rosberg pode dizer que bateu os dois maiores vencedores da história da Fórmula 1. Primeiro, foi Michael Schumacher, dono de 91 vitórias na carreira, mas que ficou atrás de Rosberg por três anos seguidos, de 2010 a 2012, quando eram companheiros na Mercedes. Agora, ele bateu também Lewis Hamilton, que tem 53 triunfos no total.

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Momento família

Eles não têm aparecido com frequência, mas apareceram em um momento no qual Nico Rosberg realmente precisava. Mentalmente esgotado após uma tensa prova decisiva, o alemão logo correu para os braços da mulher, Vivian, e da mãe, Sina. A filha, Alaia, com pouco mais de um ano, também estava em Abu Dhabi, mas ficou no hotel.

O pai, Keke, campeão de 1982, Nico só encontrou depois das extensas entrevistas que fez. Como não encontrou o pai logo de cara, o campeão até se preocupou:

“Espero que ele esteja bem, porque ele deve ter ficado bastante nervoso durante a corrida.”

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O mais monegasco dos alemães

Ele é alemão de nascimento, como a mãe, e tem sangue e sobrenome finlandês, como o pai. Mas Nico Rosberg é mais monegasco do que qualquer coisa. Tendo passado toda a vida no Principado, Nico fala cinco línguas fluentemente, é educado e nunca se envolveu em polêmicas fora das pistas.  Inteligente, teve uma vaga no Imperial College de Londres, uma das universidades mais prestigiadas - e que exige notas altíssimas - do mundo, segurada por dois anos. Mas seu destino no automobilismo já estava traçado.

Com toda essa pompa, Rosberg já foi alvo de algumas piadas de seus mecânicos, que certa vez colaram uma foto da cantora Britney Spears em seu passaporte, cobrindo sua própria foto. E o piloto só percebeu quando tentou passar pela imigração e viu a cara de espanto com que o policial olhou o documento. Em casa, entre uma partida de gamão e um jogo do Bayern de Munique, seu time de coração, Nico curte a filha Alaia, de pouco mais de 1 ano, e a esposa Vivian, que conheceu ainda na adolescência. Só não volta correndo para a casa em Mônaco após cada GP porque não dispensa uma balada regada a muita cerveja. Só aí que o Nico monegasco mostra que também tem sangue alemão.

Como a Mercedes deixou a F1 chata

O terceiro ano seguido de domínio da Mercedes é ao mesmo tempo impressionante e entediante para uma categoria que, há seis anos, vivia uma decisão de título entre quatro pilotos de três times diferentes. Após comprar a Brawn no final de 2009, os alemães reestruturaram o time e conseguiram aproveitar bem a extensa mudança de regulamento de 2014, quando a F-1 adotou os motores turbo híbridos.

Fazendo seu próprio motor e começando o projeto antes dos rivais, a Mercedes pulou na frente. Tão na frente que perdeu apenas oito corridas nos últimos três anos, em um domínio raro na F-1. A festa de Rosberg e Hamilton, contudo, pode acabar ano que vem, quando uma nova mudança de regulamento promete chacoalhar o grid. Mas que os alemães continuarão fortes, ninguém duvida.

AFP / MOHAMMED AL-SHAIKH AFP / MOHAMMED AL-SHAIKH

Não pegou bem

Lewis Hamilton perdeu o campeonato e alguns pontos com a chefia da Mercedes pela tática que utilizou durante o GP de Abu Dhabi. Sabendo que precisava ganhar e torcer para Nico Rosberg ser pelo menos quarto, o inglês adotou um ritmo deliberadamente lento para ‘empurrar’ o rival para perto de pilotos que poderiam ameaçá-lo.

A estratégia funcionou até certo ponto: o alemão esteve sob intensa pressão porque precisou ultrapassar Max Verstappen e se defender de Sebastian Vettel, mas conseguiu se manter na segunda posição que lhe dava o título. Após a prova, o chefe da Mercedes, Toto Wolff, disse que Hamilton exagerou na dose.

Chegou um momento em que calculamos que perderíamos a corrida porque ele estava cada vez mais lento. Foi quando decidimos intervir e ele decidiu ignorar. Será que isso cria um precedente para o futuro??

Toto Wolff

Toto Wolff

Mark Thompson/Getty Images Mark Thompson/Getty Images

Presentão para Massa

Depois do emocionante adeus a Interlagos como piloto de F-1, Felipe Massa recebeu mais homenagens no GP de Abu Dhabi. A Williams promoveu uma festa em suas instalações na pista, com um vídeo do qual participaram funcionários da própria equipe, da Ferrari e sua família, além de outros pilotos. Muitos deles, inclusive, estiveram presentes. Mas quem ficou mais tempo foi seu compatriota Felipe Nasr. Outro grande amigo seu do grid, Daniel Ricciardo, só pôde aparecer no final mas bateu um longo papo com o piloto que, de quebra, ganhou um carro de presente. Mas não vai poder andar com ele. Afinal, o presente vem sem motor. Quando saía dos boxes, Massa teve ainda outra surpresa: o filho Felipinho, vestido de mecânico, foi quem o chamou para a pista.

Mark Thompson/Getty Images Mark Thompson/Getty Images

Homenagem para Jenson

Jenson Button foi outro que decidiu encarar o GP de Abu Dhabi como sua despedida, mesmo tendo a intenção de retornar ao grid em 2018. O inglês viu sua equipe, incluindo Fernando Alonso, e família se alinharem na saída das instalações da McLaren, fazendo uma espécie de corredor de salva de palmas para o piloto entrar no box. A corrida, contudo, não foi como Jenson planejou e uma quebra lhe tirou cedo da prova. Ao chegar nos boxes, ele não teve dúvida: pediu logo uma cerveja gelada. E saiu abraçado à família e à namorada ainda no meio da corrida.

Divulgação/Site oficial Luciano Burti Divulgação/Site oficial Luciano Burti

Reginaldo aposentado? Galvão confunde público da Globo

Uma fala de Galvão Bueno no início da transmissão do Grande prêmio de Abu Dhabi causou alvoroço. Ao falar sobre os dias de despedida na Fórmula 1, o narrador deu a entender que Reginaldo Leme deixaria as transmissões na próxima temporada.

''E nós temos hoje, além da despedida do Felipe Massa, campeão do mundo, carreira fantástica, mas essa coisa do Felipe ser tão querido. Hoje também temos a despedida de Jenson Button, que também para depois de ser campeão do mundo. E, nos bastidores, o Herbie Blash (vice-diretor de provas da FIA), que eu falo sempre… Reginaldo é meu amigo há mais de 40 anos e ele também está fazendo a última corrida dele'', declarou o narrador.

A última frase confundiu o público, que entendeu que a última frase se referia ao adeus de Reginaldo, não à aposentadoria de Blash. O comentarista conversou com o UOL Esporte depois da confusão. ''Imagine, nós estamos juntos aí há…no mínimo, põe mais três anos'', respondeu, sobre o tempo de continuidade com a parceria com o narrador na Globo. Reginaldo, de 68 anos, faz parte das transmissões de Fórnmula 1 da Globo, desde 1972.

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