Teve um amistoso 15 dias antes da Olimpíada em que joguei. Tiveram dois ou três pênaltis, e eu peguei todos. Todos viram que eu estava voando. Não que o Helton não estivesse. Mas eu estava. E eu tinha sido campeão do Pré-Olímpico. E praticamente todo mundo que foi campeão jogou.
Muita gente dentro do grupo me perguntava: "Velho, por que você não está no time titular?". Eu falava: "Não sei. Pergunte ao treinador (Vanderlei Luxemburgo)".
Uma semana antes da inscrição, a numeração foi divulgada. E aí aconteceu um desentendimento. Acho que ali ainda achavam que atleta de futebol é burro. Eu estava inscrito com a camisa 12 e disseram: "Fábio, você vai ficar com a 12, mas não tem nada definido sobre quem vai jogar". Eu respondi: "Velho, você tá de sacanagem. Quer botar o cara para jogar? Põe e acabou. Não tem que me dar satisfação. Agora, vir falar que eu estou inscrito com a 12 e não tem nada definido".
Aí, realmente, eu pedi para ser liberado (em conversa com a psicóloga Susy Fleury e com o supervisor da seleção, Marcos Teixeira).
Não é que não deixaram. Quando falei que ia embora, Alex, Fabiano e alguns jogadores foram ao meu quarto: “Não vai embora, vai criar mais tumulto”. Eu pensava o contrário: se todo mundo que ganhou está jogando e eu não, então eu não sou útil. Traz outro que possa ajudar. Eu estava há dias longe do meu filho. Foi um dos motivos para ir embora. Se eu estou aqui para fazer número, volto.
Não me preocupei em falar com o Luxemburgo. E ele não falou comigo. Ele ficou de birra, no canto dele. Eu fiquei no meu. De bico, lógico. Dei bico em bola em treinos, criei problema. Sou um cara difícil de lidar nesse aspecto. Mas prefiro lidar com um cara assim, que você sabe o que está pensando, do que com um dissimulado.