Incansável

Zé Roberto está aposentado, mas segue calçando chuteiras toda semana. Ele só parou uma vez, há mais de 20 anos

Emanuel Colombari e Vanderlei Lima Do UOL, em São Paulo
Marcio Komesu/UOL

Zé Roberto se aposentou no dia 27 de novembro de 2017, quando o Palmeiras venceu o Botafogo por 2 a 0 pelo Campeonato Brasileiro. O jogador tinha 43 anos.

Mas como Zé Roberto é incansável, ele não parou. Poucos dias depois da despedida, aceitou o convite da diretoria alviverde e virou assessor técnico do clube. Nas palavras dele, a função consiste em “fazer o elo entre jogadores, comissão e diretoria e também a transição entre as categorias de base e o profissional”. Parece muito. E é. Zé está diariamente no clube, seja em treinos do elenco principal, seja na preparação dos garotos que sonham em virar profissionais.

Mas como Zé Roberto é incansável, nem mesmo isso o fez parar. “Quando vou ver a base em Guarulhos, faço questão de treinar com eles. Eu coloco a roupa da comissão e participo da posse de bola, do campinho reduzido”.

Ou seja: Zé Roberto parou, mas não parou. “A mulher até preferiria ter tido férias, mas não pensei duas vezes”. Assim como não pensou duas vezes em jogar pela Portuguesa em janeiro, quando o clube em que começou a carreira o chamou para uma despedida.

“De vez em quando, bate a vontade da rotina quando jogava. Acordar, tomar café, treinar, voltar para casa”. Essa entrevista de quase três horas é sobre isso. Sobre Zé Roberto não conseguir ficar longe dos campos. E sobre a única vez em que parou, fruto da grande perda de sua adolescência que o moldou. E de mais uma série de coisas, como a vontade de dar um soco em Felipão em 2002, o gol que o transformou em jogador e o fusca que comprou com o primeiro salário.

"2002 foi a maior decepção da carreira"

A morte da irmã quase mudou tudo

José Roberto da Silva Júnior cresceu em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. O talento indicava que os gramados seriam um caminho natural, mas como o destino gosta de colocar obstáculos, aos 15 anos veio o baque.

Regiane, a irmã que ajudava a manter sua família unida, morreu por problemas no parto. “Meu pai saiu de casa na nossa infância, e minha mãe teve que trabalhar em dois empregos. Ela (Regiane) era a mais velha e ajudava no sustento de casa. Tivemos muita dificuldade, foi uma perda muito grande”.

Dona Maria Andrezina, a mãe, se desdobrava para sustentar a família de cinco filhos. Zé Roberto, nessa época, atuava no Pequeninos do Jockey, um clube tradicional na formação de jovens jogadores em São Paulo. “Eu treinava uma vez por semana, mas com a perda da minha irmã e como o meu pai tinha saído de casa, resolvi que tinha o direito de ajudar em casa”.

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O único período fora do futebol

Aos 16 anos, Zé Roberto deixou o futebol e começou a trabalhar. Foi admitido em uma empresa na Pompeia, bairro na zona oeste de São Paulo, que trabalhava com suprimentos de informática. Virou office boy e trabalhou por ali durante seis meses, “feliz por ajudar em casa”.

Só que a nova vida durou pouco. Por decisão da mãe. “Um dia, sem que eu esperasse, minha mãe chegou e falou que tinha feito minha inscrição na peneira da Portuguesa”.

Zé tomou um susto. “Falei que não queria ir, mas ela disse para eu tentar uma última vez. Ela disse que tinha uma chama acesa em mim. Por mais que eu não estivesse mais jogando, todo fim de semana eu saía para jogar. Como mãe, ela tinha essa percepção. Falou com meu patrão e com a patroa dela e fomos para a peneira. Mas foi por muita insistência dela, porque eu tinha desistido”, completou.

A aposta de dona Maria Andrezina deu certo: Zé Roberto foi aprovado na Portuguesa.

José Edgar de Matos/UOL Esporte José Edgar de Matos/UOL Esporte

Na Portuguesa, um torcedor em campo

Depois de quase trocar o futebol pelo emprego de office boy, Zé Roberto fez sua estreia no time profissional da Portuguesa em 1994. Para ele, havia um sentimento especial em vestir a camisa rubro-verde.

“Como eu cresci na zona leste de São Paulo, tinha amigos de vários clubes. O lado onde eu morava tinha muito corintiano e muitas pessoas que torciam para a Portuguesa, que era próxima. Lembro que, na escola e na rua, os torcedores mais chatos eram corintianos. Se o Corinthians ganhasse, pegavam pesado. Aí eu decidi ficar mais para o lado da Portuguesa”, conta.

“Foi onde eu comecei a ter carinho pela Portuguesa. Por isso fui fazer a peneira lá. Desde a infância, eu tive essa identidade mais voltada para a Portuguesa. Foi o clube em que iniciei, que eu gostava quando criança e que está até hoje no coração. Aí você joga um pouco em cada clube e pega carinho”, completou.

Mas o torcedor palmeirense não precisa se preocupar. Com o último clube da carreira, ele garante que “foi diferente”.

“Foi amor à primeira vista. Cheguei no clube, tive o carinho dos torcedores, me adaptei rápido, tive conquistas. Hoje eu posso dizer que meu coração está voltado para o Palmeiras”.

José Edgar de Matos/UOL Esporte José Edgar de Matos/UOL Esporte

O título perdido

Zé Roberto defendeu a Portuguesa entre 1994 e 1997. Foi o titular da lateral esquerda em um dos grandes times do clube, o vice-campeão brasileiro de 1996. Na decisão do título contra o Grêmio, depois de uma vitória por 2 a 0 no jogo de ida, a Lusa perdeu por 2 a 0 no jogo de volta, graças a um gol de Aílton aos 39 min do segundo tempo. Como tinha melhor campanha na primeira fase, o time gaúcho se sagrou campeão.

“Quando tomamos o gol, foi como se um balde de água fria caísse na cabeça”, assegura. “Não esperávamos. Desde o início do jogo, o Grêmio estava pressionando e nós estávamos administrando bem, tendo algumas oportunidades. Estávamos bem no jogo. Tomar o gol no fim foi muito triste”, lamenta.

Ainda assim, aquela passagem marcou a relação entre Zé Roberto e Portuguesa. No início de 2018, já aposentado dos gramados, o lateral – então com 43 anos – topou defender o clube do Canindé na Copa Rubro-Verde, um torneio de pré-temporada que reuniu a Lusa a três “xarás” (RJ, PR e Santista). O time paulistano foi vice-campeão, perdendo a taça nos pênaltis para a equipe do Rio de Janeiro. Zé Roberto foi titular nos dois jogos de seu time e terminou ovacionado pela torcida que compareceu ao Canindé. Convidado para disputar a Série A-2 do Paulista com o clube, acabou ficando fora. Não por falta de vontade, mas por falta de acordo com o Palmeiras, com quem já tinha assinado contrato para ser dirigente.

A Portuguesa, poxa, posso definir como amor. Tenho carinho grande. Foi o clube que me projetou, deu oportunidade de trilhar o meu sonho, foi o início de tudo. A maior prova desse amor foi ter participado do torneio que me convidaram, em que tive a felicidade de fazer o último jogo da carreira

Sobre o clube em que iniciou a carreira

É um clube que, na época em que eu jogava, já passava por dificuldades. Mas não se compara com hoje. Está muito difícil de voltar a ser o que era, um clube que brigava igual para igual, tinha estrutura, dava estrutura para os atletas e lançava jogadores. Ver a Portuguesa como está é muito triste

Sobre a situação atual da Lusa

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O Fusca 1973 que deixava na mão

Com a vaga na Portuguesa e a possibilidade de ajudar a pagar as contas de casa, Zé Roberto também se permitiu um mimo e o primeiro salário virou o primeiro carro: um Fusca 1973.

“Como eu morava longe, não aguentava mais andar de ônibus. Saía muito cedo, pegava dois ônibus e o metrô. Então, a primeira coisa foi comprar um carro, um Fusca 1973. Eu equipei, coloquei roda, um som. Às vezes, me deixava na mão”, lembra. Foi nessa mesma época que ele conheceu a mulher, Luciana, com quem está casado até hoje.

“Lembro que, como eu gostava muito de rap, coloquei um som no fusca. Quando eu chegava na rua dela, estacionava e ficava conversando. Colocava um som. Ficava mais de duas horas batendo papo e o som rolando. Quando ia embora, o carro não ligava. Aí o pessoal tinha que empurrar para pegar no tranco e ir embora”.

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Fracasso no Real Madrid

A passagem de Zé Roberto pela Portuguesa terminou em 1997, quando se transferiu para a Europa. E a porta de entrada não poderia ser mais estrelada: o Real Madrid. No clube espanhol, ganhou a camisa 21 e a companhia de astros como Raúl, Clarence Seedorf, Fernando Hierro e Fernando Morientes.

Ali, a vida do lateral mudou mais uma vez – dentro e fora dos gramados.

“Eu sempre tive o sonho de jogar fora e por uma grande equipe. Então, escolhi o Real e assinei contrato de cinco anos. Eu fui recém-casado. Tanto para ela [Luciana], quanto para mim foi difícil sair jovem do Brasil e morar fora do país, nova cultura, jogar num dos maiores clubes do mundo. Minha adaptação no início foi difícil, com a língua. Passamos por algumas dificuldades, tanto no fator extracampo. Minha esposa, na época tinha 19 ou 20 anos... A mãe dela não deixava nem ela dormir fora de casa, imagina morar fora do país...”

Foi difícil para Luciana, mas foi difícil também para Zé Roberto. Sem conseguir se firmar no time, voltou ao Brasil no começo de 1998 para defender o Flamengo. Foram poucos meses na Gávea, mas período suficiente para ser convocado para a Copa do Mundo que seria disputada na França. Em maio, o Bayer Leverkusen anunciava sua contratação.

Zé virou evangélico por tédio

Concentração, na minha época, não tinha o que fazer. Hoje tem série, internet, videogame, WhatsApp, infinitas coisas. Na minha época, tinha pouca coisa para fazer. Essas reuniões eram cantar louvores, fazer leitura da Bíblia, discutir um pouco e orar. Eu fui me sentindo bem, o louvor me tocava e passei a ir em alguns cultos com minha mãe. Comecei a colocar em prática na minha vida e só trouxe coisas boas

Lembrando do início dos anos 90, ainda nas categorias de base da Portuguesa, quando virou evangélico

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Como Alemanha preparou para carreira longa

Zé Roberto só encontrou seu auge quando chegou à Alemanha. No país, atuou por Bayer Leverkusen (1998 a 2002), Bayern de Munique (2002 a 2009, com uma rápida passagem pelo Santos entre 2006 e 2007) e Hamburgo (2009 a 2011).

Em Munique, vieram os títulos. Foram quatro edições do Campeonato Alemão, quatro da Copa da Alemanha e duas da Copa da Liga Alemã. Mas, mais do que isso, o futebol germânico criou no jogador um senso de preparação e autoconhecimento ele levou até o final da carreira como jogador.

“A Alemanha me trouxe um crescimento profissional enorme. Eu sempre fui técnico e habilidoso. Na parte tática, como meia ou lateral, sempre tive muita dificuldade na parte defensiva. Como lateral, eu apoiava muito. Como meia, não me preocupava com a parte tática dentro da equipe. Por ser rápido e com boa técnica, não tinha muita disciplina. Indo jogar na Alemanha, comecei a colocar isso em prática, aprendi a me posicionar taticamente e defender melhor”, conta Zé Roberto, indo além.

“Então, falando do lado profissional, a passagem pela Alemanha me fez não só um jogador de futebol, mas um atleta profissional. Eu busquei disciplina, busquei minhas metas e isso tudo, quando fui jogar lá, me trouxe esse aprendizado que coloquei em prática na minha carreira. Minha carreira foi muito por conta do que aprendi lá”.

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Ronaldo não deveria jogar final de 1998

Quatro anos depois de estrear como jogador profissional, Zé Roberto estava em sua primeira Copa do Mundo. Convocado pelo técnico Zagallo para defender o Brasil em 1998, no Mundial da França, saiu do banco em apenas um jogo, substituindo Rivaldo nos minutos finais na vitória por 3 a 2 sobre a Dinamarca pelas quartas de final.

Na final, do banco, Zé Roberto viu o Brasil perder por 3 a 0 para os anfitriões franceses. O jogo ficou marcado pela convulsão sofrida por Ronaldo horas antes da partida. E para Zé Roberto, o mal-estar do camisa 9 acabou contagiando toda a delegação.

“Falam-se muitas coisas, mas o que eu acho que foi o ponto fundamental, que fez com que o Brasil não ganhasse, foi a convulsão do Ronaldo. No sentido de abatimento. Abateu muito nosso time. Era um jogador que... Depois do que aconteceu com ele, não poderia ter ido para o jogo. Eu vi ele tendo a convulsão. Alguns de nós, jogadores, que estávamos próximos, vimos”, relata.

“Depois fomos para preleção. Foi um período curto. Quando o Zagallo fez a preleção com o Edmundo titular, a preocupação ainda estava com o Ronaldo. Passou uma hora e meia, ele chegou falando que iria jogar. Naquele momento, o treinador e o médico tinham que ter pulso firme para bancar que ele não iria. Mas eu não sei de quem foi a decisão e ele jogou”, completa.

“Por ter presenciado ele ali, convulsionando, eu não colocaria para jogar. Acho que pesou muito na derrota. O Brasil entrou apático e não teve força para competir como deveria na final”.

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"Em de 2002, deu vontade de socar o Felipão?"

Com a missão de classificar o Brasil para a Copa do Mundo de 2002, Luiz Felipe Scolari assumiu o cargo de técnico da seleção brasileira pela primeira vez em julho de 2001, estreando com uma derrota fora de casa para o Uruguai por 1 a 0. Zé Roberto, que vinha sendo chamado com regularidade por Vanderlei Luxemburgo, de repente se viu sem espaço.

Durante a primeira passagem do técnico pela seleção, Zé só entrou em campo uma vez: em 7 de novembro de 2001, na derrota fora de casa por 3 a 1 para a Bolívia pelas eliminatórias. No fim, acabou ficando fora da campanha vitoriosa na Coreia do Sul e no Japão.

Os dois acabariam se reencontrando algumas vezes na carreira mais adiante, no Grêmio e no próprio Palmeiras. Aí, não tem como não perguntar: deu vontade de partir para a porrada e tirar satisfações (ou socar, como foi feita, literalmente, a pergunta pela reportagem) com o treinador, Zé?

Deu quando eu não fui convocado”.

Era brincadeira do ex-volante: “Depois você acaba respeitando a opinião do treinador. Às vezes você não concorda, mas tem que respeitar.”

Zé Roberto respeitou a decisão de Felipão convocar nomes de confiança [os laterais do Brasil na Copa foram Roberto Carlos e Júnior, com quem ele trabalhou no Palmeiras], mas acredita que tinha “totais condições” de contribuir.

“Foi um dos meus melhores anos, 2002, jogando pelo Leverkusen”, analisa. “Vivi meu melhor momento naquela temporada. O jogador que vive o melhor momento na temporada, automaticamente, joga pela seleção e vai para a Copa. Acabei sendo avaliado não pela temporada, mas por dois jogos em que fui convocado, em que a seleção jogou muito mal na altitude [derrota para a Bolívia]. Eu fui mal também. No jogo seguinte, contra a Venezuela, em casa, ganhamos. Três jogadores que enfrentaram a Bolívia na altitude não jogaram: eu, o Serginho e o Juan, que depois ficaram fora da lista final”.

Não disputar a Copa, tendo totais condições em 2002, com certeza, foi minha maior frustração na carreira”.

Reuters Reuters

2006: uma das melhores seleções de todos os tempos

Convocado para a Copa de 1998 e preterido em 2002, Zé Roberto não foi esquecido em 2006, quando a Copa do Mundo foi disputada justamente na Alemanha. Então atuando pelo Bayern de Munique, o meio-campista se aproveitou de tudo que aprendeu atuando no país-sede do Mundial e conquistou sua convocação.

Que, aliás, não foi para qualquer seleção brasileira. “O aprendizado na Alemanha me fez um jogador mais completo e me ajudou a ser titular de uma das melhores seleções que o Brasil já formou: o time de 2006, que jogou uma Copa das Confederações com grandes seleções, sem os seus principais jogadores, metendo 4 a 0 na Argentina completa”, analisa, relembrando a vitória sobre os argentinos – na verdade por 4 a 1 – na decisão.

O Brasil chegou à Copa de 2006 como favorito, mas parou diante da França nas quartas de final. Zé Roberto acabou sendo um dos poucos jogadores daquela seleção com uma imagem positiva após o torneio. Para ele, o time pagou o preço pela preparação excessivamente informal realizada, marcada pelo pré-Copa em Weggis, na Suíça.

“Por mais que você treine e jogue, o extracampo influencia dentro de campo. Na preparação na Suíça, o caminho que fazíamos para o campo de treinamento era uma festa: banca de vender camisa, caipirinha e a gente passando no meio. O campo, todos os dias, cheio. Não tínhamos privacidade”.

Não que não quiséssemos o contato com o torcedor, mas não tinha limite. Todos os treinos tinham invasão. Tinha que parar, tirar a pessoa. Tira o foco, a concentração. Foi uma das coisas que nos prejudicaram na Copa. Sem falar que vocês cobriram que teve jogadores que chegaram acima do peso. Uma coisa acarreta a outra e chega uma hora que a dificuldade fora é trazida para dentro de campo

Sobre os problemas de 2006

Ricardo Nogueira/Folhapress Ricardo Nogueira/Folhapress

Volta ao Brasil no Santos, não no São Paulo

Com o fim da Copa do Mundo de 2006, Zé Roberto deixou claro seu descontentamento com o técnico do Bayern de Munique na época, Felix Magath. Ao mesmo tempo, passou por uma artroscopia no joelho esquerdo e iniciou um processo de fisioterapia no Reffis, do São Paulo.

Os fatos deram início a rumores de que o meio-campista poderia se transferir para o clube tricolor, então atual campeão mundial de clubes. Só que, ainda em agosto, Zé Roberto assinou contrato para atuar no Santos durante um ano. “Na noite em que ia fechar a janela de contratações, o Santos entrou em contato, através do Vanderlei Luxemburgo, e fechamos. Não tive nenhum contato do São Paulo”.

“Fiquei três semanas e, como a imprensa sabia que eu estava sem clube, associaram que eu ia jogar lá [no São Paulo]. Alguns jogadores até fizeram isso, como o Ricardo Oliveira. No meu caso, associaram porque eu estava sem clube”, conta.

No Santos, Zé Roberto foi campeão paulista de 2007. O time ainda foi às semifinais da Copa Libertadores daquele ano, caindo diante do Grêmio. Ainda assim, Zé Roberto foi o brasileiro com mais gols na competição, marcando sete vezes - três a menos que o paraguaio Salvador Cabañas, artilheiro do torneio com o América-MEX.

Na temporada 2007/2008, Zé Roberto retornaria ao Bayern de Munique para mais duas temporadas (2007 a 2009). Depois disso, foram mais duas temporadas pelo Hamburgo (2009 a 2011) e uma passagem (2011 a 2012) pelo Al-Gharafa, do Qatar.

Lucas Uebel/Preview.com Lucas Uebel/Preview.com

Felipão devolveu Zé Roberto à lateral esquerda

Em junho de 2012, aos 37 anos, Zé Roberto poderia muito bem se aposentar com a sensação de dever cumprido. Só que você lembra que Zé Roberto é incansável, certo? O meio-campista aceitou, então, um convite para defender o Grêmio.

Ao longo de dois anos e meio, Zé trabalhou com Renato Gaúcho e Felipão. E foi justamente o técnico que o deixou de fora da Copa de 2002 quem lhe deu confiança para jogar novamente na lateral esquerda.

“Quando chegou o Felipão, o finado Fábio Koff [ex-presidente do Grêmio] virou para ele e falou da minha situação, pensando em me liberar. O Felipão pediu que eu ficasse, porque iria ajudar”, conta Zé, que havia se recuperado de uma das poucas lesões musculares da carreira.

“Na época, o Grêmio havia perdido o lateral esquerdo, que era o Wendel, e tinha outro lateral que não estava pronto para jogar. Ele me chamou e disse que precisava de mim como lateral. Joguei de lateral com 39 anos e, no fim da competição [Campeonato Brasileiro], fomos para a Libertadores. Eu me destaquei e ganhei a Bola de Prata. Então, foi uma parte importante que ele teve na minha carreira”.

Palmeiras e o lance que valeu o Brasileirão

Ao fim de 2014, com 40 anos, Zé Roberto ficou sem contrato com o Grêmio. Aposentadoria, certo? Nada disso. Como Zé é incansável, ele aceitou mais um convite, agora para participar da reconstrução do Palmeiras, que acabara de escapar do rebaixamento no Brasileiro no ano de seu centenário.

Zé Roberto veio como uma liderança em campo nesse projeto. Seu discurso nos vestiários, enfatizando a grandeza do Palmeiras, ficou famoso. E ele não decepcionou: foi campeão da Copa do Brasil de 2015 e do Campeonato Brasileiro de 2016.

No segundo título, Zé Roberto teve papel fundamental em um jogo específico: pela 30ª rodada, o time comandado por Cuca recebeu o Cruzeiro na Arena Fonte Luminosa, em Araraquara. Aos 17 minutos do segundo tempo, Robinho apareceu na cara do gol e tocou na saída de Jaílson. O gol só não saiu porque o então lateral se atirou e, com o peito, interceptou a bola em cima da linha. A torcida palmeirense vibrava como um gol enquanto a zaga afastava.

“É outro lance que eu vira e mexe eu olho, porque vem uns flashes na mente. Eu não acreditei quando tirei aquela bola. Foi instinto e cálculo. Quando o Robinho dá o toque na saída do Jaílson, eu dei o carrinho. Quando ele tocou na bola, com o deslize que eu dei, consegui tirar com o pé. Depois, como eu fui rápido, tirei com a barriga”, descreve.

O jogo terminou 0 a 0 e levou o Palmeiras aos 61 pontos em 30 jogos. O Flamengo, então vice-líder, havia vencido o Fluminense por 2 a 1 e ido a 60 pontos.

Até hoje recebo mensagens dizendo que aquele foi o lance do título. Se tivesse perdido o jogo, o Flamengo, por ter ganho o clássico contra o Fluminense, passaria um ponto. Estava sendo uma disputa muito parelha. Aquele lance consolidou um empate e ficamos na liderança

Sobre o duelo contra o Cruzeiro, em 2016

Marcio Komesu/UOL Marcio Komesu/UOL

Título sem festa

Em 26 de novembro de 2016, um domingo, o Palmeiras recebeu a Chapecoense no Allianz Parque pela penúltima rodada do Campeonato Brasileiro e venceu por 1 a 0. O resultado deu o título brasileiro à equipe paulista, que não levantava o troféu da competição desde 1994.

A conquista foi motivo de festa, mas a celebração durou pouco tempo. Após a partida, a delegação da Chape embarcou para a Colômbia, onde enfrentaria o Atlético Nacional no primeiro jogo das finais da Copa Sul-Americana. Na madrugada de terça para quarta-feira, o voo da equipe catarinense caiu, matando 71 pessoas – incluindo 19 jogadores, 14 integrantes da comissão técnica e nove dirigentes.

“Não dá para comemorar. A única (festa) que tivemos, que eu me lembro, foi pós-jogo, em que fomos comemorar com os torcedores na avenida Paulista. Depois, tivemos a notícia da tragédia. O título acabou sendo esquecido”.

Um dos amigos que Zé Roberto perdeu foi Matheus Biteco, com quem jogou no Grêmio entre 2013 e 2014. “Nesse tempo em que joguei no Grêmio, fiz alguns amigos e o Matheus era o mais próximo”.

Daniel Vorley/AGIF Daniel Vorley/AGIF

Museu do Zé R11

No fim de 2017, aos 43 anos, Zé Roberto enfim encerrou sua carreira de futebol nos gramados. Sem a rotina de treinamentos e jogos, o agora ex-jogador pode se dedicar um pouco mais à mulher Luciana e aos três filhos: Isabelli, Míriam e Endrick.

Mas não é só isso. Em sua casa, Zé Roberto pretende inaugurar um museu particular para relembrar sua carreira. “O museu é um espaço que eu consegui com uma reforma na minha casa. Minha esposa juntou muita coisa da carreira profissional. Tem bastante coisa guardada. O museu Zé R11 está sendo preparado para inaugurar no fim do ano”, diz Zé, ainda sem uma data exata para a abertura da empreitada.

“Vai ser um espaço legal, onde eu vou falar um pouco da história que tive, camisas de jogadores importantes que troquei, camisas dos times que joguei, troféus, medalhas.”

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