“Um dos meus irmãos sempre teve um problema: morar na rua. Com 11, 12 anos, minha mãe não deixava ele sair, trancava dentro de casa. Mas quando dava um vacilo, ele sumia do mundo. Ficava três, quatro meses sem aparecer. Tinha vez em que voltava. Tinha vez em que ia pra prisão, entendeu?
Vivia sumido, roubava, aprontava. Ninguém vai preso por não fazer nada. Aí minha mãe tinha de assinar, porque ele era de menor. Umas cinco ou seis vezes, eu estava dormindo e a polícia batia em casa. Querendo ou não, dava um medo muito grande. Era alguém invadindo a casa. Minha vó sempre falava: ’Meu filho, vem morar comigo porque aí é perigoso. O seu irmão faz isso e a polícia a qualquer momento pode invadir aí, pode pegar você’. Eu falava: ‘Vó, pode pegar ele. Eu, graças a Deus, não fiz nada, ninguém vai fazer nada comigo, não’.
Ele tirou uns 12 anos de prisão. E nesses anos eu fui lá uma vez ou duas. Porque é uma humilhação muito grande. A minha mãe sofreu mais. Não tem o respeito de ninguém. De ninguém. Eu via aquela imagem e avisei pra ele: ‘Olha, se tu continuar aí, pode ficar mais dez anos que eu não venho mais. Porque para mim é uma humilhação. Para a nossa mãe é uma humilhação’. O povo xinga mesmo. ‘Ah, quer ver esses vagabundo, esses ladrão’. Só que mãe é mãe. Família é família. Você pode tá na pior, entendeu? Você tem que estar junto. Eu tenho que estar junto do meu irmão, mas falei umas verdades pra ele.
Acho que ele se tocou. Hoje, graças a Deus, tá solto, de boa, em Recife, com a minha mãe. Agora, tá melhor, tá sossegado.
Sempre tem um na família que é um louco, né? Que dá problema para a mãe. É esse.”