A era do torcedor-hater

Como jogadores lidam com ódio, bullying e ameaças de morte nas redes. E por que uma mudança parece improvável

Luiza Oliveira Do UOL, em São paulo
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Torcedores encapuzados, uma faca e ameaças de morte

O volante França nunca imaginou que uma brincadeira de jogo poderia terminar tão mal. Certa vez, em 2015, quando jogava no Figueirense, se empolgou com uma boa atuação. No fim de um jogo, provocou a torcida do Avaí simulando um enterro do rival em cima do escudo do clube.

Ninguém levou na brincadeira. Seu perfil no Instagram explodiu com xingamentos. Mais grave foi a ameaça em vídeo que está até hoje no Youtube: três torcedores encapuzados fazendo sinal da degola com uma faca (que você pode assistir logo abaixo). Até um jogador conhecido por ser polêmico e se meter em algumas confusões como França ficou chocado. O clube o orientou a procurar uma delegacia e contratou quatro seguranças que passaram a acompanhá-lo dia e noite.

"Foi um mês em que eu tive dificuldade até para andar. É difícil andar com uma sombra atrás de vocês, só porque fez uma brincadeira que acabou repercutindo mal. Eles (seguranças) passavam lá em casa, me levavam para o treino, ficavam esperando e iam embora comigo. Me acompanhavam no mercado, no condomínio, atrás de mim o dia inteiro. No início foi bem ruim. Nunca precisei disso”.

A relação de França com torcedores em redes sociais nunca foi fácil e tem capítulos com provocações dos dois lados. Certa vez, ouviu ofensas à sua filha pequena de apenas quatro anos. Não aguentou e respondeu. Mas foi orientado pelo empresário a deletar a rede. "É meia dúzia que não entende nada de futebol, fica xingando o que não deve. Um cara que te xinga, aí vai levando para outro e aquilo vai se arrastando. Xingaram a minha filha, tinha 4 anos, acabei revidando. Cheguei a deletar Instagram".

"Vou te botar pra baixo da terra"

Nossa violência cresceu tanto que o nível de tolerância ficou muito elástico. No futebol, acontece de forma aguda. Faz parte agredir, xingar, "desopilar o fígado". A gente vai aceitando tudo. Aceita um, aceita outro e aí vai... Daqui a pouco, até agressão vai valer

Mauricio Murad, sociólogo especialista em violência no futebol

Vida ameaçada por um lance de jogo

A vida do volante Zé Antonio virou um pesadelo quando fez uma falta dura em Moisés, do Palmeiras. Era um lance normal de jogo, mas o rival rompeu os ligamentos do joelho esquerdo. A lesão foi tão séria que Moisés ainda não voltou a jogar. Zé Antonio, então jogador do Linense, gravou um vídeo com pedido de desculpas. Em vão. Primeiro, vieram os xingamentos no Instagram e no Facebook. Depois, as ameaças.

"No fundo você acaba pensando o que pode acontecer. Lins é longe de São Paulo, mas todo mundo sabe onde fica o clube. Toda pessoa fica preocupada quando sofre algum tipo de ameaça, por mais que você saiba que pode não acontecer nada. As pessoas que ameaçavam diziam que sabiam onde eu estava e que a Mancha (torcida organizada do Palmeiras) ia me cobrar".

Zé Antônio fechou suas redes sociais. Ainda assim, não pensou em procurar a polícia. "Eu ainda aguardei para ver se ia acontecer alguma coisa. Depois, fechei [o perfil] e fiquei um tempo sem qualquer pessoa poder me seguir. Quem quisesse, teria de pedir solicitação. Nesse período, vários torcedores pediram solicitações. Provavelmente palmeirenses querendo escrever alguma coisa”.

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Ele perdoou quem o chamou de macaco

Todo crime causa dor. Mas o de racismo deixa cicatrizes profundas. Se os insultos já são comuns nas arquibancadas, hoje também ocupam o ambiente virtual. O jogador Pedro Ivo, que no início de 2016 jogava no América-RN, sentiu isso na pele ao ser chamado de macaco nas redes sociais.

O comentário que mobilizou a cidade de Natal foi colocado na página oficial do América-RN no Facebook em uma postagem feita pelo clube sobre a possível titularidade do atleta em um clássico contra o ABC. "Olha o nível que o América chegou até um macaco vira titular no time, serie D a vista lamentável. (sic)", escreveu o torcedor identificado como Romário Nunes.

"No primeiro momento, quando passaram para mim, fiquei desanimado ao saber que existe isso. Ao perceber do que o ser humano é capaz. Eu não sabia o que fazer. Não sabia se ia para a delegacia prestar queixa. Até hoje não sei o que falar sobre esse tipo de preconceito em pleno século 21. Qualquer tipo de preconceito vem de pessoas fracas de alma".

Pedro Ivo soube da agressão quando alguns de seus colegas de elenco replicaram o post em um grupo de Whatsapp para avisá-lo. Torcida e diretoria do clube o incentivaram a prestar queixa. A Polícia Civil identificou o agressor e abriu inquérito. Diante da grande repercussão, Romário gravou um vídeo com pedido de desculpas e alegou estar arrependido.

Depois de ver o vídeo, eu perdoei, deixei para lá".

"Tomara a Deus que ele tenha aprendido. Acho que só pelo constrangimento que ele passou, deve ter aprendido. Na minha concepção, ficou uma coisa positiva tanto para mim quanto para ele. Achei que não precisava dar outro passo (legalmente) depois que ele assumiu", explicou Pedro Ivo.

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Como vive um hater que foi exposto?

Não levou muito tempo para que Romário Nunes, o hater do texto anterior, percebesse a dimensão do erro que cometeu. Em apenas um clique, o torcedor fanático do América-RN conseguiu machucar o atleta, revoltar uma torcida inteira e prejudicar (e muito) a si mesmo. 

Romário, antes um anônimo trabalhador rural na cidade de Apodi, no interior do Rio Grande do Norte, virou um criminoso nas páginas policiais. Respondeu a uma ação criminal por injúria racial. Mais que isso. Sua mãe ficou abalada, o pai com um desgosto profundo e ele ainda recebeu muitas ameaças. Romário deletou todos os seus perfis em redes sociais e se isolou por um bom tempo. Ficou até sem sair de casa com medo das reações. Até hoje não fala sobre o assunto.

“Ele recebeu muitos ataques no Facebook. Foi ameaçado de morte. Foi cruel. Para nossa sorte, Apodi é distante de Natal, são quase 400 km. Se ele morasse em Natal, teria medo de sofrer algum ato contra sua vida. Morar longe o salvou. Teve um boca a boca grande. A cidade é provinciana, ele teve medo até de ir para a rua por causa da exposição. Não ia nem para a lotérica", contou Antonio Nunes, seu irmão.

"Ele amadureceu"

Romário disse que cometeu o ato em um momento de cabeça quente. O irmão de Romário o defende. Diz que que ele sempre foi "um menino do bem, honesto, trabalhador, que nunca deu trabalho à família". Depois dos problemas, amadureceu e mudou de postura. Hoje, tenta seguir a vida e estuda para prestar concurso público.

“Ele serviu de exemplo. Nunca teve passagem pela polícia, nunca se envolveu com drogas, nada. Ele amadureceu, está cuidadoso com os hábitos. Ele era mais exaltado, ficou comedido. Hoje, quando acompanha os jogos, tem comemorações mais amenas. O fanatismo continua, mas está mais centrado".

Bullying com gordinho é crime

Xingar alguém por estar gordinho parece uma brincadeira despretensiosa. Mas pode, sim, ser considerado bullying. O atacante Walter convive há anos com esse discurso de ódio.

"Eu sofri muito com meu peso. Foi um bullying muito grande", lembra.

Seu gordo, seu isso, seu aquilo".

"Se eu fosse ligar, seria muito mais grave. Mas, sim, isso me deixa mal. 'Gordo não consegue jogar'. 'Já viu gordo jogar?' O modo como falaram, que eu sou uma vergonha no país... Hoje, sou muito conhecido no Brasil e me sinto muito bem sucedido. Mas se eu disser que não fico chateado, é mentira. Fico sim. Às vezes fico mais abalado”.

A carreira de Walter foi prejudicada. Os primeiros comentários surgiram quando ele estava no Fluminense, em 2014 e 2015. Seguiram no Atlético-PR e no Goiás. Hoje, Walter defende o Atlético-GO.

“Com a internet, pode ter certeza, é pior. Um manda para outro e, quando vai ver, vira uma bola de neve. Fiquei conhecido como 'o gordinho do Goiás'. Querendo ou não, pega um rótulo. Você pode emagrecer o quanto for, a fama fica. Eu vi cada desenho, cada piada. E foram muitas, não poucas”.

Não foi o único momento de tensão que Walter enfrentou com torcedores. Em abril do ano passado, o atacante vinha sendo criticado por uma má fase no Atlético-PR. Mas a gota d’água foi um episódio em que o atacante, insatisfeito com a reserva, abandonou o banco antes do apito final no duelo contra o Londrina, pelas quartas de final do Campeonato Paranaense. A torcida organizada “Os Fanáticos” se revoltou a gravou um vídeo em tom de ameaça: ‘vai jogar por amor ou terror’. 

"Ou você joga por amor ou joga por terror"

Filha de dirigente sofreu ameaça de sequestro

Ataques pessoais são ruins. Mas quando a ameaça chega à família, o medo é ainda maior. Ex-diretor de futebol do Fluminense, Mario Bittencourt sabe bem o que é isso. Um dia, recebeu ameaças de um torcedor com um único alvo: sua filha.

O homem dizia que podia descobrir a escola em que a menina estudava e ameaçava sequestrá-la caso o Fluminense não "entregasse" o jogo contra o Figueirense. O resultado poderia rebaixar o rival Vasco para a Série B do Campeonato Brasileiro.

"Triste por ver que as pessoas perdem o limite por algo ligado ao esporte. Impacto foi ruim porque minha família se viu ameaçada e porque minha filha acabou sendo prejudicada ao ficar alguns dias sem ir a escola”, disse Bittencourt.

O dirigente procurou a delegacia de repressão a crimes na internet para que o agressor fosse identificado. “Crime de ameaça é sempre crime. Neste caso, foi uma ameaça de crime de sequestro, que é ainda mais grave. Ambos são muito graves, mas quando é feito pelas redes sociais você dá a sensação ao infrator de que não vai ser punido por estar escondido atrás de um perfil qualquer, que normalmente é falso. Ou seja: é um covarde que se utiliza destes meios para perturbar e ameaçar a vida dos outros”.

A banalização da violência

Todo mundo erra. Mas quando você é jogador de futebol, o erro pode ser fatal. É só falhar na frente do gol ou deixar espaço para o rival na marcação. Perder um pênalti, então, não tem perdão.  Cobrança no alambrado ou vaias da torcida são o mínimo. Hoje, como você viu em todas essas histórias que contamos, a perseguição extrapola os campos. As redes sociais viraram arquibancada não apenas para xingamentos e insultos, mas para crimes muito mais graves.

Estamos falando do medo de agressão física, de famílias atacadas e até ameaças de morte. O problema é que essa violência ficou tão corriqueira que as vítimas já se acostumaram. O que Zé Antonio, França, Pedro Ivo, Walter e Bittencourt viveram, hoje, é conhecido. Mas para cada caso que foi divulgado, vários acabam esquecidos. Para jogador de futebol, essas agressões são “ossos do ofício”. Preferem encarar calados o problema a tomar alguma atitude. É a banalização da violência. 

“Tem certo tipo de situação com a qual a gente está acostumado e deixa até passar. Às vezes, não vale a pena brigar. É uma coisa que não vai beneficiar ninguém. Por sermos pessoas públicas, é muito fácil achar que a gente pode entrar em qualquer lutar”, explica Pedro Ivo, aquele que foi vítima de racismo pela internet.

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Por que eles não denunciam?

Racismo machuca. Ameaças aprisionam. Ainda assim, o silêncio prevalece. Quem é vítima se cala e vive a dor da agressão sozinho. Muitas vezes, não por escolha. No esporte, a lógica foi invertida e a violência virou parte do trabalho.

"Parece que você está acostumado, entendeu? Se fosse dar parte (na polícia), acho que parava um pouco. Mas (jogador) está meio acomodado, virou normal ser xingado", desabafou o atacante Walter, ex-Goiás e hoje no Atlético-GO, vítima de bullying e de ameaças.

Atleta que se vê vítima de ataques nas redes acha, como Walter, que não vale a pena tomar uma atitude. É verdade que eles não acreditam em ação oficial. Mas o maior agente paralisante é o medo da retaliação. É o que os torcedores violentos podem fazer com quem fala sobre as ameaças que estão sendo feitas que fazem muitos atletas engolirem a seco o veneno destilado.

“Estamos expostos. Jogador tem menos direito de errar e esse é o problema. A gente treina para acertar, mas nem sempre acerta. Torcedor têm um pouco mais de direito. Mas às vezes ultrapassa”, analisa Pedro Ivo, ex-América-RN.

Atletas são vítimas e, certamente, se sentem impotentes em função da quantidade de agressões que sofrem. Imagine se a cada agressão dessas eles tenham que tomar medidas? Não terão tempo sequer de trabalhar. Esses crimes pela internet são covardes e absurdos porque que na maior parte das vezes impossibilitam a defesa das vítimas

Mario Bitencourt, ex-dirigente do Fluminense ao ver sua filha ser ameaçada de sequestro

A crueldade da violência nunca tem fim

Um soco ou um pontapé podem representar o auge da barbárie contra um atleta. Mas uma mensagem, ainda que seja fruto do calor do momento, pode ser muito mais letal. Qualquer ação na internet pode ser disseminada em larga escala e se perpetua.

“Existe uma diferença entre a violência direita e simbólica. Na direta, eu te bato, te empurro. Já as violências simbólicas são indiretas e muitas vezes são mais graves e violentas do que as violências físicas. A simbólica vai reverberando, se torna uma ameaça constante. A física tem dia, hora, local e tempo de duração, por pior que seja”, avalia o sociólogo Mauricio Murad.

A violência simbólica se estrutura como um veneno que vai sendo destilado lentamente, o autor bebe naquele sadismo”, avalia.

A rede social ainda tem o poder de provocar o efeito cascata. Um torcedor encoraja o outro a agir da mesma forma e rapidamente uma corrente é formada tendo alguém como alvo. “O agressor está ali escondido. No meio digital, ele se coloca em uma multidão imensa ao se sentir no anonimato e, assim, realizar seus excessos. Ele se sente protegido”. 

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Artista pode se virar contra sua plateia?

O vínculo entre jogador e torcida, no contexto dos crimes da internet, torna a relação mais complexa do que parece. Já não é fácil lidar com um comportamento que nasce de uma paixão. Fica mais difícil ainda se você se sente dependente do agressor. O sociólogo Mauricio Murad, especialista no tema violência no futebol, usa uma metáfora para explica a dificuldade que muitos atletas têm de denunciar os agressores: "artista não pode ficar contra a plateia".

"É o problema da celebridade que não pode se colocar contra a sua plateia. Eles resistem até o final: 'Vamos deixar para lá. Isso vai passar. O torcedor é passional'. Eles têm um compromisso com imagem da celebridade, que depende da plateia. São vítimas que dependem do agressor”.

“E existe o compromisso do êxito, o êxito de estar bem com minha plateia. No dia seguinte, pede desculpa. Quando a plateia vai contra, tem medo não só da represália, mas do que vão pensar”.

Algumas pessoas levam adiante e registram boletim de ocorrência. Outras acabam não levando o caso adiante. Esse, como a maioria dos crimes no Brasil, é um crime de difícil punição. O sentimento generalizado é de impunidade

Thiago Tavares, presidente da ONG Safernet

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Falta estrutura para punir

Quem chegou até aqui pode pensar que a internet é uma terra sem lei. Não é. Sabe aquele anonimato que protegia quem está por trás da tela do computador? Também não existe mais. Um crime cometido em ambiente virtual já é visto de forma clara pela Justiça brasileira. E em alguns casos, a identificação é simples, pois a comunicação virtual deixa rastros. Parece que existe uma solução a caminho.

Mas não é simples assim: haters nem sempre são encontrados. "As leis nós já temos. Mas não criamos a estrutura para combatê-los. Ainda faltam delegacias especializadas, e, nas que existem, faltam equipamentos e pessoal especializado”, explica Thiago Tavares, presidente da Safernet Brasil, ONG brasileira que que oferece serviço de recebimento de denúncias anônimas de crimes e violações contra os Direitos Humanos na Internet.

A Polícia Civil de São Paulo, por exemplo, não tem uma estrutura específica para apurar crimes digitais. Com isso, as denúncias acabam espalhadas. Algumas chegam no DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais), especializado em crimes fiscais e contra o patrimônio. As denúncias relacionadas a crimes de ódio ou de ameaça são feitos em uma delegacia comum. Nesse contexto, faltam dados estatísticos para tratar do assunto.

Melhorou muito, mas não na proporção que deveríamos ter. O tempo é escasso na medida em que a tecnologia é avassaladora. É difícil saber imediatamente o que o novo aplicativo pode ou não pode fazer. E falta educação digital. A evolução passa pela obrigatoriedade por lei de cadeiras de educação digital nas escolas

Renato Opice Blum, professor do curso de Direito Digital corporativo do Insper (Instituto de Pesquisa e Ensino)

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Como as denúncias diminuem se o ódio cresce?

Ao ler os relatos aqui expostos, você deve ter percebido que o discurso do ódio aumentou. Mas sabe o que é mais irônico? As denúncias vêm caindo.

Em 2014, por exemplo, a Central de Denúncias de Crimes Cibernéticos, que computa dados da ONG Safernet Brasil, Polícia Federal e Secretaria de Direitos Humanos, recebeu 244.147 denúncias anônimas de crimes virtuais envolvendo 54.221 páginas (URLs) na internet. No ano seguinte, o número de denúncias caiu para 189.211 em 58.717 páginas. Já em 2015, foram 139.643 denúncias (43.070 páginas), enquanto que em 2016 a Central computou 115.645 denúncias (39.440 páginas).

Essa queda poderia ser um bom sinal se os indicadores mostrassem que os casos de violência estão, de verdade, diminuindo. Para o presidente da ONG SaferNet Brasil, Thiago Tavares, no entanto, o que está acontecendo é uma acomodação. Segundo ele, as pessoas estão se acostumando com a violência e, com isso, diminuindo as denúncias.

"Quem antes denunciava, hoje compartilha. Há uma banalização da intolerância e essas manifestações de intolerância começam a ser compartilhadas. Isso preocupa muito porque não se constrói a democracia a partir de intolerância, a partir do no não respeito às diferenças e à diversidade, ainda mais num país tão marcado pela miscigenação e pelas diferenças de crenças”.

Tavares observa esse fenômeno há cerca de três anos. E não é coincidência que foi justamente nesse período que o debate político no país se acirrou. “Estamos observando um retrocesso. Temos análises qualificativas, indicadores de que a sociedade está assimilando o discurso de ódio e reproduzindo”.

Impunidade x liberdade de expressão

Quando o crime é praticado em uma rede social, o que as grandes empresas como Facebook e Instagram podem fazer? Thiago Tavares, presidente da Safernet Brasil, explica que todas essas companhias oferecem ferramenta para que os conteúdos impróprios sejam denunciados e aplicam termos de uso do serviço que proíbem o discurso de ódio. O usuário também é punido com a perda de perfil e remoção de conteúdo.

No entanto, a ação é limitada. Elas não podem agir antes de uma denúncia ser feita. O risco é cercear a liberdade de expressão do usuário. "A empresa só pode agir a partir da notificação. Agir proativamente, filtrando conteúdos, geraria atenção quanto à liberdade de expressão. E as empresas não são responsáveis pelo conteúdo. Esse controle é feito a posteriori. Na internet, todo mundo pode postar o que quiser. Se for o caso, a empresa pune a conduta depois que ela acontece. Se houvesse uma situação em que a empresa aprovasse o conteúdo antes de ele ir ao ar, isso seria considerado uma situação de censura”, explica ele.

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