O anjo loiro

Resumo da 29ª rodada: Palmeiras mantém a vantagem graças ao grande momento que vive o polêmico Deyverson

Ale Cabral/AGIF

Precisamos falar sobre Deyverson

Os times de Luiz Felipe Scolari sempre tiveram uma marca: o centroavante alto na área. Era Jardel no Grêmio, Oséas no Palmeiras. Quando ele chegou para sua terceira passagem no Palestra Itália, muita gente disse que ele não teria um desses para trabalhar.

O time vinha se dando bem com Borja, um atacante muito mais de enfiadas na diagonal, e Willian, improvisado lá na frente. Deyverson? Esse não contava. O centroavante da “casquinha”, que tinha chegado a pedido de Cuca em 2017, era carta fora do baralho. Só que não foi.

Felipão fez o futebol do centroavante aparecer pela primeira vez com a camisa do Palmeiras. A vitória sobre o Grêmio neste domingo, que manteve o Palmeiras com três pontos de vantagem na liderança no Brasileirão, é o exemplo perfeito de como o jogador tem sido usado - e de sua importância nesta excelente fase alviverde.

Deyverson marcou duas vezes, ambos gols típicos de centroavante que Felipão adora. O primeiro, com um toque sutil de bico, chegando na frente do zagueiro. O segundo, após brigar pela bola com o (mesmo) defensor. Já são sete gols com a camisa verde no torneio, todos após a chegada do novo treinador. Não à toa, ele é o artilheiro da nova Era Scolari: atrás dele, Dudu e Lucas Lima têm quatro gols cada.

E olhe o índice de aproveitamento: Deyverson marca a cada quatro finalizações. Número altíssimo para jogadores de ataque que estão sempre chutando para ao gol. Contra o Grêmio, ele não foi só quem mais finalizou no jogo, três vezes. Foi também um dos que mais faltas recebeu, derrubado quatro vezes – e ainda cometeu, ele mesmo, mais duas (uma delas em ação defensiva). E ainda interceptou uma bola, trombou com zagueiros e atrapalhou o adversário.

É verdade que traços do centroavante polêmico que conseguiu o feito de estar suspenso simultaneamente nas três competições que o Palmeiras disputava apareceram. No segundo tempo, ele reclamou de marcações e deu chutões na bola depois do apito do juiz que poderiam render um cartão amarelo – já são quatro no Brasileirão. Mas ele saiu do Pacaembu sem ser advertido, mais um ponto positivo para o Palmeiras que, quando percebeu que o jogador tinha questões comportamentais que afetavam seu rendimento, acionou seu departamento de psicologia esportiva.

O Deyverson, se ele tomar uma maracugina antes do jogo, vai muito bem".

Felipão, sobre o temperamento de seu centroavante.

"Duvido que tenha um zagueiro que goste de jogar contra ele. É muito chato, incomoda toda hora, não perde bola por cima. É um jogador que ainda tem de aprender uma ou outra coisa de parte técnica, mas, do restante, dá ao grupo o que ele precisa em momentos decisivos", completa o técnico.

Somando o efeito Deyverson à série invicta do time com Felipão (já são 14 jogos sem derrotas, com 11 triunfos, incluindo a vitória sobre o Paraná Clube, sob o comando de Wesley Carvalho), o Palmeiras parece cada vez mais forte no torneio. Será que Internacional e Flamengo, agora os times mais próximos, vão conseguir segurar o Palmeiras e o “anjo loiro”?

Assista aos gols da rodada

Foram bem

  • Uribe (Flamengo)

    Abriu o placar de cabeça e ainda anotou o terceiro, em lance de oportunismo e sorte, nos 3 a 0 sobre o Flu. Resposta à confiança que recebeu de Dorival.

    Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes
  • Gabigol (Santos)

    Chamou a responsabilidade durante a vitória por 1 a 0 no clássico contra o Corinthians. Não se limitou a esperar as bolas: tirou zagueiros da área e abriu espaço.

    Imagem: Ale Cabral/AGIF
  • Leandro Damião (Inter)

    O titular, Pottker, se machucou ainda no primeiro tempo. Damião saiu do banco e, com presença de área, marcou duas vezes na virada sobre o São Paulo por 3 a 1.

    Imagem: Jeferson Guareze/AGIF
  • Deyverson (Palmeiras)

    Sempre brigador, ele marcou duas vezes nos 2 a 0 sobre o Grêmio. O primeiro, em toque oportunista. O segundo, gol de centroavante brigador (com direito a belo drible).

    Imagem: Ale Cabral/AGIF

Foram mal

  • Digão (Fluminense)

    Deu azar em todos os gols da derrota por 3 a 0 para o Fla: desviou a bola no 1º gol, fez a falta no 2º e não conseguiu cortar o chute no 3º.

    Imagem: Ricardo Moraes/Reuters
  • Douglas (Corinthians)

    Um dos poucos titulares em campo na derrota para o Santos, foi mal na marcação, levando dribles fáceis, e inoperante no ataque.

    Imagem: Daniel Vorley/AGIF
  • Bressan (Grêmio)

    Substituto de Kannemann, teve muitas dificuldades com Deyverson. No primeiro gol, chegou atrasado. No segundo, errou o chutão e levou um drible feio.

    Imagem: Daniel Vorley/AGIF
  • Nenê (São Paulo)

    Sentiu o ritmo pesado da partida. Acabou sufocado pela marcação do Inter na derrota por 3 a 1, foi substituído pela terceira vez seguida pelo técnico Aguirre.

    Imagem: Ale Cabral/AGIF
UOL UOL

Juca: Parece improvável tirar o título do Verdão

O Inter, 56 pontos, está na briga pelo título com Palmeiras, 59, e Flamengo, 55. O São Paulo, 52, pela Libertadores. Mas parece improvável que alguém tire a taça do Verdão, com dez vitórias e três empates sob o comando de Felipão.

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Frases da rodada

Tenho dois filhos, um de 1,90m [Deyverson] e um de 1,10m. O baixinho [Dudu] era assim no Grêmio, também. Jogava com o Zé Roberto e veio para cá fazer o sucesso que vocês sabem. Ele tem qualidade e não podemos cobrar nada menos que isto. Ele sabe jogar e, com a cabeça boa, tranquilo, dá o que a gente espera

Luiz Felipe Scolari

Luiz Felipe Scolari, técnico do Palmeiras, elogiando Dudu, líder em assistências do Brasileirão

Eu tinha um sonho com o Brasileiro, mas temos que ser realistas: ficou difícil. Faltam nove rodadas

Renato Gaúcho

Renato Gaúcho, técnico do Grêmio, após ficar a oito pontos do líder Palmeiras

Tive a bola e não consegui tirar, faz parte. Vida de zagueiro é assim: se acerta e se erra

Bressan

Bressan, zagueiro do Grêmio, que falhou nos dois gols do Palmeiras

É uma diferença importante, mas só pensamos em melhorar e tentar ganhar o próximo jogo. Depois, veremos o que acontece. Temos que mostrar um futebol melhor porque já mostramos, e o nível caiu e temos que recuperar a confiança

Diego Aguirre

Diego Aguirre, técnico do São Paulo, após a derrota para o Inter por 3 a 1

Foi o meu melhor jogo. Necessitava disso. Precisava ganhar confiança no Maracanã junto com a torcida

Uribe

Uribe, atacante do Flamengo, após marcar duas vezes pela primeira vez pelo clube

Faltou muita atenção no jogo de hoje, como não aconteceu nos últimos jogos. É um clássico, um jogo importante pela história dos clubes. Não pode acontecer

Ayrton Lucas

Ayrton Lucas, lateral do Fluminense, que errou 13 passes na derrota para o Fla

Tive um tempo que ele [Barbieri] não teve. Isso é fundamental. Na minha equipe anterior [São Paulo], senti muita falta disso

Dorival Júnior

Dorival Júnior, técnico do Flamengo, sobre a comparação com seu antecessor

Ale Cabral/AGIF Ale Cabral/AGIF

Ainda faltam nove jogos. Tem muita coisa para acontecer. Todos sabem o carinho que tenho pelo Santos e a força que fiz para voltar, mas tem um time lá fora com quem tenho contrato. Melhor pensar com calma e uma coisa cada vez

Gabigol

Gabigol, atacante do Santos, que está emprestado pela Inter de Milão para o Santos até o fim do ano

Jeferson Guareze/AGIF Jeferson Guareze/AGIF

Melhor da história?

O Internacional entrou em campo no domingo para definir qual era, afinal de contas, seu objetivo no Campeonato Brasileiro. Nas últimas quatro rodadas, o time de Odair Hellmann tinha vencido apenas uma vez, pouco para quem se dizia candidato ao título.

Para piorar, o São Paulo ainda saiu na frente, com um gol de Liziero entrando de surpresa na área. Leandro Damião, porém, marcou duas vezes, o Inter virou sobre o São Paulo e provou que está entre os candidatos ao título. Mais do que isso, a campanha da equipe gaúcha já é uma das melhores de um time em seu retorno à elite do futebol brasileiro.

Desde que o torneio passou ser disputado por pontos corridos, nenhuma equipe que disputou a Série B na temporada anterior chegou ao título. As melhores campanhas foram do Grêmio de 2006 e do Atlético-PR de 2013. Os dois terminaram em terceiro lugar.

Então, mesmo se não conseguir o título, mas seguir entre os três melhores, o resultado colorado já será histórico. Nada mal para quem acaba de voltar à Série A, certo? Mas a campanha tem outro ponto fora da curva. O técnico Odair Hellmann.

Entre os dez melhor do Brasileirão, só três times começaram a temporada com o mesmo treinador. O Inter é o melhor deles na classificação. O Grêmio, quinto colocado com Renato Gaúcho, e o Cruzeiro, nono com Mano Menezes, completam a lista.

É uma consistência que adquirimos com trabalho, com consolidação de ideia e de modelo de jogo. Mesmo sabendo da dificuldade, jogamos o jogo até o final. O torcedor pode ficar tranquilo. O que prometemos, estamos cumprindo

Odair Hellmann

Odair Hellmann, técnico do Inter, após bater o São Paulo

Marcello Zambrana/AGIF Marcello Zambrana/AGIF

Todo mundo só pensa na Copa do Brasil

(que termina na quarta-feira, com a final entre Corinthians e Cruzeiro)

É o dinossauro contra o babyssauro. O Mano Menezes, que é experiente e maduro, e o Jair (Ventura), que está aí cheio de vitalidade".

Cuca, técnico do Santos, que não vai disputar a decisão

Tem que sentir a derrota, mas se recuperar. E vamos ser campeões na nossa casa

Pedrinho

Pedrinho, meia-atacante do Corinthians, após perder por 1 a 0 para o Santos

Agora é passar a bola para quarta. Temos uma decisão muito importante, temos que levantar o ânimo

Rafael

Rafael, goleiro (reserva) do Cruzeiro, após derrota para o Vasco

Concordo que o céu e o inferno estão perto [pela chance de título na Copa do Brasil e a campanha ruim no Brasileiro], mas estamos bem na Copa do Brasil. Passamos aos torcedores que não estamos satisfeitos. O rendimento no Brasileiro está aquém

Jair Ventura

Jair Ventura, técnico do Corinthians, após a derrota para o Santos por 1 a 0

Assista: Dudu é maior garçom do Brasileiro; Vitinho e Victor também brilham

O goleiro-meia

O Sport não fazia exatamente o melhor jogo do ano. Perdia por 2 a 0, é verdade, mas o goleiro Magrão vinha tendo uma atuação boa. Até os 25 minutos do segundo tempo, quando saiu para cortar um cruzamento, se chocou com Ronaldo Alves e levou a pior.

Ele até tentou seguir no sacrifício, mas, aos prantos, pediu para sair aos 35 minutos. O problema é que Milton Mendes já tinha feito as três substituições. A solução, então, foi colocar um jogador da linha no gol. O escolhido foi o meia Gabriel. Claro que não deu certo.

Ele não conseguiu fazer nenhuma defesa. Sorte que o Atlético-PR só acertou duas vezes o gol, com Bergson e Rony. São os dois últimos dois gols do vídeo acima, da vitória por 4 a 0 dos paranaenses.

Após o jogo, o atleta explicou porque foi o escolhido: “Foi uma opção tática para não mexer no miolo da zaga. Teve que tirar um da frente. O Rafael Marques tinha acabado de entrar, estava descansado, e o professor optou por mim. Sem problema nenhum”.

Marinho Saldanha/UOL Marinho Saldanha/UOL

Alô, mamãe!

Odair Hellmann, técnico do Inter, teve uma alegria inédita na vitória sobre o São Paulo: dona Bernadete, sua mãe, estava no estádio Beira Rio para a partida. Ela viajou oito horas de carro, desde Salete, no interior de Santa Catarina, para assistir ao filho comandar o Internacional.

"Foi a primeira vez que minha mãe veio. Ela viajou oito horas desde Santa Catarina. Mas, se perdesse, não vinha mais também (risos)”, brincou o técnico. “Mas ela é pé quente. Sou rodeado de mulheres importantes. Minhas filhas, minha mulher...”

“Minha mãe é uma senhora que fica lá em Santa Catarina, longe, tem suas dificuldades de saúde. Fez um esforço tremendo para vir assistir. Não poderia deixar de agradecer, dar um beijo nela. Mas se não vencesse, não viria mais, também".

A sorridente dona Bernadete apenas agradeceu e se disse muito emocionada. Abraçou o treinador, acenou para as câmeras e se dirigiu para a saída acompanhada do filho, feliz pelo resultado no Beira-Rio.

Ale Cabral/AGIF Ale Cabral/AGIF

Sem entrevistas

Deyverson deu show só com a bola nos pés, evitou discussões com adversários e com a arbitragem e saiu de campo sem levar cartão. Mas como Deyverson é Deyverson, teve uma polêmica. Mas foi uma polêmica fofa.

Na saída do primeiro tempo, já tendo marcado seu primeiro gol, ele resolveu explicar a comemoração de gol. Disse que, ao colocar o braço na frente dos olhos, estava homenageando Nickollas, palmeirense com deficiência visual que ficou famoso por ir aos jogos do clube acompanhado de sua mãe. O atacante contou que o menino visitou o CT, conheceu jogadores e comissão técnica e se tornou um xodó do grupo.

E fez um discurso longo: “Eu estava com o pensamento só no Nickollas, queria fazer um gol e dedicar para ele”, disse. “Como eu falei, o problema que ele tem é difícil falar. Porque, quando Deus nos fez, a gente vem no mundo para só fazer coisas boas. Mas nem todos são assim. Tantas pessoas com coisas ruins no coração... Peço para que tenham paciência, porque um menino desse que não pode enxergar, só pode sentir. As pessoas tem que ver o que o mundo precisa. Precisa de gente boa, de bom coração”, concluiu.

O problema? Deyverson fez isso durante o intervalo e o técnico Felipão, antes de saber o motivo da demora, ficou bravo. Disse, até, que as entrevistas no meio do jogo, a partir de agora, seriam restritas: “Tive dois minutos para falar no intervalo. Eles ficaram falando sete minutos [com a imprensa]. No próximo jogo, vou pedir para não pararem para vocês, ok?”

Thiago Ribeiro/AGIF Thiago Ribeiro/AGIF

Para quem está vaiando

A relação do lateral-esquerdo Fabrício com torcidas não é das melhores. Depois de ter problemas em passagens por Portuguesa e Internacional, ele agora está sofrendo nas mãos dos vascaínos. Neste domingo, passou todo o primeiro tempo do duelo contra o Cruzeiro (que o Vasco venceu por 2 a 0) sendo vaiado. Mesmo assim, voltou para o segundo tempo e deu uma assistência. Saiu aplaudido de campo.

"Eu sou um cara privilegiado só de estar aqui em São Januário vestindo esse manto. Agradeço a Deus por cada momento em que estou vestindo a camisa do Vasco. Os caras [torcida] pegam no pé por causa de um passado”, disse o jogador, lembrando de um evento em que tirou uma foto ao lado de outros atletas que acabaram afastados, em um protesto contra a torcida.

Para as poucas pessoas que gostam de mim, eu vou correr".

"Eles têm que vaiar se estiver jogando mal, mas se tiver jogando bem, tem que apoiar. Não fico preocupado com torcedor. Eu corro pelos meus companheiros, pela minha família e pelos meus amigos. É por isso que fico feliz", afirmou.

"Quando desci do intervalo, eu falei: 'se vocês do grupo confiarem em mim, pode ter certeza que eu voltar e esquecer tudo que tem lá fora e vou jogar por vocês', os caras falaram 'tamo junto' e voltamos todo mundo juntinho e coladinho ali”.

Fabrício também lembrou da saída do Internacional, que aconteceu após gestos obscenos para a torcida: "O negócio no Internacional: eu me arrependi desde o primeiro momento, quando entrei no vestiário. Foi uma coisa de 10 segundos, uma loucura minha ali. Já pedi desculpa para os torcedores do Internacional, tenho um carinho enorme por aquele clube, onde fui campeão, fiquei cinco anos e me arrependo até hoje de ter feito aquilo. Às vezes, os caras pegam no pé para ver se eu faço a mesma coisa, mas já sou bem cascudo para isso. Só quero agradecer a Deus e bola para frente".

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