Vítimas do calendário

Resumo da 17ª rodada: São Paulo assume liderança, mas mais de 30 jogadores são poupados para a Libertadores

Bruno Doro Do UOL, em São Paulo
Liamara Polli/AGIF

O novo líder

No ano passado, o Corinthians aproveitou que, em 2017, não disputou a Libertadores para focar todas as suas forças no Brasileirão. Deu certo: o time de Fábio Carille arrancou, fez o melhor primeiro turno da história e conquistou o título.

Em 2018, a história é diferente. Nenhum time arrancou, mas o novo líder tem uma coincidência com o campeão do ano passado: está fora da Libertadores. O São Paulo assumiu neste domingo a primeira colocação do Brasileirão com uma vitória suada sobre o Vasco por 2 a 1. Com os três pontos somados no domingo, a equipe de Diego Aguirre chegou aos 35 pontos, um a mais do que o Flamengo.

O antigo líder, aliás, foi uma das vítimas do calendário brasileiro. Desde a volta da Copa do Mundo, o Flamengo jogou seis vezes em 17 dias – em média, menos de três dias entre cada partida. Com o desgaste acumulado, o técnico Maurício Barbieri fez o que muita gente anda fazendo e deixou o Brasileirão em segundo plano.

Contra o Grêmio, no sábado, poupou o meia Diego e sua dupla de zaga titular, Réver e Léo Duarte, já pensando no jogo de quarta-feira contra o Cruzeiro, pela Libertadores. O resultado? Derrota por 2 a 0 para o Grêmio – que foi ainda mais radical e entrou em campo sem nenhum titular, pensando no jogo de terça-feira contra o Estudiantes, da Argentina.

Assista aos gols da rodada

Tabela do Brasileirão

Foram bem

  • Pedro (Fluminense)

    O artilheiro isolado do torneio, com 10 gols, sobrou no jogo. Além do golaço no empate em 1 a 1, ainda distribuiu dribles e passes.

    Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF
  • Neílton (Vitória)

    Foi muito importante no 1 a 1 com o Cruzeiro. Acertou um chute na trave, sofreu um pênalti de Murilo e balançou a rede na cobrança.

    Imagem: Maurícia da Matta/EC Vitória
  • Cássio (Corinthians)

    Foi um 0 a 0 apagado do Corinthians contra o Atlético-PR, mas o goleiro fez boas defesas nos dois tempos. E até como líbero ele foi bem.

    Imagem: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians
  • Jael (Grêmio)

    Perdeu pênalti, mas se redimiu: marcou o primeiro do Grêmio nos 2 a 0 contra o Fla e ainda deu assistência para Marinho fazer o segundo.

    Imagem: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Foram mal

  • Vitinho (Flamengo)

    Fez o 1º jogo como titular e não levou perigo ao Grêmio na derrota por 2 a 0. Teve atuação discreta, sem criatividade e saiu no 2º tempo.

    Imagem: Instagram/Flamengo
  • Jean (Palmeiras)

    Além de errar o pênalti, ainda participou pouco e errou alguns passes no 0 a 0 contra o América-MG. Ainda precisa recuperar o ritmo de jogo.

    Imagem: Divulgação/Palmeiras
  • Andrigo e Marlone (Sport)

    A dupla do Sport pouco criou no 1 a 1 com a Chape. Ambos foram vaiados, mas a bronca era também com o técnico Claudinei Oliveira.

    Imagem: RICARDO MOREIRA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
  • Bruno Silva (Cruzeiro)

    Escalado como ponta, decepcionou no ataque e na defesa. Como volante, foi ainda pior. Saiu no intervalo do empate em 1 a 1 com o Vitória.

    Imagem: Bruno Haddad/Cruzeiro
Lucas Uebel/Grêmio FBPA Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Quem são as vítimas do calendário?

A troca na liderança não é o único efeito do calendário caótico do futebol brasileiro. Outro é a maratona de jogos. Os sete times do país classificados para as oitavas de final da Libertadores (Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Palmeiras e Santos) vão jogar oito vezes nos próximos 30 dias. Entre Libertadores, Copa do Brasil e Brasileirão.

Como nenhum time conseguiria passar incólume a essa sequência de jogos (lembrando que os times já vem de uma série intensa no pós-Copa), os treinadores já começaram a poupar atletas. Na 17ª rodada do Brasileirão, por exemplo, 34 jogadores titulares de times que estão na Libertadores não começaram os jogos.

Isso quer dizer que quase metade (44%) dos melhores atletas dos (teoricamente) melhores times do Brasileirão não estavam em campo neste fim de semana. Quem sofre, claro, são as torcidas. Entre Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Palmeiras e Santos, só um venceu.

Grêmio x Flamengo: 11 reservas e 3 poupados

No sábado, o Grêmio fez 2 a 0 no Flamengo. E ainda assim, sem escalar titulares, pensando no duelo de terça-feira, contra o Estudiantes. Com 11 reservas (incluindo um Jael inspirado, com direito a um gol sangrando, uma assistência e um pênalti perdido), Renato Gaúcho conseguiu vencer o então líder, que jogava sem três de suas principais peças – Diego, Réver e Léo Duarte foram poupados para quarta-feira, contra o Cruzeiro.

Cruzeiro: nenhum titular

No domingo, o próprio Cruzeiro também entrou sem força máxima. Mano Menezes imitou Renato e colocou 11 reservas em campo contra o Vitória. Claro, o time sofreu… Os mineiros saíram atrás e precisaram correr atrás do empate no 1 a 1 em Salvador.

Marcello Zambrana/AGIF Marcello Zambrana/AGIF

Corinthians: 0 a 0 sem poupar a Fiel

Em Itaquera, o Corinthians recebeu o Atlético-PR no frio de noite de sábado. Melhor para a torcida seria ter ficado em casa. Sem Fágner, Danilo Avelar e Gabriel, o time de Osmar Loss fez um jogo pouco movimentado, que terminou em 1 a 1. Cássio fez boas defesas, Romero tentou alguns chutes, mas foi só. O time, é bom lembrar, joga na quarta-feira contra o Colo-Colo, do Chile.

Palmeiras: Felipão estreia sem oito titulares

Luiz Felipe Scolari nem tinha estreado e já lidava com problemas. Willian e Felipe Melo estavam fora do jogo deste domingo, contra o América-MG. Um lesionado, o outro suspenso. Não bastasse isso, o treinador (em sua terceira passagem pelo Palestra Itália) estreou pela equipe poupando seis titulares.

A defesa titular (Marcos Rocha, Edu Dracena, Antonio Carlos e Diogo Barbosa) ficou fora do jogo, assim como o volante Bruno Henrique e o atacante Dudu. O time perdeu chances e um pênalti, mas com apenas três titulares (contando Borja, que disputa vaga com Deyverson para ser o 9 de Felipão), ninguém se espantou com o 0 a 0 em Minas Gerais.

Santos: 0 a 0 com todos os titulares

O Santos foi o único que jogou completo. Pudera: entrou em campo contra o Botafogo, no sábado, em 17º lugar, o primeiro time dentro da zona de rebaixamento. Em campo, o jogo foi ruim. O placar de 0 a 0 fez o técnico Cuca (em seu segundo jogo à frente do time), se explicar. Mas 0 a 0 fez a equipe somar um ponto e, com isso, deixar a zona da degola.

Marcello Zambrana/AGIF Marcello Zambrana/AGIF

Tem dia que os 11 que começam jogando não resolvem o que tem que ser resolvido, mas a gente tem um grupo forte onde outros entram e dão conta do recado

Diego Souza

Diego Souza, do São Paulo, que não poupou seus titulares, mas venceu o Vasco por 2 a 1 com gol do reserva Tréllez

O nosso conjunto não foi bem, não encontramos nosso jogo. O que definiu o jogo foi que nós não nos encontramos. Não foi a estratégia de poupar um ou outro jogador

Mauricio Barbieri

Mauricio Barbieri, técnico do Flamengo, sobre os 2 a 0 do Grêmio

Grêmio veio esperando atrás, mas a gente errou mais do que o normal. Ficamos um pouco perdidos no posicionamento, eles encontraram o gol e isso dificultou bastante

Diego Alves

Diego Alves, goleiro do Flamengo, admitindo faltou entrosamento

Hoje foi uma estratégia inteligente. Não estou me elogiando, mas quando coloco uma equipe sem entrosamento, se você se atirar vai deixar espaços. Eu recuei a equipe, dei espaços e esperamos o Flamengo chegar perto para dar o bote. Eu já sabia como eles viriam e fomos mais objetivos

Renato Gaúcho

Renato Gaúcho, do Grêmio, que venceu o ex-líder Flamengo mesmo jogando com 11 reservas

A gente pegou a parte da fisiologia, viu o que tinha que ser feito, quem tinha déficit, para não correr risco. E fomos montando a equipe de acordo com o América-MG do Adílson. Precisávamos dar ritmo ao Borja, e tudo isso foi pensado

Luiz Felipe Scolari

Luiz Felipe Scolari, técnico do Palmeiras, que empatou em 0 a 0 com América-MG após poupar toda a sua defesa

Temos escolhas para fazer. Encontramos um caminho. Com bons resultados, facilita na rotina. Mas não poderíamos colocar em risco o próximo jogo, que é importante. Temos viagem e poderíamos perder jogadores que são pilares na equipe

Osmar Loss

Osmar Loss, técnico do Corinthians, que empatou em 0 a 0 em casa com o Atlético-PR após poupar três atletas

Acho que o Cruzeiro fez um bom jogo pela circunstância. Foi um time bastante mexido pelo que optamos por trazer ao jogo e enfrentou o Vitória para ganhar. Teve jogo para ganhar. Era um jogo difícil e a arbitragem tornou impossível

Mano Menezes

Mano Menezes, técnico do Cruzeiro, após 1 a 1 com o Vitória. Como Renato no Grêmio, ele não escalou seus titulares habituais na rodada

São nove jogos em um mês. E jogos importantíssimos, como dois de Copa do Brasil e dois de Libertadores. E na zona de rebaixamento do Brasileiro. Não temos um time superexperiente para lidar com isso

Cuca

Cuca, do Santos, único dos sete times que joga a Libertadores que não poupou titulares na rodada. Mesmo assim, só empatou, 0 a 0 com o Botafogo

Pedro Vale/AGIF Pedro Vale/AGIF

Opinião dos blogueiros

Rodrigo Mattos: CBF joga contra seu campeonato

Quarta-feira, Grêmio e Flamengo realizam um jogo intenso do início ao final, com qualidade de troca de passes, individual e de marcação dos dois times. A partida teve placar definido aos 48min com gol de empate rubro-negro. Um jogo para elevar as avaliações sobre até onde podem ir o futebol do país.

Sábado, Grêmio e Flamengo voltaram a se enfrentar, com o time gaúcho vencendo o duelo por 2 a 0, mas escalando reservas para poupar para a Libertadores. Na ponta do campeonato, os rubro-negros tiveram quase todo seu time principal (somente a dupla de zaga e o meia Diego foram poupados), mas não chegaram nem perto da intensidade da partida do mata-mata, rodando a bola inutilmente como um time enfadado.

As duas realidades distintas em duas partidas com os mesmos times são reveladoras do cenário do futebol brasileiro. Um calendário em que as partidas dos principais campeonatos são espremidas em maratonas insanas que impedem que os clubes nacionais se apresentem na sua melhor forma em todas as ocasiões. Escalar times no Brasil para os técnicos é a arte do possível. E a CBF, com seu calendário, contribui para piorar o nível de seu próprio campeonato.

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Passou mal em campo, mas pegou tudo

O vídeo acima é do começo do segundo tempo do 0 a 0 entre América-MG e Palmeiras. O goleirão João Ricardo deixou o campo por um instante, mas voltou a campo. De acordo com o médico do time mineiro, foi apenas uma ‘dor no estômago’. Melhor para seu time: o jogador, que já tinha jogado muito contra o Santos, também fechou o gol contra o Palmeiras. Até pênalti ele pegou.

O verdadeiro Diego Alves está aparecendo?

Na Espanha, Diego Alves ficou marcado como pegador de pênaltis, com 25 dos 49 pênaltis cobrados contra seu gol não entrando (em jogos do Campeonato Espanhol). No Brasileirão, ele tem 50% de aproveitamento. Mas calma... Não é assim um número tão impressionante: até agora, o Flamengo teve 3 pênaltis marcados contra sua defesa em 2018. Diego pegou um (Jael, contra o Grêmio) e levou outro (Yago, contra o Vitória). O terceiro foi marcado por Guilherme, da Chapecoense. Mas o goleiro daquela partida era César.

Cadê o Fair Play, Airton?

O empate entre Fluminense e Bahia tinha tudo para acabar bem. Até que Airton desrespeitou a regar mundial do Fair Play. O zagueiro Ibañez, do Flu, caiu no gramado e o goleiro do Bahia jogou a bola para fora. Quando o jogo retornou, porém, Airton não devolveu a posse para o rival. O árbitro encerrou o jogo logo depois, mas os jogadores do Bahia foram para cima do volante, cobrando explicações. Não teve briga, mas o gesto pegou tão mal que Airton se desculpou depois. Quer dizer, se desculpou mais ou menos...

"Eles estavam segurando o jogo. Aí, na hora ali, eu acabei não devolvendo a bola. Eles vieram reclamar, eu peço desculpas e bola que segue", disse o volante.

Antes disso, ele já tinha levado uma bronca de seu treinador: “É lógico que eu vou orientar novamente, chamar a atenção para essa situação. Tínhamos que devolver a bola - se não mandar para lateral, pelo menos devolver a bola em jogo”, disse Marcelo Oliveira.

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