A moto e a moda

O modelo Alex Schultz mudou padrão de beleza masculino na moda. Como piloto, quase perdeu a vida em Interlagos

Alex Schultz ESPECIAL PARA O UOL, em São Paulo
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Instinto de sobrevivência

Eu freei e não veio nada. Quando fica sem freio, dá uma merda na moto, você tem que se jogar. Não posso bater sentado no banco da moto. Se voar, expõe o tórax e a chance de morte é enorme. Este momento é muito claro para mim.

Era um trecho em que eu estava a 150 km/h. Desviei do cara da frente e a sensação de ter que me jogar foi muito forte. É a sobrevivência ganhando do medo. Alguma coisa lá dentro te leva a fazer isso. NÃO QUERO MORRER!

Fui girando na pista e dei na barreira de pneus na posição de leg press de academia. A energia da batida foi subindo e afetando tornozelo, joelho, quadril. Essa energia fez meu fêmur dobrar igual a um canudo. O osso subiu e rasgou meu macacão.

O que eu falo daqui para frente é de me contarem. Não sei se apaguei pelo nível de adrenalina, de dor ou por ter batido a cabeça nos pneus. Os socorristas de Interlagos colocaram luz na minha pupila e o cérebro não respondeu. Começaram a me reanimar.

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Modo zumbi

Os médicos falaram que não teve massagem. Deram injeção de adrenalina. Aí me levaram para o ambulatório. Fratura exposta de fêmur. É grande a bitola do osso, um troço absurdo. Cortaram meu macacão e o sangue jorrava tanto que os caras limpavam com rodo.

Eu estava prestes a ser entubado lá mesmo. Não iria para o Pronto-Socorro se não reagisse. Meu sogro também anda de moto e estava comigo no ambulatório. Ele falou para minha família, que ficou do lado de fora, ‘vão para o hospital que a gente já está indo’.

Só me botaram na ambulância quando comecei a dar sinais de vida. A pupila dizia que o cérebro funcionava, mas eu mesmo não lembro de nada. Meu capacete estava todo marcado e fui para tomografia. Havia um coágulo no cérebro. Botaram a gaiola no fêmur e deixaram a perna parada. Primeiro cuidariam da cabeça.

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O pior passou

Falaram para minha família que precisavam esperar para saber se o coágulo iria estabilizar. Se aumentasse, iam abrir a cabeça. Neste período, sabe lá onde eu estava. Por sorte, o cérebro estabilizou e foram para o fêmur. Só voltei quando estava com a perna operada. Dois dias depois do acidente.

Os médicos não dão muitos detalhes. É tão traumático que explicam o mínimo possível. Acordei numa cama e ao redor estava minha família, minha mulher. E os barulinhos. Tuuuuu, tuuuuu, tuuuuu. As agulhas não estavam só nas minhas veias do braço. Os médicos jogavam as coisas direto no peito.

Ver todos ao meu redor fez entender que sofri um acidente, mas não tinha noção da gravidade. Tinha certeza que ia sarar logo. Tanto que a primeira coisa que falei é que ia correr a próxima etapa.

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"Eu estava trilili"

Eu tinha lampejos, segundos de consciência e apagava. Só fui ver que tinha um monte de fios enfiados em mim no dia em que foram tirados porque eu estava deixando a UTI. Saí de lá com uma placa de titânio que vem da cabeça do fêmur até o joelho. Dois parafusos em cima, dois embaixo.

É um negócio meio que funilaria. Uma broca que fura e vai sugando o tutano. Os médicos saem suados. E mexe com o corpo inteiro. Foram oito dias de UTI, tomei muita morfina então você fica drogado mesmo. Sempre fui atleta, não bebia. Eu estava trilili.

Se eu te via, dava risada. Ficava feliz que as pessoas iam me visitar, não falava nada com nada. Mostrava minha perna toda ferrada. As pessoas pensavam: ‘Esse aí bateu a cabeça e não volta mais’.

Conversa ao pé do ouvido

Quando subi para quarto, minha perna estava igual a do lateral Roberto Carlos, com uma coxa gigante. Comecei a melhorar o nível de consciência e me apressei a falar para os familiares do freio. Pedi muita desculpa pelo acidente. Eu não queria dar problema.

E chegou o dia em que o Alexandre Barros foi me visitar. Ele é um piloto que correu mundial pelas melhores equipes do mundo e fraturou o fêmur numa prova no Japão. Foi uma das melhores conversas que eu tive sobre ser piloto.

Alexandre Barros: Schultz, seu acidente foi feio, mas dos males o menor. Mas comece a repensar se você vai querer continuar a competir. Você fez sua vida como piloto?

Alex Schultz: Não. Ainda estou querendo chegar a ter um salário. Estou empatando.

Alexandre Barros: Então você repensa a sua vida porque existem estes riscos. Como você vai continuar a trabalhar como modelo?

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Recalculando a rota

Indiretamente, ele falou a real. Foi sutil, mas disse tudo: ele construiu a vida como piloto. É uma coisa. Outra é expor sua vida e sua carreira. Você é modelo e faz um negócio super radical que pode te quebrar e, com isso, nunca mais poder trabalhar.

Ele trocou uma ideia muito legal que nunca vou esquecer: não precisa ir a qualquer custo. Corri todos estes anos para ser campeão a qualquer custo. Tendo equipamento ou não, tendo dinheiro ou não. Hoje, eu teria os dois troféus, um de campeão Paulista e outro de campeão Brasileiro, que não mudariam a minha vida.

E pensar que quando eu voltei só perguntava da próxima etapa. Com o médico segurando a minha onda, fui percebendo o nível do acidente. Soube que tive transfusões de sangue. Quatro bolsas. Dois litros. Metade do meu sangue ficou naquele asfalto. Essas coisas fizeram cair a ficha da minha ignorância.

Recuperação dolorosa

Saí do hospital sem um fêmur e com anemia. Não conseguia caminhar da cozinha para o quarto. Ficava branco, pálido. Por mais de um mês, fiz auto aplicação de injeção de ferritina na barriga. E tinha a dor. Fiquei tomando Tramal, que é um remédio muito forte. Mesmo assim, às vezes, não dava conta. Até hoje tem um músculo da perna que não voltou. Nem sei se vai voltar.

Minha mulher também é modelo e, passados três meses, foi chamada para trabalhar na Alemanha. Eu não estava fazendo nada e fui com ela. Peguei firme na fisioterapia e me matriculei numa academia. Quando voltei ao Brasil, retomei a carreira de modelo, minha primeira profissão.

Mas vou ser sincero. Meu sonho de moleque era ser jogador de futebol. Fiz vários testes, até no São Paulo. Foi no campo Rebouças, atrás do Morumbi. No mesmo teste estava o Kaká. Eu não jogava metade do que o Kaká jogava. A bola perseguia o cara. Sabe quando brilha? O cara era foda. Não passei e o jeito era estudar.

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Nada a perder

Eu estava terminando o colegial e ia fazer vestibular para esporte, um curso recém-aberto na USP. Mas resolvi trabalhar numa loja de shopping para comprar minha moto, meu sonho de criança. Era vendedor da M. Officer das 15h às 22h. À meia-noite, começava numa assistência de seguro 24 horas. O cara ligava todo fodido no meio da madrugada e eu tentava acalmar o motorista: “Fica tranquilo que vou mandar um guincho e tudo vai dar certo”.

Um dia, estava saindo do Shopping Iguatemi para jogar bola e um scouter, o olheiro das agências, me abordou no meio da galera. Perguntou se eu queria ser modelo, disse que tinha o perfil. Meus amigos ficaram me zoando.

Quando eu falei para minha mãe e meus irmãos, eles disseram: “O que você tem a perder? Tá trabalhando numa loja de shopping, ia prestar faculdade e desencanou. Está com 18 anos e pode viajar”.

Quando eles falaram a palavra viajar, meu olho brilhou.

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Nasce uma estrela

Só ia largar a loja se a carreira vingasse. Foi surgindo cliente até que apareceu um São Paulo Fashion Week. Um pessoal dos Estados Unidos estava no desfile e entrou em contato com minha agência para me mandar para Nova York. Só precisava do visto.

Molecão, 18 anos, sem carteira assinada e fora da faculdade. Negaram meu visto em 27 de agosto de 2001. Dias depois, estou na cama quando vejo as Torres Gêmeas ruindo. Eu ia morar a quatro quadras dali. No mês seguinte, outro pessoal me chamou para trabalhar em Milão. Começava minha carreira internacional.

Minha pira era viajar. Juntava dinheiro do trabalho e economizava em aluguel para conhecer um novo país. Conseguia uma agência na Grécia para morar lá. Se deu certo, bom. Se não, troca. Daí vai para Inglaterra, Alemanha...

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Padrão de beleza

Eu sempre fiz a parte fashion: desfiles, campanhas, editoriais de moda. Um ano, voltei para a temporada brasileira e li uma matéria sobre troca de perfil de beleza masculina. O modelo forte dava lugar a um cara mais magro. O padrão buscado era um modelo como eu: seco, mas com as risquinhas no lugar.

Outro fato que me deu notoriedade foi a campanha do estilista americano Tom Ford de 2008. Fui o primeiro homem a aparecer nu em fotos de moda. Quando voltei para o Brasil, o meio da moda falava muito do assunto. Para todos os clientes, falei: “Mulher nua você vê o tempo inteiro. Qualquer revista que você abre tem. Homem é tabu”. A galera meio que pirou. Eu fui tido como corajoso e louco, os dois.

Foi bom na parte financeira também. A gente trabalha por temporada e com classificação de cachê. Vai de new face, que é cachê C, até cachê special. Eu voltei como cachê special, que é negociado. O que ganhava em um ou dois desfiles agora eu precisava fazer dez anteriormente. 

Paixão antiga

Esta situação foi boa porque eu já tinha viajado um monte e queria ficar no Brasil. Foi como um craque do Barcelona retornando para a jogar no Brasil. E eu também tinha me transformado em outra pessoa. Quando saí, trabalhava para comprar a primeira moto. Depois da primeira temporada em Milão, eu me tornei dono de uma Honda Twister 250.

Fosse em Nova York, Milão ou Paris, carregava na carteira a foto impressa da família e da minha moto. Quando vinha a saudade, a nostalgia, eu olhava a moto. Porque a sensação da moto sempre foi a de liberdade. A sensação de ganhar umas asinhas a meio metro do chão.

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Riscos desnecessários

Em 2009, eu voltei ao Brasil dono de uma Suzuki GSX 1000. Era aquela que chega a 300 km/h. Assumo que, às cinco da manhã, eu ia para estrada tentar dar esse 300 por hora. Ainda se faz muito isso. De tanto pilotar dessa forma, um dos meus amigos chamou para ir a Londrina. Botamos as motos na carretinha e fomos passar o final de semana no Autódromo Ayrton Senna.

Lembro até hoje: os dias mais felizes da minha vida. Tentar dar os 300 km/h num lugar em que não vai passar um cachorro na sua frente, com sentido único, asfalto perfeito, área de escape, ambulância... O pessoal falou: “O que vocês estão fazendo aqui? O autódromo é pequeninho. Vocês não têm Interlagos?”

Eu trabalhei com várias top models, incluindo a Gisele Bündchen. Existe a fantasia de que essas modelos são pessoas extraterrestres. Nem falam nossa língua. Que nada. Falam e são super simpáticas. Até aquele dia, autódromo era coisa do Ayrton Senna, de Fórmula 1. Imaginava como a Gisele Bundchen: um negócio inalcançável.

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Estreia em Interlagos

Fui pesquisar e eles estavam certo. Interlagos tinha curso e track day (dia com circuito aberto para pilotos). Parei minha moto nos boxes, andei até o muro da reta e todas as motos 1000 cilindradas passando a quase 300 km/h. Na hora ativou meu sistema. Fui ao banheiro pensando: “Meu Deus do céu, o que vou fazer aqui?”

Tive um dia incrível.

Você vem a quase 300 km/h na reta e freia o máximo que pode. Percebi uma hora que a moto vibrou e passei reto. Já era a pastilha de freio. Zoei minha suspensão. Eu não sabia a calibragem do pneu, que dilatou e minha moto ficou dura. A moto era de rua e eu era um amador total.

Tive prejuízo e vi que essa brincadeira estava muito cara. O pessoal do track day me convidou para uma palestra em que falaram de uma nova categoria. A Kawasaki ia lançar uma motinho 250 cilindradas, a Ninja 250. Quem comprasse tinha benefícios para entrar em um campeonato. O preço de um pneu da 1000 bancava um final de semana inteiro com a Ninjinha.

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Primeira vitória

Por sorte ou ironia do destino, ganhei a primeira etapa como amador. Quando você sobe no pódio... O cara que tentou ser jogador de futebol, que tem o pitbull forte de competidor, percebe que precisava competir.

Era metade de 2010 e fui transformando minha motinho. Comecei o ano seguinte com uma moto só para pista. Comprei carretinha e pegava carro emprestado da minha mulher, na época minha namorada. Ela e meu padrasto ajudavam a descer a moto, montar o boxe. Em 2012, fui campeão desta copa Ninja em Santa Cruz do Sul (RS).

Fui atrás de concessionárias para ajudar com peças para correr nas 600 cilindradas. Fiquei um período evoluindo: vice paulista, vice brasileiro, matérias, exposição. Fui convidado para uma equipe com caminhão, moto da equipe. Agora, não estava mais precisando montar e desmontar o boxe. Cheguei perto do profissionalismo.

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Profissionalismo a vista

Ano passado, fui chamado para a Pitico Racing Team, uma das melhores equipes que não são de fábrica. Eu estava no auge. Mais apoio, mais parceria, quase virando profissão, quase ganhando para estar lá. Eu era líder do Paulista, líder do Brasileiro e, advinha? Acontece o acidente!

Voltando no tempo, quando acordei domingo de manhã para a prova, eu não estava bem alinhado fisicamente, mentalmente e emocionalmente. Não tive uma noite de sono das melhores. Sofri uma queda durante o warm up. Caí na segunda perna do S (do Senna). Besteira, cagada minha.

Entre o warm up e a corrida, estava com o macacão todo ralado e minha família preocupada no boxe. Os caras arrumavam, arrumavam, arrumavam... Não sabia se ia dar tempo. Se tivesse a consciência de hoje, eu não largaria.

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Espírito de predador

Só que nesta corrida tive poucos momentos de consciência. O que a gente a busca quando corre de moto é entrar em um fluxo em que você nem sabe se é você que está fazendo aquilo. A adrenalina é tão grande, a concentração é tão alta que você se sente no presente do futuro. No meio da curva você já está mirando a saída.

É gostoso entrar neste fluxo de concentração e voltar como se fosse um transe. Este dia foi um transe maior. Eu lembro de poucas coisas. Inclusive do acidente. Antes do Laranjinha, você dá uma acelerada máxima para frear e entrar no miolo, a parte de baixa velocidade do circuito.

A sensação é que puxei o freio e não veio nada. Falei para minha família, para os mecânicos e até em entrevistas que fiquei sem freio. Depois de um tempo, você pensa: “Cara, não posso afirmar isso porque eu não lembro”. A probabilidade é bem grande porque a gente está lá pilotando e sabe o que acontece. Mas não tenho certeza.

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Evitando traumas

Desde o hospital, queria voltar para as pistas. Tinha medo de ficar mais velho e a coisa que achei mais legal na vida virar um trauma. Nunca mais correr me faria uma pessoa frustrada. Fui assistir à primeira corrida em Interlagos depois do acidente. Infelizmente, teve um cara que não se jogou da moto. Bateu na barreira de pneus e foi a óbito. Você faz a associação imediatamente.

Meus pais e minha mulher nunca bateram de frente ou pediram para parar de correr. Mesmo neste momento. O que eu tinha bem claro, e tentava explicar para eles, é que eu não ia voltar daquele jeito que estava. Desde a conversa com o Barros, eu passava por um processo de expansão de consciência. Mas queria passar lá na curva em que me acidentei e superar o trauma, sem pressão e sem este pitbull monstro da competitividade. 

Leandro Moraes/UOL Leandro Moraes/UOL

Volta às pistas

Mandei arrumar minha moto e, quando fui liberado, cinco meses depois do acidente, fiz um track day no Autódromo de Capuava, em Indaiatuba. Eu não dormi na noite anterior. Subi na moto e veio aquela tremedeira. Qual era a posição de pilotar mesmo?

Foi uma primeira bateria de 20 minutos que MEU DEUS DO CÉU! Quando subi na moto tinha medo e adrenalina para cacete. Maior sensação de desafio. Eu preciso romper esta fronteira. E precisava fazer sem cair porque havia titânio na perna e a família inteira nos boxes. Neste dia, entrei seis vezes na pista. Só na última eu tive algum prazer.

Mas beleza, agora preciso ir até Interlagos e passar pela curva onde cai. Neste período, muita coisa passou pela minha na cabeça. O custo, o risco, os acidentes. Infelizmente, teve outro acidente com óbito em Interlagos.

Fui para a pista passar na curva. Deixei os outros pilotos irem na frente e segui. Passei a zero quilômetro na primeira volta. Super devagar. Só faltou descer e empurrar. Quando olhei como os pneus estavam perto foi que percebi: eu estava dando meu máximo num lugar que não tem segurança. Uma área de escape curtinha. Se der merda, você vai se estourar. Fiz as pazes com a curva. Levantei a mão: obrigado pelos aprendizados.

Militante da segurança

Logo após meu acidente, o Alexandre Barros foi no dono do campeonato e levantamos uma bandeira muito forte de segurança. No Salão Duas Rodas, defendemos a colocação de barreiras de ar. Existe um sistema, o air fence, que é como se fosse um air bag do nosso carro do tamanho de um colchão.

Quando deu um ano do meu acidente, o dono do campeonato colocou um monte destes colchões de ar. Não é temporário, comprou o equipamento. Hoje, existe uma taxa de segurança para custear as barreiras de ar e a logística que elas exigem.

A conta é simples. Qualquer piloto pagaria a taxa que for para não sofrer o que sofri. E é pouco mais de cem reais. Adicionar isto faz o piloto dar risada. Um final de semana na 600 não sai por menos de R$ 5 mil. A taxa é mixaria. E não vamos deixar os caras se matarem. Porque, se isso acontecer, a categoria acaba.

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Domesticando o pitbull

Hoje, corro com uma moto de 300 cilindradas. Ela é muito mais leve, oferece menos riscos. Muita gente achou que eu estava regredindo, mas aqui eu não vou me estourar. Tive esta certeza no começo do ano, quando estava decidindo se ia correr nesta categoria.

Eu caí no mesmo lugar em que sofri o acidente. Fui frear no mesmo lugar como se estivesse numa 600. Só que agora a suspensão é original, o pneu não tem a mesma performance. Perdi a frente. Quando eu escorreguei, passou tudo na minha cabeça. O primeiro flash foi: “Meu deus do céu, e agora?”

Eu parei antes da zebra. Com a outra moto, a 600, estourei a perna na barreira de pneus. Era um recado da vida que poderia ter dois significados:

  1. Você vai cair de novo;
  2. Você pode cair com esta moto, mas não vai se estourar.

Optei pela segunda leitura.

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Lucro

Eu acho que estou no lucro do acidente. Ele me mostrou a fragilidade da vida. Ao mesmo tempo, a gente tem um lado Wolverine de se recuperar, se regenerar. O acidente também me fez dar um significado novo para as coisas. Mais gratidão à família, à mulher, ao cachorro, ao trabalho... Chego em casa e penso: que bom que tem meu colchão.

Também aprendi que o pitbull continua lá. Está numa enforcadeira com os espinhos virados para dentro. Ele quer sair correndo a toda hora. Preciso puxar a coleira para ele se comportar quando entro neste fluxo. Preciso adestrar o pitbull até poder tirar a coleira. Como se tivesse um meio termo entre razão e emoção, evitando que ele saia correndo como um maníaco desvairado.

Contar a história do meu acidente ajuda. Já falei do meu acidente para imprensa, amigos, pilotos, família... Agora, contei a história para você. E cada vez cai alguma ficha.

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