Para quem não conheceu Mendonça, vamos começar pelas lembranças. Quem o viu jogar fala de um meio-campista talentoso, daqueles que organizavam o meio-campo de um time. Chutava bem, driblava muito, fazia gols de cabeça. Passou por Portuguesa, Palmeiras, Santos, Grêmio. Rodou o interior paulista.
Mas era ídolo, mesmo, do Botafogo. Chegou ao clube com 15 anos. Em sete temporadas defendendo o clube, marcou mais de 100 gols. O porém? Nunca foi campeão por lá. Os anos 70 e 80, justamente aqueles em que Mendonça brilhou, são de fila.
“Se eu tivesse sido campeão, seria diferente. Para falar a verdade, não queria nem faixa, entendeu? Queria aquele rótulo de campeão no Botafogo. Poderia ser em qualquer um dos oito anos em que joguei lá. Isso ia ficar na cabeça do torcedor pelo resto da vida. Seria um presente. Saber que o torcedor pensa ‘Mendonça fez parte daquele campeonato’, para mim, já seria suficiente“.
E é aí que você pode começar a entender um pouco a personalidade do nosso personagem. O mesmo jogador que, no início dos anos 80, falou “não sou um jogador do Botafogo, sou um torcedor do Botafogo acima de tudo” é o mesmo que se lembra com mágoa do período em que passou por lá.
“Naquela época, havia clubes interessados em mim. Mas eu não queria sair do Botafogo. E perdi grandes chances. Eu perdi Corinthians, São Paulo, Cruzeiro, Grêmio”.
“Eu acho que, dentro de mim, nesse lance de querer ficar e ser campeão, eu me prejudiquei. Esses clubes que falei que mostraram interesse. Se eu tivesse saído, estaria em condição melhor. Porque eram clubes que sempre estavam em finais, eu podia sempre estar fazendo mais gols, sempre lembrado pela seleção. Seria diferente. Então, quer dizer, perdi um tempo lá. Perdi um tempo no Botafogo. É aquele lance de um erro que não tem como consertar. Não tem como”.