Ninguém ameaça

A 100 dias da Copa, lesões e má fase ajudam Cristiano Ronaldo e Messi a potencializar sua hegemonia

Bruno Freitas e Giancarlo Giampietro Do UOL, em São Paulo
Arte/UOL

A 100 dias do início da Copa, os favoritos ao prêmio de melhor do mundo continuam sendo (surpresa!) Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Desde o Brasil-2014, muitos candidatos despontaram com ambição para tentar destronar a dupla. Entre eles, Neymar, claro. Mas o fato é: nos últimos dez anos, nenhum jogador conseguiu ser eleito nem mesmo o segundo melhor nas eleições promovidas pela Fifa.

Nesta temporada, a dupla hegemônica deu algum sinal de vulnerabilidade, ao menos de acordo com o padrão absurdo das últimas temporadas. Ronaldo ainda assombra as defesas pela Liga dos Campeões, com 11 gols em sete jogos, mas pela liga espanhola, virou o ano com apenas quatro gols em 17 partidas. Já Messi fez “apenas” quatro gols em sete jogos pela Champions (vamos deixar os 24 gols em 27 partidas na liga nacional de lado).

Não são números desprezíveis em nenhum planeta, mas, lembremos: são atletas que se habituaram a estabelecer recorde atrás de recordes na Europa. Mais: mesmo seus clubes, Real Madrid e Barcelona, se mostram oscilantes (diante de uma blitz dos clubes ingleses no continente).

O problema? Seus principais concorrentes (ou melhor: aqueles que pretendem concorrer com eles) não têm conseguido aproveitar essa pequena brecha. Lesões e má fase interferem nessa disputa. Até o Mundial e, principalmente, durante o torneio, será que alguém consegue virar este jogo?

Neymar (Brasil)

BENOIT TESSIER/REUTERS BENOIT TESSIER/REUTERS

O que deu errado?

Coadjuvante de Messi nas últimas temporadas, o brasileiro decidiu se afastar do argentino e foi para um PSG tomado por jogadores de seleção que, em tese, girariam ao seu redor. Porém, a recente lesão sofrida o impede de brigar para ser protagonista na Champions League - um empecilho em sua grande meta de desbancar Messi e Ronaldo.

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Por que ainda pode dar certo

Neymar tem chances remotas de se recuperar a tempo de jogar uma eventual final da Liga dos Campeões. Ao contrário da maioria de seu rivais, o atacante joga em uma seleção que desponta entre as favoritas ao título da Copa. O eventual protagonismo na Rússia pode pesar na eleição da Fifa e compensar os meses decisivos perdidos pelo PSG.

Posição entre os melhores de 2017: 3º (6,97% dos votos)

Nível de protagonismo: apesar do atrito com Cavani, de relação conturbada com a torcida e muito burburinho, Neymar era o principal jogador do clube na temporada até se lesionar. Na seleção, é a peça mais importante da equipe do técnico Tite.

Eden Hazard (Bélgica)

Steven Paston/PA via AP Steven Paston/PA via AP

O que deu errado?

Apesar de instantes de brilhantismo com a camisa do Chelsea, o belga ainda não conseguiu ser constante como Messi e Ronaldo são. E essa constância é a grande chave dessa disputa. Também falta um grande momento com a camisa de sua seleção. Por fim, seu desempenho caiu na temporada (fruto do desastre coletivo do Chelsea).Mesmo assim, soma 15 gols e seis assistências.

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Por que ainda pode dar certo?

O meia-atacante belga tem duas grandes oportunidades nos próximos meses: primeiro, pode cacifar seu nome caso consiga liderar o Chelsea em uma eliminação do favorito Barcelona nas oitavas de final da Champions League (justamente em confronto direto com Messi). Depois, tem a chance de brilhar na Rússia, quem sabe levando a promissora Bélgica ao menos até a semifinal.

Posição entre os melhores de 2017: 13º (1,03% dos votos)

Nível de protagonismo: A ascensão de Kevin De Bruyne coloca em xeque a posição de líder técnico de Hazard na seleção belga. Já no Chelsea, o meia tem sido menos importante para o time do que o brasileiro Willian, em ótima fase.

Antoine Griezmann (França)

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O que deu errado?

Depois de seguidas campanhas de sucesso pela Liga dos Campeões (apesar de o título ter escapado), o Atlético de Madri perdeu fôlego nesta temporada. A equipe de Simeone caiu na fase de grupos do torneio continental e ainda está distante do Barcelona na briga pela taça na Espanha (ainda que tenha sete pontos a mais que o rival Real Madrid).

REUTERS/Albert Gea REUTERS/Albert Gea

Por que ainda pode dar certo?

Griezmann despertou na virada do ano, fazendo gols em um ritmo impressionante. Relembrou o jogador que, em 2016, ficou em terceiro na eleição da Fifa, atrás só da dupla de sempre. Sua seleção francesa mostrou na última Eurocopa que tem potencial para ir longe, mesmo que, assim como aconteceu com o Atlético, tenha batido na trave na final.

Posição entre os melhores de 2017: 17º (0,67% dos votos)

Nível de protagonismo: Griezmann joga (muito) bem acompanhado no Atlético de Madri e na seleção francesa, mas é o jogador com maior cartaz em ambas as equipes. Ainda assim, tem de se esforçar para valer a fama.

Paul Pogba (França)

Michael Regan/Getty Images Michael Regan/Getty Images

O que deu errado?

Até 2016, o meio-campista liderava a lista das contratações mais caras da história, tendo custado 105 milhões de euros ao Manchester United. José Mourinho acreditava que tinha um craque em torno do qual poderia reconstruir o time. As cifras, obviamente, geraram pressão e o talentoso francês não conseguiu (ainda) corresponder às expectativas em torno de suas atuações.

Matthew Ashton - AMA/Getty Images Matthew Ashton - AMA/Getty Images

Por que ainda pode dar certo?

Os torcedores da Juventus certamente podem advogar a favor de Pogba. Em Turim, foi fundamental ao conduzir a equipe à final da Liga dos Campeões em 2015, com habilidade, vigor físico e liderança. Não faz tanto tempo assim. E a boa fase do United ainda abre espaço para reação, já que o francês não concentra mais toda a atenção de sua exigente torcida.

Posição entre os melhores de 2017: não foi listado

Nível de protagonismoPogba já foi parar até no banco de reservas do técnico português e, na seleção, enfrenta concorrência igualmente forte, com o compatriota Griezmann liderando a França vice-campeã europeia.

Luís Suárez (Uruguai)

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O que deu errado?

O ciclo rumo à Rússia já começou comprometido, depois de Suárez ter decidido que era boa ideia morder o ombro de Chiellini durante a Copa no Brasil. A punição foi severa: o uruguaio foi banido do futebol pela Fifa por quatro meses. Quando voltou, já era jogador do Barcelona. Suárez foi mais um a ceder à tentação de defender o clube catalão, onde virou coadjuvante de Messi.

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Por que pode dar certo?

Suárez, de todo modo, é dos poucos jogadores da atualidade que pode ao menos pensar em competir com Messi como goleador. Nesta temporada, somando Liga dos Campeões, Campeonato Espanhol e Copa do Rei, tem oito gols a menos que o argentino. Agora, nos mata-matas da Liga dos Campeões, tem a chance de diminuir essa diferença em jogos com maior vitrine.

Posição entre os melhores de 2017: 10º (1,19% dos votos)

Nível de protagonismo: se no Barcelona a sombra de Messi é vasta, pelo Uruguai Suárez encontra um cenário ideal para brilhar, cercado por companheiros dedicados ao chamado serviço sujo, numa estrutura tática voltada ao seu talento.

James Rodríguez (Colômbia)

Lintao Zhang/Getty Images Lintao Zhang/Getty Images

O que deu errado?

Rodríguez terminou a Copa de 2014 com status de próximo supercraque da vez. No entanto, o colombiano foi ao Real Madrid e em nenhum momento conseguiu se firmar como titular do gigante espanhol. Frustrado, teve que recomeçar no Bayern de Munique, jogando por empréstimo nesta temporada. Os tropeços, porém, o deixam distante do primeiro nível dos craques mundiais.

Andreas Gebert/Reuters Andreas Gebert/Reuters

Por que ainda pode dar certo?

Artilheiro e uma das sensações individuais da última Copa, James tem a chance de brilhar mais uma vez na Rússia - uma plataforma que serve para erguer candidaturas no prêmio da Fifa, independentemente do rendimento do Bayern na temporada. O camisa 10 ainda foi ajudado pelo sorteio, já que a Colômbia não pega nenhum bicho-papão na 1ª fase (Japão, Polônia e Senegal).

Posição entre os melhores de 2017: não foi listado.

Nível de protagonismo: Apesar da oscilação técnica dos últimos anos, Rodríguez é certamente o jogador mais importante da seleção colombiana. Pelo Bayern de Munique, conseguiu voltar a ser protagonista. Tanto que o clube alemão já manifestou a intenção em comprar o meia em definitivo.

Jovem guarda

Harry Kane, 24. Kevin de Bruyne, 26. Mohamed Salah, 25. Nenhum deles já é mais um adolescente. Mas ainda estão em ascensão. Considerem que, no ano passado, na premiação da Fifa, desse trio, apenas Kane foi mencionado entre os finalistas, ficando na 24ª e última posição, com 0,33% dos votos. Nesta temporada, os três estão causando sensação pelo campeonato nacional mais badalado do mundo. Será que dá para apostar neles?

Russell Cheyne/Reuters Russell Cheyne/Reuters

Kane (Inglaterra)

Aos 8 anos, o artilheiro do Inglês (24 gols em 28 jogos) foi dispensado pelo Arsenal. Ele mesmo diz que, por mais jovem que fosse, usou essa desagradável notícia para impulsionar sua carreira. Pelo Tottenham, demorou para encontrar espaço. Foi emprestado para Millwall, Norwich e Leicester, e não foi notado. Mas hoje é um dos goleadores mais temidos da Europa.

EFE/EPA/JULIEN WARNAND EFE/EPA/JULIEN WARNAND

De Bruyne (Bélgica)

Tal como Kane e Salah, De Bruyne já sofreu com a rejeição na Inglaterra. Contratado em 2012 pelo Chelsea, não jogou nem 500 minutos pelo clube. Em 2014, foi vendido ao Wolfsburg. Jogou tanto que, um ano depois, estava de volta à Premier League. Em termos estatísticos, o belga pode apresentar as 14 assistências que deu pela Premier League como cartão de visita.

AP Photo/Nariman El-Mofty AP Photo/Nariman El-Mofty

Salah (Egito)

Com 24 gols em 28 jogos, o atacante do Liverpool é quem disputa com Kane, rodada a rodada, a artilharia da Premier League. Pela Champions, são sete gols em nove jogos. Seu poder de decisão e lampejos individuais arrebataram corações dos torcedores dos "Reds" em seu retorno ao futebol inglês, depois de passagem apagada pelo Chelsea e de elevar sua produção na Itália.

Quando o Tottenham me emprestou por dois anos, houve vários momentos em que me questionei se eu não conseguiria marcar sequer um gol pela Premier League

Kane

Tenho mais prazer em dar uma assistência às vezes. É como sinto. É legal fazer um gol, mas minha posição mudou e não fico nessa posição muitas vezes para marcar. E não importa

De Bruyne

Honestamente, não esperava jogar em grandes da Europa. Sempre tentei evoluir, quando garoto, mas queria chegar ao 1º escalão do Egito. Europa? Não imaginava

Salah

Matthew Childs/Reuters Matthew Childs/Reuters

E na Copa? Será que, agora, dessa vez, finalmente vai? Desde a ascensão da Premier League, já virou rotineiro que os ingleses cheguem empolgados ao Mundial. Para, logo depois, quebrarem a cara e recorrerem ao sarcasmo como forma de terapia. Em termos de talento, a Inglaterra pode bater de frente com qualquer um. Mas joga sempre sob imensa pressão.

PHIL NOBLE/REUTERS PHIL NOBLE/REUTERS

E na Copa? Antes de 2014, as expectativas sobre a "geração belga" variaram de expectativas desmedidas a piadas de puro desdém. No final, ficaram no meio do caminho, nas quartas de final, eliminados pela Argentina. De lá para cá, seus principais jogadores só ganharam mais relevância (e experiência no futebol europeu). Olho neles. Novamente, no caso.

Divulgaçã/Liverpool FC Divulgaçã/Liverpool FC

E na Copa? O Egito até caiu em um grupo acessível, com anfitriões russos, além de Arábia Saudita e Uruguai. Mas qualquer campanha mais longa pelo torneio seria considerada uma imensa surpresa. Seu cartaz depende muito mais do que o Liverpool possa fazer até o fim da temporada - o time está praticamente classificado na Champions e é o 3º no Inglês.

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