Uma brasileira em Hollywood

De alienígena a estrela de filmes de super-heróis, Morena Baccarin é a brasileira de maior sucesso nos EUA

Beatriz Amendola Do UOL, em São Paulo
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Enquanto astros brasileiros como Rodrigo Santoro e Wagner Moura avançam aos poucos em Hollywood, Morena Baccarin vive uma situação oposta: estrela de “Deadpool”, um dos maiores sucessos recentes no universo dos filmes de super-herói, a atriz de 38 anos ainda causa espanto em muitos conterrâneos que descobrem que ela, também, é brasileira.

As pessoas ainda estão meio surpresas de saber que eu sou brasileira e falo português”, divertiu-se durante uma conversa com jornalistas para promover o novo longa, que estreia no dia 17 de maio. E não é para menos. Filha da atriz Vera Setta, de filmes como “Ipanema Toda Nua” (1971) e “A Noiva da Cidade” (1978), e do jornalista Fernando Baccarin, Morena nasceu no Rio de Janeiro, mas mudou-se para Nova York com sete anos de idade, quando o pai foi transferido para a sucursal da Globo na cidade. E lá ela construiu a carreira que a levou ao estrelato.

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Bela de outro mundo

Foi em Nova York que a artista deu seus primeiros passos na carreira. Morena cursou o ensino médio em uma escola especializada em artes visuais e performáticas e, aos 17 anos, entrou na prestigiosa Julliard School, de onde saíram nomes como Robin Williams, Viola Davis e William Hurt. No ano seguinte à sua formatura, ela estreou nos palcos da cidade com a peça “A Gaivota”, de Anton Tchékhov, estrelada por Meryl Streep. A brasileira era a substituta de Natalie Portman.

Nem as credenciais nem o fato de ter passado a maior parte da vida em solo americano, entretanto, facilitaram a entrada de Morena na indústria cinematográfica, então a anos-luz das discussões sobre representatividade que se tornaram tão presentes nos dias de hoje. 

Foi mais difícil quando eu comecei a carreira lá, porque embora eu não tenha sotaque nenhum falando inglês, eu tenho um nome diferente, aparência diferente. Isso foi 15 anos atrás, então Hollywood estava bem diferente.

Por conta desse estranhamento, ela acabou interpretando muitos seres de outro mundo no início da carreira. Seu primeiro grande papel foi como Inara Serra, uma das protagonistas de “Firefly”, a cultuada série de ficção científica de Joss Whedon. Mais tarde, ela viveu a vilã Adria em “Stargate SG-1”; e de 2009 a 2011 interpretou a bela e ameaçadora líder de uma raça alienígena que vinha visitar a Terra na série “V”.

As personagens latinas também apareciam bastante para a atriz no começo. “Queriam me encaixar nos papeis de hispanos, que também não dá certo para quem eu sou. Eu posso me encaixar em alguns, mas não é exatamente só você ser uma latina e fazer um papel só. Agora está abrindo, está bem diferente”.

E Holywood está mais aberta ao talento brasileiro, acredita a atriz, hoje bem acompanhada por nomes como Rodrigo Santoro, Alice Braga e seu amigo Selton Mello, que irá dirigir seu primeiro filme americano. “O mundo está ficando cada vez menor em termos de Hollywood, e atores de vários lugares estão trabalhando lá, como também fora. Acho muito boa essa troca”, diz ela.

Na época, todo mundo perguntava 'Morena, que nome é esse? Você vem de onde?' No início da minha carreira eu fazia papel, por exemplo, de alienígenas

Morena Baccarin

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Do Emmy aos heróis

Morena fez participações em outras séries bem-sucedidas como “How  I  Met  Your  Mother” e “The Mentalist”, mas foi “Homeland” o primeiro divisor de águas da sua carreira. Como Jessica Brody, que vê o marido retornar oito anos após ser sequestrado por terroristas no Oriente Médio, a atriz caiu nas graças do público e da crítica e conquistou uma indicação ao Emmy, o Oscar da TV americana.

Foi um ponto sem volta: após deixar a produção, em sua terceira temporada, ela foi escalada para o papel da Dra. Leslie Tompkins em “Gotham”, série que mostra a infância e a juventude de Bruce Wayne, que um dia irá salvar a cidade na pele de Batman. Meses depois, ela ganhou o papel de Vanessa Carslyle, a dama nem um pouco em perigo de “Deadpool”.

Só para maiores, ao contrário de outros filmes de heróis, a história do Mercenário Tagarela surpreendeu com mais de US$ 780 milhões nas bilheterias e projetou ainda mais o nome da brasileira. “’Homeland’ também teve esse impacto pra mim, mas esse filme é bem diferente porque atingiu uma audiência maior”.

E Morena, que já era bem conhecida dos fandoms de ficção científica da TV, entrou para dois universos cinematográficos bem diferentes, cada um com seus fãs fanáticos: os das editoras “rivais” Marvel e DC.

[Os fãs] brincam, mas os dois universos são bem separados. Eu me sinto super sortuda porque consegui fazer os dois. Não é sempre assim e nem sempre dá certo.

ichael Loccisano/Getty Images ichael Loccisano/Getty Images

No trabalho e em casa

Se a Marvel tornou a atriz mais conhecida, pode-se dizer que a DC deu aquele empurrãozinho em sua vida pessoal: foi no set de “Gotham“ que ela se apaixonou por Ben McKenzie, que interpreta o comissário Gordon. Em um caso de vida que imita a arte, o par levou para o mundo real o romance da ficção e permanece junto desde 2015 – o casamento foi oficializado no ano passado.

E ver o maridão tanto em casa quanto no trabalho não é algo ruim para Morena. “É divertido demais”, diz. “A gente adora, porque a gente se vê mais no set do que em casa. Em casa você está com os filhos, não dá nem pra conversar. No set a gente pode falar no intervalo da filmagem, pensar o que a gente vai jantar hoje, conversar, ter um diálogo que a gente não consegue ter em casa”.

O casal tem uma filha de dois anos, Frances Laiz. E Morena também é mãe de Julius, de quatro anos, fruto de seu casamento anterior, com o produtor e diretor Austin Chick.

De "Firefly" a "Deadpool"

Os papéis mais marcantes de Morena

Reprodução/Instagram Reprodução/Instagram

Futuro no Brasil?

Para os próximos meses, a atriz tem mais três filmes previstos: a comédia dramática “Ode to Joy”, com Martin Freeman e Melissa Rauch no elenco, e o documentário “DeLorean”, no qual contracenará com Alec Baldwin como Christina Ferrare, mulher do criador do famoso carro eternizado em “De Volta Para o Futuro”. Ela ainda deve anunciar em breve uma parceria com a toda-poderosa L’Óreal, da qual já deu um gostinho a seus fãs no Instagram.

Com tanto acontecendo, Morena ainda não conseguiu realizar o sonho de atuar no Brasil. Em 2014, a atriz quase se tornou protagonista da minissérie “Dupla Identidade”, de Glória Perez, mas conflitos de agenda forçaram a atriz a declinar o papel, que foi para Luana Piovani. Mas ela não desistiu da ideia: “Adoraria! O problema mesmo é poder encaixar no cronograma. Fazendo ‘Deadpool’ e fazendo ‘Gotham’, eu não tenho muito tempo livre, mas um dia desses eu vou achar uma série que dá certinho”.

Ela já sabe bem, por outro lado, que filme gostaria de filmar em sua cidade natal, o Rio de Janeiro: um da franquia “007”, só um pouco diferente.

Eu quero o papel de Bond, Jane Bond.

Do universo dos quadrinhos, Morena também já sabe que outra personagem gostaria de interpretar: a Mulher-Gato, sua preferida.

E para quem sentiu falta de ver a Vanessa de “Deadpool” como a mutante Copycat, Morena dá esperanças: “Eu acho que sempre é possível. Não sei os planos que os escritores e o Ryan têm pra essa personagem, mas como ela vira Copycat, quem sabe um dia?”

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