Me chame de Armie Hammer

Como o ator americano se tornou um dos nomes mais celebrados da atual temporada de premiações

Carlos Helí de Almeida Colaboração para o UOL
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Armie Hammer descobriu que queria ser ator depois de assistir a "Esqueceram de Mim" (1990), a comédia tipo família que transformou Macaulay Culkin em estrela de Hollywood da noite para o dia. "Eu tinha 12 anos, qualé?", diz o ator californiano de 31 anos, com um sorriso maroto no rosto.

"Lembro que vi o filme e, quando fui dormir, naquela noite, sonhei que eu era o personagem do Macaulay. Acordei no dia seguinte com a impressão de que esse negócio de fazer filme parecia ser a coisa mais divertida do mundo. Nascia ali a vontade de participar de alguma forma dessa coisa que conhecemos como cinema".

Ele estava certo. Inserido nessa "coisa de cinema", Hammer recebeu sua primeira indicação ao Globo de Ouro: ele concorreu na categoria de melhor ator coadjuvante por Oliver, seu personagem em "Me Chame Pelo Seu Nome". E ainda pode reprisar o feito se, no próximo dia 23, estiver entre os indicados ao Oscar 2018 por sua performance no filme de Luca Guadagnino, um dos mais festejados títulos da temporada.

"Me Chame Pelo Seu Nome"

Adaptação do romance homônimo do escritor André Aciman, o filme de Guadagnino descreve o despertar do amor entre um adolescente italiano (vivido pelo nova-iorquino Timothée Chalamet) e um universitário americano (papel de Hammer), contratado para trabalhar com o pai do garoto em uma pesquisa arqueológica.

Aclamado por sua sensibilidade desde sua primeira projeção pública, no Sundance Film Festival em janeiro do ano passado, o drama chega agora à temporada de premiações carregado de elogios e prêmios.

"Minha mulher me fez ler o livro do Aciman, dizendo que era uma das histórias mais sexy que jamais havia lido antes", diz o ator, que é casado com a atriz Elizabeth Chambers e com quem tem dois filhos. "Luca é um diretor sensual".

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Uma porta aberta

Desde muito cedo Hammer se guiou pela intuição. Foi uma rebeldia juvenil na escola que o ajudou a tomar a decisão de se tornar ator.

"Eu já estava quase terminando o colegial, vivia entediado com os estudos, de uma maneira quase destrutiva. Uma dessas aulas chatas, o professor chegou até mim e perguntou: 'Desculpe, Sr. Hammer, estamos impedindo o senhor de estar em algum outro lugar neste momento?'. Apesar da surpresa da pergunta, respondi que sim. E ele: 'Então não se deixe impedir, a porta está aberta'. Não pensei duas vezes, e fui embora".

Naquela mesma noite, Hammer contou para seus pais sobre sua decisão de abandonar os estudos para se tornar ator.

"Eles quase caíram para trás, em choque. Particularmente pela ideia de ter sido uma sugestão de um professor", ele lembra aos risos. "Mas realmente saí do colégio e comecei a frequentar todo tipo de curso de interpretação, e a me inscrever em escolas de arte dramática. Meus pais ficaram um pouco decepcionados, mas apoiaram minha escolha na medida do possível".

Batman eternamente

Os primeiros anos no ofício foram na televisão. O porte atlético e o jeitão de bom moço vieram a calhar em papéis em séries como "Desperate Housewives", "Gossip Girl: A Garota do Blog", e "Riper - Um Trabalho Infernal".

A oportunidade de migrar para o cinema apareceu em 2007, quando recebeu um convite para viver Batman em um reboot do personagem, que seria dirigido por George Miller (da trilogia "Mad Max"). O projeto foi cancelado poucas semanas antes do início das filmagens e nunca saiu do papel.

"Uma vez que você é chamado para fazer parte de um personagem da 'Liga da Justiça', tudo muda, mesmo quando o trabalho não se concretiza. Meu pai ficou todo orgulhoso quando soube da oferta: 'Aí, garoto!'.

Foi como se eu tivesse entrado para o time de cinema de verdade.
 

Um convite para outros trabalhos

Foi a partir da possibilidade de ser Batman que Hammer começou a ser mais notado

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"A Rede Social" (2010)

O primeiro trabalho de impacto de Hammer foi no papel duplo dos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss, os rivais de Mark Zuckerberg na criação do Facebook, no filme de David Fincher. Para compor o personagem, ele contracenou com o ator Josh Pence e teve seu rosto inserido digitalmente.

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"J. Edgar" (2011)

Hammer fez outro pequeno papel no filme de Clint Eastwood. Ele deu vida Clyde Tolson, namorado de J. Edgard, o polêmico diretor do F.B.I. nos anos 1950, interpretado por Leonardo DiCaprio. A atuação de Hammer lhe rendeu uma indicação ao SAG Awards (promovida pelo sindicato americano de atores) de melhor ator coadjuvante.

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"O Cavaleiro Solitário" (2013)

Seu primeiro papel de protagonista foi como o cowboy John Reid. A aventura no Velho Oeste ao lado de Johnny Depp e dirigida por Gore Verbinski, no entanto, foi um fracasso comercial: a produção custou à Disney US$ 215 milhões e faturou cerca de US$ 260 milhões, muito aquém do esperado.

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"O Agente da U.N.C.L.E" (2015)

Ainda sob as nuvens do fracasso anterior, Hammer embarcou em outro grande projeto. Dirigido por Guy Ritchie, ele e Henry Cavill, o novo Superman, protagonizaram o filme de espionagem. Não foi um estrondo de bilheteria, mas passou longe do agouro de "O Cavaleiro Solitário".

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O futuro

"Me Chame Pelo Seu Nome" promete colocar Hammer em um novo patamar na carreira. A repercussão do filme no circuito de festivais, tanto entre o público quanto entre membros das associações da classe cinematográfica, pode levar o ator até a cerimônia do Oscar, no dia 4 de março. Mais do que isso, a produção --que já tem uma sequência planejada para ser lançada-- pode aparecer também na lista de indicados a melhor filme.

Mas o ator não quer gastar seu tempo especulando sobre prêmios e indicações.

"Nunca entendi muito como funciona a campanha da Academia, ou como funciona a política da premiação. E nem tenho interesse em aprender. Meu trabalho, como ator, só existe a partir do momento em que o diretor diz pela primeira vez 'ação', e a última vez em que ele diz 'corta'. Há pessoas que são pagas para se preocupar com isso. Eu jamais perderei meu tempo com isso".

Hammer, afinal, tem outros projetos para dividir seu tempo. Ainda este ano ele deve aparecer em, no mínimo, três filmes:

"Sorry to Bother You": comédia sci-fi sobre um homem que descobre uma chave mágica para o sucesso profissional. O filme é dirigido pelo estreante Boots Riley e tem no elenco Tessa Thompson ("Thor: Ragnarok", "Creed").

"Hotel Mumbai": drama que conta a história dos sobreviventes de um ataque terrorista a um hotel de Mumbai em 2008. Dirigido por Anthony Maras, em seu primeiro longa-metragem, o filme tem Dev Patel no elenco.

"On the Basis of Sex": cinebiografia de Ruth Bader Ginsburg, juíza que lutou pelo direito das mulheres nos Estados Unidos. Hammer será o marido de Ruth, papel de Felicity Jones. A direção é de Mimi Leder, de "A Corrente do Bem".

O nome de Armie Hammer promete ser bem chamado em 2018.

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