Não voto em ninguém

Eleitores explicam por que decidiram votar nulo, branco ou simplesmente não apertar "confirma" em 2018

Diego Moura e Pedro Ramos Do Eder Content e Volt Data Lab

A escolha de não escolher

Alguns chamam de protesto, outros de antipolítica. Há quem diga que é um recado e quem avalie como desilusão. Para cientistas políticos e pesquisadores do tema, o eleitor que não vota está inserido numa categoria que vem crescendo e não apenas no Brasil: a da alienação eleitoral. Em 2014, 37,2 milhões brasileiros votaram nulo, em branco ou não votaram. Ou seja, 33% dos votos apurados no segundo turno da última eleição presidencial foram de eleitores que escolheram… não escolher. 

Pesquisadora dos elevados números de votos brancos e nulos nas eleições brasileiras, a cientista política Márcia Dias, da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), diz que o aumento da alienação eleitoral acaba fragilizando as instituições democráticas. "Se as eleições legitimam a ação governamental, a redução da participação eleitoral faz com que os eleitores deem um recado para a classe política. Se eles dizem que esses candidatos não os representam, isso tem um significado muito importante", afirma.

A discussão sobre o significado e a relevância dos eleitores que optam por não votar é antiga: desde o Código Eleitoral de 1932, que introduziu o sistema proporcional no Brasil, votos brancos alimentam o debate jurídico sobre como deve ser tratado o brasileiro que vai à urna e escolhe votar em branco. Para cidadãos leigos no direito eleitoral, é uma questão mais simples: se um terço dos votos apurados não são válidos, o resultado das urnas não se torna menos válido?

"Ao mesmo tempo em que o eleitor se abstém, anula o voto ou vota em branco --e isso legitima o próprio sistema que ele não está aceitando--, isso cria uma dificuldade muito grande de tornar o sistema mais eficaz", alerta Silvana Krause, doutora em ciência política pela Katholische Universität Eichstätt, na Alemanha.

No Brasil, os votos nulos, brancos e abstenções são descartados para fins de definição dos eleitos. Mas uma cartilha distribuída pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2014 reconhece que um número maior de votos nulos e brancos reduz a quantidade de votos válidos necessários para que um candidato se eleja. E alerta: ao anular seu voto, o eleitor pode possibilitar a vitória de um candidato que não venceria com os votos válidos que recebeu.

Para o pesquisador Julian Borba, pós-doutor em ciências sociais pela Universidade de Lisboa, seria de esperar que quanto menores os índices de brancos, nulos e abstenções, mais legítimo o processo eleitoral --mesmo que o ponto de vista da legalidade não esteja sendo afetado porque esses votos são considerados inválidos. Mas isso não é uma exclusividade da democracia brasileira, observa. "Votos inválidos existem em qualquer regime democrático, fazem parte das regras do jogo. Em países de voto não obrigatório, em torno de 60%, 65% do eleitorado comparece às urnas. Nós [brasileiros] temos experimentado em torno de 80%, 85% de comparecimento", afirma.

Essa taxa de comparecimento do eleitorado às urnas não deve mudar em 2018, avalia a pesquisadora Cíntia Ribeiro de Souza, pós-doutora em sociologia política pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). "Deve se manter a tendência dos últimos 20 anos, que gira em torno de 80%, porque já tivemos escândalos antes e isso não mudou muito. A dúvida maior está nos votos brancos e nulos", avisa.

Três pesquisas Datafolha divulgadas entre 22 de agosto e 2 de outubro mostraram que o percentual de eleitores que declararam voto em branco, nulo ou nenhum já foi de 22% e vem caindo, chegando a 8% na consulta mais recente.

Ainda assim, o cientista político Homero Costa, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), vê os índices de brancos e nulos com preocupação. "São muitas pessoas. Elas não estão nem indecisas. Elas estão decididas a votar nulo ou branco", observa. 

A reportagem procurou eleitores deste perfil para saber o que os levou a tomar tal decisão. Veja a seguir os depoimentos.

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'Política precisa virar trabalho voluntário'

Anderson Roberto Dallazen e Yáskara Tavares Iaquinto, 37, médicos; moram na Liberdade (SP)

Eles chegaram à capital paulista há três anos e deixaram o domicílio eleitoral no Paraná. Desde então, vêm justificando a ausência no local de votação a cada pleito.

O cardiologista Anderson Dallazen já justificou cinco vezes, e a clínica-geral Yáskara Iaquinto, duas. Em 2018, com a chegada de Vicente, de apenas quatro meses, vão somar-se novamente ao índice de abstenção.

"Não fiz nenhum esforço extra para estar lá para votar, porque seria realmente uma confusão muito grande conseguir viajar para a minha cidade. Então acaba se tornando mais cômodo e mais barato justificar", explica Dallazen. "E tem o bebê também", acrescenta a médica. "A gente fica um pouco triste, porque é um voto, não é?", completa.

Diferentemente de outros eleitores que votarão nulo ou em branco na eleição de 2018, o casal não acredita nessa escolha como forma de protesto. "Ao votar nulo você está contribuindo para o que vai ganhar, porque não vai contar para nenhum deles", ressalta ela. "Quem está indeciso deveria conhecer mais sobre os candidatos e procurar votar em alguém, não desperdiçar o voto", reforça o médico.

Alheio ao desencanto político, o pequeno Vicente sorri para fotos e brinca com o título de eleitor da mãe. "Não vejo melhoria para os próximos anos", diz ela. "Espero que ele vá para fora do Brasil." Dallazen também não tem muita esperança de que daqui a 18 anos as coisas estejam tão melhores no país. "Acho que é pouco tempo para mudanças tão drásticas como precisamos, para uma renovação."

Ambos defendem uma reforma política bem diferente das que volta e meia surgem no debate eleitoral: a política precisa deixar de ser negócio e passar a ser trabalho voluntário. "A impressão que eu tenho é que teria que começar tudo do zero: mudar a forma de eleger os candidatos e a maneira como eles mesmos veem a política", diz o pai de Vicente.

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'Não tinha noção da importância do meu voto'

Carolina Mota, 25, universitária; mora em Santa Cruz (RJ)

Há quatro anos, Carolina anulou seu voto para governador e presidente da República, tanto no primeiro quanto no segundo turno da eleição presidencial. Além do desinteresse por política, ela achava que anular voto era uma forma de protesto.

Em 2018, ela deixou de integrar a estatística que colocou o bairro onde Carolina mora --Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro-- com a maior proporção de votos brancos e nulos (25%) entre os eleitores cariocas em 2014.

"Parei para pensar que protesto é ler todas as propostas dos candidatos e tentar se identificar com um. Isso é voto de protesto. Ler, estudar e não deixar o outro ganhar."

Em dúvida na escolha para presidente e ainda sem candidato a governador e senador, a estudante de engenharia civil já definiu seu voto para deputado estadual e federal. "Eu não tinha noção da importância do meu voto. Estou enviando propostas de candidatos a amigos e familiares e tentando convencê-los a não votarem em branco ou nulo."

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'Fiquei até com vergonha de anular meu voto'

Elisabete Bueno de Sá, 70, massoterapeuta; mora em Copacabana (RJ)

A carioca Elisabete Bueno vota há cinco décadas. Em 2014, anulou o voto na disputa presidencial. "Não me arrependo, mas fico triste de fazer isso. Pensei em votar no menos pior, mas não consegui. Fiquei até com um pouco de vergonha de anular meu voto, achei que nunca faria isso", resume a massoterapeuta.

Aos 70 anos, ela traz na carteira um título antigo com foto em preto e branco, amarelado pelo tempo e pelo uso --bem diferente do modelo atual em tons de verde e sem foto.

Moradora de Copacabana, na zona sul do Rio, o bairro onde Elisabete vive registrou a maior proporção de abstenções na eleição de quatro anos atrás. Três das quatro zonas eleitorais da cidade que tiveram proporção de abstenção ao redor de 30% em 2014 estão localizadas em Copacabana. No primeiro turno, ela viajou e contribuiu para esse índice elevado. No segundo turno, anulou.

Pela idade, o Código Eleitoral desobriga Elisabete de votar este ano, mas ela não acredita que a alienação eleitoral possa mudar a política brasileira. "Sou totalmente contra votar nulo. Acho que quem faz isso lava as mãos", afirma. "Com os políticos que nós temos, isso não faz nem cócegas neles." Em geral otimista, ela reconhece que está descrente, mas não pretende deixar que decidam por ela. "O eleitor tem que ter responsabilidade."

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'Votar no menos pior não é pensar em melhorar'

Eric Nakano, 37, professor; eleitor do Jardim da Saúde (SP)

O professor de física Eric Nakano percorre cerca de 160 quilômetros entre Jacareí (SP) e São Paulo para dar aulas na capital paulista. Faz isso duas vezes por semana. Mas não vê razão para percorrer essa distância no dia 7 de outubro para votar na seção eleitoral onde está registrado, no Jardim da Saúde, zona sul de São Paulo.

Morador de Jacareí há três anos, ele optou por não transferir o título para evitar uma convocação da Justiça Eleitoral para trabalhar como mesário no pleito. "Se eu já anulo o voto por não concordar com o sistema político do Brasil, ser mesário para mim é estar participando desse sistema político. Então se eu puder evitar ao máximo essa possibilidade, eu vou evitar", afirma.

Em 2014, Nakano compareceu à urna e anulou o voto nos dois turnos. Neste ano, vai justificar e engrossar o índice de abstenção. Ao seu redor, é o único a defender o voto nulo ou a abstenção como forma de não compactuar com a escolha do político "menos pior". "Meus pais e meus sogros são daquela cabeça de que não votar é perder voto e não uma maneira de você pensar também", explica.

O ponto central da resistência do paulistano em votar é a inexistência de limite para reeleição nos cargos do Legislativo no Brasil. "Tem cara que mora lá", reclama. Para ele, os brasileiros não enxergam que o grande problema político não está somente nos cargos mais altos, como presidente da República e governador. Se não há mudança no Legislativo, diz o professor, a probabilidade de mudar alguma coisa se torna quase nula.

Questionado se anular ou votar em branco ajuda, Nakano reconhece: "Do ponto de vista legal, não. Mas votar só por votar em alguém também não".

Minoria na família, ele aplica ao ambiente de trabalho a mesma lógica que usa adota em casa: só fala de política se for questionado. "Em período eleitoral, os alunos sempre têm curiosidade e vêm perguntar. Se alguém pergunta, eu falo; se perguntar por que, eu explico. Mas sempre aviso que não estou defendendo que faça igual. É o meu ponto de vista, serve para mim."

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'Se não tem ninguém que me agrade, voto nulo'

Erick Machado, 28, músico; mora na Vila Ivg (SP)

Quando o músico paulistano Erick Machado votou pela última vez, ainda não existia WhatsApp e a rede social que fazia sucesso no Brasil era o Orkut, com 40 milhões de usuários. Era 2008, ele tinha 18 anos e votava pela segunda vez quando São Paulo elegeu Gilberto Kassab (PSD) para a prefeitura da maior cidade do país. "Depois eu anulei e parei de ir, justifiquei e paguei a multa. Não compareci", resume.

Passados dez anos, ele trancou a faculdade de eventos e tornou-se ativista em defesa do voto nulo. "Votar nulo não é prejudicial, é constitucional."

E recorre ao exemplo de Enéas Carneiro, político do Prona morto em 2007: "Se não tem ninguém que me agrade, voto nulo mesmo". Na campanha eleitoral de 1994, o então candidato a presidente defendeu o voto nulo durante entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura. "Anulei com tranquilidade, por que não? A Constituição me permite. Se eu não acredito em A, B, C ou D, por que eu tenho que votar em algum deles?", afirmou Carneiro, ao justificar o voto nulo no segundo turno da eleição presidencial de 1989.

Eleitor registrado no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, Machado mora hoje na zona leste da capital, onde estão localizadas as três zonas eleitorais com maior proporção de votos nulos e brancos no pleito de 2014. Ativista digital, o músico administra uma página no Facebook que defende o voto nulo e tem hoje 125 mil seguidores.

Criada pelo baiano Darlã Fagundes, a página não poupa nenhum político nas postagens que são, em sua maioria, notícias de grandes veículos de comunicação. "Eles não representam ninguém, têm outros interesses", afirma Machado. "O próprio sistema político atual não explica às pessoas como ele funciona. E essa representatividade deles já deu."

Machado defende uma reforma política que resulte numa "democracia direta", com o povo tomando para si o protagonismo, sem os tradicionais partidos políticos. "Alguns falam para a gente: 'mas quem é que vai comandar o país? A gente?' É, a gente. E aí começam a rir. As pessoas estão interessadas na política, mas que os outros façam", critica o paulistano.

"Eu me vejo num filme de ficção", resume. "Pega o Robocop, por exemplo. Tem uma megacorporação que comanda tudo. Daqui a pouco a gente não vai mais votar em político, vai votar direto na empresa." Aos 28 anos, ele diz que vai ser difícil mudar de opinião. "Por tudo o que eu já vi, já segui, perdi a esperança nesse sistema político." Em 2018, ele não vai comparecer às urnas e, posteriormente, pagará multa.

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'Votar nulo é uma forma de protesto'

Gustavo Pedro, 23, recém-formado em ciência política; mora em Campo Grande (RJ)

Nas aulas da faculdade de ciência política, recém-concluída na Unirio (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Gustavo Pedro estudou sobre sistemas de governo, estruturas políticas e processos eleitorais. Quando vai às urnas e anula seu voto, ele sabe que seu protesto não é muito efetivo. "Anulando ou não, os políticos que recebem os votos válidos vão ser eleitos", diz o carioca. O cientista político ainda em busca de emprego está ciente que votos brancos e nulos são inválidos.

Em 2014, ele escolheu candidatos a deputado federal e estadual, senador e presidente. Para o governo do Rio de Janeiro, anulou --e não se arrepende. "Não acho que isso seja se eximir de responsabilidade. Não vi diferença entre os candidatos, ambos representavam o mesmo projeto político."

No pleito deste ano, ele está em dúvida, mas não é entre qual candidato a governador ou presidente. "Não sei se anulo ou voto em branco caso tenha segundo turno para governador. Também é uma possibilidade real para presidente em um possível segundo turno", adianta.

O bairro onde Gustavo mora está entre os três com maior proporção de votos inválidos na eleição de 2014. A 120ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro, localizada em Campo Grande, teve 19% de votos brancos e nulos entre os eleitores aptos no pleito de quatro anos atrás.

Em casa, a família de Gustavo é uma boa representação do eleitor do bairro: desmotivados, seus pais estão sem ânimo para votar em 2018. "Muitos políticos estão atrás desse voto desiludido, mas é só na época de campanha. Depois disso, não faz mais diferença para eles", resume o carioca.

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'Não quero me sentir culpada por um voto errado'

Paula Ernida Duarte, 30, esteticista; mora em Bangu (RJ)

Eleitora do ex-presidente Lula em 2002, Paula Duarte transformou a descrença na política brasileira em votos nulos para presidente, governador, senador e deputados federal e estadual em 2014. Foi a primeira vez que a esteticista carioca anulou o voto, mas não parece ter sido a última. "Estou na dúvida se vou repetir os votos nulos na eleição de 2018 ou se vou justificar. Acho que as pessoas estão com medo de votar no novo e isso vira um ciclo vicioso com os mesmos candidatos", afirma.

Moradora de Bangu, bairro da zona oeste do Rio que abriga o Complexo Penitenciário de Gericinó --onde estão presos o ex-governador Sérgio Cabral e outros políticos fluminenses acusados de corrupção--, Paula sabe que não escolher um candidato está longe de ser o melhor caminho. "É como tirar o corpo fora, tirar a responsabilidade. Só que prefiro fazer isso a me sentir responsável por votar em uma pessoa que não vale a pena estar lá."

Em Bangu, apenas a 234ª Zona Eleitoral registrou a segunda maior proporção de votos inválidos na cidade entre os eleitores aptos no pleito de 2014. Paula acha que isso deveria ter algum efeito entre os políticos brasileiros: "Se a maioria da população fizesse isso, eles teriam que repensar muita coisa. Eu acho que pode influenciar e espero que influencie mesmo. Do jeito que está, está muito difícil".

Em 2018, ela cogita dar um voto de confiança para novos candidatos. A esteticista diz que fez o dever de casa e pesquisou nomes e propostas para decidir. É o que todos os eleitores deveriam fazer, recomenda. "O maior defeito está na população que não sabe votar. Parece que as pessoas continuam votando nos mesmos candidatos e fica tudo na mesma", critica.

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'Não tem uma pessoa que mereça o nosso voto'

Vinícius Cavichioli Rodrigues, 31, gestor ambiental e professor; mora em Artur Alvim (SP)

Paulista de Presidente Prudente (SP), o título de eleitor de Vinícius Rodrigues não é usado para votar há mais de uma década. Em tom de brincadeira, ele diz aos amigos que nem lembra mais como é uma urna eletrônica. "A última vez que votei foi em Presidente Prudente e já faz uns 13 ou 14 anos. Então não tenho mais nem ideia de como seja", diz. Ele mudou-se para a capital paulista em 2010 e nunca se interessou em transferir o domicílio eleitoral.

Antes disso, Rodrigues alternou votos brancos e nulos com justificativas por estar fora do local de votação. "Eu não voto justamente por não me sentir representado por alguém", explica. O argumento do gestor ambiental é que a escolha acaba sendo sempre pelo "menos pior" para a maioria dos eleitores. Ou por estarem de acordo com um ponto específico defendido pelo candidato, embora discordem de vários outros. "Sinto muita falta de uma pessoa que seja coerente por inteiro."

Mesmo sem votar, ele garante que se informa e participa de conversas sobre política. Com orgulho, diz que leu os planos de governo de quase todos os presidenciáveis que concorrem em 2018. "Não tem em quem votar, não tem uma pessoa que mereça o nosso voto", acredita. "Em casa, meu pai vota no [Jair] Bolsonaro e minha mãe, minha irmã e meu irmão estão mais propensos a anular o voto."

Mas Rodrigues não tem ilusões: acha que os políticos são indiferentes ao voto nulo e não entendem isso como protesto. "Os caras fazem carreira e acabam perdendo a essência do que é ser servidor público", critica. A mudança, defende o professor, tem de partir do eleitor, que precisa rever suas atitudes. "Não existe salvador da pátria."

Mais escolaridade, menos nulos

Com base nos dados das eleições presidenciais de 2014, a reportagem cruzou informações de votos nulos, brancos e abstenção por zonas eleitorais nos dois maiores colégios eleitorais do país --as capitais São Paulo e Rio de Janeiro-- com dados de escolaridade dos eleitores informados pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) nas duas cidades. O resultado mostra que, de forma geral, quanto maior o índice de escolaridade de determinada zona eleitoral, menor é a porcentagem de votos nulos e brancos.

Na capital paulista, eles se concentraram no leste e extremo leste da cidade, em zonas eleitorais do Jardim Helena, Guaianases e Itaquera. No Rio de Janeiro, se concentraram na zona oeste, nos bairros de Santa Cruz, Bangu e Campo Grande. Regiões mais centrais, como Itaim Bibi e Pinheiros, no caso de São Paulo, e Jardim Botânico e Copacabana, no Rio, sediam zonas eleitorais com as menores taxas de votos brancos e nulos.

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Abstenção maior em regiões centrais

Quando o critério é abstenção, o cenário tende a ser o contrário: zonas eleitorais localizadas em bairros mais centrais registraram maiores taxas de abstenção, enquanto regiões afastadas do centro expandido das duas cidades tiveram zonas eleitorais com baixo índice de abstenção.

Em São Paulo, Santa Ifigênia, Bela Vista e Itaim Bibi registraram maior não comparecimento, enquanto Guaianases e Vila Curuçá, na zona leste da capital, tiveram os menores índices. No Rio, três zonas eleitorais de Copacabana, na zona sul, registraram índices ao redor de 30% de abstenção na disputa presidencial de 2014. Os mesmos bairros da zona oeste com maiores concentrações de votos nulos e brancos --Bangu, Santa Cruz e Campo Grande-- são os que registraram menores taxas de abstenção na cidade.

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