Como fica a CLT em 2019

O UOL pinçou as promessas dos presidenciáveis sobre leis trabalhistas e as submeteu à análise de especialistas

Guilherme Azevedo Do UOL, em São Paulo

A reforma trabalhista proposta pelo presidente Michel Temer (MDB) e aprovada pelo Congresso Nacional em 2017 motivou a indignação e o protesto de centrais sindicais e de trabalhadores em todo o Brasil, mas foi comemorada pelo empresariado.

Nas palavras do governo e de empresários, trata-se da "modernização" necessária das leis do trabalho, que estariam incompatíveis com os novos tempos do emprego e travariam o desenvolvimento econômico do país. Por isso, seria obrigatória.

Na visão dos trabalhadores e sindicalistas, entretanto, a reforma é o fim, na prática, de direitos consagrados pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e o maior retrocesso da história na proteção ao emprego e ao trabalhador.

A prevalência do acordado sobre o legislado, isto é, do acordo entre empregador e trabalhador sobre o que diz a lei, é a base fundamental da mudança.

Por sua importância central sobre a geração de empregos e de riquezas, o UOL procurou todos os candidatos a presidente da República e os questionou sobre como vão agir diante das novas leis trabalhistas. Vão mantê-las? Aprofundá-las? Revogá-las?

E a contribuição sindical obrigatória, que foi extinta pela reforma? Vão propor a sua volta? Como financiar sindicatos? 

Alguns defendem a reforma trabalhista como foi aprovada pelo governo Temer e ainda planejam aprofundá-la, como Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL); outros prometeram revogá-la, como Lula (PT) e Ciro (PDT).

Dos 13 candidatos a presidente confirmados em convenção partidária, dez enviaram suas posições sobre os temas. Bolsonaro, Alckmin e Cabo Daciolo (Patriota) não responderam aos pedidos da reportagem. No caso deles, checamos suas falas ao longo das últimas semanas à imprensa e em eventos públicos.

Depois, submetemos as propostas para análise e comentário de três economistas, que são especialistas em reformas e políticas públicas. São eles: Eduardo Zylberstajn, Paulo Roberto Feldmann e Vander Mendes Lucas.

Veja abaixo o que os candidatos a dirigir o Brasil falaram e as avaliações feitas pelos especialistas. Você pode clicar no nome de cada um dos candidatos para ir direto às suas propostas.

Os economistas

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Eduardo Zylberstajn

Doutor em economia, é professor da FGV/EESP (Fundação Getulio Vargas/Escola de Economia de São Paulo) e coordenador de pesquisas da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

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Paulo Feldmann

Doutor em administração, é professor da FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo) e pesquisador de inovações, organização e produtividade nas empresas.

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Vander Mendes Lucas

Doutor em economia, é coordenador, na UnB (Universidade de Brasília), da Pós-Graduação Profissional do Departamento de Economia e do Mestrado Profissional em Economia do Setor Público.

Ricardo Borges/UOL Ricardo Borges/UOL

Avanço que precisa de ajustes

Alvaro Dias (Podemos). Vice: Paulo Rabello de Castro (PSC)

A reforma trabalhista representou avanço para a economia brasileira ao atualizar legislação com mais de 80 anos. O atraso pode ser constatado pelos 4 milhões de ações trabalhistas em 2016. Superar esse alto grau de judicialização foi mérito inegável. Além disso, a lacunosa CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) foi modernizada. Passou a tratar das novas formas de contratação e organização do trabalho, as novas tecnologias, bem como estabeleceu marcos regulatórios claros e seguros para negociação coletiva, terceirização, teletrabalho, trabalho intermitente, entre outras.

Entretanto, apesar de seu incontestável sucesso, não podemos desconsiderar que existiam pontos que mereceriam a modificação do Senado Federal. De fato, os senadores apresentaram mais de 600 emendas. Havia consenso entre os senadores de que a aprovação de alguns pontos era imprescindível. Assim, o governo se comprometeu a enviar medida provisória que alterasse tais itens, caso contrário a reforma não passaria sem retornar à Câmara. Alguns senadores acreditaram nessa ação e aceitaram dar o cheque em branco para o governo federal. Porém, após aprovada a reforma, o governo demorou bastante a enviar a medida provisória (MPV 808/17). Entretanto, essa MPV perdeu sua eficácia em 23 de abril de 2018 sem que o governo tivesse se empenhado pela sua aprovação.

Assim, serão necessários ajustes pontuais e restritos na reforma trabalhista a fim de trazer à discussão pontos que estavam na MPV e foram acordados com os senadores.

Destacam-se os pontos relativos à empregada gestante, à empregada lactante, à contratação do autônomo e ao trabalho intermitente. Ajustes na margem que preservem o espírito da lei e quem sabe até mesmo outras modificações que sirvam para aumentar a segurança jurídica e a produtividade da economia.

Contribuição sindical

Não defendo a volta do imposto sindical.

Discurso um pouco confuso, mas concordo com o diagnóstico de que há ajustes pontuais a serem feitos. É importante que o país defina, de uma vez por todas, a questão do financiamento sindical. A extinção do imposto obrigatório levou muitos sindicalistas e alguns candidatos a apresentarem ideias ruins. A próxima legislatura muito possivelmente terá de voltar ao tema. Posicionar-se contra o imposto não esgota o tema: sindicatos fortes e viáveis são importantes, então quais são as propostas para o financiamento deles? Deixar tudo como está ou aceitar alguma das ideias que estão sendo colocadas?

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

Não é tão certo que a reforma tenha sido um avanço. Muitos acham o contrário. Havia, sim, a necessidade de diminuir o número de processos na Justiça, mas nem isso vai acontecer de forma significativa. Quem é contra o imposto sindical deve propor medidas para substituí-lo.

Paulo Feldmann, professor da USP

Alvaro Dias diz que fará alterações e cita alguns pontos que pretende trazer à discussão, mas não explica o que alterará nesses pontos. Alerta que promoverá reformas que levem a ganhos de produtividade na economia brasileira, e esse ponto é muito importante, visto que vários estudos mostram que temos perdas de produtividade da mão de obra no Brasil, principalmente devido ao ônus que a legislação trabalhista traz às empresas brasileiras.

Vander Mendes Lucas, professor da UnB

Reprodução/Facebook @depudadocabodaciolo Reprodução/Facebook @depudadocabodaciolo

Cruzada com Deus

Cabo Daciolo (Patriota). Vice: Suelene Balduíno Nascimento (Patriota)

Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos, o Cabo Daciolo, votou, como deputado federal pelo Rio de Janeiro, contra a reforma trabalhista do governo Temer.

Em texto divulgado em suas redes sociais alguns meses antes, Daciolo atacava Temer e outros políticos acusados de corrupção pela Operação Lava Jato, dizendo que não tinham "legitimidade" para propor reforma trabalhista, da Previdência ou qualquer outra reforma. "Não há MORAL e ÉTICA no Congresso Nacional e no governo de Michel Temer. FORA TODOS ELES!", escreveu.

Porém, ainda não está certo se o candidato fará esforços para revisar ou mesmo tentar revogar as novas leis que regem o mercado de trabalho no Brasil, no caso de eleito.

Em discurso na convenção que formalizou sua candidatura à Presidência, Cabo Daciolo prometeu levar desenvolvimento ao "povo": "Vamos libertar o nosso povo, nosso povo vai deixar de ser colônia e vai ser nação. Vamos parar de mandar matéria-prima e mandar material manufaturado. Vamos produzir no Brasil".

O candidato afirmou que, em dois meses, conseguiria acabar com o desemprego no Brasil, garantindo empregos a todos, mas não especificando como pretende alcançar isso. "Eu sirvo Deus às causas impossíveis", disse à plateia da convenção o candidato do Patriota, partido ligado à Assembleia de Deus.

Cabo Daciolo, que é bombeiro reformado, falou que, assim que assumir, convocará todos os desempregados a irem aos quartéis das Forças Armadas, onde vão se alimentar, se capacitar e se qualificar.

Contribuição sindical

O candidato ainda não se posicionou sobre o imposto sindical, embora seja contrário à reforma que o extinguiu.

Desemprego não acaba com canetadas. O Brasil tem inúmeros exemplos históricos de tentativas esdrúxulas de soluções simples para problemas complexos. Esse discurso simplista do candidato só atrapalha o bom debate.

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

ALICE VERGUEIRO/ESTADÃO CONTEÚDO ALICE VERGUEIRO/ESTADÃO CONTEÚDO

É preciso rever selvagerias

Ciro Gomes (PDT). Vice: Kátia Abreu (PDT)

É preciso deixar claro que não sou contra reformar o Brasil, acho que precisamos de reformas. No entanto, sou contra essa reforma que foi aprovada pelo governo Temer e que permite algumas selvagerias, por exemplo, que um patrão descuidado coloque uma mulher grávida para trabalhar em ambiente insalubre. Portanto, essa reforma, do jeito que foi aprovada, será revogada e vamos recolocar a questão em pauta, dialogando de forma transparente com trabalhadores e com o setor produtivo para encontrar soluções que sejam mais justas para todos os segmentos.

Contribuição sindical

Entendemos que a contribuição sindical obrigatória deve voltar, mas ainda estamos analisando qual seria o novo formato.

A proposta mexeu em muitos temas da legislação trabalhista e o candidato menciona apenas um caso, que já tem formado razoável consenso de que deve ser alterado (o das grávidas em ambiente insalubre). O candidato diz que é contra essa reforma e que será revogada, mas então, quais seriam as mudanças que ele defende? Importante lembrar que a materialização de investimentos sempre depende de previsibilidade; discursos sem conteúdo como esse aumentam a insegurança da população. Sindicatos são muito importantes para o bom funcionamento do mercado de trabalho. Obviamente, os sindicatos devem ter alguma fonte de financiamento. A contribuição obrigatória tem algum sentido se pensarmos no chamado "efeito carona": dependendo do que está na legislação, os trabalhadores são beneficiados pela atuação do sindicato mesmo se não contribuírem --e assim ninguém tem incentivos para contribuir. Por outro lado, o que existia antes no país deixava os sindicatos em situação muito confortável: imposto obrigatório e unicidade sindical --um monopólio criado pelo Estado. Se o candidato defende a obrigatoriedade da contribuição, sugiro que se posicione também em relação a essa questão da unicidade. O trabalhador vai poder escolher para onde vai o seu dinheiro?

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

Realmente a nova lei criou situações de selvageria como o candidato descreve. Faz-se necessária uma nova discussão para que muitos outros pontos como esse sejam revistos. Mas não acho necessário revogar toda a reforma, basta aperfeiçoar alguns aspectos dela. Parece que nenhum candidato consegue propor nada para o lugar da contribuição sindical.

Paulo Feldmann, professor da USP

Ciro Gomes fala em alterar as reformas iniciadas, mas não cita quais pontos serão retomados para as discussões.

Vander Mendes Lucas, professor da UnB

Dida Sampaio/Estadão Conteúdo Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Aprofundar mudanças

Geraldo Alckmin (PSDB). Vice: Ana Amélia (PP)

O candidato do PSDB à Presidência tem afirmado que não vai adotar medidas de revisão da reforma trabalhista aprovada pelo governo Temer. "Trabalhei muito por ela", disse, por exemplo, em encontro com empresários mineiros durante a pré-campanha.

O ex-governador de São Paulo, entretanto, abre a possibilidade de aprofundar a reforma, de modo a contemplar (e minimizar, conforme o caso) o impacto da tecnologia sobre o emprego e a renda.

Outra proposta em estudo por Alckmin é a própria extinção do Ministério do Trabalho, com base no entendimento de que "um governo deve sair o máximo que ele puder" da economia.

O tucano também defende a instituição de um "marco regulatório" para diminuir o número de sindicatos e, assim, deixar em atividade apenas os "sindicatos que realmente trabalham pela classe dos trabalhadores".

Contribuição sindical

O candidato é contra a contribuição sindical obrigatória e não proporá o seu retorno. "Imposto sindical é absurdo. O Brasil tem 17 mil sindicatos, 11,5 mil sindicatos de trabalhadores e 5,7 mil sindicatos patronais. [O imposto] não voltará, nós somos contra", afirmou em sabatina na TV.

Os debates sobre os impactos da tecnologia no emprego e como proteger os trabalhadores afetados por ela estão na pauta em diversos países. É saudável que essa questão chegue ao debate por aqui --mas seria importante que o candidato detalhasse melhor suas ideias sobre o tema. A questão sobre a contribuição sindical certamente voltará ao debate na próxima legislatura, então seria importante equacioná-la de forma definitiva. Alguns sindicatos propõem que uma assembleia, mesmo com baixo quórum, possa estabelecer a contribuição para toda a categoria. O candidato concorda com isso? Haverá algum dispositivo legal proibindo/permitindo esse tipo de contribuição?

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

Ou seja, Alckmin vai manter os absurdos que existem na lei, mas a proposta de discutir o impacto da tecnologia [sobre o emprego] é boa. Marco regulatório para sindicatos também é bom, desde que seja para sindicatos de trabalhadores e também de patrões. Se não for representativo, não deveria existir.

Paulo Feldmann, professor da USP

Renato Cerqueira/Estadão Conteúdo Renato Cerqueira/Estadão Conteúdo

Resgatar direitos

Guilherme Boulos (PSOL). Vice: Sônia Guajajara (PSOL)

Venho dizendo desde o início da campanha: no primeiro dia de governo, vamos convocar a população a votar, por meio de um plebiscito, sobre o conjunto de retrocessos aprovados no governo ilegítimo de Michel Temer. Com o desemprego em disparada e a qualidade de vida despencando, não temos dúvidas de que as pessoas querem o fim da emenda 95, da reforma trabalhista e de tantas outras medidas que fizeram o Brasil retroceder 20 anos em dois.

A reforma trabalhista aprovada por Temer rasgou e jogou no lixo uma das maiores conquistas dos trabalhadores brasileiros, a CLT, e praticamente legalizou a submissão aos patrões. Resultado direto desse disparate foi a queda brutal de ações trabalhistas no país. Com medo de precisarem pagar os honorários e custos do processo, milhares de trabalhadores que podem ter reclamações ou denúncias reais recuam e não recorrem à Justiça. O saldo final será um cenário mais injusto e precarizado para o trabalhador e com salários cada vez menores.

Queremos aumentar a segurança do trabalhador, reforçando o conceito de que os direitos dos trabalhadores são inegociáveis e não podem ser entendidos como privilégios. Enquanto a reforma não for revogada, vamos atuar para que a interpretação e efetivação da reforma bloqueiem a continuidade das medidas contidas no projeto.

As mudanças são infraconstitucionais e podem ser classificadas como inconstitucionais. A efetivação irá depender da capacidade de ação do movimento sindical em assegurar, por meio das negociações, que os direitos retirados permaneçam nos instrumentos normativos (convenções e acordos coletivos). Isso requer a defesa e o fortalecimento do sindicalismo, assim como a melhoria das condições de organização dos trabalhadores informais e precários, não sindicalmente representados.

Vamos ter como norte de governo o combate à precarização e à burla (promovida pelas diversas formas de relação de emprego disfarçada). Também, às demissões imotivadas, contra a alta rotatividade. Vamos aplicar um pacote de medidas para restringir o alcance da terceirização, culpada pela redução de salários e direitos e por diminuir a capacidade de resistência sindical.

Contribuição sindical

A legislação precisa ser aprimorada e propomos que essas mudanças sejam discutidas com as categorias. Os trabalhadores têm de ser chamados a opinar. O que não pode é enfraquecer todos os sindicatos, que exista essa "demonização" até da palavra. Os sindicatos existem no mundo todo e são um organismo fundamental para a organização e ação na defesa dos direitos dos trabalhadores. Ficou ainda mais escancarado com essa reforma trabalhista que o funcionário, sozinho, não tem nenhuma condição de negociar com o patrão. Ele sempre vai perder. Agora, é fundamental também que tenhamos como compromisso combater más práticas e uso indevido de recursos públicos. O melhor caminho são a fiscalização e a transparência na gestão e nas contas.

Não acredito que a melhor forma de resolver questões complexas como essa seja através de plebiscitos ou referendos. O povo elege seus congressistas exatamente para que possam legislar. A reforma trabalhista não extinguiu direitos dos trabalhadores. Pelo contrário, ela deu um direito a mais a eles: o de negociar a melhor forma de usar os seus direitos garantidos pela CLT e pela Constituição. O candidato também usa algumas expressões perigosas em seu discurso. O que ele quer dizer com a "interpretação" da lei? A insegurança jurídica no Brasil já é frequentemente apontada como uma das principais causas para o elevadíssimo "custo Brasil". Devemos caminhar no sentido de diminuir essa insegurança, não aumentá-la. Concordo com a questão do combate à burla, promovida por relações de emprego disfarçadas. Mas combater isso apenas fiscalizando parece ser difícil. O ideal seria atacar essa questão com alterações no regime tributário, de forma a desincentivar os famosos PJs. Não devemos mesmo demonizar os sindicatos. Mas também não devemos dar a eles monopólios e receita cativa. Competição é sempre um bom caminho.

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

O candidato parece querer a volta aos idos de 1940, quando a CLT foi criada. Naquela época, realmente não existia terceirização, mas hoje ela é um fato real vital para as economias em todos os países. É vago sobre a questão da contribuição sindical.

Paulo Feldmann, professor da USP

O candidato é mais incisivo e negativo quanto à reforma trabalhista iniciada por Michel Temer, mas não são claras suas posições, bem como são dúbios alguns impactos negativos que ele diz que acontecerão se tais reformas forem à frente. Por exemplo, associa a queda nas ações trabalhistas às medidas trabalhistas recentes e que isso tem característica ruim para o setor. Pelo contrário, tal redução tem característica positiva pelo fato de maiores possibilidades de negociações setoriais, bem como pela possibilidade de penalização do trabalhador (podendo assumir o ônus advocatício da causa), caso entre na Justiça de maneira inidônea. Ele alega que o crescimento da terceirização tem levado à queda dos salários, mas estudos mostram que a queda é devida à recessão econômica forte por que passa a economia, bem como sua lenta recuperação nesses últimos anos. Boulos fala sobre o fim dos sindicatos, mas o fim do imposto obrigatório tende a levar à existência de sindicatos fortes e representativos de fato.

Vander Mendes Lucas, professor da UnB

Fátima Meira/FuturaPress/Estadão Conteúdo Fátima Meira/FuturaPress/Estadão Conteúdo

Pelo fim do monopólio sindical

Henrique Meirelles (MDB). Vice: Germano Rigotto (MDB)

Sou totalmente a favor da reforma trabalhista. Ela moderniza as relações de trabalho; valoriza as negociações, na medida em que retira da Justiça do Trabalho o poder de interferir nas cláusulas negociadas entre empregadores e trabalhadores (exceto naquelas que estão explicitadas na Constituição); permite a negociação da jornada de trabalho; cria o contrato intermitente e o contrato com jornada parcial, o que irá favorecer o emprego de jovens e mulheres com filhos pequenos que, muitas vezes, preferem trabalhar tempo parcial; cria a possibilidade de o trabalhador arcar com parte dos custos advocatícios da empresa caso sua demanda seja considerada não pertinente e de má-fé.

Minha avaliação é que a reforma deveria ser aprofundada com o fim do monopólio da representação sindical (que está na Constituição) e tornar os contratos coletivos válidos apenas para os trabalhadores filiados aos sindicatos que os negociam e assinam. Esta é uma forma de incentivar os trabalhadores a se filiarem aos sindicatos que efetivamente defendem seus direitos e reforçar o estímulo para que os sindicatos defendam os trabalhadores a eles filiados.

Contribuição sindical

Sou a favor do fim da contribuição sindical obrigatória, um resquício do Estado Novo fascista dos anos 40 do século passado. Os sindicatos devem ser financiados voluntariamente por seus associados. Somente assim terão o incentivo para defender os interesses dos trabalhadores nas negociações coletivas.

Concordo com o candidato, especialmente no que diz respeito ao fim do monopólio sindical.

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

O candidato só mostra os aspectos positivos da nova lei e omite totalmente os aspectos negativos. A proposta de contribuição social voluntária é ingênua ou mal-intencionada, pois evidentemente não funcionaria.

Paulo Feldmann, professor da USP

A CLT normatizou o mercado de trabalho em vários pontos e várias destas regras trabalhistas levam ao aumento dos custos com a mão de obra. Há estudos que mostram que, para cada R$ 1.000 que se pagam de salários, se pagam aproximadamente outros R$ 1.000 na forma de contribuições e impostos. Com isso, a demanda por esta mão de obra naturalmente se retrai, levando a menos contratações e também a menores salários. Em situações de concorrência, estes menores salários estão associados a baixas produtividades.

Vander Mendes Lucas, professor da UnB

Renato S. Cerqueira/FuturaPress/Estadão Conteúdo Renato S. Cerqueira/FuturaPress/Estadão Conteúdo

EUA como modelo

Jair Bolsonaro (PSL). Vice: Hamilton Mourão (PRTB)

O candidato do PSL votou, como deputado federal, pela aprovação da reforma trabalhista proposta pelo governo Temer, que saiu vitoriosa e está em vigor. À imprensa e em eventos públicos, Bolsonaro tem defendido que a reforma de Temer seja aprofundada e que as leis trabalhistas no Brasil devam "beirar a informalidade".

Se eleito presidente, disse que pretende implementar no país "algo parecido com o que ocorre nos Estados Unidos" --onde empresas e funcionários negociam diretamente, sem a predominância de acordos coletivos entre patrões e sindicatos.

Para o candidato, o aprofundamento da flexibilização das relações entre patrão e empregador teria como grande benefício a redução do desemprego no país. "É melhor ter menos direito e emprego do que todos os direitos e desemprego", declarou em debate e sabatinas na TV.

Contribuição sindical

O candidato não proporá o retorno da contribuição sindical obrigatória, extinta pela reforma trabalhista. Como deputado, Bolsonaro trabalhou pelo fim do imposto sindical, apoiando projeto apresentado por um dos seus filhos, o também deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Em junho deste ano, Bolsonaro pai comemorou a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que considerou constitucional o fim da obrigatoriedade da contribuição. “O brasileiro respira aliviado com a decisão do STF pela não obrigatoriedade do imposto sindical? Sim, mas ainda é muito pouco para quem trabalha grande parte do ano só para pagar tributos e sustentar a máquina corrupta que não traz retorno algum para nosso país”, declarou o candidato por meio de suas redes sociais.

Há que se ter cuidado com o discurso de desregulamentação completa do mercado de trabalho. Se, por um lado, o Brasil tem excesso de tributação e regulamentação do emprego, por outro lado, não devemos cair na ilusão de que a informalidade resolveria nossos problemas.

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

A ideia de Bolsonaro de que as regulações trabalhistas devam beirar a informalidade é perversa, porque só vai beneficiar as empresas. Nos sindicatos realmente há negociação entre empresas e sindicatos de trabalhadores da própria empresa. Mas isso só funciona para empresas gigantes e nos Estados Unidos. Quer acabar com a contribuição sindical e não propõe nada no lugar. Como vão sobreviver os sindicatos?

Paulo Feldmann, professor da USP

Bolsonaro fala sobre o aumento da informalidade no mercado de trabalho devido à forte legislação trabalhista, e há alguns estudos mostrando que isso é verdade, principalmente pelos altos custos que a formalidade traz ao setor.

Vander Mendes Lucas, professor da UnB

BRUNO ROCHA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO BRUNO ROCHA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Salário = horas trabalhadas

João Amoêdo (Novo). Vice: Christian Lohbauer (Novo)

A reforma trabalhista aprovada pelo Congresso foi um avanço. Vamos mantê-la. Além disso, para termos uma economia mais ágil, que funcione melhor para empreendedores e trabalhadores, propomos uma nova modalidade de contratação trabalhista, o Salário Dinâmico.

Dessa maneira, empresas que quiserem criar vagas com carga de trabalho variável deverão oferecer duas modalidades de contratação: a tradicional, com base na CLT, e a modalidade Salário Dinâmico, variável pela quantidade de horas trabalhadas e com todos os benefícios negociáveis. Caberá assim ao trabalhador decidir entre a estabilidade com benefícios da CLT e a remuneração superior do Salário Dinâmico.

Contribuição sindical

Não. A contribuição deve ser extinta por ir na contramão do dinamismo da economia. O contribuinte não deve ser obrigado a injetar recursos em sindicatos. Deve ser uma contribuição voluntária apenas. Além disso, propomos o fim da unicidade sindical por meio de uma emenda constitucional. O modelo atual de monopólio favorece mais o interesse dos sindicalistas do que o dos trabalhadores. Introduzir concorrência entre diferentes sindicatos tenderia a cortar privilégios e fortaleceria a representatividade dos trabalhadores.

Tornar o salário dinâmico teria a vantagem de permitir que, em crises como a atual, o ajuste do mercado de trabalho não fosse quase que integralmente no emprego (o desemprego "explodiu", mas o salário médio dos empregados variou muito pouco). Por outro lado, há casos em que o poder de barganha maior dos empregadores, em comparação com o dos empregados, pode piorar o funcionamento do mercado, caso o salário possa ser reduzido livremente. Concordo com essa visão [sobre a contribuição sindical].

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

Proposta para complicar ainda mais a vida de todos é a do Salário Dinâmico. Não tem cabimento a proposta de concorrência entre sindicatos. O candidato confunde completamente as coisas. A força dos sindicatos tem que vir da sua representatividade.

Paulo Feldmann, professor da USP

Parte do desemprego no Brasil deve-se aos altos ônus trabalhistas, fazendo com que a informalidade seja elevada. Com isso, esta proposta de se criar uma forma de contratação alternativa (Salário Dinâmico) pode absorver boa parte desta mão de obra ativa, porém desempregada. Tal proposta vai ao encontro das novas dinâmicas verificadas em vários setores de economias modernas. Isso poderia levar a ganhos de produtividade nesses setores.

Vander Mendes Lucas, professor da UnB

Juliana Santos/Divulgação/Câmara de João Pessoa Juliana Santos/Divulgação/Câmara de João Pessoa

Importante é o bem-estar

João Goulart Filho (PPL). Vice: Léo Alves (PPL)

Somos contra a reforma trabalhista do governo Temer. Em nossa opinião, essa "reforma" não objetivou modernizar as relações de trabalho, como se apregoava. Ela teve como meta principal retirar direitos trabalhistas conquistados ao longo de muitas décadas pelos trabalhadores e pelo país.

Inclusive, o pretexto para fazer a reforma de que, com ela, haveria aumento dos empregos foi desmascarado pela realidade. Entre desempregados e subempregados, já são 27,7 milhões de atingidos e a situação segue piorando, segundo dados do IBGE.

As medidas tomadas com a "reforma" visaram fragilizar as relações de trabalho e reduzir os salários. O trabalho intermitente, as terceirizações de atividades fins, a definição de que o acordado estará acima do legislado, a cobrança de custas de processos trabalhistas, a redução de horas de almoço, limitação de proteção às trabalhadoras grávidas e outras medidas significam prejuízos para os trabalhadores. Essas medidas só pioram a economia ao contrair ainda mais o já reduzido mercado interno brasileiro. Os empresários precisam entender que, sem mercado interno, o país e a economia e, consequentemente, eles não avançam.

Vamos revogar a reforma trabalhista. As medidas que vamos tomar para reformar de verdade as relações de trabalho terão como eixo central a ampliação do bem-estar dos trabalhadores, a melhoria salarial --para que o país possa se desenvolver baseado em seu mercado interno-- e o fortalecimento da organização dos trabalhadores. Vamos rever também a legislação que autorizou as empresas a terceirizarem a mão de obra nas atividades fins e facilitarem a "pejotização", ou seja, a contratação de pessoas como pessoas jurídicas.

Contribuição sindical

Somos a favor da contribuição sindical obrigatória. Ela foi uma conquista do sindicalismo e do trabalhismo brasileiros e deve ser restabelecida. A sua revogação visou enfraquecer o movimento sindical brasileiro para melhor aplicarem as medidas de arrocho salarial e de perdas de direitos.

Vejo a possibilidade de terceirização como positiva para a economia e não consigo identificar quais direitos foram extintos com a reforma trabalhista. O candidato que diz que a reforma extinguiu direitos deveria apontar quais foram extintos. Há que se ter sindicatos fortes, sem dúvida. Mas o monopólio sindical, com receita garantida por lei, enfraquece a atuação deles --pois não incentiva os sindicatos a buscarem a melhor representação.

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

O candidato critica alguns aspectos, mas não propõe nada novo no lugar e cita uma utopia, que é a de melhorar o bem-estar do trabalhador. Claro que todos querem isso, mas como? Quer a volta da contribuição sindical, o que vai levar a desmandos e mau uso [do dinheiro arrecadado], como se viu nesses últimos anos.

Paulo Feldmann, professor da USP

Ze Carlos Barretta/Folhapress Ze Carlos Barretta/Folhapress

Serviço pela metade

José Maria Eymael (PSDC). Vice: Helvio Costa (PSDC)

A reforma trabalhista não tocou nas grandes conquistas para os trabalhadores, decorrentes de propostas que propus, defendi e aprovei na Assembleia Nacional Constituinte, como o Aviso Prévio Proporcional ao Tempo de Serviço e no mínimo 30 dias.

Contribuição sindical

De outro lado, a meu ver, a reforma trabalhista errou ao não estabelecer um gradualismo na extinção do chamado imposto sindical. Registre-se nesse sentido que, ao aprovar a reforma trabalhista, o governo garantiu que posteriormente faria ajustes mediante medida provisória, sendo um dos ajustes, exatamente, a extinção gradual da contribuição sindical, o que não ocorreu.

É verdade. A reforma trabalhista não retirou direitos dos trabalhadores, ao contrário do que alguns candidatos dizem. Ela apenas permitiu que os trabalhadores negociassem a melhor forma de utilizar esses direitos.

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

O candidato não trata da reforma, mas de coisas que fez há 30 anos. Insiste em que a contribuição sindical deveria ter sido extinta de forma gradual, o que daria na mesma e não resolveria nenhum dos atuais problemas.

Paulo Feldmann, professor da USP

Nelson Almeida/AFP Nelson Almeida/AFP

Sai reforma, entra Estatuto

Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Vice: Fernando Haddad (PT)

O candidato do PT vai propor a revogação da reforma trabalhista de Temer. "Ao introduzir a terceirização irrestrita, aprovar a reforma trabalhista e impor um cardápio de contratos precários de trabalho, o governo golpista desequilibrou as relações entre capital e trabalho, em favor dos empresários, e precarizou ainda mais o trabalho", conforme consta do programa de governo de Lula.

Para os petistas, "se faz fundamental promover um amplo debate com a sociedade acerca das relações trabalhistas do futuro, em uma economia que crescentemente se concentra no setor de serviços e demanda novas formas de organização e regulação".

No lugar das novas leis trabalhistas, Lula propõe o Estatuto do Trabalho, "produzido de forma negociada" e "em linha com as novas exigências de organização da produção do futuro com mais produtividade".

Segundo a proposta petista, será incentivada a "reformulação e ampliação do sistema de formação ao longo da vida laboral dos trabalhadores", e os sindicatos e associações de trabalhadores e empresários terão papel fundamental na preparação para a qualificação e requalificação para o trabalho.

De acordo com o plano, também se fará a reorganização dos fundos sociais existentes para criar uma nova política de proteção durante a vida laboral dos trabalhadores.

O plano de Lula é ainda fortalecer e profissionalizar os pequenos negócios e criar rede de apoio à economia social e solidária, manter política de valorização do salário mínimo e promover o debate para a redução da jornada de trabalho.

Contribuição sindical

O candidato do PT defende a volta da contribuição sindical obrigatória, que considera instrumento de fortalecimento da representação sindical e de luta dos trabalhadores.

O termo "precarizar" o trabalho é vago. Situação precária é não ter emprego. As novas modalidades de contratação dão mais opções aos trabalhadores, especialmente àqueles que desejam trabalhar em regimes diferentes das tradicionais 44 horas semanais. Há estudantes, jovens, idosos e mães com filhos pequenos que passam a ter mais opções --por que justo o Partido dos Trabalhadores pensa em restringir a liberdade dessas pessoas? Quais trabalhadores ele está protegendo? Aproximar as empresas da qualificação dos trabalhadores é uma boa ideia, mas a implementação não é fácil e deveria ser mais bem detalhada. Ao invés de fortalecer os pequenos negócios, seria melhor pensar em criar condições para que os pequenos negócios cresçam e se tornem grandes (e, portanto, mais produtivos).

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

Algumas colocações são corretas, como a de que a reforma precarizou ainda mais o trabalhador. Mas o candidato não faz propostas claras de mudanças, apesar de que promover ampla discussão sobre uma nova lei possa ser algo efetivo. Também inova ao propor um sistema de formação complementar aos trabalhadores. Entretanto, defender a volta da contribuição sindical significa incidir na volta do modelo sindical antigo, que já provou que não funciona.

Paulo Feldmann, professor da USP

A proposta de reforma de fundos sociais já existentes não é clara, mas fundamental, principalmente, se impactar na redução dos custos trabalhistas com que as empresas arcam atualmente. A proposta de valorização do salário mínimo não é nova, pois já foi praticada pelo PT em períodos recentes e seus efeitos danosos no mercado de trabalho também foram verificados. Em suma, reajustes salariais acima dos ganhos de produtividade, como verificamos no Brasil em tempos recentes, só levam a perdas de poder aquisitivo devido à elevação inflacionária e aumento do desemprego, pois ficamos com salários mínimos acima dos salários reais da economia. E também à elevação do déficit da Previdência, pois é o governo o pagador desses reajustes aos aposentados e pensionistas recebedores de salários mínimos mensais.

Vander Mendes Lucas, professor da UnB

Rodrigo Ziebell/Estadão Conteúdo Rodrigo Ziebell/Estadão Conteúdo

Garantir acesso à Justiça

Marina Silva (Rede Sustentabilidade). Vice: Eduardo Jorge (PV)

A candidata à Presidência da República pela Rede Sustentabilidade, Marina Silva, defende a modernização da legislação trabalhista e não pretende revogar a medida. No entanto, Marina avalia que a reforma aprovada tem pontos inaceitáveis que serão submetidos à revisão em seu governo.

Para a pré-candidata, o trabalhador de baixa renda, por exemplo, precisa ter garantias de acesso à Justiça do Trabalho para buscar seus direitos. A lei também deve proteger as mulheres grávidas do trabalho insalubre, diz Marina.

Contribuição sindical

A candidata é favorável ao fim do imposto sindical, prega a rediscussão do sistema S, mas considera que é preciso buscar formas de financiamento dos sindicatos para que as entidades não fiquem fragilizadas. Em sabatina e em debate na TV, Marina destacou a necessidade urgente de correção da legislação devido à insegurança jurídica gerada pela reforma. "Vou corrigir os pontos draconianos, pode ter certeza", afirmou.

De fato, há alguns pontos que merecem ajustes na reforma. Mas há que se ter clareza naquilo que se está propondo. Seria importante se a candidata indicasse como pretende garantir acesso do trabalhador de baixa renda à Justiça do Trabalho --talvez o ideal fosse criar mecanismos para que os conflitos (naturais nas relações de trabalho) pudessem ser resolvidos de forma justa, mas sem a necessidade do Estado. Para isso, sindicatos fortes, atuantes e próximos ao dia a dia das empresas são fundamentais. Quais são os pontos draconianos? O discurso vago de uma potencial presidente também cria insegurança.

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

A candidata Marina levanta pontos relevantes que precisam ser realmente alterados, mas é vaga quando propõe novas formas de financiamento aos sindicatos no lugar da contribuição sindical.

Paulo Feldmann, professor da USP

Marina Silva fala em melhorar alguns pontos da reforma, mas não explicita quais as razões das mudanças nem os impactos que se esperam com estas melhoras.

Vander Mendes Lucas, professor da UnB

Reprodução/Facebook @verapstu Reprodução/Facebook @verapstu

Jornada menor, salário igual

Vera Lúcia (PSTU). Vice: Hertz Dias (PSTU)

Nossa primeira medida no governo vai ser revogar a reforma trabalhista. Essa reforma tem o único objetivo de precarizar ainda mais o trabalho em benefício do aumento da exploração e do lucro dos empresários. É um profundo ataque aos trabalhadores sob a falácia de que direitos trabalhistas geram desemprego. Onde é que permitir que mulheres grávidas trabalhem em ambientes insalubres abre vagas de emprego? Onde é que cercear o acesso à Justiça do Trabalho combate desemprego? É um argumento cínico e mentiroso dizer que retirar direitos gera empregos.

Um mantra exaustivamente repetido pelos grandes empresários, por boa parte da imprensa e por candidaturas que vão de Bolsonaro, que disse no programa "Roda Viva" que o trabalhador rural não tem que ter feriado, e Alckmin, que defende integralmente essa reforma --o PSDB foi relator da proposta aprovada no Congresso Nacional-- ao PT, que defende modernizar as relações de trabalho e fortalecer as negociações, mesma coisa que Temer fala.

E já estamos vendo na prática os efeitos dessa reforma. Ao contrário do que prometeram, o desemprego não diminuiu, pelo contrário. Perdemos meio milhão de vagas com carteira assinada no último ano, segundo o IBGE.

Para combater o desemprego, defendemos a redução da jornada de trabalho sem redução dos salários, a fim de abrir mais postos de trabalho. Não é possível que as empresas, que se beneficiaram por anos com isenções e benefícios fiscais, agora joguem os efeitos da crise nas costas dos trabalhadores. As empresas que insistirem em demitir serão estatizadas e colocadas sob controle dos trabalhadores, assim como as 100 maiores empresas que atuam no Brasil, em grande parte multinacionais, que faturam o equivalente a mais de 40% do PIB, mas são responsáveis por menos de 2 milhões de empregos, segundo dados do levantamento "As 1.000 maiores empresas do Brasil", da revista "Exame".

Faremos, ainda, um plano de obras públicas que possa, ao mesmo tempo, gerar empregos e combater o déficit habitacional, resolver o problema de saneamento básico, assim como a construção de escolas, hospitais etc.

Contribuição sindical

Não defendemos o imposto sindical obrigatório. Achamos que as entidades que representam os trabalhadores devem ser independentes do Estado e sustentadas pelos próprios trabalhadores de forma voluntária. Os sindicatos e as entidades que organizam a nossa classe são fundamentais na luta pelos nossos interesses e contra os ataques que sofremos cotidianamente, mas, para isso, precisamos de independência política, e, para haver independência política, deve haver independência financeira.

Não se cria emprego na canetada. O discurso da candidata é assustador e ingênuo, para dizer o mínimo.

Eduardo Zylberstajn, professor da FGV/EESP

Apesar do acerto nas críticas à nova lei, há propostas inviáveis, como a redução da jornada sem a redução dos salários. Os países que adotaram essa medida voltaram atrás, porque ela foi inflacionária e diminuiu a competitividade dos respectivos países. A ideia de estatizar empresas privadas é puro delírio inviável. Mas a proposta em relação à contribuição sindical é razoável, apesar de que querer que os trabalhadores contribuam de forma voluntária dificilmente vai funcionar.

Paulo Feldmann, professor da USP

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