Os planos do PT para Dilma incluíam, desde pelo menos o começo de 2017, a ida dela ao Senado.
A ideia inicial era de que a ex-presidente disputasse uma cadeira pelos estados do Piauí ou do Ceará, governados pelo partido e localizados na região Nordeste, onde os petistas têm tido altas performances eleitorais. Esta também era uma preferência de Dilma, apurou a reportagem.
Após sair da prisão durante o regime militar, Dilma deixou Minas para se radicar em Porto Alegre, onde atuou como secretária de administrações do PDT, o partido comandado por Leonel Brizola (1922-2004). Ela viria se filar ao PT em 2001, quando era secretária de Minas e Energia do governo Olívio Dutra no estado do Rio Grande do Sul.
Foi por essa experiência que Dilma foi indicada para ocupar a pasta ministerial no primeiro mandato presidencial de Lula. Depois, ela foi alçada à chefia da Casa Civil, em 2005, quando José Dirceu deixou o o governo por causa do escândalo do mensalão. Nesta função, se aproximou de Lula, que a escolheu, anos depois, como candidata petista à sua sucessão.
Em outubro do ano passado, durante a etapa mineira de sua caravana, Lula afirmou a jornalistas que Dilma seria mesmo candidata ao Senado, mas se absteve de dizer por qual estado.
Por sua vez, membros do governo de Fernando Pimentel diziam publicamente não haver hipótese de Dilma ser candidata por Minas Gerais.
“Dilma tem sempre um papel importante na história do Brasil e na história do estado. Agora, é claro que o título dela não está aqui em Belo Horizonte, não está em Minas Gerais. A militância política dela não se deu aqui no estado. Então, nós não trabalhamos com essa hipótese”, afirmou o secretário de Estado, Odair Cunha, ao jornal mineiro "O Tempo".
Dentro do PT, porém, Lula começou a insistir para que ela disputasse por Minas, seu estado natal e fundamental em sua vitória sobre Aécio na disputa de 2014. Colaborou também o pedido feito pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), para que a ex-presidente não entrasse na disputa cearense.
Tanto tucanos quanto petistas costumam dizer que "Minas é a síntese do Brasil". Quem ganha no estado, tem grandes chances de repetir o triunfo em plano nacional.
"Se o golpe de 1964 me tirou daqui, o de 2016 me trouxe de volta", disse Dilma em discurso durante um comício realizado no final de setembro, na praça Afonso Arinos, no centro de Belo Horizonte, onde ela morou antes de ser presa pela ditadura.
"Eu morei ali [apontou para um prédio]. No nono andar. Tive que fugir pelos fundos quando agentes da repressão cercaram o local", relembrou.
Dilma fez a transferência de seu título de Porto Alegre para Belo Horizonte em 6 de abril, último dia para fazer mudança de domicílio eleitoral, de acordo com as regras da legislação eleitoral. O ato que contou com a presença da cúpula do PT mineiro e de militantes já indicava que ela participaria da eleição no estado, mas ela se negou, na ocasião, a falar sobre a candidatura.
Dois meses depois, a petista confirmou publicamente que iria disputar o Senado por Minas. Havia na época a expectativa de que ela repetisse a disputa do segundo turno da eleição presidencial de 2014, com o senador Aécio Neves (PSDB). Pouco depois, ele optou por disputar uma vaga para deputado federal. As pesquisas de intenções de voto indicavam que ambos eram favoritos para serem eleitos nas duas vagas.
Porém, desgastado no PSDB por seu envolvimento no escândalo da JBS e por ter virado réu em uma ação penal no STF (Supremo Tribunal Federal), Aécio desistiu de tentar a reeleição ao Senado e focou seus esforços na Câmara.
A candidatura da petista chegou a ser contestada judicialmente por adversários, porém o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Minas Gerais e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aprovaram o registro e Dilma pôde disputar a eleição.