Neste trecho da entrevista, o presidente da Iguatemi Empresa de Shopping Centers, Carlos Jereissati Filho, fala por que as marcas de luxo custam mais caro no Brasil do que fora, projeta como será o futuro dos shoppings na briga com as vendas online, fala dos 50 anos do Iguatemi e dá dicas de carreira para quem quer ser um executivo de sucesso e de negócios para quem pretende entrar no comércio.
Preços das marcas de luxo no Brasil e no exterior
"Essa diferença diminuiu muito. No passado, as empresas que vieram de fora eram licenciadas, tinham de comprar o produto, colocar suas margens. O preço chegava ao dobro do que era lá fora. Hoje a maior parte das marcas veio de forma própria, e os produtos estão 20%, 30% acima do preço, o que é muito mais competitivo."
Shoppings estão fechando nos EUA. Qual o futuro do negócio?
"O mercado americano sempre foi 'over supplied' [tinha muito shopping]. Agora está sofrendo um ajuste, não só da crise de 2008, mas do crescimento do varejo online. O Brasil sempre foi muito mais frugal, com um varejo muito contido. Em alguns lugares, talvez tenha exagerado um pouco e haja algum ajuste. O varejo online ainda é menos impactante no Brasil, embora ainda vá ser mais. O desafio é se tornar relevante no espaço físico. Não é de hoje a tendência de acoplar coisas presenciais, como academia, cinema, alimentação, lojas com experiência, serviços, trabalho. Cada vez mais há shoppings atrelados a escritórios, hotéis, até r esidências. Isso faz quase um mercado cativo. Então, o Brasil ainda tem um espaço bom para crescer no consumo físico."
Shoppings vão mudar a cara e ter mais lazer?
"Sim, já vêm mudando e adotando muito dessas coisas, e a tendência é cada vez maior. 80% dos cinemas do Brasil estão em shoppings. Você não teria cinema em cidades com 200 mil habitantes se não fosse em shoppings. Teatros passaram a ser uma realidade, clínicas, spas. Claro que consumo ainda é a parte mais vigorosa do negócio. Moda, acessórios correspondem a 40%, 50% desse negócio. Acredito que vão continuar a ser, embora variando de formato e tamanho."
Desempregados devem investir sua indenização em uma loja?
"É um movimento interessante, sim. As pessoas estão olhando para o empreendedorismo. Nem sempre os empregos vão estar aí para todo mundo. É importante as pessoas empreenderem. A franquia é o modelo mais padronizado, organizado de começar uma atividade que você não conheça tão bem, porque alguém já desenhou aquele modelo para você. É uma forma mais segura de entrar no varejo. Trabalhando com aquilo você pode aprender e até fazer melhor do que a franquia no futuro."
Erros de novatos no comércio
"Há várias coisas. Não se planejam tão bem, não têm o capital necessário para passar os momentos de aprendizado. Tem de ter uma reserva para esse tempo de dificuldade. Não conversar antes e fazer pesquisa para entender o que é melhor e o que realmente precisa naquele local. É todo mundo querer empreender na mesma coisa ao mesmo tempo. Não se dedicar tanto. Tem de olhar a estratégia, a operação e as pessoas. Se olhar esse tripé e souber organizá-lo, vai ter melhor desempenho."
Dicas para quem quer ser um executivo de sucesso
"Primeiro, faça o que tem paixão. Você tem de procurar fazer aquilo de que gosta, porque a vida é rápida, é curta. Depois, achando o que gosta, faça bem feito e faça o seu melhor. Eu sinto obrigação de fazer o meu melhor. Não estou sendo empurrado por ninguém. É uma automotivação, uma vontade de fazer. Isso é o que te leva a aprender, a se interessar, a trabalhar, porque você se sente feliz e motivado. E ser íntegro. Tenho uma preocupação hoje com a ganância, com a maluquice que as pessoas inventam de necessidade e acabam destruindo coisas bonitas porque não souberam ir aos poucos."
50 anos do Iguatemi: o que faria de diferente e o que repetiria
"O que repetiria sempre é a inovação. Chegamos a 50 anos atualizados porque estamos sempre inovando, conquistando, reverenciando o passado, mas sempre propondo coisas novas. O que faria diferente: gostaria de ter crescido mais rápido no passado para ter mais shoppings. Às vezes vou a alguns lugares e vejo shoppings horrorosos e penso: 'puxa, podíamos estar aqui e fazer melhor'."