UOL - Os bancos são muito criticados pelos clientes, têm uma imagem muito ruim. Como encaram isso?
Luiz Montenegro - A gente vem trabalhando cada vez mais para demonstrar que as instituições financeiras têm vários papéis. O primeiro papel é o de emprestar. Muitos pensam que é só isso, mas há muito mais. Em um país onde a população tem uma capacidade de poupança, a função do banco é ser o guardião dessa poupança, desse investimento, fazendo isso de uma forma boa, para que o consumidor se sinta devidamente remunerado por ela.
Na outra ponta, quando o consumidor precisa de financiamento, que ele tenha a sensação de que está pagando um custo justo em relação ao benefício que está obtendo. Essa relação precisa ser mais sedimentada.
Já fiz várias vezes essa pergunta em vários locais do mundo sobre o conceito das instituições financeiras, e não é só privilégio do Brasil [a imagem negativa]. É ao redor do mundo, porque a percepção é de que existe um ganho muito grande [dos bancos]. Não é bem assim.
Os meios de comunicação hoje são muito mais eficientes, e isso pode ajudar o sistema financeiro a se comunicar melhor, de forma mais rápida, mais transparente, e esclarecer esse tipo de coisa. Hoje, se você tem um problema, vai para a internet e quase em real time está em todas as mídias. Todos estão tentando se comunicar melhor, de forma mais transparente, para melhorar essa percepção, não só do mercado financeiro, mas de qualquer outro setor.
O que o mais desagrada os clientes de um banco?
Os juros. É óbvio que ninguém gosta de pagar juros, mas todo mundo gosta de receber, ter uma poupança. O Brasil vem em uma oscilação de taxas de juros muito grande. Hoje, por exemplo, é notória essa redução constante promovida, não só pela política monetária, mas também por todo o mercado financeiro.
Mas, de qualquer maneira, ainda existe essa percepção -que é justa- de que as taxas de juros reais no Brasil são muito altas. A tendência, se o governo continuar aplicando essa política e se os spreads bancários continuarem sendo reduzidos, é a gente ter esse item de certa forma melhor resolvido para o futuro.
A educação financeira ainda é uma barreira na população brasileira. A educação financeira realmente ainda precisa ser mais assimilada pela população.
Eu tenho uma atuação na Febraban, e nós oferecemos programas de educação financeira pesados.
Fazemos workshops e temos o site. Nós esperamos que cada vez mais a população em geral se desenvolva nesse sentido para exercer o seu direito de fazer pesquisa e saber onde se paga uma taxa de juros menor, como pode utilizar os seus recursos por meio de financiamento ou investimentos.
Essa é a principal barreira em que a gente vem trabalhando. Mas a população também precisa se conscientizar de que deve conhecer melhor os aspectos financeiros da economia brasileira.
O que você precisa fazer na hora de comprar qualquer coisa é primeiro pesquisar o valor do bem em vários fornecedores e, segundo, se for financiar esse bem, ter certeza de que vai pagar a menor prestação. Quanto vou pagar de entrada? R$ 10 mil. Quanto vai ser a minha prestação? R$ 500.
Faça uma pesquisa e escolha o que for menor, mesmo sem conhecer qual é o tamanho dos juros. Isso daí é uma atividade que deve ser mais bem assimilada.
Os juros no Brasil estão com um viés de chegar a taxas comparáveis às de outros países mais ou menos do mesmo porte do nosso. Se isso acontecer, o consumidor vai se sentir motivado a comprar carros por meio de um financiamento a taxas, digamos assim, mais dignas.
Que taxas o sr. consideraria dignas?
Abaixo de 1% já é uma maravilha, se acontecer... Abaixo de 1% ou próximo disso.
E não há um papel dos bancos na educação financeira das pessoas?
É um papel primordial porque ninguém melhor que os bancos para conhecer os meandros financeiros desse mercado. As inconsistências, os custos, os riscos. Nós temos programas de análise de crédito, cred scoring, extremamente avançados exatamente para calcular esse tipo de risco, e a responsabilidade de um banco, óbvio, é que aquele tomador, com aquele risco, vai ter problema, e como bom pai e uma boa mãe, vai dizer não.
Um bom pai não é aquele que fala sim para os filhos, mas o que também sabe dizer não. O Banco Toyota desenvolveu junto com a Toyota Financial Corporate na Índia um sistema em que dizemos para o cliente que ele pode ter um financiamento dentro de certas condições.
Há dez anos era sim ou não, ou aprova desse jeito ou não aprova. Ficamos mais flexíveis e agora estamos desenvolvendo um sistema para dizer isso automaticamente. Baseado no seu perfil de renda, perfil de empregabilidade e outros perfis, nós dizemos sim para seu empréstimo se você fizer isso: X% de entrada, uma parcela de Y reais. Assim, você não vai ter problema de pagar.
Como os bancos veem o cliente brasileiro?
Há uma certa limitação do conhecimento financeiro, uma certa vergonha de fazer muitas perguntas para tirar dúvidas [na hora do financiamento]. Acredito que isso não seja só no Brasil.
O brasileiro precisa melhorar nesses dois pontos: educação financeira e necessidade de entender aquilo que está fazendo.
Mas está melhorando. As novas gerações não se contentam em fazer compras emocionais, não se dão por satisfeitos com qualquer informação.
Eles realmente pesquisam, vão em todos os sites. Demoram até um pouco mais para tomar decisões, nesse aspecto de compra, mas quando tomam, tomam conscientes.
Hoje em dia no mercado automobilístico essa geração mais nova entra no concessionário sabendo igual ou mais do que o vendedor. Eles não deixam barato, fazem com que tudo seja esclarecido, e isso é muito bom para todos os lados, porque temos a consciência de que estamos fazendo uma venda justa, e o consumidor tem a consciência de que está comprando aquilo que queria ou que resolveu efetivamente comprar.
Longe do momento ideal, ainda, mas estamos caminhando para esse momento.