A Embraer pesquisa, por encomenda do Uber, um táxi aéreo que decola e pousa como um helicóptero, deve ser testado em 2020 e ser uma alternativa ao trânsito das grandes cidades a partir de 2023, segundo o CEO da empresa de aviação, Paulo Cesar de Souza e Silva. Neste trecho da entrevista exclusiva ao UOL, ele diz que isso pode levar ao desenvolvimento de um avião elétrico, fala dos investimentos de US$ 600 milhões neste ano e analisa o mercado de aviação:
Anunciamos recentemente uma parceria com o Uber para desenvolver um veículo aéreo vertical, ele pousa e levanta voo na vertical, é elétrico e para ser operado em grandes cidades. É um veículo para ter um piloto e quatro a cinco passageiros, não faz barulho nenhum e não tem emissão de CO2.
As cidades estão cada vez maiores, o trânsito muito difícil e congestionado, as pessoas perdem muito tempo no trânsito, então em vez de você ir por baixo, você vai por cima.
É um pouco o conceito dos Jetsons, de 50 anos atrás. É um projeto visionário, muito futurista, e a ideia é termos um voo experimental em 2020, em Dallas (EUA) e Dubai (Emirados Árabes Unidos) com o objetivo inicial de ter operação comercial em 2023
Mas os desafios ainda são muito grandes, temos barreiras importantes que têm que ser superadas, como as autoridades aéreas, o controle do tráfego aéreo, as baterias e a recarga, que tem de ser rápida, a infraestrutura para pousos e decolagens nas grandes cidades, não pode ter um ponto só, tem que ter vários pontos. Mas eu diria que os players desse ecossistema estão extremamente interessados em desenvolver esse projeto. É possível que a gente consiga.
Há algumas empresas já fazendo alguma coisa, mas o mercado requer algo bastante diferente, porque é uma operação muito intensa, é um pousa, sai, pousa, sai. É preciso um equipamento com grau de confiança técnica extremamente elevado.
Estamos vendo isso como uma possibilidade não só de um negócio novo, mas como também uma possibilidade de olharmos novas tecnologias para uso em outros produtos, como um avião híbrido, com energia solar e combustível tradicional
Antes de haver na aviação comercial maior uma aeronave que voe inteiramente com motor elétrico, é preciso existir um híbrido. Isso nos dá a possibilidade de entrar mais na análise dessas tecnologias.
Investimento de US$ 600 milhões neste ano
Estamos fazendo investimentos ainda bastante relevantes neste ano, cerca de US$ 600 milhões. E no ano que vem também continua. Entregaremos no primeiro semestre de 2018 o primeiro avião da segunda geração dos E-jets, o 190 E2. E ao longo de 2018 também vamos entregar o primeiro KC 390 para a Força Aérea Brasileira. Então os investimentos continuam e não é pouca coisa, não.
O primeiro trimestre deste ano veio um pouco mais fraco [A Embraer teve lucro líquido de R$ 134,9 milhões, 65% menor do que o mesmo período do ano passado], mas o mais importante é que a gente está mantendo nosso guidance [orientação, objetivo] para o ano. Ainda enxergamos que vamos cumprir o nosso plano ao longo deste ano.
O nosso último trimestre do ano é sempre mais forte, e o primeiro do ano é o mais fraco. O que a gente precisa olhar, para ter uma ideia boa do desempenho da empresa, é o resultado ao longo do ano.
No primeiro trimestre, a gente havia planejado entregar alguns aviões na aviação executiva, mas os clientes, por algum motivo, não conseguiram vir buscar o avião. Às vezes é financiamento ou algum problema do cliente mesmo. Não vieram em março, mas pegaram em abril. Então pelo fato de não ter essa receita no primeiro trimestre, isso teve um certo impacto.
Aviação cresce o dobro do PIB mundial
A aviação comercial no mundo está indo muito bem. Um crescimento muito forte, o tráfego aéreo mundial está crescendo na faixa de 7% ao ano, que é duas vezes mais ou menos o ritmo do PIB mundial. Essa é a taxa normal de crescimento da aviação, duas vezes o PIB. O crescimento maior vem da Ásia, dos países emergentes.
É um crescimento bastante forte, é um ciclo que continua ainda, é um ciclo relativamente longo, que se iniciou em 2011, 2012, após a crise de 2008. Então estamos muito bem ajustados e preparados para enfrentar o que vem pela frente. E o que vem? É uma concorrência maior, porque os competidores, seja do Canadá (Bombardier), do Japão (Mitsubishi), da Rússia (Sukhoi SuperJet), estão se preparando para entrar no mercado, alguns já entraram e outros estão se preparando para entrar.
Nós aumentamos um pouco o tamanho do nosso maior avião, o 195 E2. Ele tem 118 assentos e está indo para 134 assentos, numa configuração típica em classe econômica. Isso traz uma eficiência maior para as empresas aéreas porque o custo unitário, o custo voado por assento cai. O avião fica mais atrativo naqueles mercados onde há uma densidade maior.
Esse avião pode ter uma penetração muito boa no mercado asiático. Estamos muito contentes pelo fato também de o programa estar em dia e dentro do orçamento, o que tem sido raro na indústria. A indústria tem falhado, têm havido atrasos bastante importantes na concorrência, e nós estamos rigorosamente em dia
O mais importante é que, com os investimentos desses últimos anos, especialmente na área comercial, com a segunda geração dos E-jets, nós temos a família mais eficiente de aviões no segmento de 70 a 130 assentos. Temos o menor custo operacional, com eficiência de motor e custo de manutenção.
O custo operacional é cerca de 10% menor por assento. Por viagem, pode ser um custo 25% menor. Ou seja, para mercados onde não existe uma densidade suficiente para lotar o avião sempre, um avião um pouco menor faz mais sentido porque ele é mais eficiente.